Serra ganhas as ruas









Serra ganhas as ruas
A campanha do candidato governista à Presidência, o ex-ministro José Serra (PSDB), em Pernambuco ganhará um reforço a partir desta semana. A equipe de coordenação dos trabalhos colocou nas ruas as primeiras peças da propaganda do tucano e receberá as últimas orientações numa reunião que ocorrerá na próxima segunda-feira, no Rio de Janeiro. A equipe pretende ainda, antes mesmo do final deste mês, inaugurar o comitê que dará suporte à campanha. O QG de Serra no Estado será instalado em uma casa na rua Antônio de Góes (bairro do Pina), mas ainda não tem dada definida. Na inauguração deverá ser marcada por uma festa, onde estará presente toda a chapa estadual que apóia a candidatura de Serra, composta pelo governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), o deputado federal Sérgio Guerra (PSDB) e o vice-presidente Marco Maciel (PFL).

Para suprir a demanda enquanto não chega ao Estado o material publicitário do candidato de Fernando Henrique Cardoso, a coordenação de Pernambuco confeccionou 10 bandeirões e 50 camisas como número 45, além de 200 bandeiras para serem afixadas em postes de iluminação. Setenta delas estão espalhadas, pondendo algumas serem vistas no alto dos postes da Ponte do Cabanga, sentido Boa Viagem-Centro.

Também foram definidas as primeiras diretrizes para fortalecer o nome de Serra e devolvê-lo ao segundo lugar nas pesquisas, "tomado" por Ciro Gomes (PPS), de acordo com as últimas amostragens divulgadas pela Imprensa. O secretário de Saúde do Estado, Guilherme Robalinho, que participa da linha-de-frente em nome do PMDB, informou que serão criadas subcoordenações para dar sustentação à campanha no Interior do Estado. Inicialmente, os alvos são os municípios de médio porte, como Afogados da Ingazeira, Caruaru e Arcoverde.

"Tenho certeza que o problema é comunicação. Ciro teve uma exposição muito grande nesses dois meses. Iremos intensificar a campanha de José Serra agora. Não resta dúvidas de que ele voltará a crescer", avaliou Robalinho. Para melhorar essa comunicação e inserir o nome de Serra na mídia, os coordenadores prevêem a contratação de um assessor de Imprensa e a repetição de visitas do candidato ao Estado.

A cúpula da equipe de Serra em Pernambuco é composta pelo Delegado do Ministério da Cultura, João Roma Neto, representante do PFL; pelo deputado estadual Sérgio Pinho Alves, que ficou com a mesma atribuição em nome do PSDB e por Joaquim Carneiro, indicado pelo PPB.


Campanha ataca corrupção eleitoral
OAB vai criar comitês no País para reunir denúncias sobre compra de votos e uso da máquina

SÃO PAULO - A seção de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançou ontem a campanha de combate à corrupção eleitoral, que terá um telefone e um e-mail para o eleitor paulista denunciar compra de votos e uso de máquina administrativa na campanha. A denúncia será encaminhada para o Ministério Público (MP), que enviará representação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo investigação e punição. A entidade também distribuirá cartilhas para conscientizar o eleitor sobre a importância do voto.

A OAB de São Paulo entregou uma carta ao presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Walter Feldman (PSDB), em que comunica a criação do comitê estadual do movimento. Na comunicação, a Ordem pede também que os parlamentares divulguem o trabalho como forma de contribuir para uma campanha política mais ética. A carta será enviada para as Câmaras Municipais e dos Deputados, em Brasília.

No dia 27, os representantes de cidades que integram a comissão se reúnem para começar as discussões de formação darede. A divulgação da campanha, do telefone e do endereço eletrônico na Internet será feita pela OAB e os parceiros no comitê: CNBB, Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), CUT, Transparência Brasil, Movimento do Ministério Público Democrático, Associação Brasileira dos Empresários pela Cidadania, Ágora (organização não-governamental que defende a democracia), Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, Instituto Brasileiro dos Advogados Públicos (Ibap) e Movimento Voto Consciente.

