Semana decisiva
Semana decisiva
Com a recomendação da abertura de processo por quebra de decoro parlamentar, esgotam-se as chances de Jader Barbalho de retornar à presidência do Senado. O PMDB tenta salvar ao menos o mandato do senador
Jader quer voltar à presidência, mas suas chances são pequenas
O futuro político do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) será selado nesta terça-feira, quando a comissão que investiga as denúncias contra o presidente licenciado do Senado entrega ao Conselho de Ética o relatório final. Os senadores Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM) recomendarão aos 15 conselheiros a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar. Acusarão Jader de ter ferido o código de ética do Senado ao mentir para negar as denúncias de seu envolvimento nos desvios do Banco do Estado do Pará (Banpará). E também por ter arquivado um pedido de informações ao Banco Central, que investigou o caso há onze anos, encaminhado em maio pelo líder do PT, senador José Eduardo Dutra (PT-SE). ‘‘Não tem mais volta’’, afirma Jefferson.
Ele e Tuma não tratarão da aplicação da pena — advertência, suspensão ou cassação do mandato. A decisão ficará a cargo do conselho. Dentro do conselho, Jader teria apenas os cinco votos da bancada peemedebista. O placar é desfavorável ao senador. No mínimo, tem 10 votos contra si. O conselho é integrado por 15 senadores. A cassação é uma questão de tempo. ‘‘Com o voto aberto, difícil ir contra a opinião pública’’, desabafa um integrante do PMDB. ‘‘Ele não conseguiu provar que não teve qualquer envolvimento’’, destaca um senador do PSDB.
A votação do relatório será aberta, em sessão transmitida pelas emissoras de rádio e televisão, provavelmente na quinta-feira. O PMDB vai tentar colocar o voto em segredo, mas o processo preliminar contra Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PSDB-DF), pela violação do painel eletrônico do Senado, teve votação aberta. Outro fator contra Jader é que PFL e oposições querem votar o relatório antes da eleição para a presidência do conselho, vaga desde a renúncia ao cargo pelo senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), na semana passada. Mestrinho será substituído por Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), indicado pelo PMDB.
DESASTRE
A manobra dos peemedebistas de trocar o comando do conselho acabou se revelando desastrada. O próprio Jader articulou para retirar do vice Geraldo Althoff (PFL-SC) o poder de conduzir os trabalhos. Ligou para Mestrinho na quarta-feira e o convenceu a retirar-se do conselho. No dia seguinte, a cúpula pefelista decidiu que o relatório será votado esta semana. Só então os senadores decidirão quem presidirá o conselho.
Desde que o Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) renunciou ao mandato para escapar de um processo de cassação pela violação do painel eletrônico do Senado, os pefelistas vêm planejando detonar Jader. Agora esperam dar o troco. ‘‘A ordem é detonar’’, confessou um senador do PFL, assim que descobriu no plenário do Senado a manobra de trocar o comando do conselho. Dentro do partido, ninguém cogita a idéia de um acordo para salvar o mandato de Jader. ‘‘Isso não pode passar pela cabeça de qualquer um aqui no Senado.
Se Jader Barbalho for culpado, que seja punido’’, atacou o senador José Agripino (PFL-RN).
Alguns integrantes do PFL afirmam que o problema de Jader é sua prévia condenação pela opinião pública. ‘‘Ele cometeu um erro primário que foi sair daqui do Senado para se exilar em Belém’’, afirma um dirigente pefelista, que acredita que as chances dele reassumir a presidência do Senado, no próximo dia 17, acabaram. Jader quer voltar, mas ninguém mais o aceita. Dentro do PMDB, a esperança é salvar ao menos o seu mandato.
O QUE PESA CONTRA JADER BARBALHO
Na época em que era ministro da Reforma Agrária (1987-1988), Jader teria sido responsável pela desapropriação irregular da Fazenda Paraíso, de propriedade do empresário Vicente Pedrosa.
Para pagar a desapropriação, ele autorizou a emissão de 55,2 mil TDAs, em 1988, no valor de US$ 4 milhões.Há suspeitas de que Pedrosa seria intermediário de Jader.
O STF autorizou a quebra do sigilo bancário e abriu inquérito contra o senador
SUDAM
Aliados de Jader, os ex-superintendentes da Sudam José Artur Guedes Tourinho e Maurício Vasconcellos foram demitidos por envolvimento em projetos irregulares no valor de R$ 2,5 bilhões.
