'Segurança mínima'









'Segurança mínima'
Serra critica Benedita e Garotinho e diz que o presídio Bangu 1 é inseguro

BRASÍLIA - O candidato tucano à Presidência, José Serra, aproveitou ontem um mesmo disparo para tentar atingir duas candidaturas rivais: a do líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silvam do PT, e a de Anthony Garotinho (PSB), que ocupa um incômodo quarto lugar. Depois de participar de uma caminhada e de um comício no Plano Piloto de Brasília, Serra culpou o governo do Estado do Rio pela rebelião no presídio Bangu 1, que resultou na morte de quatro rivais do traficante Fernandinho Beira-Mar.

- Nada daquilo teria acontecido se os bandidos não pudessem usar celulares. Impedir que eles usem aparelhos não exige dinheiro e mudança de leis, é um problema operacional. Só mesmo a inércia do governo do Estado é que permite isso há tanto tempo - disparou, referindo-se às administrações da petista Benedita da Silva e de seu antecessor, Garotinho.

Serra defendeu a transferência de Beira-Mar para fora do Rio, afirmando que o Judiciário precisa precisa compreender a ''gravidade da situação''. Ele afirmou ainda que, depois de analisar o sistema de segurança do presídio, chegou à conclusão de que a tentativa de fuga do traficante foi causada por corrupção interna.

- O problema é que Bangu 1 é um presídio de segurança mínima - afirmou o candidato, pouco antes de embarcar para Minas Gerais, onde fez campanha ontem à tarde em três municípios do interior.

Depois da caminhada no Eixo Rodoviário Sul de Brasília, ao lado do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), Serra fez um comício para cerca de 40 mil pessoas. No seu discurso, insistiu na tentativa de polarização com Lula em torno das propostas para a criação de empregos.

- Se fosse para fazer concurso de generosidade, eu estaria garantindo 11 milhões de empregos, já que tem candidato dizendo que vai criar 10 milhões. Nós vamos criar 8 milhões de empregos, com a diferença de que sempre digo como vou fazer isso - afirmou o candidato tucano.

O governador Roriz, candidato à reeleição, pediu votos para Serra, argumentando que o tucano era o único candidato que ''morou sempre em Brasília''. Serra, senador por São Paulo, corrigiu o governador do DF.
- Eu me considero cidadão brasiliense. Moro aqui há quase 15 anos - observou.

Esta foi a quarta vez que Serra fez campanha em Brasília ao lado de Roriz, governador já apontado como populista por muitos tucanos, mas que pode vencer a disputa no primeiro turno, segundo as pesquisas eleitorais mais recentes.

O encontro dos dois, no entanto, deu a impressão de improviso. Só foi confirmado pela assessoria do candidato a presidente na noite de sábado. Durante as quase duas horas de caminhada, o jingle de Serra não tocou uma só vez e quase não se via bandeiras com seu nome.

Os dois estavam acompanhados das respectivas candidatas a vice: Maria de Lourdes Abadia (PSDB), candidata a vice-governadora no DF e a deputada Rita Camata (PMDB), candidata a vice-presidente.

Serra e Roriz soltaram 15 pombas brancas, simbolizando a paz. A que estava nas mãos do governador do DF levantou vôo, mas a que estava com Serra recusou-se a fazê-lo.


Aliados de Ciro não se entendem
SÃO PAULO - Aliados de Ciro Gomes (PPS) não entram em acordo sobre as causas que o levaram do segundo lugar isolado para uma situação de empate técnico com Anthony Garotinho (PSB) na terceira colocação. Enquanto pefelistas culpam o amadorismo da equipe - composta, em seu núcleo central, basicamente por parentes do candidato - o PPS vê no apoio do PFL uma das principais razões para a queda.
Unanimidade mesmo só quanto à responsabilidade do próprio Ciro, autor das frases desastradas que permitiram que a campanha de Serra o apontasse como ''desequilibrado'' e ''mentiroso''. Entre as declarações, a mais explorada foi a em que o candidato se refere a um ouvinte de uma rádio na Bahia como ''burro''.

- Ele perdeu pontos por problemas de temperamento. Podia ter sido mais comedido - disse um pefelista que preferiu não ser identificado.

