Requião questiona comemoração do Dia da Abolição da Escravatura
O senador Roberto Requião disse, nesta segunda-feira (13), que a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888, não deve ser comemorada. Ele ressaltou que, mesmo com a assinatura da lei que extinguiu a escravidão, o país continua a perseguir e humilhar os negros.
- Há 125 anos não cessamos de perseguir, humilhar, torturar e assassinar os negros em uma contínua, implacável e impiedosa campanha contra os descendentes de africanos, que sequestramos e escravizamos. Escaparam da senzala, mas não escaparam do ódio racial – afirmou.
Requião lembrou que os negros sofreram três séculos de escravidão no Brasil e criticou a destruição dos arquivos da escravatura pela “elite branca e racista”. Ele assinalou que a desmemória é também uma forma de dominação.
- A queima dos arquivos da escravatura impede-nos de saber com exatidão quantos negros foram sequestrados na África, quantos morreram no transporte, quantos morreram nos primeiros tempos do cativeiro pela violência do tratamento, pela inadequação ao trabalho forçado ou pelas lembranças de liberdade, pelas tristezas da sujeição – disse.
Roberto Requião acrescentou que a própria Igreja participou dos maus tratos aos negros, já que não permitia a presença dos escravos na hora da missa. Como não podiam se juntar aos demais, esses homens tinham que construir os seus próprios locais de oração - disse o senador.
- O deus e os santos dos brancos, ainda que fossem os mesmos dos negros, não poderiam ser conspurcados, ultrajados com o insulto aviltante da presença dos negros na hora da missa, na hora do terço. Um apartheid imundo, asqueroso, patrocinado pela Santa Madre Igreja – disse.
O senador lembrou massacres perpetrados contra os negros, entre eles o de Porongos, em 1844, que vitimou mais de cem escravos; e o massacre do Carandiru, em 1992, quando foram mortos 111 presos.
- A libertação não significou qualquer mudança de comportamento para a sociedade em relação a eles. Nas últimas décadas do século 19 e primeiras do século 20, explodem, por todo o Brasil, as consequências da omissão, da indiferença do governo e da sociedade quanto ao destino dos pretos.O que são Canudos, Pau de Colher, Caldeirão da Santa Cruz do Desterro, Contestado? – indagou.
Em aparte, o senador Paulo Paim (PT-RS) elogiou o pronunciamento de Requião e ressaltou que a não ser a liberdade, nada mais foi assegurado aos negros.
13/05/2013
Agência Senado
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