Um dos projetos liga a atual mulher de Jader, Márcia Cristina Zahluth Centeno, ao maior fraudador da Sudam, acusado de desviar mais de R$ 100 milhões: José Osmar Borges. Ela também é acusada de ter desviado R$ 9,6 milhões que deveriam ter sido aplicados em um ranário.
Foram abertos 136 inquéritos pela Polícia Federal para apurar o caso.
Jader deve ser indiciado pela Polícia Federal, como um dos responsáveis pelas fraudes na Sudam.
BANPARÁ
O senador é acusado pelo Ministério Público Federal de ter se beneficiado, de maneira indireta, pelo desvio de nove cheques administrativos emitidos pelo Banpará, a partir de outubro de 1984, que somam R$ 3.084.655,39.
Cinco outras pessoas, incluindo o seu segundo suplente Fernando de Castro Ribeiro, e o jornal da família, Diário do Pará, tiveram acesso aos recursos dos cheques, no valor superior a R$ 2 milhões.
Parte dos cheques serviram para alimentar aplicações em títulos de renda fixa, que movimentaram, entre 1984 e 1988, mais de R$ 50 milhões.
Em depoimento à comissão de investigação do Senado, Jader confirmou que eram suas as assinaturas em dois cheques pessoais, apontados pelo Ministério Público como complementos de depósitos em aplicações. Mas negou que isso tenha ligação com os desvios do Banpará.
A comissão acredita que Jader feriu o código de ética parlamentar ao mentir sobre seu envolvimento no caso.
Ele também teria quebrado o decoro parlamentar ao segurar por mais de 100 dias um requerimento do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) solicitando informações sobre as fraudes no Banpará, em poder do BC.
Governistas, até certo ponto
O PMDB elegeu o deputado Michel Temer seu novo presidente. A vitória do aliado do governo, porém, não alivia o Palácio do Planalto. O partido terá candidato próprio à Presidência e largará os ministérios. A guerra agora será entre Pedro Simon e Itamar Franco
Os governistas tentarão agora inflar a candidatura de pedro simon para evitar a vitória de itamar franco, hipótese que é o pesadelo de fernando henrique cardoso
O deputado paulista Michel Temer, aliado fiel do governo de Fernando Henrique Cardoso, é o novo presidente do PMDB.
Isso, porém, está longe de ser motivo para que o Palácio do Planalto solte rojões. Os oposicionistas, que apoiavam o senador goiano Maguito Vilela, fizeram 37% dos votos e terão participação proporcional no diretório e na comissão executiva do partido. A tese da candidatura própria à Presidência da República é quase uma unanimidade no PMDB: obteve 542 votos entre possíveis 655. E o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, candidato à Presidência preferido dos oposicionistas e um dos maiores temores do Planalto, foi ovacionado pelas torcidas de ambos os lados. ‘‘Itamar saiu daqui com cheiro de candidato. Isso é um fato que não há manobra que consiga mudar. E, quando as prévias confirmarem isso, os fisiológicos serão os primeiros a aderir’’, comentou o senador Amir Lando (PMDB-RO), ao final da convenção.
O clima favorável à candidatura própria é considerado irreversível. Tanto é que Temer já afirmava que ‘‘a desvinculação do governo começa com o fim desta convenção’’, antes mesmo de conhecido o resultado. O desembarque será em etapas. ‘‘No Congresso, o partido terá agora postura de independência, continuando como aliado nos projetos de interesse nacional. Enquanto isso, vamos elaborar um programa de governo, base para o nosso candidato a presidente’’, disse ele. ‘‘O PMDB não pode ter um discurso radicalmente de oposição ao governo. Quem simboliza isso é o Lula, do PT’’, concluiu.
Futuro incerto
Feito o programa e escolhido o candidato em janeiro, os ministros deixam seus cargos para ingressar na campanha. E, como o futuro é incerto para todos os partidos governistas, Temer não afasta Itamar. ‘‘A permanência dele é útil ao PMDB. Se ganhar, a prévia, leva’’, comentou. Temer considerou o fato de Itamar não discursar na convenção como sinal de não-agressão à ala governista. ‘‘Tudo vai depender da vontade dele de servir ao partido’’, disse o novo presidente, referindo-se à candidatura de Itamar.