Segundo Santos, o TSE assumiu o compromisso de acompanhar as acusações e cobrar agilidade na apuração e punição. A Lei 9.840 define o que é a venda de votos e a penalidade para quem pratica esse crime, que pode ser a impugnação da candidatura, se a investigação é concluída antes do fim da eleição, ou cassação do diploma, caso o candidato tenha sido eleito e assumido o cargo.


Jobim propõe mudar legislação sobre voto
BRASÍLIA - Preocupado com a possibilidade de um novo recorde de votos nulos nas eleições de outubro, por erros de digitação nas urnas eletrônicas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa hoje uma ampla campanha ensinando cada passo da votação e conscientizando a população sobre a importância do voto.

A preocupação do TSE não é sem fundamento. Em outubro, ao entrarem nas cabines de votação, os eleitores terão de digitar 19 algarismos e fazer seis confirmações de voto.

Serão quatro números para deputado federal, cinco para estadual, três para cada um dos dois senadores que serão eleitos este ano por Estado, dois para governador e mais dois para presidente.

Uma outra preocupação do TSE é que, dada a complexidade da votação, os candidatos distribuam aos eleitores cédulas com as escolhas já fechadas. Por isso, este ano, o tribunal vai redobrar a fiscalização das fraudes e as campanhas de conscientização para que o eleitor não se deixe enganar ou ser manipulado pelos cabos eleitorais.

pesquisas - Ontem, opresidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, propôs mudanças na Lei Eleitoral e defendeu o registro das pesquisas de intenção de votos no dia da sua divulgação. A lei determina hoje um prazo mínimo de cinco dias entre o registro e a divulgação do estudo. O ministro argumentou que, se houver outras pesquisas sendo realizadas no mesmo período, o investidor sabe a tendência do eleitorado e poderá usar as informações para especular no mercado financeiro.

Jobim descartou a possibilidade de fraude nas eleições de outubro. Segundo o presidente do TSE, vários procedimentos tecnológicos foram executados nos programas que, além de garantirem a integridade das urnas eletrônicas, impedem a manipulação dos votos. Como exemplo citou a escolha dos dois candidatos ao Senado. Se o eleitor repetir o mesmo nome, o sistema não aceita. Além disso, o voto só será validado quando for digitada a tecla de confirmação do nome do candidato à Presidência que, pela ordem de votação dos seis cargos que estarãoem disputa, é a última escolha do eleitor.

Além dos procedimentos técnicos, Jobim lembrou que este ano haverá a chamada votação paralela: serão escolhidas duas urnas eletrônicas, em cada Estado. Os partidos vão indicar pessoas responsáveis para preencher o número mínimo de 500 cédulas, contendo os nomes dos candidatos oficiais. As cédulas serão guardadas em urnas de lona, que serão monitoradas por câmeras de vídeo. No dia da eleição, os votos digitados serão aqueles que constam das cédulas preenchidas na véspera. Uma vez contabilizados, os votos serão comparados com a totalização feita pelo computador.

Apesar da complexidade desta eleição, que envolve muitos candidatos a vários cargos, o ministro garantiu que, quatro horas após o término da votação, os brasileiros já saberão quem será o novo presidente do Brasil. No Rio, porém, a divulgação do resultado não poderá ser imediata porque em Rondônia e no Acre existe uma diferença de duas horas no fuso horário.


Cacique é sepultado numa reserva xavante
CUIABÁ - O ex-deputado e cacique xavante Mário Juruna, de 58 anos, foi sepultado na manhã de ontem na aldeia Barreirinho, na Reserva Xavante São Marcos, em Barra do Garças, a 680 quilômetros de Cuiabá, no Mato Grosso. Na cerimônia, reservada a integrantes da nação Xavante, de acordo com a tradição, os índios dançaram em homenagem ao cacique. "É uma dança muito triste para um amigo, mas é alegre porque ele vai se juntar aos outros chefes", disse seu irmão, cacique Simão Dzururá.

A filha do cacique, Samantha, disse que os filhos e netos "continuarão a luta de Juruna pelo fim do preconceito e pelos respeito aos povos indígenas". Ontem, o corpo de Juruna foi velado na Câmara de Vereadores de Barra dos Garças.

