São Paulo promove campanha e reforça medidas para o combate à hanseníase



Iniciativa alerta a população sobre a importância de identificar os sintomas da doença e buscar ajuda precocemente

Um dos principais instrumentos de combate à hanseníase, a informação sobre a doença, ganhou reforço com campanha lançada em outubro pela Secretaria de Estado da Saúde. Realizada em parceria com a Fundação Paulista de Hanseníase, ela abrangeu a distribuição de 1,5 milhão de panfletos, 40 mil cartazes e 50 mil folders por todo o Estado (em postos de saúde e outros locais de acesso público) com alertas sobre os sintomas da doença.

O slogan Se toque, a hanseníase tem cura! sintetiza o intuito da iniciativa, que é sensibilizar médicos e a população em geral para a importância de observar os sintomas e procurar auxílio médico o mais cedo possível. O material inclui ainda spots para divulgação em rádio. Eles podem ser baixados, no formato MP3, do site do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) para serem usados por veículos de comunicação regionais, escolas e outras instituições.

A campanha é realizada anualmente há mais de 10 anos porque, segundo a diretora da Divisão de Hanseníase do CVE, Mary Lise Carvalho Marzliak, é uma das principais formas de combater a doença. O diagnóstico precoce da hanseníase evita que o paciente venha a apresentar seqüelas graves, como a incapacitação física. O tratamento, realizado na rede pública, é gratuito.

“A hanseníase é uma doença de baixa transmissibilidade. A divulgação à população sobre os sinais e sintomas é importante para que os pacientes recorram ao serviço de saúde o mais precocemente possível. Uma vez iniciado o tratamento, já na primeira dose, a possibilidade de contágio deixa de existir e, quanto mais cedo for iniciado o tratamento, maior a possibilidade de se evitar as seqüelas”, explica Mary Lise.

Ela informa que a atuação para a eliminação do mal engloba três eixos: o diagnóstico precoce, a realização do tratamento sem interrupção e os cuidados com as seqüelas. Este ano, a campanha focou seu apelo nos jovens, para que se tornem observadores dos sintomas dentro da família. Problema silencioso – A campanha foi lançada durante o 3º Simpósio Brasileiro de Hansenologia, promovido pelo Instituto Lauro de Souza Lima, que é referência no Estado para o tratamento da doença e de suas seqüelas, em conjunto com a Sociedade Brasileira de Hansenologia.

De acordo com o diretor do Instituto e presidente da Sociedade, Dr. Marcos da Cunha Lopes Virmond, a hanseníase é um problema silencioso, que precisa de esclarecimento para ser detectado e requer abordagem multidisciplinar. O encontro teve o objetivo de estimular a discussão sobre os aspectos da doença entre profissionais de várias áreas, e as tecnologias de tratamento, entre outros temas. Um dos pontos abordados foi a possibilidade de criação de uma vacina contra o bacilo causador do mal, considerada ainda muito remota. “As dificuldades a essa alternativa são as questões genética e imunológica. Não tivemos nenhum avanço notável nesse campo até agora”, observa Virmond.

A doença em São Paulo e no Brasil

A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Mycobacterium leprae, bacilo que atinge a pele e os nervos. Pode levar à incapacidade física, quanto mais tardio forem seu diagnóstico e tratamento. Os principais sintomas são manchas esbranquiçadas ou avermelhadas no corpo, principalmente nas costas e nádegas, que não coçam, nem doem, e em cujo local há dormência ou formigamento. Confirmado o diagnóstico, o portador passa por tratamento de polioquimioterapia, que dura de seis meses a dois anos.

A Organização Mundial da Saúde estima que atualmente a doença acometa cerca de um milhão de pessoas e que 2 a 3 milhões estejam permanentemente incapacitadas pela doença, apesar da prevalência global ter sido reduzida em 90% desde 1986.

O fato se deu com a introdução da poliquimioterapia de curta duração em larga escala. De 122 países considerados endêmicos, restaram cinco com índices maiores de um doente por dez mil habitantes, limite estabelecido para a eliminação da doença. O Brasil é o 4º maior índice. Nos últimos seis anos, a média é de 47.400 casos novos detectados no país.

Em São Paulo, o controle é realizado pela divisão de hanseníase do Centro de Vigilância Epidemiológica, da qual a médica Mary Lise de Carvalho é diretora. Segundo ela, o Estado apresenta uma linha descendente no número de casos. Rompeu a barreira da eliminação em 2005, com a marca de 0,44 doentes para 10 mil habitantes. Em 2006, registrou 3.196 casos, com prevalência de 0,78 por 10 mil habitantes. “Porém esse índice não representa aumento no número de casos, já que em 2005 o Brasil assumiu critérios de avaliação da endemia adotados por todos os outros países, nos quais são computados apenas os casos novos”, explica a médica. A avaliação de 2006 teve com base os critérios anteriores, que consideram na contagem todos os pacientes em tratamento.

A médica ressalta que além das campanhas de esclarecimento, compõe a estratégia adotada para o combate ao mal a capacitação de profissionais intensa e ininterrupta e o acompanhamento das pessoas que estão em tratamento para que não o abandonem antes do término. Esse índice está hoje em 13%. “Irmos atrás desses pacientes para tentar convencê-los a continuar é um ponto de honra”, diz.

Internação compulsória

Há algumas décadas, a hanseníase não tinha tratamento específico. Por isso, até a década de 60, adotava-se no Brasil o isolamento compulsório. Essa prática foi oficialmente abolida em 1962, mas fez prevalecer por muitos anos ainda o estigma e o preconceito contra as pessoas atingidas pela doença.

Foi a descoberta das sulfonas, na década de 40, que possibilitou o tratamento específico em regime ambulatorial. A Clofazimina aumentou a capacidade desse tratamento na década de 60 e, nos anos 70, o surgimento da Rifampicina, droga com poder bactericida, trouxe o conceito de cura para a doença, mas ainda com um tratamento longo (cinco anos). Em 1986, foi introduzida no Brasil a multidroga (MDT), instrumento fundamental no controle e eliminação da hanseníase.

Pensão vitalícia

De acordo com o decreto federal 6.168 de 24 de julho de 2007, os portadores de hanseníase que foram internados compulsoriamente e isolados em hospitais colônias de todo o país até o ano de 1986 terão direito a pensão vitalícia mensal no valor de R$ 750. Para receber o benefício os pacientes precisam apresentar documentos que comprovem a internação compulsória e preencher um requerimento de pensão especial.

A Secretaria de Estado da Saúde estima que 1,2 mil pessoas passaram por internação compulsória em São Paulo.

De Simone de Marco, da Agência Imprensa Oficial

(C.C.)



11/03/2007


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