Roseana faz tucanos comer poeira







Roseana faz tucanos comer poeira
Em pesquisa da CNT/Sensus, governadora do Maranhão surge em segundo lugar isolado, deixando até Ciro para trás

BRASÍLIA - O PSDB está numa encruzilhada. Roseana Sarney, lançada para fortalecer o PFL numa aliança governista, torna-se cada vez mais uma candidata viável para o partido. Na corrida para o Planalto, ela fez os tucanos mais emplumados - José Serra, Tasso Jereissati e Paulo Renato - comerem poeira. Para completar, roubou o segundo lugar de Ciro Gomes (PPS). Na pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, feita pelo Sensus (CNT/Sensus), a governadora do Maranhão chegou aos 20% nas intenções de votos. O índice ainda a coloca bem atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva, com mais de 30%, mas a livra de qualquer possibilidade de empate técnico com os demais adversários.

Mesmo faltando um ano para as eleições, o resultado constrange os tucanos, que não querem abrir mão de comandar a chapa governista, mas não conseguem apresentar um candidato que tenha nas pesquisas um desempenho capaz de enfrentar Lula, que apesar das diferentes combinações de possíveis candidaturas, continua líder nas pesquisas.

A sondagem foi feita nos dias 23 e 31 de outubro. Para alegria dos pefelistas, antes do programa de televisão, veiculado dia 1°, que o PFL produziu só para fortalecer a candidatura de Roseana. ''Ela deve crescer ainda mais nas próximas pesquisas'', aposta o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Pefelistas acreditam que ela vá chegar à casa dos 25% de intenções de votos, em uma nova consulta de opinião.

Marketing - Enquanto tucanos ainda não definiram o seu candidato, o PFL concentra esforços para alavancar a candidatura de Roseana. Ela tem sido a estrela de um marketing voltado à figura feminina. ''Pesquisas nos mostram que 64% da população preferem e confiam mais em uma mulher para governar o país'', diz Bornhausen. Mesmo com o sucesso da candidata, o PFL quer negociar. Os líderes do partido acham muito difícil disputar a eleição isoladamente e querem o acordo com os tucanos. Eles acreditam que, se o presidente Fernando Henrique definir abertamente o apoio a um tucano, esse candidato vai reagir nas pesquisas.

A sondagem da CNT/Sensus apóia a tese. De acordo com a pesquisa, Fernando Henrique é capaz de transferir 9% dos votos para o escolhido na sucessão. Seria o suficiente para alavancar o nome de Serra, por exemplo. Mas, por enquanto, os números favorecem Roseana. Dependendo dos adversários colocados na pesquisa, ela varia entre 19,1% e 21,8%. Em todos os casos, um crescimento significativo em relação à pesquisa de setembro, quando obteve 14,4%.

Outro dado importante está nas indicações espontâneas, aquelas em que o eleitor declara o voto sem ver nenhuma lista de candidatos. Nesta sondagem, que aponta votos mais consolidados, Lula tem 21% das indicações, Roseana 6,2% e Ciro Gomes 4,3%. Os tucanos se saem tão mal que vêm reunidos sob o rótulo ''outros'', com 6,2%. Neste grupo, o governador do Ceará, Tasso Jereissati tem 0,8% e Serra 0,7%.
''Fica difícil para o PSDB brigar para a indicação do candidato, já que Serra, um nome em exposição desde 1986, continua patinando nas pesquisas'', avalia a cientista política, Lúcia Hipólito da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Opção - O presidente do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, acredita que Roseana não tem identificação com o governo, embora seu partido componha a base de sustentação. Ela se tornou a opção dos eleitores que não estão satisfeito com o governo mas também não se sentem representados por Ciro, Itamar ou Garotinho. No entanto, há barreiras. Os votos para a governadora se concentram nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, onde ela chega a 37,5%. ''Ainda há forte resistência no Sul'', explica.


Promotor pede suspeição de juíza
A juíza Sandra de Santis, que vai comandar processo sobre assassinato de pataxó, teria prejulgado o caso em outra ação


BRASÍLIA - Dois recursos contra a juíza Sandra de Santis tornam incerto o julgamento de quatro, dos cinco rapazes, acusados de assassinar o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, marcado para começar hoje. Na tarde de ontem a promotoria de justiça do tribunal do júri e a família da vítima entraram com recursos contra a permanência de Sandra na presidência do Júri que vai decidir os destinos de Max Rogério Alves, Antônio Novély Vilanova, Eron Chaves de Oliveira e Tomás Oliveira Almeida.

