Saída da força de paz brasileira não pode ser repentina, dizem haitianos



Na manhã do primeiro dia de visita à capital do Haiti, Porto Príncipe, os senadores da Comissão de Relações Exteriores (CRE), Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da comissão, Flávio Torres (PDT-CE), Gerson Camata (PMDB-ES) e João Pedro (PT-AM), conheceram um projeto social, foram recebidos pelo presidente, René Préval, ouviram o presidente do Senado haitiano, Kelly Bastien, e estiveram com o representante especial da ONU no país, Hédi Annabi. Em todos os encontros, ouviram o mesmo apelo: a permanência das forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) ainda é vital para a estabilidade do país e sua saída repentina só interessa a grupos radicais, principalmente aos traficantes de drogas.

No encontro com Préval, Eduardo Azeredo manifestou seu apoio à participação brasileira na missão de paz.

- Temos muito respeito por essa missão. Viemos dizer que desejamos não só participar da estabilização, mas também da recuperação e desenvolvimento econômico do pais - afirmou.

Por sua vez, João Pedro declarou-se satisfeito em participar da comitiva, levando a solidariedade do povo brasileiro. No entanto, ele questionou o presidente sobre o tempo de permanência da força de paz.

René Préval respondeu afirmando que acredita que o fracasso das missões anteriores da ONU - foram sete nos últimos 15 anos - foi em parte causado pela sua saída prematura. Ele ressaltou a importância dos parlamentares continuarem apoiando a permanência das tropas brasileiras no país.

- O Brasil está no coração dos haitianos. Esta missão nos permitiu ter segurança, mas queremos que a Minustah [Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti] conclua o trabalho. Quando terminará, eu não sei, mas acho que será quando o Haiti tiver viabilidade em termos de segurança, economia e instituições - disse Préval.

Já os senadores haitianos se mostraram temerosos de que a missão se prolongue muito. Atendendo a questionamento de Azeredo, o vice-presidente do Senado do Haiti, Andris Riché, afirmou que, quando as tropas chegaram, a situação exigia sua presença, mas defendeu o planejamento gradual da retirada.

- Não pensamos, nem acreditamos que as tropas tenham violado de qualquer forma os direitos humanos no Haiti. Nós apreciamos sua presença, mas pensamos que é preciso planejar a retirada, de forma gradual, e investir em novas formas de cooperação - disse.

Na sede da Minustah, a comitiva foi recebida por Hédi Annabi e pelo general-de-brigada Floriano Peixoto, comandante do contingente militar da força de paz da ONU. Questionado pelos senadores brasileiros acerca do conflito entre as posições assumidas pelo presidente e pelos senadores ouvidos em relação ao tempo de permanência no país, Annabi explicou:

- Já temos um plano de saída, aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU. Esse plano de consolidação da estabilização contém objetivos a serem atingidos e indicadores de progresso. Além disso, é preciso esperar pelas eleições e a consolidação dos resultados. Se tudo correr bem, poderemos começar a sair gradualmente no segundo semestre de 2011. Qualquer saída de um número substancial de soldados antes disso seria de alto risco e teríamos que voltar.

Annabi explicou ainda que a força de paz não consegue atender à reivindicação dos haitianos por mais infraestrutura por falta de recursos. Embora tendo equipamentos e podendo contratar a mão de obra local, os recursos para a compra de material não são fornecidos pelo Conselho de Segurança. O financiamento deve partir de agências e bancos internacionais, além de doadores. Nesse sentido, ele disse que o envolvimento do ex-presidente americano Bill Clinton, que esteve no Haiti em julho como enviado especial da ONU, poderá ser de grande ajuda para o levantamento de fundos.

Projeto social

No primeiro compromisso da manhã, os senadores visitaram ainda o projeto de coleta de lixo no bairro de Carrefour Feuilles, um dos mais pobres da capital de cerca de 4 milhões de habitantes, acompanhados do embaixador brasileiro no Haiti, Igor Kipman. Desenvolvido pela comunidade com os objetivos de reduzir a violência, aumentar a renda e limpar as ruas, o projeto emprega 389 pessoas, 60% mães de família. Patrick Marcenah, que dirige a associação da comunidade, agradeceu a presença da comitiva brasileira.

- O Brasil, nós levamos no nosso coração e no nosso projeto. Por favor, agradeçam ao povo brasileiro pela ajuda. É com essa ajuda que nossas mães mandam seus filhos à escola e os alimentam - afirmou, pedindo ainda que os senadores levem ao presidente Lula o convite para que ele visite o projeto, idealizado pela brasileira Eliana Nicolini.

Arrasada por décadas de conflitos internos, a economia do Haiti está destroçada e seus indicadores sociais, entre os menores do mundo. Cerca de 58% da população está subnutrida, 48% são analfabetos e a imensa maioria não tem acesso a água potável, energia e esgoto.

A ajuda da ONU, liderada pelo Exército Brasileiro, tem o objetivo de estabilizar o país, começando por reduzir a violência, para que os haitianos possam reconstruir a economia. Após quatro anos de presença da ONU, as cidades já têm relativa segurança e os objetivos militares cedem espaço à ajuda comunitária e para criação de uma infraestrutura mínima de transporte, energia, água potável, limpeza e recuperação das florestas e rios, em sua maioria totalmente devastados e poluídos.

Integram ainda a comitiva brasileira em visita ao Haiti o suplente de senador, Eurípedes Pedro de Camargo, o deputado estadual por Minas Gerais, Lafayette de Andrada, representantes do Ministério das Relações Exteriores, e assessores da CRE.

Thâmara Brasil / Jornal do Senado

Haiti: Uma história conturbada

14/08/2009

Agência Senado


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