Sarney defende luta contra terrorismo, mas critica ações dos Estados Unidos no Iraque
O presidente do Senado, José Sarney, disse que é preciso combater o terrorismo mundial numa ação conjunta, mas criticou os Estados Unidos, referindo-se à invasão do Iraque, observando que o país se apequenou ao aceitar usar como arma a erosão daquilo que tem de mais grandioso perante a história da humanidade - a defesa da liberdade, dos direitos individuais e da conduta moral e ética nas relações entre pessoas e estados. A afirmação foi feita por Sarney nesta quarta-feira (21) em discurso na 22ª sessão plenária do InterAction Council, em Salzburg, na Áustria, sobre o direito de intervenção militar.
Sarney lembrou que foi a força desses ideais que fez a vitória dos Estados Unidos sobre as idéias totalitárias e os transformou numa poderosa nação. - Devemos combater o terrorismo com toda a determinação, estabelecer alianças regionais e globais para, numa ação conjunta, bani-lo. Mas que essa guerra não desborde para a autofagia, atingindo os direitos humanos, promovendo a discriminação de raças e religiões, rasgando tratados internacionais e ferindo mortalmente a civilização ocidental - afirmou o presidente do Senado. Depois de citar o ataque às Torres Gêmeas e ao Pentágono, que qualificou de ato de barbárie, o senador disse que nada justifica o terror, “a mais iníqua de todas as violências”, e sustentou que não se pode admitir que o terror destrua o arcabouço ético, moral e jurídico construído pelo Ocidente. Sarney lembrou que, após os atentados, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, manifestou sua revolta, afirmando que iria varrer a sujeira do mundo e que “nossa tristeza virou raiva”. - Mas essa raiva não podia voltar-se equivocadamente contra o grande legado dos pais fundadores. Os Estados Unidos transformaram-se no maior país do mundo pelos valores que estão na Declaração da Independência e dos Direitos do Homem - observou o senador. Sarney citou a ação militar dos Estados Unidos no Afeganistão e disse que, com o povo americano ainda sob a perplexidade do 11 de setembro e com o apoio internacional que sua “guerra contra o terror” havia obtido, Bush viu a oportunidade de “resolver alguns problemas pendentes, e o Iraque de Saddam Hussein era o primeiro item dessa lista”. O senador referiu-se ao processo que resultou na invasão do Iraque, registrando, no início da campanha do governo norte-americano para tirar Saddam de seu trono, as críticas da intelectualidade à ação pretendida e o fato de as lideranças políticas européias terem começado “a matizar o que deveria ser uma guerra ao terrorismo”. Depois de lembrar a ocupação do Iraque, a chacina dos filhos de Saddam numa casa em ruínas e a prisão, num buraco, do ex-ditador, “mostrado ao mundo com uma imagem pré-histórica”, Sarney disse que, hoje, o mundo vive “o rescaldo dessa ação”. - As armas de destruição em massa nunca foram encontradas. Os vínculos com Bin Laden nunca comprovados. A resistência militar que não foi observada na invasão aparece agora como insurgência guerrilheira. O Iraque, antes inteiro, ainda que ditatorial e opressivo, parece dividido em tribos e seitas. E o pior, as imagens de soldados norte-americanos puxando iraquianos nus em uma coleira, nas entranhas da prisão de Abu Graib, onde Saddam antes torturava seus prisioneiros políticos - descreveu. O presidente do Senado acrescentou que os Estados Unidos, a potência que antes, reconhecida como defensora dos mais altos ideais do homem, recebia o apoio do mundo por sua determinação contra a barbárie do terror, tenta hoje explicar sua atitude de beligerância unilateral e busca, desesperadamente, o apoio das Nações Unidas para viabilizar um governo de transição no Iraque conflagrado. Sarney reconheceu a existência de alguns sinais positivos. Em sua avaliação, a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de estender aos prisioneiros de Guantánamo o acesso a advogados e o interesse que o documentário Fahrenheit 9/11 tem despertado no mundo são indícios de que a razão pode estar começando a prevalecer. O senador manifestou a certeza de que o caso do Iraque é uma amostra triste e negativa de ação no plano internacional e que a força é o recurso último, que só deve ser utilizado, de forma legítima e concertada, com o endosso dos organismos multilaterais. - O mundo está mais frágil. A tarefa de reconstrução do tecido internacional ainda está pela frente e não é pequena – concluiu o presidente, na reunião do conselho, que começou nesta quarta-feira (21) e se estende até a sexta-feira (23).
O InterAction Council, fundado em 1983, é uma organização internacional independente destinada a mobilizar a experiência, as energias e as relações internacionais de homens de Estado que já ocuparam as mais altas funções em seus países a fim de, num esforço coletivo, propor idéias e soluções práticas para os problemas políticos, econômicos e sociais enfrentados pela humanidade.
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21/07/2004
Agência Senado
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