Embora o governador mineiro esteja bem nas pesquisas, os governistas trabalharão a partir de agora para inflar e buscar viabilizar a candidatura do senador Pedro Simon (PMDB-RS) à Presidência da República. Isso porque a ala governista não confia no ex-presidente. Simon, considerado independente, aceitou o jogo governista e se colocará como contraponto de Itamar, de quem foi líder do governo.
Simon, no entanto, corre o risco de ver o partido lançar sua candidatura apenas para que o número 15 do PMDB seja amplamente divulgado e garanta a eleição de governadores e uma bancada expressiva no Congresso. A experiência recente no PMDB revela que o partido precisa de um nome na cabeça de chapa para recuperar poder. Em 89, Ulysses Guimarães teve menos de 5% dos votos, mas o PMDB elegeu 114 deputados e 23 governadores. Em 94, Orestes Quércia teve desempenho ainda pior que o de Ulysses, mas foram eleitos mais de cem deputados e 12 governadores. Em 98, com Fernando Henrique, o PMDB fez apenas 83 deputados e seis governadores.
Tese irreversível
As projeções apontam para somente 50 deputados na próxima eleição se novamente o partido não tiver candidato próprio. ‘‘Está demonstrada que a candidatura própria é uma tese irreversível’’, comenta o ministro da Integração Nacional, Ramez Tebet. Outros peemedebistas afirmam que ter candidato próprio é o melhor jogo. No caso de estar fora do segundo turno, o PMDB terá ainda liberdade para abraçar o candidato que der mais espaço ao partido.
A briga para ver quem será candidato deverá ser tão acirrada quanto foi a convenção. Nas prévias, votam todos os filiados do PMDB, o que pode levar Itamar à vitória. E, segundo o próprio Michel Temer, as chances de mudança do nome são remotas ‘‘Com um candidato nas ruas fica difícil mudar. E, seja quem for, já estará em campanha e mobilizando o partido’’, disse Temer, que agora cuidará de trazer os oposicionistas para o seu lado.
Maguito saiu da convenção acusando a ala governista de comprar os convencionais com verbas orçamentárias e cargos nos estados. O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia também foi agressivo, ao se referir a Temer como uma espécie de ‘‘Salomé’’ que faz ‘‘a dança dos sete véus’’ para entregar a cabeça de Itamar a Fernando Henrique Cardoso. Itamar foi o único cauteloso: ‘‘No calor dos acontecimentos, o melhor é a gente não dizer nada’’, disse ele, que ficou na convenção o tempo suficiente de votar e regressar a Belo Horizonte.
Roriz: carregado pela claque que encomendou para Michel Temer
Rápida e movimentada: assim foi a participação do governador Joaquim Roriz na convenção nacional do PMDB, ontem. Ele chegou na hora do almoço, quando a convenção estava vazia, votou e saiu, de helicóptero. Só deu tempo de distribuir alguns abraços e, bem a seu estilo, ser carregado pela claque que encomendou para Michel Temer.
A meteórica passagem de Roriz pela convenção deu a exata medida de sua influência na claque governista. Logo depois que foi embora — o que coincidiu com a distribuição das cerca de quatro mil marmitas de galinhada aos correligionários de Temer — mais da metade da torcida organizada foi junto. A claque encomendada por Roriz honrou a fama de brigona e tentou puxar confusão com os torcedores de Maguito, no final da convenção. Incentivados por altos funcionários do GDF, alguns torcedores de Temer cruzaram os vinte metros que separavam as duas claques e provocaram os adversários. A chegada da segurança do evento e de policiais do Bope evitou conflito maior.
A expectativa de que a convenção de se transformasse em uma guerra foi frustrada. A briga mais feia não envolveu as torcidas, mas alguns dos expoentes do partido. Aliado de Maguito, o suplente de deputado Nei Teles discursava e agredia os governistas quando o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, tentou puxar-lhe o microfone, ajudado pelo assessor especial da Presidência, ministro Moreira Franco. Os dois se preparavam para bater em Nei Teles quando o deputado José Índio empurrou também Teles. A turma do deixa-disso impediu confronto maior. Além disso, apenas vaias das torcidas. O mais vaiado foi Quércia, que aproveitou para provocar os governistas: ‘‘Vocês estão bravos comigo só porque eu desci o sarrafo no Michel’’. Na convenção estadual em São Paulo, Quércia venceu a disputa com Michel Temer.
