São Paulo presta homenagem aos heróis de 32
Com uma mulher no comando do Exército Constitucionalista, o desfile na capital comemorou os 76º aniversário da revolução paulista
Essa é a trincheira que não se rendeu:
A que é nossa bandeira cravada no chão.
Pelo branco do nosso ideal.
Pelo negro do nosso luto.
Pelo vermelho do nosso coração!
A que atenta, nos vigia;
A que invicta, nos defende;
A que eterna, nos glorifica!....
A que não transigiu, a que não esqueceu,
A que não perdoou!
Os versos da Oração Ante a Última Trincheira, do poeta Guilherme de Almeida, deram o tom do desfile em comemoração ao 76º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, na manhã desta quarta-feira, 9, na capital. O evento contou com a presença do governador em exercício Alberto Goldman, do prefeito de São Paulo,Gilberto Kassab, dos secretários estaduais Ronaldo Marzagão (Segurança Pública) e Luiz Antonio Marrey (Justiça e Defesa da Cidadania), Luiz Massao Kita (Casa Militar) e do deputado Vaz de Lima, presidente da Assembléia Legislativa, entre outras autoridades. “Essa é uma homenagem importante porque lembra a luta de São Paulo pela liberdade, por uma vida melhor, por um Brasil melhor”, disse Goldman.
Nove de Julho é feriado no Estado desde 1997
O evento foi aberto às 9h01 com a chegada de Alberto Goldeman em carro oficial precedido por batedores. Em seguida houve a tradicional troca de comando do Exército Constitucionalista, que é sempre exercido por um dos envolvidos na revolução e muda a cada ano. Este ano, pela primeira vez o comando foi entregue a uma mulher, Dirce Rudge Pacheco Silva, que tinha 14 anos à época do conflito. Dois de seus irmãos foram para a guerra enquanto ela se alistou no pelotão dos voluntários, tecendo gorros e agasalhos para os combatentes da linha de frente.
Movimento armado ocorrido entre julho e outubro de 19932, a Revolução Constitucionalista contestava o governo provisório de Getúlio Vargas, que liderou uma revolução em 1930, assumiu a Presidência da República e revogou a Constituição. A princípio, os paulistas contavam com o apoio de Minas Gerais e Mato Grosso. No final, São Paulo ficou isolado, não conseguiu receber ajuda de outros Estados nem comprar armas no exterior, por causa do bloquei do porto de Santos. Era uma luta desigual: 35 mil paulistas contra 100 mil soldados da força nacional.
No discurso da ordem do dia, Dirce lembrou o esforço paulista: “Enquanto nossos maridos, pais e irmãos estavam nas trincheiras combatendo as forças ditatoriais, a família paulista atuava em auxílio desses bravos jovens, cuidando dos feridos nos hospitais, arrecadando fundos, costurando uniformes e agasalhos, organizando o correio militar, fabricando munição e capacetes”.
Em 3 de outubro os paulistas assinaram a rendição. Conquistaram, porém, uma vitória moral. Em 3 de maio de 1933 foram realizadas eleições e em novembro instalou-se a Assembléia Constituinte, que deu ao país uma nova Constituição, promulgada em 15 de julho do ano seguinte. “São Paulo ensinou ao Brasil que princípios não se negociam, que valores não são relativos, que a lei não se dobra. Mesmo em tempos difíceis, tempos conturbados, onde o público se confunde com o privado”, afirmou Dirce em seu discurso.
Antes do desfile, os restos mortais de onze ex-combatentes foram depositados na cripta do Obelisco do Ibirapuera, monumento em homenagem aos heróis de 32. Em seguida, o governador em exercício, o prefeito Gilberto Kassab, o secretário Marzagão e o comandante-geral da PM, coronel Roberto Antônio Diniz, depositaram flores no túmulo do Herói Jacente.
Alberto Godman e outras autoridades também entregaram a Medalha Constitucionalista a 32 pessoas, entre as quais o secretário-chefe da Casa Civil, Luiz Massao Kita, e Dirce Rudge Pacheco Silva. A honraria é concedida pela Sociedade dos Veteranos de 32 – MMDC a pessoas que se destacam na defesa dos ideais democráticos defendidos pelo Movimento Constitucionalista.
Da Redação
(I.P.)
07/09/2008
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