O ministro da Justiça, José Gregori, declarou ontem confiar no Tribunal do Júri, composto por 12 jurados, a quem caberá o veredicto. Disse também acreditar na culpa dos réus. ''Eles tinham noção do mal que estavam fazendo. Tinham idade e discernimento suficiente'', comentou Gregori.
Enquanto Gregori ponderava sobre o assunto, o promotor do caso, Maurício Silva Miranda, agiu. Fez um requerimento de suspeição da magistrada e o advogado da família de Galdino, o deputado Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP), apresentou pedido de impedimento. O objetivo das ações é impedir que Sandra de Santis comande o julgamento. Promotor e advogado alegam que a juíza não pode presidir o júri porque já opinou sobre o mérito da questão.

Ao apresentar a denúncia formal do crime, quatro dias após a morte de Galdino, a então promotora do caso, Maria José Miranda, o apresentou como homicídio triplamente qualificado. Na avaliação de Maria José os quatro rapazes e o menor G.A.J. cometeram assassinato com requintes de crueldade: utilizaram fogo, atingiram a vítima durante o sono, impossibilitando a defesa e tiveram motivo torpe, divertir-se.
Mas a juíza Sandra de Santis amenizou a qualificação pronunciando o crime como lesão corporal seguida de morte. Para ela os rapazes não tinham a intenção de matar e não sabiam dos riscos do ato cometido. A decisão da juíza causou polêmica e levou a três recursos que chegaram ao Superior Tribunal Federal. Coube aos ministros do STJ reformar a classificação do crime. Eles entenderam que se tratava de homicídio, e por isso, o julgamento cabia ao Tribunal do Júri, e não a um único magistrado, como queria Sandra de Santis.

Para o presidente da Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Leonardo Bandarra,. a juíza pode influenciar os jurados, uma vez que já deu sua opinião. ''Além disso será muito constrangedor para o promotor fazer sua argumentação criticando a presidente do caso'',
Bandarra faz questão de dizer que considera a juíza Sandra de Santis uma pessoa ''integra e proba'', mas sugere o afastamento até mesmo como forma de ela ''preservar a própria imagem''. Também o promotor do caso, Maurício Miranda avisa que vai recorrer da decisão final, caso Sandra de Santis não se considere impedida.


Assasinato de servidor pode ficar impune
BRASÍLIA - Quase dois anos depois, ninguém foi punido pela morte do jardineiro José Ferreira da Silva, na repressão da Polícia Militar do Distrito Federal a uma manifestação de funcionários, durante greve na Novacap. A sentença da 7ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça absolveu 18 dos 19 policiais indiciados por abuso de autoridade. O Ministério Público recorreu da decisão, mas o crime poderá ficar impune se não for julgado até agosto do próximo ano, prazo em que prescreve.

Em 2 de dezembro de 1999, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM foi chamado para desocupar a sede da Novacap, empresa de obras de infra-estrutura, invadida pelos grevistas. Durante a ação, que durou menos de 20 minutos, foram disparados 190 tiros de espingarda calibre 12. Segundo a PM, as balas eram de borracha, mas as que mataram José Ferreira - ele assistia à manifestação de cima de um caminhão - era de chumbo.

Um mês - O único policial condenado, segundo-tenente N elson Pires Filho, recebeu pena de um mês de prisão, convertida em prestação de serviços à comunidade. Ele disparou um tiro com munição de borracha que deixou cego do olho direito o sindicalista Cláudio Gomes.

Na sentença, o juiz João Batista Teixeira afirmou que não encontrou ''prova de que os acusados agiram movidos pela vontade livre e consciente de abusar''. A ação da PM na Novacap foi descrita em processo de 2,5 mil páginas, quatro fitas de vídeo das emissoras de televisão e cerca de 300 fotos de jornais, que mostraram cenas de agressão e omissão de socorro.

