Unicamp: Bióloga revela potencial bioativo e quimioproteção natural da manga



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Houve época em que na periferia os moleques pulavam muros de quintais para roubar mangas. Hoje adultos, lembram do sabor especial do fruto daquelas inocentes contravenções e muitos se surpreenderiam com a informação de que a manga freqüenta as bancadas dos laboratórios nas universidades. A professora Gláucia Maria Pastore, do Departamento de Ciência de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp, justifica a atenção que pesquisadores dão à manga: “Trata-se de uma fruta popular, com grande aceitação no Brasil e em outros países e cujo consumo tem-se expandido para novos mercados, como a Europa. Além de saborosa e aromática, possui elevado valor nutritivo quando comparada com outras frutas. Também tem alto valor comercial, especialmente nas regiões tropicais. Em nosso caso, moveu-nos principalmente o interesse em conhecer as propriedades associadas ao fruto produzido no Brasil e abrir caminho para seu melhor aproveitamento”.

Principal variedade brasileira tem atenção especial

A professora explica ainda que as frutas, cada vez mais, se revelam constituídas de substâncias bioativas – que trazem algum benefício para o organismo, geralmente devido à presença de antioxidantes, reconhecidos como capazes de retardar o envelhecimento e o aparecimento de doenças e até de evitá-las. “Esse fato levou ao conceito de alimentos funcionais, que estão na ordem do dia, e mais recentemente à idéia de quimioproteção, conseguida através de substâncias bioativas presentes em produtos in natura ou processados”, observa. Normalmente estuda-se uma forma de preservar o quimioprotetor presente em um produto vegetal durante seu processamento, ou a forma de extração para adicioná-lo em outros produtos industrializados. “É o que acontece, por exemplo, no processamento do suco de manga para preservar determinados componentes bioativos”, acrescenta.

O interesse dos consumidores levou a bióloga Andréia Cristiane Souza Azevedo a pesquisar os componentes da manga que podem apresentar caráter bioativo, o que deu origem a tese de doutorado orientada pela professora Gláucia Pastore. Andréia Azevedo estudou as enzimas oxidativas e a presença de compostos bioativos em mangas produzidas no Brasil, com base nas variedades Tommy Atkins, Haden e Palmer, mas concentrando-se na primeira, em três diferentes estádios de maturação. A determinação dos teores das principais enzimas oxidativas foi utilizada como parâmetro para estabelecimento dos estádios de maturação: o verde, o de vez, e o maduro.

Andréia Azevedo afirma que os resultados mostraram a influência da maturação na composição química da fruta, com reduções nos teores de água, minerais, gorduras, fibras e vitamina C, e aumento dos teores de açúcares. “Os estudos mais detalhados foram sobre os compostos fenólicos na Tommy Atkins, a variedade mais produzida. Ela desperta maior interesse agronômico por ser mais resistente a doenças e ao transporte, e oferecer maior produtividade. Foram avaliados treze padrões de polifenóis, encontrando-se sete deles na polpa da fruta”, explica. Segundo a pesquisadora, os polifenóis por ela determinados e estudados são conhecidos pelo papel protetor. “Sua ação está sempre ligada à capacidade de atacar radicais livres, que se formam em grande quantidade no organismo humano face ao sistema de vida moderno. Os radicais livres acarretam várias doenças crônico-degenerativas, que são aquelas que se manifestam no decorrer do tempo e não de forma aguda, a exemplo do câncer”, complementa.

Gláucia Pastore ressalta a importância da descoberta, pela ciência, desses efeitos benéficos trazidos por componentes presentes em frutas e verduras. “A capacidade de retirar radicais livres, responsáveis pela oxidação, é o ponto chave: sem oxidação não ocorre degeneração, mesmo quando a pessoa é predisposta geneticamente. Nesses casos, a dieta minimiza a tendência natural”, observa. A professora vê na manga um conjunto de propriedades importantes, como as oferecidas pelo caroteno, responsável pelo pigmento amarelo, por vários carotenóides, que são antioxidantes, e pelo alto teor de vitamina C e de fibras boas. “Ainda falta conhecimento em relação às frutas brasileiras. Esse tipo de pesquisa contribui com a determinação das substâncias bioativas na manga e mostrando como elas se relacionam com a maturação e com as enzimas que degradam”, pondera.

Em seu estudo, Andréia Azevedo determinou as porcentagens dos vários componentes nos principais estádios de maturação, a atividade antioxidante e a presença de uma importante substância antioxidante como a mangiferina, principalmente na casca do fruto. A pesquisadora não encontrou estudos sobre mangas do Brasil que envolvessem a ação bioquímica e o poder antioxidante. Em sua opinião, tais pesquisas permitirão o aperfeiçoamento genético para obter espécies com maiores teores de substâncias de interesse da saúde pública, além de municiar as empresas nacionais com informações que lhes permitam melhor explor

04/07/2006


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