Senado comemora centenário de Noel Rosa e Adoniran Barbosa
Ao som das canções Fita Amarela e Gago Apaixonado, de Noel Rosa (1910-1937), e Samba do Arnesto e Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa (1910-1982), entoadas pelo Coral do Senado, o Plenário prestou homenagem a ambos os compositores, nesta quinta-feira (16). A iniciativa de celebrar o centenário de nascimento de Noel e Adoniran partiu dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Eduardo Suplicy (PT-SP).
Ao fim da homenagem, os dois senadores se uniram ao coral e cantaram composições dos homenageados. A Mesa foi composta pelo sobrinho-neto de Noel Rosa, Davi Medeiros Rosa de Mel, e pelos signatários do requerimento, Suplicy e Inácio Arruda, além do senador Fernando Collor (PTB-AL), convidado pelo senador Mão Santa (PSC-PI), que presidiu os trabalhos. Segundo Mão Santa, os dois compositores "mostraram em vida a grandeza do nosso samba e retrataram muito bem a situação política, econômica e social do país".
O Poeta da Vila
O parlamentar do Piauí salientou que cedo o carioca Noel Rosa tornou-se a "lenda viva do samba", conhecido como "O Poeta da Vila" e foi considerado um dos maiores poetas do país, por cantar um samba "versátil, autobiográfico, com aguçada compreensão do momento em que vivia".Suas mais de 200 músicas, compostas entre 1930 e 1937, acrescentou, tinham como personagens mulheres do povo, dançarinas, malandros, prostitutas e vagabundos, e incluíam as gírias e o "espírito despojado" dos cariocas.
Mão Santa destacou que, tendo nascido de um parto a fórceps, que lhe causou um queixo retraído, Noel morreu aos 26 anos de tuberculose, sem ter obtido sucesso financeiro com sua vasta obra: o lucro ficou com os produtores. O compositor foi grande sucesso do carnaval de 1933, com músicas como Fita Amarela Vai Haver Barulho no Chatô;Assim, Sim!;Mas como? Outra Vez?; Prato Fundo; Seu Jacinto; Último Desejo e Chuva de Vento.
Personagem particular
Adoniran Barbosa, por sua vez, teve que lutar bem mais para conseguir o sucesso, comparou o parlamentar. Mão Santa descreveu o estilo do compositor paulista pela voz rouca e pigarro constante, que compôs "um personagem particular" com seu chapéu, paletó, gravata borboleta e "bigode fininho". Ele só se tornaria conhecido do grande público, recordou, por meio do grupo Demônios da Garoa, e do show da cantora baiana Gal Costa no Anhembi em 1973", em que ela apresentou Trem das Onze.
Para o senador Inácio Arruda, os dois compositores tiveram em comum, em sua genialidade, a capacidade de reunir música erudita e popular, e eles não enriqueceram com sua farta produção musical. Recordou que enquanto um teve educação formal, o outro não teve oportunidade educacional, porém ambos tiveram canções censuradas pela ditadura militar.
- Musicistas do campo popular, conferiram às suas criações uma sofisticada arquitetura artística sob uma roupagem de aparente simplicidade. Desse produtivo veio popular, fizeram emergir uma sabedoria não livresca, embora refinada, e uma musicalidade que fala diretamente ao coração das massas - definiu.
Monstros sagrados
O senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC) classificou os compositores como "monstros sagrados da música brasileira". O parlamentar assinalou ser incomum homenagens informais no Senado, enquanto nas ruas as homenagens a ambos são diárias. Ele criticou a indústria fonográfica por não reverenciar a memória desses músicos populares, especialmente entre a juventude.
Ao final da sessão de homenagem, o senador Eduardo Suplicy entoou um trecho da música Saudosa Maloca mostrando que foi na linguagem simples do povo paulistano que Adoniran Barbosa construiu "as melhores cadências do samba".
- Aproveitando-se da linguagem popular paulistana, de resto o próprio país, as músicas dele são o retrato exato dessa linguagem. E como a linguagem determina o próprio discurso, os tipos humanos que surgem desse discurso representam um dos painéis mais importantes da cidadania brasileira - encerrou.
16/12/2010
Agência Senado
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