Público da Vila Ré é atendido pelo programa Enturmando
Programa oferece aulas de artes plásticas, dança, esporte, música e ginástica olímpica.
A lona colorida do circo é o que mais chama atenção, mas o Enturmando da Vila Ré tem outras atrações, além da prática circense. Aulas como a de artes plásticas, dança, esporte, música e ginástica olímpica contagiam as quinhentas crianças atendidas, tanto é que elas não se contentam só com uma atividade e vivem pedindo para trocar de modalidade.
Para o coordenador José Roberto de Azevedo, incentivar a leitura, a auto-estima e a relação de amizade em pessoas de baixa renda, muitas vezes com famílias desestruturadas não é nada fácil. “É um desafio ensinar valores a quem mal sabe ler e escrever”, teoriza. No entanto, os jovens geralmente alcançam uma evolução significativa. De acordo com os pais, eles começam a se comunicar melhor e passam a ter vontade de ir à escola. O contato estreito com a família faz parte da política do Vila Ré. Uma vez por mês acontece o “Entre Nós”, uma aula onde pais e filhos realizam juntos atividades adequadas aos dois públicos.
Começa o espetáculo
A primeira apresentação quebra a idéia de que para fazer arte é preciso silêncio. A agitação toma conta da turma de Artes Plásticas e dá o ritmo à aula. Além de se comunicar, João Pedro Gomes, 10, adora desenhar e pintar. “Desenhei uma obra de Picasso. No papel ficou legal, mas na tela, horrível”, admite. De acordo com a professora Valéria Quintas Gonçalves, ele não é o único a se surpreender. “Colorir com lápis de cor é diferente de pintar com tinta e eles vêem isso na prática.” Antes de usarem as mãos, os pequenos ouvem a teoria, no caso, sobre cores primárias e secundárias.
O adestramento
Mesmo adestrados, os animais do circo provocam medo. E no Enturmando, essa sensação também aparece, só que em relação ao computador. “No começo, as pessoas mais velhas acham a máquina algo de outro mundo e têm medo de quebrar”, diz o professor de informática Letício de Almeida Filho.
Em quatro meses, a comunidade recebe noções sobre sistema operacional, aplicativos e Internet. Simone da Silva Dourado é uma das alunas. Soube do curso por uma amiga e também trouxe sua irmã Elaine. Para quem fala que não se aprende por ser de graça, Simone dá o recado. “Cada dia eu procuro abraçar esta oportunidade. Quando você quer aprender, você consegue”, afirma.
Atenção
O olhar atento da platéia circense é igual ao das alunas de dança para aprender a coreografia. De acordo com a idade das garotas, foram formados dois grupos para apresentação de fim de ano. Porém, mesmo no intervalo de uma turma, todas continuam treinando. “Elas não param de dançar. As pequenas pegam mais fácil a coreografia”, conta a professora Daniela Griseli.
Kézia Souza Silva adora balé e sonha ser dançarina. Da ala juvenil é a que menos fica quieta. As meninas Alexia Silveira e Amanda Cristina Silva vem até quando não precisam. “Por elas, ficam aqui a semana inteira”, afirma Ana, que recebe a ajuda das alunas para montar o ensaio. “A maioria delas também dançam na escola, durante a Educação Física e, dão idéias sobre passos e seqüência.”
Pausa para pipoca
No projeto “Brincando e Aprendendo” criado para crianças de 6 e 7 anos parece que toda hora é hora de relaxar e se divertir. No meio das brincadeiras que envolvem jogos lúdicos para desenvolver a coordenação motora, há lições de gente grande. “Hoje vamos falar sobre valores financeiros, para eles terem uma noção sobre dinheiro”, explica o educador João Paulo dos Santos.
Amor de lona
Em quase todo circo há um casal de namorados. No Vila Ré foi a música que uniu os vocalistas Eduardo Artuzo Silva e Letícia Alves Zunigan. Cada um já tem uma banda. A de Eduardo existe há 1 ano e já se prepara para o primeiro show.
Paulo de Oliveira Cintra e Danilo Vinicius Gomes dos Santos também fazem parte do grupo, que toca clássicos do rock. Os ensaios acontecem em reuniões externas. Nas aulas de música, eles aproveitam para estudar e aprimorar o conhecimento. “Música não é só para tocar. Você deve se envolver desde o começo”, opina Paulo.
E este aprendizado abrange o conhecimento das cifras musicais, desenvolvimento rítmico e até postura e alongamento iniciais. Segundo o professor Kleber Campos a percepção do ritmo e o entonamento vocal são as habilidades mais difíceis deles aprenderem. “Nós também interpretamos letras e debatemos os temas. Isto serve para eles perceberem a falta de sentido de algumas músicas”, aponta.
A mágica
Chegou a hora de tirar o coelho da cartola e descobrir porque o circo fascina. O bom mágico, no entanto, não revela o segredo. A sorte é que ao menos os benefícios de fazer mágica com o corpo foram revelados. A instrutora Renata Borges dos Santos diz que o circo trabalha aspectos físicos e psicomotores, além da desenvoltura pessoal. “Crianças tímidas conseguem se expressar melhor”, garante.Fora isso, o grupo desenvolve bastante a parte afetiva e os conceitos de respeito e cooperação. “Nós falamos da importância destas atitudes e eles fazem o resto, com iniciativa e ajuda mútua”, afirma Renata.
O outro professor circense se chama Daniel de Morais Pires e se tornou um símbolo do projeto. “Fui aluno daqui e agora ensino as crianças. É um trabalho muito gratificante, pois elas têm um resultado para a vida lá fora. Eu sou um exemplo disto.” Há aqueles que encararam para valer a vida no picadeiro. “Temos casos de alunos que trabalham hoje no Circo Espacial, por exemplo”, relata José Roberto. Não há habilidade definida. Cada turma constrói seu perfil, de maneira espontânea, através da prática livre de malabares, monociclo, contorsão...
Lá no alto poucos se arriscam a ir, mas quem vai não sente nem um pouco de medo. É o caso de Lucas Gama, 15 anos, que pretende seguir carreira. “Já pensei bastante na idéia. Ainda não tentei, mas também não desisti.”
Acrobacia em duas versões
A aproximação do pessoal do circo e da ginástica olímpica não é só física. As duas turmas se baseiam no equilíbrio, força e coragem. Do outro lado do chamado “muro de Berlim”, os futuros ginastas passam por todos os aparelhos. Para as meninas o mais difícil é a barra, que exige braços fortes.
Aluna há dois anos, Emily Silva Guimarães recebe incentivo dos pais e vai ao clube diariamente. Mais que apoio, Isabela da Silva Voigt também tem a cobrança da família para se dedicar aos exercícios. Já o garoto Alon Lopes entrou no grupo por engano. “Pensei que ia erguer peso. Mas daí eu achei legal e continuei”, comenta.
Tradição
No circo, viver em trailers sem destino é considerada uma herança de pai para filho tal como a paixão pelo futebol. Para os alunos de esporte, jogar bola é uma prática diária, mesmo que o programa do professor seja outro. “Hoje vamos fazer um circuito para treinar a velocidade e depois jogar handebol”, explica Gustavo Gorski de Toledo, instrutor da turma esportiva.
Mas no final da tarde, lá estão os garotos chutando a gol, minutos antes de subirem para o lanche. E com o estilo de craque. Segundo o coordenador do “Enturmando”, a pose de profissional só é maior quando a família vem assistir o jogo. “Todos os pais viram técnicos para ver o filho fazer bonito.”
Da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social
(M.S.)
01/08/2008
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