Durante o velório, lideranças indígenas fizeram duras críticas ao Governo, lamentado o descaso para com as nações indígenas. Centenas de pessoas passaram pelo local para se despedir de Juruna. Primeiro e único índio brasileiro a se tornar deputado federal, o cacique morreu na noite de quarta-feira, nohospital Santa Lúcia, em Brasília, depois de 15 dias de internação, por complicações renais.

irreverente - Como parlamentar, Juruna criou a Comissão do Índio. Irreverente, chamava dinheiro de "lixo" e jamais conversava com uma autoridade sem um gravador, para não correr o risco de ser chamado de mentiroso. Foi fundamental na eleição de Tancredo Neves, em 1985, ao denunciar a tentativa de compra de voto, feita por Calim Eid, ex-tesoureiro de Paulo Maluf.

Decepcionado, achava que seu trabalho em favor de seu povo foi em vão. Índio da reserva xavante São Marcos, em Barra do Garças, Mário Dzururá, seu nome na etnia, deixa 12 filhos.


Ciro e Serra brigam na internet
Os dois candidatos à Presidência acusam-se mutuamente de serem colloridos

BRASÍLIA - Embora seja candidato a governador de Alagoas pelo PRTB, o ex-presidente Fernando Collor de Mello é o personagem principal das páginas dos candidatos a presidente Ciro Gomes (Frente Trabalhista) e José Serra (Grande Aliança). Não só Collor, mas os amigos dele ou aqueles que a ele foram ligados. Os dois lados levantam, criteriosamente, onde estão os que foram colloridos e os exibem nas páginas na Internet.

Mais agressiva, a página de Serra reafirma a todo instante que Ciro Gomes tem o "DNA" do candidato do PRTB a governador de Alagoas. Para dar provas do que afirmam, os coordenadores da campanha do candidato da Grande Aliança a presidente exibem as notícias segundo as quais o PPS de Ciro e o PTB, o mais forte partido a apoiá-lo, estão coligados com Collor na disputa pelo Governo de Alagoas. Essa seria, de acordo com o site, a prova definitiva de que ele e o candidato da Frente Trabalhista a presidente têm "o mesmo DNA".

Em resposta, a página de Ciro fez um levantamento a respeito de antigos colloridos que hoje apóiam Serra. São eles: o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), ex-líder de Collor na Câmara; o deputado Antônio Kandir (PSDB-SP), da equipe econômica que decidiu pelo confisco da poupança; o ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Morais, que foi ministro do Trabalho de Collor; o ministro Celso Lafer, que hoje ocupa o cargo de ministro das Relações Exteriores, o mesmo no Governo de Collor, além do presidente do BC, Armínio Fraga, do chefe da Casa Civil, Pedro Parente, e do ministro da Fazenda, Pedro Malan.

Imediatamente, a página do candidato da Grande Aliança a presidente reagiu: no meio da tarde, reafirmou a tese de que Ciro fala, age e tem os mesmos aliados de Collor. Citou o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), da tropa de choque de Collor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do empresário Paulo César Farias, o PC, o presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), e o ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera, candidato a governadorde São Paulo e ex-secretário de Agricultura do Estado na gestão do ex-governador Mário Covas.

Para provocar ainda mais Ciro, o site de Serra rebuscou declarações do candidato a senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) sobre o candidato da Frente Trabalhista.

Descobriu que os dois, agora aliados, não se davam. Numa entrevista em abril, ACM afirmou que o Canal do Trabalhador - que Ciro costuma usar como exemplo de obra bem-sucedida - foi "a pior obra do Brasil", terminando por dizer: "Quem fez essa obra, sem licitação, não tem moral para falar nada. Aliás, ele (Ciro) é o novo Collor".


Garotinho vende bônus e pede ajuda
RIO - O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, disse ontem, durante o lançamento do bônus de R$ 1,00, modelo de arrecadação adotado por ele, que rejeita o apoio de banqueiros para se manter "independente" e afirmou que seus adversários políticos serão "reféns de campanhas milionárias".

"Essa é a campanha do tostão contra o bilhão. Não temos o apoio que outros candidatos têm recebido dos banqueiros, por isso lançamos o bônus. Não quero contaminar minha campanha com o dinheiro dessa gente e ficar com o rabo preso, não queremos esse dinheiro. Não vou fazer como o Fernando Henrique, que vendeu a alma para os banqueiros".

