Programas da USP atendem comunidade com deficiência visual
Braille não é o único meio de aquisição de conhecimentos e informação pelos cegos
As estimativas indicam que o Brasil tem 850 mil cegos, o que corresponde a 5% da população. Já a proporção de pessoas com deficiência visual total ou severa encontrada nos cursos superiores do país ainda passa, infelizmente, bem longe de 5% do total de alunos, como seria o adequado. Incluir esta população deve ser um desafio de toda a sociedade, e se o ensino, em todos os níveis, é um dos campos mais vitais neste processo, a USP tem procurado assumir sua responsabilidade.
Atuando principalmente com a comunicação, a Rede Saci/USP Legal é um dos programas que a Universidade mantém voltados para esta comunidade, e também para pessoas com outros tipos de deficiência. Por meio de cursos de sensibilização e capacitação no trato com a pessoa com deficiência, suporte técnico, softwares específicos, adaptação de espaços e difusão de informações, o programa busca estimular a inclusão social e digital, melhorando a qualidade de vida deste público.
"Há vinte anos falava-se em 'integração', que era treinar as pessoas com deficiência para que elas se adaptassem à sociedade. Hoje sabemos que é a sociedade que tem que se capacitar e se adaptar para recebê-las", explica Ana Maria Barbosa, coordenadora da rede. Para a educadora, as condições de aprendizado da pessoa cega ainda são bastante problemáticas no Brasil, e começam no acesso aos livros em formatos adaptados. Entre estes, destaca-se o método braille.
Apesar de não haver acervo em braille nas bibliotecas da Universidade, o Serviço Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP tem um projeto específico para o público leitor com necessidades especiais. Criado em 1994, o Disque-Braille mantém um catálogo dos livros em braille e dos materiais de áudio disponíveis nos acervos das bibliotecas de todo o estado de São Paulo. O catálogo pode ser consultado por telefone - (11) 3091-3433/4193 - e pela Internet, no site www.usp.br/sibi/produtos/braille.htm.
Algumas unidades da USP, como a Faculdade de Educação (FE) e o Instituto de Psicologia (IP), possuem impressoras em braille. Além delas, a Rede Saci/USP Legal disponibiliza o uso do seu equipamento para reprodução do material de eventos como congressos, seminários e concursos realizados na Universidade. Os cardápios dos restaurantes da Coseas também são impressos semanalmente pela Rede. Entretanto, não é recomendada a solicitação de reprodução de grandes quantidades, já que o tempo de impressão é maior do que no equipamento comum, e a utilização de papéis especiais acaba encarecendo o processo.
Mas o braille não é o único meio de aquisição de conhecimentos e informação pelos cegos. Com seu acesso restrito, aliado à multiplicidade de mídias e ao avanço da tecnologia, a tendência é que ele divida espaço com outros suportes, como o livro digital e o audiolivro. "A não-alfabetização em braille é uma realidade. Além dos problemas sociais do País, que deixam grande parte das pessoas - cegas ou não - sem educação formal, há também o caso de quem adquire a deficiência depois de adulto, e que dificilmente desenvolverá a habilidade tátil necessária ao aprendizado", esclarece Ana Maria. Ou seja, se só se oferece publicações em braille, não se está atendendo a uma grande parte das pessoas cegas ou com baixa visão.
Mesmo assim, a educadora ainda considera o ensino do braille na infância muito importante para a organização do processo da escrita. "Notamos que aqueles que tiveram acesso ao método em seu aprendizado são escritores mais fluentes, e cometem um número bem menor de erros ortográficos e gramaticais do que os que não foram alfabetizados em braille."
Em sua opinião, para que o acesso a recursos como o método braille seja ampliado, além de leis e políticas públicas, é necessária uma conscientização geral de todos, principalmente dos que convivem com a pessoa com deficiência. "Imagine uma criança cega em uma família de pessoas que lêem pouco e onde ninguém sabe o que é o braille. Com certeza será muito mais difícil que esta criança tenha contato com materiais adequados às suas necessidades".
Um dos projetos da Rede, em parceria com a FE, que visa justamente diminuir este problema é o curso Braille Virtual http://www.braillevirtual.fe.usp.br/, voltado para pessoas que enxergam. Por meio de aulas na Internet, elas podem aprender o sistema e estabelecer uma comunicação mais completa com o cego.
Novos formatos
Outro serviço para a comunidade com deficiência visual criado pelo Sibi é o Projeto Lumière, que propicia, sob demanda, a digitalização e a conversão em audiolivro (formato MP3) da bibliografia básica dos cursos de graduação da USP. Os equipamentos e softwares do projeto estão instalados na biblioteca da FE, mas é possível solicitar a conversão de obras do acervo de qualquer unidade.
A diretora técnica do Sibi, Eliana de Azevedo Marques, conta que já existe um equipamento que realiza a conversão imediata do livro em som, à medida que é escaneado. "Esse aparelho agiliza o processo, pois dispensa a etapa da passagem dos dados pelo sintetizador de voz - e estamos avaliando a possibilidade de adquiri-lo".
Para Eliana, uma pessoa com deficiência visual que ingresse hoje na USP pode ter acesso a todas as informações e materiais dos cursos, e conseguirá acompanhar as atividades normalmente. Mas a bibliotecária destaca que tanto os alunos quanto as unidades precisam comunicar ao Sibi suas necessidades com antecedência, para que o órgão tenha condições de fornecer este atendimento.
Da USP Online.
09/17/2008
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