Se com o candidato bem nas pesquisas já era tarefa árdua controlar uma aliança tão heterogênea, a queda de 12 pontos percentuais em menos de um mês provocou uma caça às bruxas silenciosa.

- Ele trabalhava com a família porque não tinha dinheiro nem estrutura, mas não precisava ter ficado assim até agora - dizem uns.

Setores do PTB e da Força Sindical, do vice Paulo Pereira da Silva, também reclamam da excessiva influência de Lúcio Gomes, irmão de Ciro e membro do comitê financeiro da campanha, e de Einhart Jacome da Paz, marqueteiro e cunhado do candidato, como um fator prejudicial à candidatura.


Lula passa domingo em família
SÃO PAULO - O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, passou o dia de ontem com a mulher e os filhos em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde mora. Lula tem reservado os domingos para descansar e se preparar para as atividades políticas da semana.

Hoje ele viaja para Sergipe e, às 12h30, vai conceder uma entrevista coletiva no Hotel Del Mar, em Aracaju. Em seguida, participa de almoço com líderes políticos do Estado. Às 16h, participa de uma carreata, seguida de comício. À noite, embarca para o Piauí para participar de um comício em Teresina.

Amanhã Lula passa o dia em Belém, cujo prefeito é Edmílson Rodrigues, do PT. Na capital paraense, vai participar de uma carreata e participar de um ato de lançamento de suas propostas de governo para a Amazônia. À noite, faz comício no centro da cidade e, em seguida, volta a São Paulo.

Sábado à noite Lula fez um comício em Campinas (SP), onde homenageou ex-prefeito Antonio da Costa Santos, o Toninho, assassinado em 10 de setembro do ano passado.

- Com ele aprendi que quem fala a verdade não precisa falar alto - disse Lula.

O candidato ao governo de São Paulo pelo PT, José Genoino, também lembrou a morte de Toninho e prometeu reabrir as investigações sobre o assassinato do prefeito, caso seja eleito.

Cerca de 15 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, assistiram ao showmício, na Praça Arautos da Paz. Os organizadores do evento, no entanto, calcularam em 25 mil as pessoas presentes.


Serra terá que mudar programa
BRASÍLIA - A coligação do candidato à Presidência José Serra (PSDB) terá que mudar o formato da propaganda eleitoral em que tenta polarizar com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva - seu grande objetivo a partir de agora. O ministro Caputo Bastos, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu ontem liminar determinando a suspensão das imagens que simulam uma consulta popular perguntando qual dos dois é o mais preparado para criar empregos caso seja eleito presidente: Serra ou Lula.

A decisão acolheu reclamação de Lula, que alegou manipulação dos resultados da preferência popular para colocar Serra em vantagem. Ainda está em exame a solicitação do PT para que a coligação de Serra seja punida com a perda de um minuto e 16 segundos em seu programa noturno pela veiculação dessa consulta, que estaria proibida pela legislação eleitoral.

Caputo Bastos determinou, também, a suspensão da divulgação, nos meios de comunicação, do informe publicitário da Petrobras, que contesta a propaganda eleitoral de Lula contra a construção de plataformas de exploração de petróleo no exterior. A decisão terá validade até o julgamento final da representação de Lula contra a empresa.

O candidato do PT acusa a Petrobras de veicular a propaganda com o objetivo de interferir no processo eleitoral em benefício do candidato governista José Serra. Ele também acusa a estatal de suposta prática de uso i ndevido da máquina administrativa e de abuso de poder econômico. Em decisão anterior, o ministro negou direito de resposta à Petrobras, que pretendia responder às críticas feitas por Lula em seu programa eleitoral.

O candidato do PSB, Anthony Garotinho, reclamou ontem no TSE que a coligação de Serra descumpriu determinação da Justiça Eleitoral e não suspendeu veiculação de propaganda considerada ofensiva a sua campanha.

Serra também ingressou no TSE com reclamação contra o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes. Ele sustenta que Ciro ofendeu novamente sua honra na propaganda em que procura explicar a declaração feita a respeito do papel de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha. Serra pediu que o TSE impeça a reiteração da ofensa suspendendo a veiculação da propaganda e que lhe assegure o tempo mínimo de um minuto de direito de resposta.