Durante a inauguração de pontos de vendas do bônus, a servente Maria da Silva Carvalho, disse que estava desempregada e não tinha dinheiro para comprar o bônus:

"Não estou entendendo nada, achei que era para ganhar R$ 1,00, e não pagar", disse ela.

"Cada um está dando o pouco que tem para ajudar a mudar o Brasil. Eu fiz o Hotel Popular, fiz o Restaurante Popular, agora precisode vocês. Não é muito para o povo dar R$ 1,00 para ter um candidato livre, que não vai trabalhar para dar juros exorbitantes e lucros para banqueiros. A força do povo vai vencer a força do dinheiro", justificou Garotinho.


Lula chora diante dos metalúrgicos
SÃO PAULO - Logo no início do comício que realizou ontem para metalúrgicos da Volkswagen, em São Bernardo (Grande ABC), o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se emocionou com a visita à fábrica e chegou até mesmo a chorar. "Minha cabeça começou a girar e voltei a 1975, a 1978, e lembrei como era difícil entrar na fábrica. Nós tínhamos que esconder os boletins (do sindicato) nas meias e dentro da roupa para poder entrar", disse Lula referindo-se ao início de sua militância sindical. Ele falou por cerca de vinte minutos aos metalúrgicos.

Depois de se recuperar da emoção, Lula disse aos trabalhadores que pretende apostar na geração de empregos e no diálogo, questões que, segundo ele, foram deixadas em segundo plano pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso. "Em 94, nós dissemos que criaríamos 8 milhões de empregos. Fernando Henrique disse que criaria 12 milhões, e gerou 12 milhões de desempregados. Acho que ele entendeu mal nossa proposta", ironizou o candidato petista à Presidência da República.

Ele não fixou um meta de empregos para um eventual Governo, mas disse que pretende estimular o crescimento da economia brasileira com a restituição das câmaras setoriais e criação de cooperativas de trabalhadores.

Conversando com jornalistas, Lula evitou responder sobre atitudes que tomaria se fosse presidente. "Não farei como ele (FHC), que se sentou na cadeira antes da hora e perdeu as eleições para prefeito de São Paulo", disse Lula em referência a eleição de 85, que Fernando Henrique perdeu para Jânio Quadros.

Lula estava acompanhado do vice-presidente de Recursos Humanos da montadora, João Rached, com quem ele conversou sobre alternativas para solucionar os problemas da crise no setor automotivo. O senador José Alencar, vice na chapa de Lula, acompanhou o presidenciável.


Artigos

Meia verdade, meia mentira
Ney Cavalcanti

Existe uma grande discrepância entre o grau de desenvolvimento econômico do Brasil e o nível educacional do seu povo. Hoje é universalm ente aceito que o grande capital de um país é o capital humano e que este capital, a educação da sua população, é que fará a diferença entre as nações, que vão ou não se desenvolver. A nossa pujança econômica e tecnológica é tão superior, que é difícil compará-la com países como Bolívia, Paraguai e Peru. No entanto, as nossas estatísticas educacionais são iguais ou até inferiores àquelas nações.

Como explicar, com o seu elevado nível educacional a situação atual da Argentina? Além da eliminação precoce da copa, os nossos irmãos do Sul experimentam uma situação de pré-convulsão social, por conta dos seus graves problemas econômicos. Estaria a teoria do capital humano errada? (...) Nossa relação com a educação sempre foi muito conturbada. O primeiro problema foi o atraso com que as nossas elites se preocuparam. No século XVI, países que ainda hoje não podem ser considerados desenvolvidos, como o México e Peru, já tinham suas universidades estabelecidas e em pleno funcionamento. Só 400 anos depois, foram fundadas as primeiras universidades brasileiras. O custo deste atraso ainda hoje nos é cobrado. Basta olharmos a imensa dívida social que o país tem. Mas o Brasil sempre surpreende, apesar desse descaso com a educação, fomos capazes de produzir cientistas do porte de um Santos Dumont, de um Oswaldo Cruz. Hoje gastamos cerca de 5% do nosso PIB com ensino, um pouco acima da média mundial. Estes recursos no entanto, são ainda insuficientes para diminuirmos o nosso grande atraso. E como acontece infelizmente no Brasil, os recursos são escassos e não são corretamente aplicados. Desde há tempos e principalmente hoje se acusa o Governo Brasileiro de destinar um percentual de recursos mais elevado do que deveria ao ensino superior, em detrimento do ensino fundamental e secundário. Realmente investimos cerca de 1.3% do nosso PIB nas nossas universidades, umdos percentuais mais elevados do mundo.

