Riscos e oportunidades de ingresso da Venezuela no Mercosul dividem debatedores em audiência



Os riscos e as oportunidades do ingresso da Venezuela no Mercosulforam ressaltados pelos quatro convidados para a terceira audiência pública sobre o tema realizada nesta terça-feira (9) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). Os debatedores que pedem mais tempo para a decisão criticaram a falta de informações e a postura política do presidente Hugo Chávez. Os defensores da adesão lembraram a importância estratégica da expansão do bloco em direção ao Norte da América do Sul.

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O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer disse que aprovar de imediato o ingresso da Venezuela, antes da conclusão das negociações técnicas com os demais membros do Mercosul, seria o mesmo que "dar um cheque em branco" a Chávez. As críticas feitas ao Senado brasileiro pelo presidente venezuelano foram classificadas por ele como demonstração de um comportamento anti-democrático. O ex-ministro condenou ainda a aproximação da Venezuela com o Irã e a "dimensão militar" de suas relações com a Rússia.

- Incorporar a Venezuela ao Mercosul como membro pleno é comprometer a identidade, a eficiência e o poder de atração do bloco, como expressão de um regionalismo aberto, além de condenar um inovador projeto de integração à irrelevância e, no limite, à dissolução - alertou Lafer.

O jurista Ives Gandra da Silva Martins observou que entidades empresariais brasileiras - que teriam o maior interesse na adesão, em virtude do crescente comércio com o país vizinho - têm demonstrado preocupação com o ingresso da Venezuela. Uma vez que três empresas argentinas já foram nacionalizadas por Chávez, ponderou, que garantias teriam os empresários brasileiros de que o mesmo não ocorreria com eles? Advogados argentinos começam a questionar a posição de seu país em relação ao tema, disse o ex-ministro, ressaltando ainda as dúvidas sobre a democracia venezuelana.

- Parece-me que deveríamos aguardar um pouco, até que se prove que existe ali uma democracia. Enquanto isso, manteríamos até 2011 os acordos comerciais que asseguram ao Brasil a projeção que tem nas relações comerciais com Venezuela - sugeriu.

Defensora do ingresso do novo sócio, a cientista política Maria Regina Soares de Lima, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), observou que a adesão da Venezuela dará partida a um movimento de incorporação da subregião andina. Maria Regina, que é especialista em Relações Internacionais, disse que a expansão da União Européia ajudou a consolidar as "ainda frágeis democracias" que existiam naquela continente à época. Depois de ressaltar o forte crescimento das exportações brasileiras, ela alertou para os riscos de não se aprovar o protocolo.

- A recusa brasileira vai ser vista como um ato hostil à Venezuela, não há como escapar. Existe ainda a possibilidade de outros países ocuparem nichos de mercado atualmente supridos pelo Brasil - advertiu.

O embaixador brasileiro na Venezuela, Antonio José Ferreira Simões, salientou que as exportações brasileiras para aquele país saltaram de US$ 1 bilhão para US$ 5 bilhões entre 2003 e 2008. E que, somente nos quatro primeiros meses de 2009, o superávit em favor do Brasil foi de US$ 1,2 bilhão.

- Esses números não vieram apenas da competitividade das empresas brasileiras, mas sobretudo de uma decisão política da Venezuela - afirmou o embaixador.

Marcos Magalhães - Agência Senado



09/06/2009

Agência Senado


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