''Governo ficou de quatro''
Jorge Roberto faz dura crítica a Benedita por atuação na rebelião de Bangu 1

O candidato da Frente Trabalhista à sucessão estadual, Jorge Roberto Silveira (PDT), censurou ontem, em corpo-a-corpo em Ipanema, sua adversária petista, a governadora do Rio, Benedita da Silva, por ter negociado com traficantes durante na rebelião no presídio de Bangu 1, ocorrida na última quarta-feira. Ele disse que o governo ficou ''de quatro'' diante do chefe do motim, o traficante Fernandinho Beira-Mar.

- É absurdo um bandido deixar o Estado ''de quatro''. O Rio perdeu a autoridade e vai demorar para conseguir isso de volta - afirmou Jorge Roberto, acrescentando que isso jamais aconteceria com ele.

Criticado por aliados por sua escassa presença na capital, Jorge Roberto prometeu ontem intensificar a campanha no Rio e na Região Metropolitana. Durante a caminhada em Ipanema, o candidato da Frente encontrou um grupo de militantes do PT e cumprimentou o candidato a deputado Carlos Minc.

Alvo das críticas de Jorge Roberto, a governadora do Rio poderá sofrer outro problema na área da segurança pública nos próximos dias, já que os agentes do Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe) estão articulando uma greve. Durante corpo-a-corpo na feira de Duque de Caxias, na manhã de ontem, Benedita da Silva afirmou que o governo está preparado para enfrentar uma eventual paralisação.

- Nós, do Partido dos Trabalhadores, e os outros administradores, sabemos como lidar com greves, e nada mais nos abalará - declarou a candidata.

Benedita disse ainda que a atual crise na segurança pública é fruto de administrações passadas e alertou para a necessidade de reforma urgente nas casas de custódia construídas no governo de Anthony Garotinho (PSB).
- Não fiz essas casas, elas não são seguras, mas como governadora tenho que realizar ações imediatas de reparo.

Enquanto Jorge Roberto critica, Solange Amaral (PFL) sai em defesa de Benedita. Ontem, a candidata à sucessão estadual voltou a culpar o ex-governador Anthony Garotinho pela crise na segurança pública. E criticou o adversário da Frente Trabalhista ao dizer que Jorge Roberto está atacando Benedita porque deseja que a população esqueça que ele também fez parte do governo de Garotinho, anteriormente filiado ao PDT de Jorge Roberto.

Líder disparada nas pesquisas eleitorais, a candidata do PSB, Rosinha Garotinho, ouviu ontem, durante carreata em Niterói, reduto de seu adversário da Frente Trabalhista, gritos de ''já ganhou'', mas afirmou que quer evitar o clima de vitória:
- Estou trabalhando para ganhar no primeiro turno. Ouvi a população dizendo ''já ganhou'', mas não admito entrar nesse clima.

Consultada nos últimos dias sobre os nomes de seu futuro secretariado, caso seja eleita, Rosinha afirmou que só vai pensar nisso após o pleito e ressaltou que ninguém está autorizado a falar em nome dela sobre o assunto.


Carandiru já está vazio
Os últimos presos deixaram ontem a Casa de Detenção

SÃO PAULO - Cerca de 30 pessoas fizeram uma manifestação de protesto ontem em frente à Casa de Detenção do Carandiru, de onde estavam sendo retirados os últimos 76 presos. Com faixas e narizes de palhaço, o grupo criticou a construção de um cadeião no centro de São Bernardo do Campo, na Região Metropolitana de São Paulo.

Os manifestantes levavam faixas com frases como: ''Diga não ao cadeião no centro de São Bernardo'' e ''Diga não ao Carandiru 2 em áreas residenciais''.

A Polícia Militar cercou toda a área diante da Casa de Detenção como medida de precaução durante a transferência dos presos. Os últimos 74 presos deixaram o complexo penitenciário em quatro caminhões da PM chamados de bondes.

Os detentos foram levados a presídios no interior de São Paulo. Por motivo de segurança, não foi divulgado para que cidades do interior iriam os últimos presos da Casa de Detenção.