Uma outra crítica procedente é sobre a relação custo benefício da maioria das universidades públicas. Elas são muito onerosas, gastamos mais por aluno do que muitos países desenvolvidos. Apesar desse dispêndio remuneramos mal, muito mal os nossos professores. Um dos motivos é o número excessivo de docentes, apesar de insuficiente a quantidade dos que realmente trabalham. E nós, os docentes, temos uma parcela de culpa importante neste aspecto, somos atores e vítimas de um dos grandes males do Brasil, o corporativismo.

Os professores que trabalham, defendem a desonestidade dos relapsos. Um outro grande obstáculo no nosso ensino superior é a incapacidade de oferecer um número de vagas necessárias. Ao contrário do que muitos pensam, não temos o número excessivo de alunos nas nossas faculdades e até muito pelo contrário, ele é muito menor do que seria sequer o aceitável. Apenas 14% dos nossos alunos têm oportunidade de acesso a um curso universitário, contra 30% de chilenos e 50% dos americanos.

É indispensável e urgente que aumentemos o número de vagas. O aumento das matrículas enfrenta dificuldades: O primeiro é o econômico. Como advogar um maior percentual das verbas da educação para o ensino superior, se somos talvez o país que mais investe do seu PIB no ensino universitário? Reduzir os já insuficientes recursos do ensino fundamental? Seguramente não. O esforço de aumentar a capacidade de atendimento ao alunato sem grande incremento nos custos, como por exemplo, novos turnos, têm sido menos eficaz do que se esperava. Como os recursos que sobram para o ensino fundamental e secundário público são escassos, os cursos são deficientes. Fazendo com que os ricos que freqüentaram o 1º e o 2º grau nas escolas privadas, tenham melhores condições de competitividade às poucas vagas das faculdades governamentais. Ou seja, os contribuintes brasileiros, principalmente os mais pobres, seriam terrivelmente injustiçados por financiarem universidades, não para seus filhos, mas para os filhos dos ricos a quem poderiam e deveriam caber os ônus. (...)

Meia verdade e meia mentira. Muito embora existam algumas universidades públicas que são administradas com eficiência, inclusive, maior do que muitas privadas, o grande número daquelas instituições estatais merece a acusação. O problema obviamente não ocorre só nas universidades, mas na maior parte do serviço público como um todo. (...) Por outro lado as punições aos relapsos, desonestos, inoperantes praticamente inexistem. Todos sabemos que um grande número de professores não cumpre sequer uma parte aceitável de suas obrigações contratuais. Cumpri-las nada mais que o óbvio, acarretaria uma substancial economia e eficiência de nossas escolas. E se um pobre reitor decidir-se por esta ação, enfrentaria conflitos, greves, batalhas judiciais contra esta descabida e injusta exigência, o que praticamente paralisariam a sua gestão.

Por mais paradoxal que possa parecer, os professores cumpridores das suas obrigações seriam induzidos e por conta dodoentio corporativismo brasileiro, emprestariam toda solidariedade aos faltosos, aos relapsos.

Ministrar aulas bem elaboradas, ser melhor professor, cumprir os seus horários, não trazem maiores vantagem pecuniárias ou de status. É preciso um grau de profissionalismo e/ou idealismo muito grande para não sucumbir à lei do menor esforço. A meritrocacia de uma universidade não deve ser só avaliada quase que somente pelos diplomas de mestre e doutor.

