SENADORES ANALISAM TROCA NO BANCO CENTRAL E POLÍTICA ECONÔMICA
Substituição do presidente do Banco Central, crise e política econômica são os assuntos do debate entre os senadores Geraldo Melo (PSDB-RN) e José Eduardo Dutra (PT-SE), que vai ao ar nesta quinta-feira (4) na TV Senado.Dutra manifestou sua perplexidade com a demissão de Francisco Lopes apenas cinco dias depois da sabatina realizada pelo Senado. Ele questionou as vantagens apontadas para justificar a escolha do novo presidente do Banco Central, que, por ter trabalhado com o megainvestidor George Soros, conhece e sabe operar no meio financeiro. Por esse raciocínio, "é possível que o Escadinha seja indicado para dirigir a Polícia Federal, o Chapéu de Couro para o Ministério da Justiça e o maior sonegador para a Receita Federal", ironizou Dutra.Mas o 1º vice-presidente do Senado, Geraldo Melo, ressaltou que tais argumentos para a escolha de Armínio Fraga não partiram do governo. Melo acha que o problema foi uma divergência de opinião e de postura entre o ex-presidente do banco e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, tendo prevalecido o ponto de vista do ministro. Melo especulou que essa diferença deva dizer respeito à maneira de lidar com especuladores. Ele afirmou que a demissão nesse contexto é uma coisa corriqueira em qualquer governo.Melo disse ainda que o controle cambial não era compatível com a opção de economia de mercado feita pelo governo. "A opção de liberar o câmbio deveria ter sido feita há mais tempo. Ela trará grandes benefícios ao país, mas impõe que a conduta das autoridades seja compatível para ser levada em frente", enfatizou o vice-presidente do Senado, numa referência velada à troca no comando do Banco Central.A falta de certeza sobre os motivos que levaram à demissão de Francisco Lopes levou o senador José Eduardo Dutra a sugerir que o Senado ouça Pedro Malan antes de sabatinar Armínio Fraga. Para Dutra, as duas tarefas deveriam ser realizadas já no período de convocação do Congresso Nacional, que vai até o dia 12. Mas, para Geraldo Melo, isso não será possível, uma vez que as comissões ainda não foram formadas.Dutra argumentou que o que falta é vontade política do governo. Ele lembrou que o acordo com o FMI, com mais de 200 páginas, foi aprovado em apenas três dias. "Para compor as comissões bastaria um dia", afirmou Dutra, deduzindo que o governo não pretende que o Senado tome tal iniciativa. Mas, para Geraldo Melo, o mais importante, agora, é superar a crise. "É preciso que a estabilização que se inicia no mercado se estabeleça como uma tendência", afirmou, ao defender o adiamento da discussão sobre a substituição.Ainda sobre a escolha de Armínio Fraga, Dutra manifestou desconfiança de que, por trás da indicação, esteja a "mão invisível" de economistas internacionais, embora, conforme disse, Malan negue relação entre a missão do FMI no país e a substituição do presidente do Banco Central.José Eduardo Dutra também manifestou preocupação com a idéia de dividir a Diretoria de Assuntos Internacionais do Banco Central, escolhendo um funcionário do banco de investimento americano Goldman Sacks para dirigir uma delas. Segundo o senador, "antes se discutia se o banco deveria ou não ser independente; mas, agora, discute-se de quem a instituição deve ser independente, se do governo ou da mão invisível do mercado", ironizou.No debate, Dutra afirmou, ainda, que há muito tempo economistas de direita e esquerda vinham alertando sobre a necessidade de desvalorizar o real. Mas a liberação do câmbio só foi decidida nos últimos dias por pressão do mercado, o que deixa o país numa difícil situação.O debate vai ao ar nesta quinta-feira (4), à 1h e às 5h,13h30, 21h15.
03/02/1999
Agência Senado
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