Protestos populares atingem a classe política, diz Pedro Taques



Em pronunciamento nesta quarta-feira (18), o senador Pedro Taques (PDT-MT) disse que a “bronca” advinda dos protestos populares ocorridos nos últimos dias em mais de dez estados brasileiros diz respeito à classe política e àquilo que esta faz com o poder que o povo lhe confere.

- Precisamos reconhecer a nossa surpresa. Ninguém, nesta Casa, ninguém na classe política pode dizer que sabe o que o povo está querendo dizer, quando se une e vai às ruas. Temos de reconhecer que ainda precisamos ouvir muito mais o que vem das ruas, dessas pessoas, desses jovens – afirmou.

Pedro Taques disse que até ontem o cidadão brasileiro aceitava o baixíssimo grau de participaticipação nos atos do poder público e as consequências disso sobre a sua própria vida, mas agora, observou, os protestos populares mudaram esta situação.

- O povo quer mais. E por dezenas de motivos o cidadão foi e continua nas ruas para reclamar diretamente a sua soberania. Ele é o titular do poder – afirmou.

Pedro Taques ressaltou que o povo exige educação, saúde e transporte público de qualidade; é contra os gastos exagerados com as obras da Copa do Mundo, a corrupção, e a impunidade dos corruptos. O país, disse o senador, está assistindo “à multidão dos direitos invisíveis tentando ganhar visibilidade, com o cidadão cansado do mundo das desigualdades e do atraso”.

- O que essa multidão ensina é que não existe uma única razão para mais de um milhão de pessoas já terem ido às ruas protestar. Não há que se falar em falta de causa. A causa é a indignação. Como dizia um dos cartazes: "Tem tanta coisa errada que não cabe em um único cartaz" – afirmou.

Atualmente, disse Pedro Taques, os partidos políticos já não são mais as entidades intermediárias entre o cidadão e o Estado; em sua opinião, os partidos estão desprovidos dessa legitimidade em razão dos protestos populares, que tornaram cada cidadão é um partido político.

- Todos os partidos políticos não passam, com todo o respeito a eles, de instrumentos fisiológicos e clientelistas. E nós, políticos, precisamos nos aperceber disso. O cidadão não precisa mais de intermediários para manifestar sua indignação. É a chamada solidão na multidão. O povo exige equipamentos públicos de qualidade, serviços públicos decentes, não quer esmola, não quer assistencialismo – afirmou.

Apartes

Em seu pronunciamento, Pedro Taques foi aparteado por diversos senadores. O líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), apontou a importância dos protestos, mas ressaltou que a expressão da manifestação popular não pode significar que a democracia é que é o problema.

- Preocupo-me com banalização e desqualificação absoluta dos fundamentos da base da democracia, que nos possibilita ver o que assistimos nesse momento. Ditadura nenhuma, de esquerda ou de direito, admite movimentação como essa que assistimos, e países de liberdade absoluta muitas vezes não praticam essa liberdade – afirmou.

Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que “a democracia está muito doente”, e que “não há democracia que sobreviva quando o político se divorcia da alma do povo" e, para ele, hoje há um divórcio. Segundo ele, “o custo das campanhas, a corrupção generalizada, as alianças esdrúxulas, a compra de votos para se eleger, a venda de votos depois de eleito e os partidos de mentirinha” destacam-se na política e esse cenário “deixa o povo perplexo”.

Eduardo Suplicy (PT-SP) afirmou que tem procurado manter contato com representantes dos protestos e disse que o movimento popular fará bem à democracia brasileira.

Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) também manifestou apoio às manifestações populares e disse que os canais de comunicação entre as autoridades e a população "estão obstruídos”. Ele aproveitou o aparte e pediu desculpas aos seus pares e à sociedade pela afirmação feita na sessão deliberativa da terça (17), quando comparou o Plenário do Senado a um “conjunto de autistas”.

Wellington Dias (PT-PI) cobrou dialogo da classe política com os movimentos populares e disse que caiu a qualidade do transporte público nas capitais brasileiras.

Para Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), a democracia ganha com a realização dos protestos, sobretudo quando a população deixa a comodidade da internet e vai às ruas. Ele afirmou que o povo não quer saber de partidos políticos, seja ele qual for, e que entidades como “UNE, CUT, sindicatos, federações e confederações é tudo chapa branca, batendo palma para Lula, Dilma e o PT”.



19/06/2013

Agência Senado


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