Jader Barbalho: ilustre ausente
Depois da convenção de 1998, quando o partido aderiu à reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Jader Barbalho (PA) tornou-se o homem mais poderoso do PMDB. Ontem, ele foi a ausência mais notada na convenção do partido que elegeu Michel Temer. Presidente licenciado do partido até ontem, Jader, envolvido em várias denúncias de corrupção, teve medo de ser chamado de ladrão pela claque do senador goiano Maguito Vilela.
Escapou do constrangimento de ver aprovada uma moção que determina o afastamento do partido de filiados submetidos a investigação que tenham sido condenados judicialmente por uso indevido de dinheiro público. A decisão atinge em cheio o próprio Jader e o ex-senador Luiz Estevão, do Distrito Federal.
O Conselho de Ética do Senado decide amanhã se autoriza a abertura de um processo contra Jader por quebra de decoro parlamentar (veja matéria na página 13). A ausência de Jader na convenção é uma medida do seu isolamento em um partido em que já foi o principal comandante. Filiado ao PMDB desde a criação da legenda, em 1966, ele foi deputado federal, governador do Pará duas vezes e ministro da Reforma Agrária e da Previdência Social durante o governo de José Sarney. Em fevereiro, elegeu-se presidente do Senado, o mais alto posto ocupado pelo PMDB na atual divisão do poder federal. Há dois meses, licenciou-se para se defender das acusações. Jader pretende reassumir no próximo dia 18, mas dificilmente vai conseguir. Nem o novo comando do partido acha isso conveniente. ‘‘É melhor que ele se defenda até o fim e só depois reassuma’’, aconselhou o deputado Michel Temer.
O jogo de cada um após a convenção
Michel Temer
Eleito presidente do PMDB, Temer se recupera do revés de ter perdido o diretório estadual do partido para Orestes Quércia. Tentará agora se cacifar para ser candidato ao governo de São Paulo. Não é tarefa fácil.
Maguito Vilella
Derrotado, o senador piora uma situação que já era ruim para seu grupo (o do senador Íris Rezende) em Goiás. Deverá crescer ainda mais o comando do governador Marconi Perillo no estado.
Itamar Franco
Apesar de estar mais identificado com a chapa derrotada, o governador mineiro não pode ser classificado como um perdedor. Nas bases do partido, ele ainda é o franco favorito. E serão as bases, nas prévias de janeiro, que escolherão o candidato.
Pedro Simon
Se a chapa de Maguito vencesse, o senador gaúcho poderia desistir da sua candidatura. Agora, será um nome inflado pelo grupo governista. Mas esse apoio pode não ser sincero.
Procurador nega ter agido de má-fé
Luiz Francisco é acusado de incluir CPF do inimigo Amauri Serralvo na lista para quebrar sigilo bancário de pessoas ligadas a Eduardo Jorge
Luiz Francisco: ‘‘É uma acusação canalha contra a minha pessoa’’
Estresse e cansaço. Dois motivos naturais para se cometer um erro material. Foi o que alegou o procurador da República Luiz Francisco de Souza por telefone ao Correio.
Numa reportagem da Folha de S. Paulo, publicada ontem, ele é acusado de agir de má-fé pelo ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF) Amauri Serralvo. ‘‘É uma acusação canalha contra a minha pessoa’’, reage Luiz Francisco. O procurador colocou no pedido de quebra do sigilo bancário e telefônico do ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira, o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) de Serralvo. Segundo Serralvo, Luiz Francisco estava sugerindo também sua quebra de seu sigilo bancário.
‘‘Não se quebra o sigilo bancário de uma pessoa apenas com o CPF’’, rebate Luiz Francisco. O procurador afirma que, se quisesse sugerir a quebra de sigilo do ex-presidente da OAB, teria feito de forma explícita. ‘‘CPF não tem conta’’, acrescenta o procurador. Ele explica que o pedido é bem claro e foi feito no nome de Lídice Coelho da Cunha Caldas Pereira, mulher de Eduardo Jorge.