Excesso - ''A conduta foi criminosa desde o início'', afirmou o promotor André Vinícius de Almeira. O uso de cassetetes e espingardas calibre 12, mesmo com balas de borracha, acrescentou, já caracterizaria abuso de poder. Segundo o promotor, as imagens de televisão mostram que os soldados do Bope iniciaram a ação com violência desproporcional à manifestação. ''Mesmo autorizada, a ação foi feita com excesso'', disse.

Além de absolvidos no primeiro julgamento, os dois oficiais de maior patente envolvidos no caso ocupam atualmente cargos de confiança na corporação. O tenente-coronel Mário Vieira, então comandante do Bope, é atualmente chefe de gabinete do comandante da PM, coronel Ruy Sampaio.

IPM - O ajudante-de-ordens do coronel Sampaio, é o capitão Josias Seabra, que comandava o pelotão armado com granadas de gás lacrimogêneo. Tanto Seabra como Vieira foram conduzidos aos postos que ocupam meses depois da desastrosa operação da PM. Coincidentemente, Sampaio foi chefe do inquérito policial-militar (IPM) sobre o caso da Novacap e, logo após, assumiu o comando-geral da PM.

O tenente-coronel Vieira e sua tropa ainda respondem na Auditoria Militar a processo pelos crimes de condescendência criminosa, falso testemunho e perda de eficiência da força. O julgamento só deve começar em abril do próximo ano.

Sem data - Na Justiça comum, o segundo julgamento dos policiais do Bope ainda não tem data. A defesa pediu a transferência do processo contra o tenente Euzair Teixeira Nunes, acusado pela morte de José Ferreira da Silva, para a Auditoria Militar. A promotoria tenta manter o julgamento no tribunal do júri. O pedido está sendo analisado no Superior Tribunal de Justiça (STJ).


Garota do giz ataca ''exagero''
BRASÍLIA - No dia 23 de outubro, ''inspirada'' pelas sucessivas suspeitas de encomendas contendo a substância antraz, a estudante Maísa Corrêa resolveu fazer uma brincadeira. Levou para o Ministério da Justiça, onde trabalhava, uma carta com pó de giz. Era uma piada, claro. Maísa abriu a carta e mostrou aos colegas de seção. Foi o suficiente para virar a vida da menina de cabeça para baixo.
Maísa não só perdeu o emprego como vive quase sitiada em casa, em Samambaia, a 25 quilômetros do Centro de Brasília. Detesta falar sobre o assunto, mas tem a defesa pronta: acha que a punição foi ''um exagero''.

''Fui muito prejudicada por isso'', disse ao Jornal do Brasil. Ela não esperava perder o estágio que lhe rendia R$ 200 por mês. ''Foi a segunda maior burrada que eu fiz na vida'', lamenta a garota de 19 anos. Ela prefere não falar da primeira. Parentes e vizinhos acreditam que a tal ''burrada'' anterior estaria associada a um relacionamento que teve com um rapaz que a abandonou quando ela teve uma filha.

Paranóia - Maísa perdeu o pai quando criança. Vive com a mãe e um irmão. Os parentes, revoltados, disseram não imaginar que houvesse ''tanta paranóia em torno do terrorismo no Brasil''.
A tal ''paranóia'' foi detonada quando Maísa levou a carta para o trabalho e chamou a atenção dos colegas para o conteúdo. Ela fazia estágio no Conselho dos Direitos e Defesa da Pessoa Humana, do Ministério da Justiça, e abriu a carta diante das secretárias.

No lugar do remetente, Maísa escreveu ''Embaixada do Islã'', que não existe. O que mais assustou, segundo funcionários, foram rabiscos que lembravam palavras do alfabeto árabe. Maísa consultou um texto em árabe para desenhar letras. ''É óbvio que foi uma brincadeira. A carta nem estava selada'', reclama.
Depois de toda a confusão, Maísa, antes de ir para a escola, pede que os parentes façam uma varredura na rua. ''Minha vida nunca teve nada disso'', diz. Alguns vizinhos se referem a Maísa como ''a garota do antraz''.

A ex-estagiária deverá responder a processo na Justiça por falso alarme, uma contravenção penal que pode render de 15 dias a 6 meses de prisão. Segundo o Ministério da Justiça, a Polícia Federal nem instaurou inquérito. Após prestar depoimento, foi feito um termo, enviado ao juiz.


