SENADO HOMENAGEIA GILBERTO FREYRE, O REDESCOBRIDOR DA IDENTIDADE BRASILEIRA



O centenário de nascimento de Gilberto Freyre, sociólogo pernambucano que inovou na pesquisa sobre a identidade brasileira, será comemorado na sessão desta terça-feira (dia 28) do Senado, por iniciativa do senador José Jorge (PFL-PE). Em 1933, com a publicação de Casa Grande & Senzala, Freire descartou a história oficial e as interpretações intelectuais então correntes sobre a formação nacional, permitindo que o país finalmente se reconhecesse nas suas etnias de origem - o branco português, o negro africano e o indígena. As muitas celebrações em torno do centenário de Gilberto Freyre apontam para a atualidade de obras e idéias que, produzidas na primeira metade do século, anteciparam em muito a atual voga de análises sociológicas e históricas centradas na vida cotidiana, nas mentalidades e nas práticas sociais. O atual interesse acerca das "histórias da vida privada", a emergência de estudos etnográficos sobre relações sociais no campo político e as recentes pesquisas sobre a condição da mulher, as minorias sexuais, o espaço doméstico, por exemplo, são tributários de um conhecimento sobre o Brasil que foi sistematizado pela primeira vez por Gilberto Freyre.Polêmico e controvertido, acusado ora de direitista, ora de "soviético", Gilberto Freyre foi deputado constituinte em 1946, representou o Brasil na Assembléia Geral das Nações Unidas de 1949, teve sua obra publicada em vários países, mas não teve lugar na sociologia brasileira dos anos 50, 60 e 70, inspirada pela "grande sociologia" de origem européia das obras capitais de Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim. Em entrevista concedida à revista Playboy em 1980, marcou suas diferenças em relação à intelectualidade paulista, da qual elogiou apenas Fernando Henrique Cardoso e, no Rio de Janeiro, o ex-senador Darcy Ribeiro, a quem Freyre agradecia um dos melhores prefácios já feitos a uma edição de Casa Grande.Para Darcy Ribeiro, que também concentrou seus estudos na formação do povo brasileiro, devemos a Gilberto Freyre "sobretudo o havermos aprendido a reconhecer, senão com orgulho, ao menos tranqüilizados, na cara de cada um de nós ou na de nossos tios e primos, uma bocarra carnuda, cabelos crespos ou aqueles narigões fornidos de indubitável procedência africada e servil". Coerente com seu "anarquismo-construtivista" - era assim que Freyre se autoclassificava -, em entrevista concedida em 1985 ao antropólogo Gilberto Velho, do Museu Nacional, Gilberto Freyre utilizou a figura de um guarda de trânsito para explicar qual o tipo de governo que ele considerava adequado ao país naquele momento histórico, de transição do regime militar: "Não manda no trânsito, mas o coordena", disse ele, defendendo um "mínimo de governo coordenador" e o "máximo de autonomia para as energias" sociais e regionais constitutivas da identidade brasileira. A casa no bairro Apipucos, no Recife, onde o sociólogo morou a maior parte de sua vida, abriga hoje a Fundação Gilberto Freyre, aberta a visitas também na Internet, no endereço www.fgf.org.br.

27/03/2000

Agência Senado


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