O governador Geraldo Alckmin chegou ao complexo penitenciário por volta das 10h e visitou as celas de um dos pavilhões desativados. Com ele estava o secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa. Depois da saída dos últimos presos, Alckmin assinou o decreto que extingue as unidades 1, 2 e 3 da Casa de Detenção.

O Carandiru, construído há 46 anos, tornou-se mundialmente conhecido quando, em outubro de 1992, 111 presos foram mortos pelo Batalhão de Choque da PM, depois de uma rebelião. Com capacidade para 3 mil detentos, chegou a guardar 8 mil em seu interior. Três dos sete pavilhões da Casa de Detenção serão implodidos para dar lugar ao Parque da Juventude, uma área para esportes e lazer.


Artigos

O nó do 'marketing'
Gaudêncio Torquato

A lua de mel de Lula está chegando ao fim. A fase do ''Lulinha, paz e amor'', slogan melífluo do laboratório de Duda Mendonça para caracterizar o distanciamento do candidato de uma campanha que é uma guerra de muitas e violentas batalhas, cede espaço para o ciclo do ''Lulão, guerra e sangue''.

Até o presente, Lula foi preservado de ataques contundentes. Doravante, terá de se deslocar ao centro do ringue, não por vontade própria ou determinação de seus marqueteiros, mas pela inevitável necessidade de se defender e se prevenir contra os ataques a serem desfechados contra seu perfil, que fazem parte da estratégia tucana para desconstruir a imagem do ''candidato acima de tudo e de todos''.

Não é fácil desmontar um conceito que se torna arraigado nos amplos espaços da opinião pública. Mais do que outros candidatos, Lula trabalhou nas últimas três décadas para fixar a imagem de oposicionista, intérprete sensível dos anseios da sociedade e representante mais forte do conceito de mudança. A seu favor, conta com um acentuado desejo da maioria da população para mudar os rumos da política econômica. E para ganhar a confiança do eleitorado, principalmente de estratos médios para cima, aceitou a edulcoração do perfil, com as pílulas receitadas para aprimorar e adoçar o discurso, arrumar a linguagem e compor harmônica e modernamente o visual.

Fez a lição de casa, passou a circular no meio das elites, correu o país, abriu alianças à direita e pôs um freio nos radicais do PT. Tem dado certo.

Contra Lula, pesam exemplos negativos de administrações petistas e dissonâncias relacionadas à falta de preparo e experiência.

A se confirmar a possibilidade de Serra ser o rival de Lula na reta final, o efeito imediato será a antecipação do segundo turno, que se abre com os primeiros ataques entre ambos. A antecipação é fundamental para Serra, porque a campanha do segundo turno, muito curta, não conseguiria descolar o conceito de Lula do sistema de cognição do eleitorado, pelo menos nos níveis apropriados para derrubá-lo.

Ou seja, quanto mais curta a campanha, melhor para Lula e pior para Serra. O processo de absorção e internalização de uma idéia leva tempo. Primeiro, o eleitor é ''laçado'' pela rede de comunicação; a seguir, toma conhecimento dos fatos, coisa que nem sempre se dá com os primeiros programas ou ataques; e é banhado, na seqüência, pelas ondas de irradiação de opinião. A tomada de decisão vai se fechando com as conversas entre amigos e interlocutores diversos.

Quando o ataque é frontal e mortal, ou seja, com indiscutível possibilidade de que a acusação seja verdadeira, até pode causar efeito imediato. Esse é o caso de gafes ou fatos de alta gravidade que comprometam o conceito ético e moral do candidato, como denúncias de envolvimento em quadrilhas e gangues, beneficiamento de grupos ou casos de enriquecimento pessoal.

Não será por esse campo que a batalha entre Serra e Lula será travada, até porque são conhecidas suas trajetórias de pessoas de bem.

As teclas da inexperiência e do despreparo de Lula serão, mais uma vez, usadas, com a inevitável pergunta sobre quem é o mais preparado. E Lula se apoiará na recorrente questão sobre a viabilidade e eficácia de propostas de Serra, com o argumento de que o tucano fez parte de um governo que prometeu as mesmas coisas e não cumpriu.