Delfim ironiza livro de Marcílio
''Impressionou-me, sobretudo, o universal protagonismo do ilustre embaixador (Marcílio Moreira Marques). Aprendi, não sem alguma surpresa, que durante aquele período (de JK a Collor) sua fulgurante inteligência foi o centro em torno do qual se desenrolou toda nossa história.'' Com essas palavras o deputado Delfim Netto se refere ao recente livro de memórias do ex-ministro Marcílio Marques Moreira, Diplomacia, política e finanças, em artigo com o título ''Marcílio, o protagonista'', publicado domingo no Jornal do Commercio.
À primeira vista, são rasgados elogios. Mas, logo, o leitor se dá conta da mordacidade nas palavras de Delfim.

No artigo, em meio a estocadas carregadas de ironia, Delfim dá a sua versão dos acontecimentos históricos que, a seu juízo, foram relatados de forma deturpada ou contados no livro de forma a supervalorizar o papel de Marcílio. Assim, diz Delfim, em trecho particularmente sarcástico: ''Se essa extraordinária inteligência (a de Marcílio) não tivesse deixado de lado por alguns instantes a sua modéstia, teríamos perdido parte significativa e decisiva da contribuição do real protagonista da história diplomática, política e financeira do Brasil...''

Simonsen - Delfim nega que tenha contribuído para afastar Mário Henrique Simonsen do governo Figueiredo em agosto de 1979, quando assumiu o Ministério do Planejamento, como afirma Marcílio. E garante que Simonsen estava mesmo decidido a sair, apesar dos esforços do presidente Figueiredo e do general Golbery, chefe da Casa Civil, para mantê-lo no governo. E dispara: a afirmação de Marcílio ''é típica de quem não conhece os fatos''.

Os dados do ex-ministro sobre índices de inflação e do crescimento da dívida no período em que foi o homem forte da economia também são questionados. Delfim Netto apresenta os seus e afirma, irônico: ''O ilustre cientista confunde os números.''
Procurado ontem pelo Jornal do Brasil, o ex-ministro Marcílio Marques Moreira informou que não se pronunciaria sobre o artigo de Delfim.


PF investiga apostas em dólar
Inquérito é aberto para investigar denúncia do Jornal do Brasil sobre corridas de cavalo transmitidas on line para o país

A Polícia Federal do Rio Grande do Sul começou a investigar ontem as atividades da Carnegie Cooke do Brasil, empresa de Porto Alegre que opera as apostas de corridas de cavalo, em dólares, on line, diretamente de vários jóqueis dos EUA. O inquérito foi instaurado por determinação do superintendente da PF no Rio Grande do Sul, delegado Rubem Albino Sockink, que disse ter ficado chocado ao tomar conhecimento ontem, por intermédio do Jornal do Brasil, de que os recursos das apostas da Carnegie Cooke do Brasil são enviados para o exterior. A empresa de apostas atua também como o nome de Jockey Clube Eldorado do Sul.

''Isso é uma barbaridade, estão querendo, no mínimo, fazer uma brincadeira com a gente. Esse cassino abre uma brecha pra que dinheiro de outros crimes possa ser lavado e remetido para o exterior por meio da jogatina'', disse Sockink.
Conhecido por ter decifrado operações de lavagem de dinheiro por meio das contas CC-5 ( de domiciliados estrangeiros no Brasil), o procurador da República no Rio Grande do Sul, Celso Três, enumerou uma série de crimes a serem investigados: lavagem de dinheiro, remessa irregular de recursos para o exterior, formação de quadrilha e organização criminosa. Para Celso Três, o funcionamento de uma filial da Carnegie Cooke no Brasil demonstra que por trás da contravenção se escondem inúmeros outros crimes.

''Essa história é assustadora. Mostra que o dinheiro obtido com o crime organizado pode estar sendo lavado e enviado pelo exterior por meio das apostas. É um prova clara de que o governo do estado comete um erro ao fazer vista grossa para a contravenção no Estado''
Valdo Marques Jr, advogado da Carnegie Cooke do Brasil, disse ontem que o funcionamento da casa tem respaldo num despacho do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Segundo ele, não cabem mais recursos e a medida garante o funcionamento da casa de apostas até o julgamento do mérito.

