REQUIÃO: GOVERNO CRIA UMA REALIDADE VIRTUAL PARA O PAÍS
O senador Roberto Requião (PMDB-PR) criticou hoje (dia 9) a prática a seu ver adotada por governadores, prefeitos e pelo próprio presidente da República de divulgar pela mídia uma realidade idealizada, incompatível com o que os brasileiros enfrentam em sua rotina diária. Ele chamou isso de imagologia e a definiu como "a prática de fazer com que a realidade tenha uma leitura virtual através das telas de televisão".
- Liga-se a televisão e existe um Brasil formulado pela propaganda, um Brasil que, de repente, traduz o Plano Real pela palavra da autoridade mais alta como o Plano da Dentadura. Talvez onde ouvimos dentadura, tenha-se inadvertidamente pronunciado a palavra em substituição a ditadura - salientou.
Requião disse referir-se à "ditadura das medidas provisórias e à ditadura da não discussão com o Congresso". Ele lembrou que o presidente da República queixou-se por que Luiz Ignácio Lula da Silva (presidente de honra do PT), não quis sentar-se para discutir a razão da venda da companhia Vale do Rio Doce. E ironicamente afirmou que "essa era uma confissão que seguramente Sua Excelência só faria a Luiz Ignácio Lula da Silva, porque ao Congresso não o fez".
Conforme Requião, o presidente da República tem que falar é com o Congresso Nacional, pois é este o poder que representa o povo, via Câmara dos Deputados, e as unidades da federação, por intermédio do Senado. Ele disse não acreditar que "a essência da democracia esteja numa conversa tête-à-tête do presidente da República com o líder das oposições", e lamentou que tudo se construa neste país "dentro da filosofia da imagologia".
A esse propósito, ele acentuou que no Brasil se traduz como um milagre do desenvolvimento a instalação de montadoras de automóveis vindas de outros países. Ele explicou que, robotizadas, essas indústrias não são capazes de multiplicar os empregos, como muitos pensam. "Aliás, o efeito é desmultiplicador; a política automotiva do governo federal sacrifica cerca de 3.200 indústrias de autopeças em São Paulo, das 3.500 existentes, e cerca de 147 mil operários do setor metal-mecânico perdem o seu emprego".
Roberto Requião disse que o governador do seu estado, Jaime Lerner, está transformando a indústria automobilística "na bandeira maior do seu governo". Ele disse que contratos secretos não são publicados, como se algum desses documentos tivesse validade antes da publicação. Nas informações vazadas pela imprensa sobre esses contratos, ele disse verificar que o Paraná "está praticamente dando fábricas de presente ao capital multinacional".
O senador assinalou que, em seu estado, viu pela televisão o governo anunciar a instalação de três fábricas de automóveis, com a promessa de que elas produzirão 480 mil empregos. Para Requião, por serem robotizadas, elas resultarão apenas em mais 2 ou 3 mil empregos, daí por que, ao desligar-se a TV, verifica-se que "o governo não existe". Ele informou que o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação) já retirou um desses anúncios governamentais do ar. Na opinião do senador, com a televisão ligada, "a imagologia faz com que o povo sonhe exatamente os sonhos que o governo deseje que ele sonhe".09/09/1997
Agência Senado
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