SENADORES PEDEM INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO



As gravações clandestinas de conversas de altas autoridades do governo, divulgadas pela revista Época, merecem uma investigação exemplar, concordaram nesta terça-feira (dia 10) vários senadores em apartes ao discurso do líder do PMDB no Senado, Jáder Barbalho (PA). Coube ao senador Bernardo Cabral (PFL-AM), primeiramente, sugerir a Jáder que determinasse o envio de cópia de seu discurso ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, para a tomada de providências cabíveis.Jáder Barbalho, porém, afirmou não acreditar que as informações transcritas pela revista tivessem qualquer procedência. Por isso, não acolheria a sugestão de Cabral. Logo depois, porém, o senador Roberto Freire (PPS-PE) lembrou que a Procuradoria-Geral da República deveria agir de ofício para apurar o ilícito.- Caberia ao Ministério Público apurar, até porque o "grampo", por si só, é uma invasão de privacidade. No caso, cometida contra uma autoridade da República - afirmou.Em seguida, a investigação foi também pedida pelo senador Ramez Tebet (PMDB-MS). Para ele, o Ministério Público já deveria ter-se pronunciado.- O Ministério Público já deveria ter ordenado à Polícia Federal que apurasse o fato, porque é a única autoridade competente para fazê-lo - afirmou.O senador Pedro Simon (PMDB-RS) engrossou o coro:- Faço um apelo ao meu caro líder, para que aceite a proposta dos senadores Bernardo Cabral e Ramez Tebet, no sentido de fazer o chamamento dos denunciantes do Supremo Tribunal Federal - disse Simon.Já Odacir Soares (PTB-RO) foi ainda mais veemente:- Penso que o problema não é mais o "grampo". Esse é um problema policial, da alçada do Ministério Público Federal, pois trata-se de crime federal. Não deveríamos, sequer, estar aqui imaginando pedir ao Procurador para fazer isso ou aquilo, porque é ato de ofício, é da competência originária do procurador-geral da República tomar determinadas iniciativas sem a provocação de quem quer que seja _ disse Odacir.O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) lembrou que solicitou a presença do general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar da Presidência e que coordena as investigações sobre o caso, na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado Federal, para explicar o que já foi apurado. Já José Eduardo Dutra (PT-SE) lembrou que a outra denúncia, de que o presidente Fernando Henrique e outras autoridades teriam uma conta bancária nas Ilhas Cayman, fora apresentada primeiramente a seu partido.- Se o PT tivesse, de forma leviana, feito as denúncias que se comprovassem falsas, os céus voltariam sua ira contra nós. Peço, então, que o rigor que seja cobrado dessas pessoas (que estariam chantageando o governo) seja o mesmo que se voltaria contra nós - afirmou.O senador Sérgio Machado (PSDDB-CE) ressaltou que essa denúncia sobre a conta bancária não tem qualquer base, até porque todos que tentaram veiculá-la não o fizeram diretamente, tentando induzir outras pessoas a isto. Mas o senador Roberto Requião (PMDB-PR), parodiando o autor do discurso, disse que se recusava a acreditar que as filhas do candidato derrotado ao governo de São Paulo, Paulo Maluf, tivessem procurado a deputada Marta Suplicy (PT-SP) para induzi-la a divulgar documentos que não fossem verdadeiros.- Quero lembrar a este Senado que na CPI dos Precatórios, quando tentávamos trazer para um depoimento o doutor Paulo Maluf, que tinha sido prefeito de São Paulo, ele não comparecia porque estaria supostamente no exterior. Mas, na verdade, ele estava com seu amigo Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto, o que demonstra que havia entre os dois uma relação de absoluta confiança - disse Requião.O senador afirmou que, até prova em contrário, não crê que Paulo Maluf tenha mentido.- Quero acreditar que o amigo do presidente da República, ex-prefeito de São Paulo, doutor Paulo Maluf, acreditava na veracidade dos documentos que apresentava ao PT para viabilizar uma denúncia no processo eleitoral. Quero acreditar até prova em contrário produzida pela Procuradoria-Geral da República e pela Polícia Federal - observou Requião.O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) estranhou o fato de que o presidente da República não tenha, até agora, ingressado com uma ação de perdas e danos contra a revista Época, já que considera crime a divulgação da escuta clandestina. O senador Hugo Napoleão (PFL-PI), por sua vez, também afirmou não acreditar no que fora divulgado, opinando ainda não ser mais possível haver escutas clandestinas no governo federal.

10/11/1998

Agência Senado


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