Sarney elogia Alfonsín em debate sobre a Alca



O presidente do Senado, José Sarney, destacou a participação do ex-presidente da Argentina, Raúl Alfonsín, ao avaliar os debates do primeiro painel do Encontro Parlamentar sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), aberto pelo senador na manhã desta terça-feira (21), no auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados.

- O presidente Alfonsín nos deu a visão do estadista, mostrando que a Alca é uma política de Estado que vem sendo seguida pelos Estados Unidos, e que, portanto, nós devemos discuti-la com absoluta tranqüilidade, também tendo em conta a defesa de nossos interesses - afirmou.

Sarney elogiou o nível dos debates, que reuniram, além de Alfonsín, o diplomata brasileiro Adhemar Bahadian, o senador paraguaio Juan Carlos Ramirez e a deputada mexicana Baetriz Paredes, tendo como tema específico -Novas Formas de Estruturação das Negociações da Alca nos Países Latino-americanos-.

- Foi uma discussão muito produtiva e sobretudo muito objetiva sobre o andamento da negociação da Alca e a posição dos Estados Unidos, que segue seus próprios interesses ao recusar a discussão sobre os subsídios agrícolas, e tenta impor o ritmo da negociação naqueles assuntos que não são do nosso maior interesse - avaliou.

Em sua intervenção, Alfonsín defendeu a união dos latino-americanos diante da política dos Estados Unidos de negociar bilateralmente com cada país, mas reconheceu que há dificuldades e situações especiais, como as do Chile e dos vizinhos dos Estados Unidos, como o México e os países do Caribe. O ex-presidente vê um futuro para a Alca, desde que ela não esteja atrelada a um só país. -A Alca pode ser fundada na defesa dos interesses mútuos na medida em que houver boa fé dos Estados Unidos-, observou.

O ex-presidente argentino disse que suas críticas não se dirigem ao povo norte-americano e sim à atual administração, -que levou os Estados Unidos a uma guerra sem data, sem território e sem códigos humanitários-. Prevendo que o governo norte-americano -vai nos pressionar fortemente, e tem meios para fazê-lo-, recomendou que, no âmbito do Mercosul, -as posições sejam muito firmes, e sem tolerância quanto ao cerne das questões-.

Alfonsín salientou que uma circunstância muito favorável se abre neste sentido, porque os presidentes da Argentina, Nestor Kirchner, e do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, retomaram a mesma convicção da necessidade da integração regional que ele e Sarney tiveram quando ocuparam simultaneamente os mesmos cargos, e concluiu com um conselho aos dirigentes latino-americanos: -usar o monossílabo que distingue os países independentes dos países dominados: não-.

O embaixador Bahadian, que é co-presidente do processo negociador da Alca, rechaçou com veemência as -insinuações- de que a posição brasileira na reunião de Cancún teria obedecido a -motivações ideológicas-, ressaltando que não se pode rotular como anti-americanismo a defesa dos interesses nacionais. O diplomata disse, por exemplo, que o Brasil e não aceitará que se discuta na Alca a questão das compras de governo. -Isso não tem nada a ver com comércio internacional e seria um constrangimento colocar essas compras em concorrências públicas com a participação de empresas norte-americanas-, afirmou.

Já o senador Montalberti disse que, diante da reedição, pelos Estados Unidos, da antiga política do Império Romano - divide et impera - ou seja, dividir para reinar, torna-se fundamental a necessidade de se fortalecerem as instituições multilaterais do Mercosul, como tribunais e Parlamento, para aumentar a capacidade de negociação latino-americana na Alca.

A deputada Beatriz Paredes contestou as versões de que a reunião de Cancún tenha sido um fracasso. -Foi um êxito para a estratégia política da América Latina, a articulação de uma tática comum visando participar das negociações como protagonistas e não como subordinados-, avaliou. Ela garantiu que -a participação do México na Alca não limita nem inibe sua participação na integração da América Latina-.

Embora não fizesse parte da mesa deste painel, a deputada canadense Maria Minna, que assistia aos debates, realizou rápida intervenção, na qual garantiu que, mesmo participando da Alca e unido por laços culturais e históricos a seu vizinho, os Estados Unidos, o Canadá tem pontos de contato com posições dos países latino-americanos em questões como o meio-ambiente, os subsídios à agricultura e o financiamento ao desenvolvimento econômico.




21/10/2003

Agência Senado


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Escolhidos os participantes de debate sobre a Alca