Sarney homenageia Lévi-Strauss, autor de 'Tristes Trópicos'
O senador José Sarney (PMDB-AP) homenageou nesta terça-feira (7), em discurso no Plenário, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, autor do livro Tristes Trópicos, "obra básica para a compreensão do Brasil", na opinião do parlamentar. Em recente entrevista a jornais franceses, Lévi-Strauss incluiu Sarney entre as figuras brasileiras importantes de que se recordava.
O senador abriu seu pronunciamento referindo-se aos 96 anos do antropólogo, completados no dia 28 de novembro, e assinalou que Lévi-Strauss é um tipo de pessoa que se projeta para além de sua época, rompendo o que chamou de "fronteiras da história". Para Sarney, Lévi-Strauss teve nas ciências humanas o mesmo impacto provocado por Charles Darwin, que desenvolveu a teoria evolucionista das espécies, por Karl Marx, autor de O Capital, e por Sigmund Freud, pai da psicanálise.
Expoente da teoria estruturalista - método de análise que trata de sistemas em grande escala, examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas -, Lévi-Strauss esteve no Brasil entre 1935 e 1938 lecionando na Universidade de São Paulo. Ali foi um dos fundadores do curso de Sociologia.
Fruto desse período de estudos, o livro Tristes Trópicos fala, no estilo de um relato de viagens, de tudo o que aprendeu estudando as sociedades indígenas do Brasil e da América do Sul. De acordo com Sarney, o antropólogo sentiu a necessidade de contar como aconteceu o processo que o levaria a compreender mais profundamente o ser humano,"abolindo, de uma vez por todas, a idéia de que os valores humanos são melhores em algumas sociedades, abolindo toda e qualquer base para o racismo".
Ainda segundo o parlamentar, não foi o Brasil que abriu as portas para a descoberta feita por Strauss: a de que o homem constrói sua cultura, como sua linguagem, em estruturas básicas, que independem de nossa visão ocidental de progresso. Mas foi no Brasil que ela ocorreu. Desse período, e de uma segunda visita, em 1985, ficaram amizades como as de Mário de Andrade, Paulo Duarte, Sérgio Milliete a do próprio Sarney.
- A generosidade é uma das virtudes dele. Eu tenho que agradecer a Lévi-Strauss ter me distinguido com uma amizade que é, sem dúvida, um dos grandes orgulhos de minha vida - disse Sarney.
O senador assinalou também a visão peculiar de Lévi-Strauss sobre arte, descrita em um de seus livros mais recentes. Diz ali o antropólogo que "suprimir ao acaso dez ou vinte séculos de história não afetariam sensivelmente nosso conhecimento da natureza humana. A única perda insubstituível seria a das obras de arte que estes séculos tivessem visto nascer. Porque os homens só se diferenciam, e mesmo só existem, por suas obras. Só elas dão evidência de que ao longo do tempo, entre os homens, alguma coisa realmente aconteceu".
- A obra de Claude Lévi-Strauss é uma dessas obras de arte que marcam o homem e dão significado à humanidade. Sua vida, um presente ao nosso tempo - disse Sarney.
07/12/2004
Agência Senado
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