É muito valorizado no nosso ensino universitário, realizar uma tese mesmo que com temáticas e conclusões medíocres, obtidas em uma instituição de menor credibilidade, que por conta disto não terá como leitores sequer os amigos e parentes do autor e que ainda terá como maior valia armazenar poeira em alguma biblioteca pública. Mas, valerá muito mais do que uma dezena de anos de atividades docente realizadas com responsabilidade, competência e eficiência.E, ainda, o comércio de teses encontra-se em franca ascensão em nosso país. Vários sites na Internet garantem em suaves prestações, teses de mestrado e doutorado onde o candidato não necessita sequer escolher o tema.(...) Com todos os contratempos políticos e econômicos, internos e externos, o Brasil foi a segunda nação em crescimento entre 1930 e 1980, só perdendo para o Japão, e durante todo o Século XX, foi a 5ªdo mundo. A formação de pesquisadores nos últimos anos nos coloca em posição de destaque em vários ramos da tecnologia de ponta. (...) Temos o melhor sistema de pós-graduação do Hemisfério Sul. A nossa produção científica é maior do que todos os países latino-americanos juntos. A nossa universidade pública deve ser sempre a espinha dorsal do nosso ensino superior e como tal, tem que ser preservada, fortalecida e continuamente aperfeiçoada. Mas como resolver o problema do grande déficit de vagas se não existem recursos? Estimular a complementação pelo ensino privado? (...) Os seus críticos argumentam que elas visam apenas os lucros e que o ensino não é mercadoria, que a qualidade é inferior, que são universidades públicas que gastam na formação daqueles docentes, que estão diplomando para profissões cujo mercado já está saturado.

Meias verdades e meias mentiras. O lucro é o componente vital das sociedades capitalistas como é o caso da nossa. Quem o aufere através de uma atividade benéfica, a comunidade, fazendo-a correta e honestamente não deve ser sujeito a críticas. Tem autoridade para criticar os resultados financeiros de uma instituição de ensino séria quem não os faz, quanto às industrias de cigarros e bebidas?

Quanto à qualidade do ensino, se a avaliação dos seus concluintes demonstra que número muito menor é capaz de obter o conceito superior, também é verdade que os seus alunos tem três vezes menos conceitos deficientes do que os alunos provenientes das públicas. Aliás, é de se esperar que os seus estudantes saiam da faculdade com uma qualificação inferior, já que q uando do seu acesso eles eram menos preparados por terem freqüentado, na sua maioria, o 2º grau na deficiente escola pública.

Pesquisas já demonstraram que quase sempre o formando mais preparado, é aquele detentor de melhores conhecimentos quando do seu ingresso na faculdade. Ou seja, o curso superior melhora o nível intelectual do aluno, mas não é capaz de transformar a fraqueza em excelência. Por outro, lado se a universidade pública dispende recursos na formação de um profissional que virá trazer benefícios à comunidade, exercendo funções e docentes em escolas privadas, a universidade pública não está de nenhuma maneira se afastando de suas finalidades. E como a universidade privada tem defeitos o melhor caminho não nos parece extinguí-las, mas procurar melhorá-las. Alguém irá propor a extinção da Internet, pelo fato de que alguns sites promovem a criminalidade, a pornografia? O que a sociedade não deve ter é nenhuma tolerância com a má escola privada, empresas cuja religião é o lucro a qualquer preço. Escolas com ensino do nível de qualidade inaceitável, faculdades que admitem alunos analfabetos, as fábricas de diplomas, em que o pagamentogarante a graduação.

Também é inadmissível a criação de cursos para profissões cujo mercado de trabalho já está mais do que saturado. Se 9 mil médicos por ano já são demais, imaginem 90 mil advogados. Este tipo de instituição devia ser sumariamente extinta. A sociedade através do Estado tem que atuar com o seu poder de regulamentar. O Estado moderno tem que exercer de maneira eficiente o seu papel de regulamentador.


