Projeto que trata da discriminação de homossexuais causa polêmica no Senado
A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) é, atualmente, cenário de um acirrado debate. Os parlamentares da comissão estão analisando o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122/06, que torna crime a discriminação e o preconceito contra homossexuais, definindo punições para diversas práticas consideradas discriminatórias. O PLC foi aprovado na Câmara dos Deputados (onde tramitou como PL 5003/01) em novembro do ano passado, depois de cinco anos de intensas discussões.
Nos debates já realizados, parece não haver discordância quanto à necessidade de se coibir a discriminação. Tanto os apoiadores do projeto como seus opositores concordam com a idéia de que, para obter um emprego, freqüentar ambientes públicos ou ascender profissionalmente, heterossexuais e homossexuais devem ter os mesmos direitos.
Entretanto, o consenso acaba aí. Aqueles que são contrários ao projeto, liderados por católicos e evangélicos, argumentam que o texto aprovado pela Câmara dos Deputados atenta contra a liberdade religiosa e contra a liberdade de expressão, que são garantias constitucionais. Já as organizações de defesa dos interesses dos homossexuais classificam esses grupos contrários como "fundamentalistas" e mostram estatísticas de crimes contra os homossexuais para fundamentar a necessidade de se combater a discriminação.
Não há estatísticas oficiais sobre os crimes cometidos contra os homossexuais. Organizações não-governamentais como a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), o Centro Latino-Americano em Direitos Humanos e Sexualidade (CLAM) e o Grupo Gay da Bahia tentam suprir essa ausência, coletando, eles mesmos, informações a respeito da discriminação. Em pesquisa realizada pelo CLAM em 2005, junto aos participantes da Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) de São Paulo, 72% dos entrevistados afirmaram ter sofrido algum tipo de discriminação em decorrência da sua orientação sexual. Além disso, 65% disseram ter sofrido agressões verbais ou físicas.
A senadora Fátima Cleide (PT-RO), relatora do projeto na CDH, disse acreditar que uma lei contra a discriminação de homossexuais é uma demanda da sociedade brasileira.
- Essa lei vai contribuir para superar a trágica marca de um homossexual assassinado a cada dois dias em nosso país - argumentou a senadora em entrevista à Agência Senado.
Já o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que integra o grupo de trabalho criado para discutir a proposição, não concorda com o texto atual do projeto. Para ele, a proposta como veio da Câmara estabelece uma forma especial de proteção para os homossexuais que deveria ser dada às mulheres, aos idosos e às crianças, mas não a eles.
- Precisamos de um texto que proteja sem tutelar, mas que também não ofenda nem diminua a liberdade religiosa, que é uma conquista importante do povo brasileiro - defendeu Crivella.
A senadora Fátima Cleide deve apresentar seu relatório à CDH logo depois que for realizada uma audiência pública sobre o tema, reunindo grupos favoráveis e grupos contrários ao projeto. A reunião já foi aprovada, mas ainda não tem data marcada para acontecer. Depois de ser apreciado na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, o PLC 122/06 ainda será tema de deliberações da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e, por fim, deverá ir a Plenário.
Veja a íntegra do projeto e a tramitação da matéria.
11/05/2007
Agência Senado
Artigos Relacionados
Projeto que criminaliza discriminação contra homossexuais é o que recebeu mais manifestações pelo Alô Senado no ano
CDH vota projeto que pune discriminação de homossexuais
Projeto que pune discriminação de homossexuais divide senadores
Comissão discute projeto que pune discriminação de homossexuais
Votação do projeto que pune discriminação de homossexuais é adiada
Marta relatará na CDH projeto que criminaliza discriminação de homossexuais