Segundo Luiz Francisco, o CPF de Serralvo foi parar no documento por acaso. Ele pediu a secretária Lúcia que providenciasse o número do cadastro de Lídice Caldas. Como trabalha com diversos processos na sala, onde há inúmeros CPFs, a secretária acrescentou os dois números separados pela conjunção ‘‘ou’’. Um deles era de Lídice e o outro de Serralvo. ‘‘O CPF é irrisório nesse processo. É predicado, não é sujeito’’, comenta Luiz Francisco.
GABINETE INVADIDO
Serralvo acredita que a atitude do procurador foi intencional. Ele não aceita a versão que de tenha sido um erro material. ‘‘Tivemos um desentendimento à época em que era diretor da faculdade de Direito e ele, presidente do DCE (representação estudantil). Ele invadiu meu gabinete e me fez acusações’’, conta o professor de Direito Penal da Faculdade de Direito do Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Para Serralvo, Luiz Francisco não esqueceu esses desentendimentos.
O procurador moveu uma ação ordinária na qual acusa Serralvo, também ex-procurador-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), de improbidade administrativa por suposto superfaturamento no aluguel da sede do órgão.
ENTENDA O CASO
Ao fazer o pedido de quebra de sigilo bancário do ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge, o procurador Luiz Francisco de Souza incluiu o número de dois Cadastros de Pessoas Físicas (CPFs), sem dizer quais eram os titulares do documento.
Um dos números é do advogado Amauri Serralvo, considerado seu inimigo pessoal. O ex-procurador-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é réu de uma ação ordinária na qual Luiz Francisco o acusa de improbidade administrativa por suposto faturamento no aluguel da sede do Cade.
Serralvo acusa o procurador de agir de má-fé. Atribui a rixa a uma questão pessoal que vem desde o tempo em que Serralvo era diretor da faculdade de Direito e em que Luiz Francisco era aluno. O procurador se defende e alega ‘‘erro material’’ cometido pela secretaria da Procuradoria.
O erro poderia ter sido evitado caso houvesse uma checagem prévia no site da Receita Federal do número do cadastro. Por Internet, a pessoa se informa, em minutos, o nome do titular de cada CPF.
Luiz Francisco alega que a quebra do sigilo bancário é feita em função da pessoa. ‘‘Não se quebra o sigilo apenas com um CPF’’, diz o procurador.
Artigos
O povo que não se vê
Rubem Azevedo Lima
Os festejos do Dia da Pátria têm trazido a muitos brasileiros um travo de tristeza e nostalgia nos últimos anos. Comemora-se, na data, a soberania do país, que, pelas voltas que aqui se deram e se dão, é mais virtual do que real. Em tempos melhores, embora nossa independência também não fosse completa, ao menos protegíamos o patrimônio nacional da cupidez dos países ricos e seus banqueiros.
Acreditem: já houve esse tempo. Sabe-se até o dia exato em que se tornou maior a preocupação de nossos governantes quanto ao futuro do país. Foi em 5 de outubro de 1988, às vésperas da globalização econômica assimétrica e neoliberal, quando se promulgou a primeira Constituição brasileira livre, após o regime de 1964.
Firmaram-na, entre outros constituintes, Ulysses Guimarães, Severo Gomes, Mário Covas, Delfim Netto, Jarbas Passarinho, Bernardo Cabral, Lula, o ex-presidente Itamar Franco e o atual, FHC. Severo inseriu na Constituição um dispositivo lapidar, o artigo 219: ‘‘O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do país, nos termos de lei federal’’.
Belas palavras, mas natimortas. FHC, presidente de maior mandato que o país já teve pelo voto e um dos entusiastas subscritores da Constituição, esqueceu o que devia defender. Há dias, ele cunhou o lema ‘‘Exportar ou Morrer’’, depois mudado na forma, porém não no conteúdo, que nos obriga a produzir para vender no exterior.
Sob FHC — sete anos de liberalização financeira frenética — vendemos 75% do patrimônio estatal por US$ 100 bilhões e abrimos nossa economia, sem compensação alguma para o país. Nossas dívidas passaram de 28% do PIB para 52,5%. Este ano, o déficit de transações correntes será de US$ 27 bilhões. O desemprego sobe, os salários baixam e o mercado interno, fragilizado, esboroa-se.
