SENADO FAZ SESSÃO ESPECIAL EM HOMENAGEM AO PADRE VIEIRA



O Senado homenageou hoje (dia 26), em sessão especial, a memória do padre Antonio Vieira, pela passagem dos 300 anos de seu falecimento. O gênio do orador, político e escritor português foi exaltado, em pronunciamentos, pelos senadores Lúcio Alcântara (PSDB-CE), de quem partiu a iniciativa da homenagem,Edison Lobão (PFL-MA) e Geraldo Melo (PSDB-RN).

Ao destacar a trajetória de Vieira, Lúcio Alcântara lembrou que, quando de sua chegada ao Brasil, ainda menino, a sua família se fixou na Bahia depois de uma viagem na qual o navio em que viajavam quase naufragou. "Na Bahia o jovem Antônio ingressou no colégio da Companhia de Jesus, contra a vontade dos pais, e demonstrou toda a sua capacidade e talento quando, aos 17 anos, ficou encarregado de escrever para Roma, em latim, as cartas anuais da Companhia", discorreu.

As primeiras pregações foram aos 27 anos, por volta de 1635, quando se ordenou sacerdote e começava a revelar-se exímio orador, fato que o levou a Lisboa, após a libertação de Portugal do jugo espanhol, para compor a delegação encarregada de hipotecar solidariedade a Dom João IV, o novo rei, recordou o senador.

- A partir dessa época, iniciou uma trajetória de êxitos extraordinários, de influências e de tormentos amargos - destacou Lúcio Alcântara, lembrando que Vieira foi pregador da Câmara Real, diplomata em Haia, Paris e Roma, e mestre do príncipe herdeiro de Portugal à época. O padre sofreu processo rigoroso da Inquisição Portuguesa, do qual se livrou, para posteriormente ser orador oficial da Rainha Cristina, da Suécia, destacou o senador.

Lúcio Alcântara reportou-se à volta do padre Vieira ao Brasil, com destino ao Maranhão, onde, frisou,foi recebido com júbilo pela comunidade. Após retornar mais duas vezes à Europa, ele voltou em definitivo ao Brasil e ultimou a edição de Os Sermões. Faleceu na Bahia, em 1697 aos 89 anos de idade.

O senador cearense recordou a atuação de Antônio Vieira como missionário no Ceará, onde fundoumissões na Serra do Ibiapaba, "em viagem penosa, na qual caminhava descalço". No entanto, salientou, o "norte da razão de Vieira era a política. Todo seu pensar dirigia-se aos negócios do Estado", frisou, ressaltando que nas tribunas públicas o padre disse verdades amargas ao povo, aos nobres e aos reis, o que que lhe rendeu inimigos que até atentaram contra sua vida.

Como escritor português , disse Lúcio Alcântara, "ele foi o maior do século XVII; ele e Bousset, grandes pregadores católicos, pouco importando se a discussão era cultista, conceptista ou síntese do Barroquismo", analisou, acrescentando que suas palavras, suas construções, seus raciocínios e sua lógica fundamentam-se na realidade, na doutrina da retidão e da justiça.

EDISON LOBÃO

Edison Lobão recordou o que escreveupadre Vieira no Sermão da Sexagésima, pronunciado em Lisboa, quando o sacerdote saiu do Maranhão para defender a causa dos índios na Europa e manifestou suadistinção entre pregar e agir: "Ter nome de pregador ou ser pregador de nome não importa nada; as ações a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo. O melhor conceito que o pregador leva ao púlpito, qual cuidais que é? É o conceito que têm os ouvintes". Segundo o senador, falava Vieira da conversão do mundo no sentido religioso, mas aplicando também estes ensinamentos básicos para os pregadores das coisas públicas "para os que, por ofício, se devem ocupar das coisas da coletividade, na seara política".

Lobão relembrou o desempenho missionário do padre Vieira caracterizando, nas suas palavras, o que o religioso queria dizer ao falar em ação. E reportou-se ao relato de um dos biógrafos do padre, Lúcio Azevedo:

- No Pará e no Maranhão, depois de regressar de Portugal, passou Vieira seis anos em permanente jornada, tão continuamente imerso em sua vida de apóstolo quanto anos se integrara na de cortesão e político. De saúde débil, prostrado amiúde por doenças e cansaço, sacramentado já e à espera do último instante, como em 1658, no Tocantins, e todaviaindômito, sem capitular com estorvos e fadigas. Continuou e superou ora a pé, ora embarcado, rios, baías, costas e sertões, plantou igrejas, elaborou formulários em línguas indígenas, pacificou e converteu várias nações.

O senador maranhense destacou também que como político padre Vieira combateu todas as escravidões. Em relação aos índios, "se bateu sem tréguas contra os desmandos dos colonizadores que praticavam violência à base de azorrague, de tortura, de caprichos cruéis", disse, lembrando o que escreveu Vieira no Sermão da Epifânia, pregado na Capela Real em 1662: "Querem que tragamos os gentios à fé e que entreguemos à cobiça; querem que tragamos as ovelhas ao rebanho e que as entreguemos ao cutelo; querem que tragamos os Magos a Cristo e que os entreguemos a Herodes. E porque resistimos a esta injustiça, nós somos os injustos; porque contradizemos esta impiedade nós somos os ímpios".

Lobão acrescentou que falava também pelo povo do Maranhão em reconhecimento ao "trabalho feito no Brasil e pelo Brasil, por esta pátria que tanto amou, onde dores curtiu e tantas alegrias vivenciou".

GERALDO MELO

Ao associar-se às homenagens ao padre Vieira, como presidente da Mesa na sessão especial, o senador Geraldo Melo afirmou: "O que ocorre nesta Casa, nesta manhã, é a expressão do reconhecimento da posteridade ao que ele (Vieira) representou na construção da grande obra da qual somos herdeiros do colonizador português.

- Não homenageamos apenas o artesão da palavra, o político, o filósofo, o catequista; homenageamos o vulto inteiro, integral de Antônio Vieira como um dos tecelões da unidade nacional da qual somos herdeiros, herança que esperamos ser capazes de guardar e entregar intacta ao futuro, como recebemos - disse Geraldo Melo.

Participaram da sessão de homenagem o ministro da Cultura, Francisco Weffort, o padre Aleixo, representante da Comunidade dos Jesuítas no Brasil, o padre Urbano Rausch,os embaixadores da Venezuela, Alfredo Toro, de Trinidad-Tobago, Robert Torry,erepresentantes da Embaixada de Portugal e Cabo Verde, Rui Rosquilho e Daniel Oliveira, respectivamente.

26/06/1997

Agência Senado


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