Programa de bioenergia da Fapesp prevê acordos entre universidades e empresas



Iniciativa foi debatida por pesquisadores britânicos e brasileiros no evento do Ano Brasileiro-Britânico da Ciência & Inovação

A importante atuação paulista na produção de etanol foi um dos temas em debate no Workshop sobre Bioenergia, realizado na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O evento, a última atividade oficial programada pelo Ano Brasileiro-Britânico da Ciência & Inovação, reuniu pesquisadores britânicos e brasileiros.

A organização esteve sob a responsabilidade da Fapesp, em parceria com a Embaixada Britânica e com o Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC) do Reino Unido. A sessão de abertura contou com a participação de John Beddington, conselheiro-chefe para assuntos científicos do governo britânico; Martin Raven, cônsul-geral britânico; Steve Visscher, chefe-executivo-interino do BBSRC; Celso Lafer, presidente da Fapesp; e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor-científico da Fundação.

Brito Cruz apresentou as principais linhas do Programa de Pesquisas em Bioenergia da Fapesp (Bioen), que está em preparação. Os primeiros dois módulos do programa são os de pesquisa sobre a produção de biomassa e de pesquisa em cooperação entre empresas e universidades.

O módulo sobre biomassa baseia-se no esforço iniciado pela Fapesp em 2000. “O Projeto Genoma da Cana-de-Açúcar foi a base do programa para biomassa. Nosso objetivo é, a partir da base estabelecida, criar conhecimento relacionado às fontes renováveis de energia”, disse.

O programa tem seis módulos temáticos: produção da biomassa, incluindo, sobretudo, o melhoramento da cana-de-açúcar para a produção de energia; produção de etanol e outros produtos a partir de açúcares e celulose; novos processos em alcoolquímica; células a combustível com base em etanol; economia do etanol; e produção de bioenergia e meio ambiente.

“O programa não se refere apenas ao etanol, e sim à bioenergia de modo geral; contudo, a nossa experiência concentra-se atualmente na produção de etanol. O Bioen incluirá pesquisa acadêmica e ações conjugadas entre universidade e empresa”, explicou Brito Cruz.Potência mundial – O Bioen articula a pesquisa básica sobre biomassa aos convênios concretizados entre a Fapesp e empresas do setor. Estão em vigor acordos com a Oxiteno na área de materiais lignocelulósicos, com a Braskem em alcoolquímica e com a Dedini na área de desenvolvimento de processos.

Brito Cruz destacou que o Estado de São Paulo é uma potência mundial nessa área: “É responsável por dois terços do total da produção brasileira de etanol. E o Brasil – um dos poucos países do mundo em que uma fração considerável da energia usada é proveniente de fontes renováveis, chegando perto de 50% – produz hoje 42% do etanol no planeta”.

No entanto, segundo o diretor-científico da Fapesp, o interesse estratégico do Brasil não é dividir com os Estados Unidos o monopólio mundial do etanol. “A disseminação do uso de biocombustíveis depende de haver muitos outros produtores. Queremos dominar tecnologias que possam ser transferidas para que outros países as produzam, e fazer com que o etanol seja mundialmente difundido”, ressaltou.

Intercâmbios à vista

O Ano Brasileiro-Britânico – planejado em 2006, durante visita oficial do presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva ao Reino Unido, e lançado em 2007 – gerou seis memorandos de entendimento, uma declaração de intenções e um contrato comercial. O balanço foi feito por John Beddington, conselheiro-chefe para assuntos científicos do governo britânico, que participou do Workshop sobre Bioenergia.

“Consideramos que a iniciativa foi um grande sucesso, com amplo interesse de pesquisadores e grande repercussão na mídia. Os acordos com maior potencial de trabalho foram os relativos às cooperações na área agrícola e na área de luz síncrotron”, disse Beddington.

O memorando de entendimento com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) prevê o envio de cientistas brasileiros para a realização de pesquisas e desenvolvimento de novas técnicas no laboratório Diamond de Fontes de Luz, na Inglaterra.

Um dos acordos centrais, na opinião de Beddington, foi realizado com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Estabelecemos ligação importante com o Inpe, que está construindo um supercomputador para a modelagem de mudanças climáticas, um dos focos centrais do nosso governo”, afirmou.

Segundo o professor do Colégio Imperial Britânico, cujo cargo atual equivale ao de ministro da Ciência e Tecnologia no Brasil, a cooperação deve continuar, mesmo após o encerramento do Ano Brasileiro-Britânico. “Uma das razões da minha visita é tentar dar continuidade às parcerias em várias áreas”, afirmou.

Fábio de Castro, da Agência Fapesp

(C.C.)



03/22/2008


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