A informação, no entanto, foi negada ontem pela assessoria de imprensa do Tribunal: não há registro de decisão judicial garantindo o funcionamento da casa. Tramita apenas no Tribunal o processo criminal sobre a legalidade das apostas on line. Em 23 de outubro, o ministro do STF Carlos Veloso negou habeas-corpus aos advogados da Carnegie Cooke por considerar que as apostas on-line da casa devem ser enquadradas no crime de contravenção penal.

O advogado disse ainda que a empresa tem autorização do Banco Central para enviar o dinheiro das apostas para o exterior. Esse versão é contraditada pelo próprio proprietário da casa, o coronel reformado Valdo Marques, pai do advogado. Segundo o coronel Marques informou ao Jornal do Brasil, o dinheiro das apostas não sai do Brasil.
''O Banco Central pode ter dado autorização para enviar dinheiro para o exterior para outros fins, nunca para a jogatina, já que não tem competência para isso'', afirmou o procurador Celso Três.


Brizola processará filho e revista Veja
O ex-governador do Rio e presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, vai processar o filho José Vicente (PT-RS), o PT do Rio Grande do Sul e a revista Veja por causa de reportagem, publicada na edição desta semana, segundo a qual ele teria aumentado quatro vezes seu patrimônio, nos últimos 20 anos.
O ex-governador atribui as acusações ao filho, que, diz, enviava-lhe e-mails contando ter fornecido informações a esse respeito à revista. José Vicente integra o governo petista no Rio Grande do Sul, onde é diretor da loteria estadual.

Brizola considerou a matéria ''torpe'' e disse que seu patrimônio tem origem na herança da família de sua falecida mulher, Neuza, irmã do presidente João Goulart (1961-1964). Parte teria sido dividida posteriormente com os filhos, há cerca de oito anos, na ocasião da morte de sua mulher. O ex-governador prometeu apresentar provas à Justiça, onde moverá ações cível e penal.
''Vai ser uma guerra dos Brizola contra os Civita (família controladora da Editora Abril, que detém Veja), que vieram corridos por militares e guerrilheiros da Argentina - onde eram vistos como representantes da CIA (Agência Central de Inteligência). Aqui, foram bem recebidos pela ditadura'', declarou ontem, no Rio. Segundo o político, ''os Civita, que aumentaram o patrimônio um milhão de vezes e fizeram um império, sob a proteção do regime, vêm falar de mim? Vamos ver quem tem mais banha para gastar.''

A reportagem afirma que os bens de Brizola aumentaram em R$ 10,7 milhões em 20 anos. Para o assessores do ex-governador, Veja ignorou que a atividade rural em suas fazendas deram bons lucros no período.
Brizola confessou estar decepcionado com a suposta atitude do filho. ''Quando um filho é capaz de uma perversidade desse tipo, dói na gente. José Vicente tem 50 anos e sempre foi tratado a pão-de-ló por mim e por Neuza. Não sei o que se passou com ele. A informação que tenho é que passou a abusar de bebida. Meus olhos nem se molham ao tomar uma atitude contra ele, nessas circunstâncias'', disse.
Para ele, o PT gaúcho teria patrocinado as acusações e manipulado seu filho, com o intuito de desviar a atenção da mídia das recentes suspeitas de ligação do atual governo com o jogo do bicho. ''Ele está sendo manipulado porque exerce um cargo de confiança.''

O JB telefonou para o escritório de José Vicente no Rio Grande do Sul, mas não conseguiu contato. O chefe da sucursal da revista Veja no Rio, Lauro Jardim, afirmou que ''se Brizola processar a revista, vai perder, porque todas as afirmações contidas na matéria estão baseadas em documentos''.


Governo recua com professores
BRASÍLIA - A greve dos professores das universidades federais pode virar um presente de grego no Natal para pais, alunos e professores. A queda de braço entre o Ministério da Educação e o Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes) viveu seu auge, ontem, depois que os grevistas souberam que o governo pretende recuar dos itens já acordados na semana passada.