O governo, cujos feitos inesquecíveis serão a conquista do direito de reeleição e a crise de energia, aprovou o que quis, no Congresso, com o apoio de sua legião de neobigorrilhos. Mas, sabedor do poder dos mercados, FHC, sem explicação alguma — talvez por miopia histórica e política —, ignorou o potencial de nosso mercado interno, congelando-o, pois, na baixa da crise atual.
No último Dia da Pátria faltou um pouco de sentimento de pátria. Foi como se essa tivesse morrido, por abulia, desleixo ou sabe-se lá o quê, dos que a governam olhando para o exterior. E, aqui, fora de eleições, mal vêem o povo e quanto ele vale.
Editorial
Iniciativa de mérito
As notícias sobre a economia brasileira são preocupantes. Os dados do IBGE revelam desaceleração do ritmo de crescimento. Comparando-se os números dos dois últimos trimestres, verifica-se queda de 0,99% do Produto Interno Bruto (PIB). Os resultados negativos da indústria foram os que mais impactaram a retração.
As estimativas para 2001 não são nada animadoras. Admite-se que a taxa de expansão da renda nacional possa ficar abaixo de 1%. Nessa hipótese, o PIB per capita teria evolução negativa.
A atividade econômica está sendo afetada sobretudo por três fatores. O primeiro, a recessão da economia mundial. O segundo, a ruína financeira da Argentina. O último, talvez o mais importante, a crise de oferta de energia elétrica.
Os dois primeiros têm conotação exógena. Constituem amostra da vulnerabilidade da economia brasileira, que foi forçada a recorrer mais uma vez ao Fundo Monetário Internacional, a elevar a taxa de juros e a reduzir a despesa pública. Até hoje, a execução financeira do Orçamento da União limitou-se a 15% do autorizado pelo Congresso Nacional.
Quanto à oferta de eletricidade, as perspectivas tampouco são alvissareiras. Persistem problemas de gestão no setor, sobretudo na área da regulação. As metas de racionamento não estão sendo cumpridas por causa de fatores climáticos e psicológicos. As tarifas estão pressionadas não apenas pela escassez física, mas também pelas dificuldades financeiras das distribuidoras decorrentes da redução de faturamento. O passivo atinge cerca de R$ 15 bilhões e a conta deve ser cobrada dos consumidores industriais e residenciais mediante novo tarifaço.
Nesse quadro de dificuldades, algumas iniciativas merecem apoio e atenção da sociedade. Nos últimos dias, foi lançado pelo presidente da República ambicioso programa destinado a estimular a eficiência energética nas empresas de menor escala. As médias, pequenas e micros representam 98% das empresas do país. São responsáveis por 60% do emprego e cerca de 30% do consumo total de energia elétrica.
O uso de tecnologias de conservação nesse segmento é ainda incipiente. Existe, por isso, grande margem de manobra para obtenção de economia de até 30 milhões de megawatts/hora por ano, suficiente para abastecer trinta cidades de porte médio.
O principal executor do programa será o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), que possui cerca de 500 postos de atendimento em todo o país e grande experiência junto à comunidade de pequenos negócios. A proposta compreende sensibilização dos empresários, capacitação de recursos humanos e consultoria. Haverá também financiamento para substituição de máquinas e equipamentos de baixa eficiência energética e obras de cogeração e produção de eletricidade por meio de fonte renovável.
Trata-se de iniciativa meritória. Além de colaborar para a superação do hiato de oferta de energia, possibilitará ao importante setor da atividade econômica maiores lucros graças ao uso mais eficiente desse escasso fator de produção.
Topo da página
09/10/2001
Semana será decisiva para CPI da Petrobras
Mudança na atualização das dívidas dos estados tem semana decisiva
Semana decisiva para criação ou não de CPI sobre o caso Varig
Senado terá semana decisiva para FPE, royalties e orçamento
Semana será decisiva para definição sobre 'royalties' do petróleo
Começa na terça votação decisiva da reforma da Previdência
09/10/2001
Artigos Relacionados
Semana será decisiva para CPI da Petrobras
Mudança na atualização das dívidas dos estados tem semana decisiva
Semana decisiva para criação ou não de CPI sobre o caso Varig
Senado terá semana decisiva para FPE, royalties e orçamento
Semana será decisiva para definição sobre 'royalties' do petróleo
Começa na terça votação decisiva da reforma da Previdência