Os contrapontos estão delimitados: Lula não tem capacidade, não é preparado e lhe falta experiência de governo. Serra não vai fazer o que promete, enganando mais uma vez o povo, como Fernando Henrique. Como o eleitor reagirá a esses argumentos? Esse será o nó do marketing. Algumas posições podem, de antemão, ser aferidas: o eleitor colocará em questão a confiabilidade dos dois candidatos; observará a pertinência do ataque, analisando exageros e propriedades; distinguirá quem está sendo mais sincero e menos artificial nas propostas; decidirá sob a balança da segurança e do medo representado pelos dois perfis; será induzido pelas circunstâncias que se farão presentes na semana final de outubro (insegurança econômica, decisões intempestivas do governo federal, crises e abalos na área social); fará uma associação com o futuro imediato (quem entre os dois garantirá mais dinheiro no bolso ou mais segurança familiar?).

E mais um dado: Fernando Henrique, na posição de magistrado, ajudaria Lula; de mangas arregaçadas, na rua, fazendo campanha, favoreceria Serra. A conferir.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Aécio quer evitar ressaca eleitoral
Ao primeiro olhar, a amplitude da diplomacia eleitoral do presidente da Câmara e candidato ao governo de Minas Gerais, Aécio Neves, parece excesso de esperteza. Daquelas que acabam crescendo, virando bicho e engolindo o dono.

Firmando-se a vista, porém, é possível enxergar um cenário mais amplo que o da eleição estadual nas boas relações que Aécio cultiva com os adversários do candidato de seu partido à Presidência, José Serra.

Não obstante as brigas do PSDB no âmbito nacional, o deputado já proporcionou recepção cortês a Ciro Gomes e, faz quatro dias, chamou Luiz Inácio Lula da Silva de ''presidente'', em palanque montado por Itamar Franco.

E por que Aécio recebe com tanta fidalguia o, em tese, inimigo?
Exatamente para que não se consolidem, depois das eleições, inimizades contraídas durante a campanha.
''O próximo presidente, seja ele quem for, terá enormes dificuldades para administrar a execução de uma agenda nacional'', constata o candidato a governador. A intenção dele é começar a construir desde já o entendimento necessário à abreviação do período de cura das feridas.

''Ideal mesmo é que não haja ressaca eleitoral.'' Ou seja, que o eleito possa enfrentar o primeiro ano de governo sem precisar passar, antes disso, por uma espécie de terceiro turno das eleições - aquele período em que os perdedores aproveitam para ir à forra e confrontar o vencedor.

Em 1994, Fernando Henrique Cardoso escapou dessa situação, não apenas pelo impacto do Plano Real que lhe deu a vitória no primeiro turno, mas também pela maioria congressual que lhe garantia a ampla aliança com o PFL, PMDB, PTB e PPB.

Na reeleição, no entanto, ganhou apertado já na primeira etapa e, logo no início do novo mandato, precisou administrar uma reação de governadores que rendeu desgastes e disputas, iniciadas com a decretação da moratória de Minas por Itamar Franco.

O quadro atual não indica a probabilidade de uma eleição em turno único, mostrando, sim, a possibilidade de um difícil day after. Não apenas por causa do acirramento de posições, mas também pela inexistência de alianças muito amplas.

Nesse cenário, Aécio Neves acha que os governadores terão um papel fundamental na sustentação do governo federal. Não se trata, ressalva, de defender a ressurreição da antiga política de governadores, mas de um grande acerto institucional no qual, evidentemente, ele pretende que Minas Gerais tenha papel preponderante.
Com 50% das preferências nas pesquisas, Aécio tem chance concreta de se eleger no primeiro turno e, caso isso de fato aconteça, pretende pôr seu projeto em execução antes mesmo do desfecho da eleição nacional.

Não reivindica exclusividade na operação da tarefa, ao contrário, já iniciou conversas para a formação de um núcleo de lideranças para levá-la adiante. O que não significa que não pretenda assumir posição de destaque.
''Não é projeto antecipado de candidaturas futuras nem nada disso'', vai logo avisando, embora seja evidente que não deixará de considerar, lá na frente, a hipótese de concorrer à Presidência da República. ''Só não vou é passar o ridículo de tratar desse assunto agora, quando nem ganhei ainda a eleição estadual.''