Como parte de uma nova lista de propostas que o MEC apresentará aos grevistas, a incorporação da Gratificação de Atividade Executiva (GAE) está totalmente descartada. ''Chegamos à conclusão de que não há recursos para isso'', disse a secretária de Ensino Superior, Maria Helena Guimarães. Ela não confirma, mas no lugar da GAE Maria Helena vai propor novamente o reajuste de 30% no valor da Gratificação de Estímulo à Docência (GED). Nesses moldes, a proposta é idêntica à primeira oferta feita pelo MEC aos professores universitários, logo após o início da paralisação em 22 de agosto.

Ontem os professores estiveram reunidos com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. Assim como o fizeram no mês passado, esperam que o Supremo determine o desbloqueio dos salários de outubro.


Artigos

A barriga da barriga
Técio Lins e Silva

Pegar barriga é expressão que significa engravidar, ficar prenhe. Na gíria jornalística, barriga é a divulgação de informação falsa. Nem uma nem outra é rara no país. Os crimes contra os costumes excitam o público, ainda mais se envolvem uma cantora, bonita e mexicana, como no caso dessa moça cuja extradição foi deferida pelo Supremo Tribunal Federal, há quase um ano, e que agora pegou barriga na prisão.
Especula-se como pode uma mulher presa engravidar sem direito a visita íntima, razão das suspeitas para acusados do tráfico de sêmen ou do singelo ato da procriação. Muita gente boa tem falado no assunto e metido a colher na gravidez da artista, pois até investigação policial foi instaurada ''visando à apuração das circunstâncias em que se deu a gravidez'', o que já garantiu espaços generosos para as conjecturas e imaginação fértil da mídia em geral.

Não se disse ainda que o STF, há quase 40 anos, vem repetindo que ''não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro'', pensamento expresso na Súmula 421, espécie de axioma para a jurisprudência da corte, isto é, matéria inquestionável e sobre a qual nem perdem tempo os seus ministros. O estrangeiro acusado de crime praticado no exterior pode ter uma linda família no Brasil, lar constituído, mulher, filhos e netos brasileiros, e mesmo assim ser extraditado para prestar lá fora suas contas com a Justiça.

O que talvez justifique a confusão feita por tão ilustres observadores da prenhez alheia é a Súmula n° 1, do próprio STF, que diz que ''é vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente da economia paterna''. (Não se assustem os feministas, que a regra se aplica também às estrangeiras casadas com brasileiro). Esse entendimento está em vigor desde 1963, apenas havendo pequena divergência sobre a dependência econômica e a guarda do fil ho. Vale dizer, assumiu um cônjuge brasileiro - vale para o homem e para a mulher - ou teve filho brasileiro, já não pode ser expulso.

Extradição e expulsão não são sinônimos; a extradição é o ato de entrega de um estrangeiro a um país que o reclame, para que ele responda pelos crimes ali praticados ou cumpra a pena aplicada pela Justiça do Estado requerente. O Brasil não admite a extradição de nacionais. Já a expulsão de um estrangeiro é um ato de soberania do Estado brasileiro, desde que considerada indesejável a sua presença entre nós, nos termos do Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/80).

Essa confusão vale para o famoso caso de Ronald Biggs, que costuma ser citado como exemplo de criminoso estrangeiro que não foi extraditado porque tinha filho brasileiro. Nada disso. A Inglaterra, naquele tempo em que ele fugiu da prisão para a Austrália e de lá se refugiou no Brasil, não reconhecia a extradição como um instituto do direito internacional, negando-a para quem a solicitasse. Como a reciprocidade (verbal ou por tratado entre os países) é condição fundamental para a sua existência, o Reino Unido nem chegou a pedir a extradição ao Brasil, tendo sido a expulsão e deportação para outro país negadas porque o filho brasileiro já estava encomendado. Aí valeu a Súmula n° 1 do STF. Hoje, os ingleses já romperam com a tradição conservadora e já aceitam a extradição nas duas vias.

Enquanto a Justiça aprecia o caso, a polícia investiga a gravidez e o assunto ocupa o noticiário, com ou sem tequila estimulando as fantasias eróticas dos leitores, a imprensa vai divulgando a barriga. A sua e a da cantora, olé!


