Segurança: Estudo do Instituto de Criminalística revela desidratação natural da maconha



Maconha de idades variadas são cultivadas para estudo

Em 2001, a Justiça suspeitou que a Polícia estava retirando a maconha armazenada no depósito do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), na época localizado na rua Brigadeiro Tobias, na Luz, região central da Capital, para revender. Como resposta, o Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo elaborou um estudo sobre a perda de massa (desidratação) da droga. “A perda é natural”, afirma o diretor do Centro de Exames, Análises e Pesquisas (Ceap), Osvaldo Negrini Neto, responsável pelo laudo.

O primeiro passo foi verificar os lacres que vedam os sacos plásticos em que a maconha apreendida é guardada. “Os lacres estavam intactos; se alguém tinha aberto, lacrou de maneira inteligente”, relata Negrini. A conclusão inicial foi de que a maconha deveria, portanto, perder massa na armazenagem.

Já no depósito, constatou-se que a temperatura era alta, variando entre 38 e 40ºC, fato que pôde ser comprovado pelo vapor condensado nos sacos. “A droga fica confinada, assim a temperatura externa aumenta a interna. E a água se condensa, pois não tem para onde sair. O suor é a água que a maconha perde”, explica o perito. Negrini diz ainda que alguns sacos plásticos até pingavam devido ao excesso de água em seu interior.

Estudo

Mais de cem amostras de maconha de várias origens – recém apreendidas e antigas – foram utilizadas no estudo. Quantidades pequenas da droga eram usadas na pesquisa, mas sempre mantendo as condições similares às encontradas no depósito do Denarc.

Em estufas controladas, as amostras eram pesadas nos primeiros quatro dias, de períodos em períodos, para que os peritos pudessem traçar a curva de perda de massa. As análises estabilizavam após 48 horas de pesagem. A conclusão foi a de que a maconha nova, recém apreendida, a 40ºC, chega a perder 30% da massa. Já a mais antiga perde menos, pois já perdeu água na juventude. “A perda varia com a idade da amostra: as antigas perdem água com mais lentidão e as novas mais rapidamente”, conclui Negrini.

Mas outros fatores, além da idade da amostra, interferem na desidratação: a temperatura em que a droga está mantida e a pureza. Quando a maconha é mais pura, ela perde água mais rápido. Isto porque substâncias, como mel, esterco, terra, pó de café, são incorporadas à droga para disfarçar o odor – assim os cães da Polícia têm mais dificuldade para localizar a droga – e aumentar o peso, no intuito de manter o preço do mercado.

Negrini explica que a 20ºC, a perda é mínima, cerca de 15% da massa da maconha nova. As pesquisas foram feitas ainda a 25º, 30º e 40ºC, temperatura que registrou a desidratação máxima: até 30% da massa total. O laudo conclui que a média de perda é de 25,6%, com um desvio padrão de 5,13%.

“As drogas deveriam ser armazenadas a 20ºC, refrigeradas. Mas é impossível para o Denarc fazer isso com a maconha antes de incinerar”, afirma o diretor do Ceap.

Incineração

A maconha depois de apreendida pela Polícia é levada para análise no IC, onde é feito o teste para a confirmação de que se trata de droga. Então, faz-se a pesagem para que o entorpecente seja encaminhado ao cofre do Denarc. Uma contra-prova – pequena quantidade de maconha – é armazenada no núcleo de toxicologia do instituto. A próxima etapa depende da autorização da Justiça para que a droga seja incinerada. Assim que há o encerramento do processo judicial, faz-se um ofício para a incineração.

“Há casos de mais de anos para autorizar a incineração”, relata Pascoal Ditura, delegado da Divisão de Inteligência do Denarc. Ele lembra, no entanto, que alguns juízes liberam a queima da droga antes mesmo da decisão judicial, quando há um volume grande de entorpecente. O cofre do Denarc é de máxima segurança e fica em um local lacrado e sem janelas. Lá, toneladas de drogas são armazenadas.

A incineração é feita, gratuitamente, para o Denarc por uma empresa multinacional do ramo químico, localizada em Suzano. A queima é de 99,99% dos resíduos químicos. A droga incinerada sai por meio de fumaça, a qual é filtrada. A borra, resíduo restante, vai para um aterro sanitário homologado. Tudo é feito de acordo com os procedimentos legais. O processo é acompanhado pela Vigilância Sanitária e pela Polícia.

A droga é embalada em barricas – feitas com material de segunda, próprio para a incineração – mandadas pela própria empresa. O caminhão que transporta a maconha é escoltado até o incinerador.

Segundo a Polícia, a última incineração foi de 14 toneladas de drogas variadas, e durou o dia todo: das 9 às 22 horas. A queima de maconha é demorada devido à impureza da droga.

Joyce Ribeiro, da Assessoria de Impre

01/04/2006


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