De qualquer forma, Aécio Neves, se eleito governador, assume que seus movimentos visam a retomada de um espaço político que seu Estado perdeu há quase 20 anos. ''Desde a morte do meu avô (Tancredo Neves), Minas deixou de ter o peso político que tinha e São Paulo passou a exibir uma concentração de poderes, a meu ver, excessiva.''

Essa ''saturação de poder'', na concepção de Aécio, causa desconforto em várias lideranças e distorce o princípio da Federação. Ele considera que seja possível o estabelecimento de um reequilíbrio a partir de uma nova geração de políticos que, acredita, surgirá a partir dessa eleição.

''Haverá natural esgotamento de um grupo que, embora continue representado no cenário nacional, não estará mais no centro do poder'', raciocina Aécio Neves, para quem os remanescentes da, digamos assim, velha ordem, sobreviverão como grandes lideranças, mas de caráter regional.

O jovem presidente da Câmara, evidentemente, está se posicionando para assumir uma das vagas. E quer fazer isso via recondução de Minas Gerais da periferia para o eixo central do poder político, fazendo do Estado o condutor do processo de entendimento em torno do próximo presidente da República.

Pelo jeito, seus planos são o de se tornar uma espécie de interlocutor privilegiado com trânsito entre as várias forças políticas representadas no Congresso e hoje sem referências em lideranças partidárias ou estaduais. O que denota a existência de bem traçados planos para o futuro.


Editorial

LINHAS CONVERGENTES

No final do debate com os economistas que assessoram os candidatos a presidente da República, o professor americano Joseph Stiglitz declarou que havia notado clara convergência de opiniões sobre as questões fundamentais da economia brasileira. A observação o levou a considerar alto o estágio em que se apresenta a evolução democrática no Brasil.

O professor Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia e um dos mais importantes economistas na atualidade, veio ao Brasil para uma série de debates sobre problemas relaciona dos com a globalização. No debate (por iniciativa do Jornal do Brasil) com assessores dos candidatos à sucessão presidencial - os economistas Gesner de Oliveira (PSDB), Guido Mantega (PT), Luís Rabi (PPS) e Tito Ryff (PSB) - o professor Stiglitz examinou os limites do liberalismo e os seus efeitos nas economias em desenvolvimento.
A qualidade da discussão o levou a declarar, na apreciação final, o sentido proveitoso das avaliações feitas. O nível de conhecimento demonstrado, aliado à tecnica de debater e discordar, traduziu-se num espetáculo de qualidade de bom nível de educação política.

Stiglitz resumiu as duas horas de debate em sua conclusão sobre os principais pontos discutidos: os debatedores conhecem a matéria tratada, conduziram as divergências em nível de respeito pelas opiniões discordantes, portanto com educação política, e, por último, o sentido consensual sobre as desigualdades da globalização nas economias em desenvolvimento, e o reconhecimento da necessidade de recriação de instrumentos para dotar o Estado de meios para exercer papel regulador do processo produtivo.

Os Estados Unidos, concluiu Stiglitz, não são o único modelo: existem variantes importantes como as economias do Japão, da Coréia do Sul e da Suécia.

Se assessores dos candidatos à sucessão presidencial fazem da divergência de opiniões um espetáculo democrático, conduzido dentro das normas da educação pessoal, pode-se indagar: Qual a razão que impede os candidatos de conduzirem a disputa em nível capaz de dignificar uma divergência política que diz respeito ao futuro da República?

Esta é a questão que incomoda o colégio eleitoral de 115 milhões de cidadãos. As poucas tentativas de confrontar idéias e programas resultaram contraproducentes. O predomínio do aspecto pessoal sobre o lado público desagrada os cidadãos e rebaixa o nível político.

A pouco mais de duas semanas da eleição, os brasileiros não desistiram de assistir um final digno de um 115 milhões de eleitores, um confronto em que os candidatos se apresentem no nível dos eleitores que representam investimento cívico na melhor História do Brasil.


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09/16/2002


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