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER

O diagnóstico do doutor Nizan
Em tempo de campanha eleitoral, jogo todo mundo faz. A diferença com o publicitário Nizan Guanaes é que o dele, ele não esconde: ''Eu sou tucano'', vai logo dizendo, pedindo ao garçom um pedaço de papel, uma caneta, e registrando a declaração para que as circunstâncias - essas criaturas traiçoeiras - não o deixem mentir jamais.

Responsável pelos programas políticos do PFL e do PSDB - já fez comerciais para Paulo Renato e Tasso Jereissati e foi o homem que pôs a figura de Roseana Sarney para jambrar em âmbito nacional -, Nizan anda num entusiasmo só, veja o leitor com quem: seus prediletos, os tucanos. Justamente aqueles que andam segurando umas boas lanternas nas pesquisas de opinião.
Ontem, pelo celular, a cada dado que recebia sobre a pesquisa CNT, vibrava com os braços para cima e aquele jeito espalhafatoso que tem desde o dia em que a mãe - ''petista roxa''- o pôs no mundo. Os motivos de tanta alegria eram dois: a melhoria da avaliação positiva do governo Fernando Henrique - ''isso é a sociedade dizendo que está ficando de bem com ele''- e o índice de 21% de Roseana, segundo lugar depois de Luiz Inácio Lula da Silva, em pesquisa feita antes do último programa do PFL dedicado totalmente a ela.

A despeito disso, acha que a ''pauta'' resultante da pesquisa é outra. Para ele, o dado mais importante é que o desempenho dela - na próxima pesquisa aposta que não será menos de 25% - exibe a ''fragilidade de Lula''. Como assim?
''Roseana não tinha esse patrimônio até outro dia e o conquistou com exposição. Lula está exposto como candidato há 12 anos e está apenas dez pontos percentuais à frente dela. Não sai disso, parece um reservatório de água do Nordeste'', analisa, acrescentando: ''Se fizermos o mesmo com Serra ou Tasso, pode apostar que os índices também subirão e Lula permanecerá onde está.''

E por quê? Porque, na visão de Nizan Guanaes, o eleitorado verdadeiramente não quer Lula. ''O problema é que o PT está com o candidato errado para o momento que o Brasil está vivendo e as exigências que a sociedade foi adquirindo.'' Exemplifica: ''Se o dono desse restaurante aqui fosse escolher entre Serra e Lula para entregar a administração da casa, por quem ele optaria? Mesma coisa a dona Maria, cujo único investimento é poupança e voto.''

Por essas e por outras é que acha que seu amigo Duda Mendonça tem um problema: ''Esconder o candidato.'' Sim, mas, e Nizan, que nem candidato tem ainda para mostrar?
Exato, e é com isso que Nizan se impacienta um pouco. ''O PT já profissionalizou a campanha, o PFL também, está na hora de o PSDB profissionalizar a sua campanha.'' Ou seja, botar o bloco - qualquer que seja ele - na rua. ''Enquanto Serra estiver fazendo campanha de ministro da Saúde e Tasso de governador do Ceará, nenhum dos dois vai a lugar algum.''

O publicitário não diz assim, com todas as letras, mas fica claríssimo que o candidato que ele imaginaria trabalhar agora seria Serra. Talvez por ser o predileto de Fernando Henrique.
Nizan não gosta, nem acha que seja sua função, se envolver nos tempos, meios e modos dos políticos. Mas não vê porque não possa analisar o modus operandi de seus potenciais clientes.
Na concepção dele, estava mais do que na hora de Serra focar uma estratégia e segui-la, a fim de não ser apenas uma promessa de bom presidente, mas uma realidade de bom candidato. ''No ministério ele já venceu, nenhum dos programas de sua administração recebe menos que nota 8 nas pesquisas. No entanto, essa avaliação não se transpõe para a tendência de voto.''

E, na opinião do publicitário, é perfeitamente possível fazer essa transposição, ''desde que Serra mostre à população que ele também sabe cuidar de outras coisas. Que entende de economia, tem sensibilidade social, é pessoalmente solidário, gosta de futebol, enfim, é candidato a presidente da República e não ao prêmio Nobel de Medicina''.
Nizan faz questão de ressaltar dois aspectos: um, que já disse tudo isso (e um pouquinho mais) a Serra e que, em absoluto, está se candidatando a fazer a campanha. ''Se puder fazer, ótimo, mas falo essas coisas porque não quero ficar como a terceira filha do rei Lear, que era a única a lhe dizer a verdade e foi expulsa do reino.''

Caso venha a ser o responsável pelos candidatos - seja ele Tasso ou Serra - acha que terá um problema inverso ao de Duda Mendonça. ''O meu eu posso expor e não preciso inventar conteúdo porque isso eles têm de sobra. O trabalho é traduzir todo aquele pensamento sofisticado, de modo a que não fiquem eles de um lado, com suas sabedorias, e a sociedade de outro com suas carências.''
Marqueteiro de FH, em 1994 e 1998, Nizan lembra que da primeira vez Fernando Henrique, mesmo com o Plano Real, só deslanchou nas pesquisas depois que parou de ouvir os conselhos para montar em jumento e comer buchada de bode. ''Teve o estalo de Vieira de que precisava mostrar-se como era. É esse estalo que está faltando aos outros.''

Cachê afetivo
Convidada a participar da publicidade do novo show de Roberto Carlos, no Teatro Municipal, a supermodelo Gisele Bündchen, cujo cachê é sempre coisa de cinco dígitos para cima, fez uma única exigência.
Que Roberto Carlos se encontrasse com a mãe dela.


Editorial

Quebrando Tabus

A presidência da Câmara dos Deputados decidiu incluir na pauta de votação ainda este ano emenda constitucional que diz respeito ao futuro da imprensa no Brasil. O substitutivo do deputado (licenciado) Henrique Alves está pronto para ir a plenário desde setembro de 1999, e introduz duas inovações que até então eram tabu na mídia: a participação de capital estrangeiro nas empresas até o limite de 30% e a autorização para pessoas jurídicas serem donas de veículos de comunicações, cuja propriedade é atualmente restrita a pessoas físicas.

Tanto a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV) quanto a ANJ (Associação Nacional de Jornais) já se manifestaram a favor do substitutivo, que corrige distorções históricas e coloca a imprensa brasileira em condições de enfrentar desafios do mundo moderno.
Como disse o presidente da ANJ, Francisco Mesquita Neto, as distorções prejudicam os veículos de comunicação em relação a outras modalidades da mídia: ''Em termos de publicidade, os jornais concorrem com outdoors, Internet e TV a cabo, que não sofrem limitações quanto à participação de capital estrangeiro.'' Já o presidente da Abert, Paulo Machado de Carvalho Neto, lembra que só a implantação do sistema de TV digital, previsto para se iniciar em 2003, exigirá investimento de US$ 500 milhões - quantia difícil de ser obtida pelas emissoras.

A imprensa brasileira rompeu o milênio às voltas com os mesmos problemas que a impedem - quanto ao aspecto industrial e às limitações de sucessivas leis de imprensa - de se alinhar aos mais importantes órgãos da imprensa internacional. As leis de imprensa freqüentam as comissões legislativas há 78 anos, quando a primeira delas, em 1923, estabeleceu restrições à liberdade de expressão.
Imprensa livre, sem obstáculos burocráticos, sem restrições de ordem industrial, forte e ativa, é sinal de país forte, democrático. A relação imprensa livre/democracia é tão significativa que em 1787 Thomas Jefferson afirmou, nos EUA: ''Se coubesse a mim decidir se devêssemos ter governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não hesitaria em optar por jornais sem governo.'' De fato, imprensa não precisa de restrições nem de leis, e sim de liberdade.

Quase todos os dispositivos que ainda hoje regem a imprensa são resíduos do primeiro período Vargas, e se destinam a manter sobre ela certa dose de controle de cima para baixo, sobretudo naqueles dois itens que regulam a posse de jornais, rádios, televisões e revistas unicamente por pessoas físicas e a entrada de capitais estrangeiros. Na era da internet e da TV a cabo - ambas abertas ao capital estrangeiro e passíveis de serem propriedade de pessoas jurídicas - com todo o volume de informações que os cidadãos recebem diariamente, é inconseqüência imaginar que simples leis controlarão a informação.
A história da imprensa, de Gutenberg até hoje, na galáxia eletrônica, mostra que a livre divulgação de informações, longe de pôr em risco sistemas democráticos, reforça-os.


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11/06/2001


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