Colunistas

DIARIO POLÍTICO - Divane Carvalho

Muito mais votos
Todo dia Jarbas Vasconcelos dá mais um passo em direção a Ciro Gomes (PPS), mesmo apoiando, oficialmente, o presidenciável José Serra, do PSDB, partido que faz parte da aliança pela qual pretende conseguir um novo mandato. Depois de ter colocado o PPS no seu palanque, garantindo total apoio à candidatura de Roberto Freire a deputado federal, os pós-comunistas retribuíram e anunciaram, ontem, apoio a Sérgio Guerra para senador. E votarão nele e em Nelson Borges (PPS), que concorrerá à segunda vaga do Senado. Caminhando assim, o governador percorre o caminho até Ciro Gomes sem necessidade de subir no palanque da Frente Trabalhista. Mas já saberá como chegar lá, no segundo turno, para onde irão, certamente, todos os aliancistas. Ao assistir a essas articulações que levam ao candidato da Frente Trabalhista, José Queiroz (PDT) deve passar por momentos difíceis, conflituosos. E se arrependimento matasse, estaria morto desde que foi intensificado o namoro Jarbas e Ciro, o que há tempo não é nenhuma novidade. O deputado deve imaginar que, se tivesse topado a parada e hoje comandasse o palanque para o candidato pós-comunista aqui, estaria agora numa situação bem interessante como candidato ao governo do Estado. Sem demérito para Ilo Jorge, ninguém pode negar que Queiroz teria muito mais votos do que ele, por sua trajetória política, e ganharia grande visibilidade no Estado inteiro. Como rejeitou o cavalo selado que ficou um bom tempo na sua frente, o jeito é cuidar de se reeleger na Assembléia.

Se os candidatos a governador e ao Senado tivessem defendido a Sudene quando ela estava morrendo, a autarquia não teria sido extinta. Defendê-la agora, na campanha eleitoral, não adianta nada. Pois os eleitores não são bobos

Fiasco 1
Luiz Helvécio (PT) classificou de um grande fiasco o recuo do Governo do Estado diante dos kombeiros, que infernizaram a vida dos recifenses, quarta-feira, paralisando o trânsito em protesto contra a blitz da EMTU.

Fiasco 2
O vereador acha que isso fortaleceu mais o transporte informal e todas as indisciplinas que seus motoristas vêm cometendo no Recife, com repercussões negativas no trânsito e na vida dos recifenses. E tem razão.

Debate
O primeiro debate entre os candidatos a governador será terça-feira, às 19h, na Faculdade de Direito do Recife da UFPE, promovido pelo Núcleo de Estudos Políticos de Direito e do Movimento Faculdade Interativa. Ana Lins (PSTU), Humberto Costa (PT) e Ilo Jorge, do PDT (foto), já confirmaram presença.

Ajuda
João Paulo e Paulo Santana enviaram uma equipe de técnicos para ajudar Renato Ribeiro (PT), o novo prefeito de Itambé, que assumiu o cargo, quarta-feira, por conta da morte do prefeito Francisco Cordeiro da Silva (PMDB).

Candidato
José Tarcísio (PSC) disputará uma vaga na Assembléia. Presidente da Federação das Microempresas de Pernambuco e da Confederação Nacional, ele pretende se eleger com votos do Recife e do Agreste, com destaque para Surubim. Onde é apoiado pelo ex-prefeito Antônio Barros e o ex-deputado Gonzaga Vasconcelos.

Campanha
Paulo Valença, vice prefeito de Olinda, vai a Caruaru, hoje, para o lançamento da campanha de Sônia Lira, candidata a deputada federal pelo PT. O evento será no Clube do Comércio, às 13h.

Correção
Fares Raline de Souza, do PTdoB, diz que Amauri Pinto não é o único candidato a deputado federal em Paulista, como foi publicado aqui, ontem. Ele também vai concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.

Faro
Fernando Ferro (PT) acha que Sérgio Guerra é um animal político que está perdendo o faro:" O primeiro sinal foi em 2000, quando foi vice de Roberto Magalhães, e se repete agora, com sua vã tentativa de se eleger senador".

Desafio
Fernando Rodovalho (foto) leva a sério a coligação branca com o PPS, que fez atendendo pedido de Jarbas Vasconcelos para ajudar a eleição de Roberto Freire para federal. Tanto que tirou Maquiavel da cabeceira e colocou Um desafio chamado Brasil, de Ciro Gomes (PPS).


Editorial

UMA NOVA POSTURA

O encontro do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, com o deputado petista Aloizio Mercadante marca o início de uma nova etapa da política brasileira. O fato revela um salto de qualidade nas relações entre Governo e oposição em plena campanha eleitoral, período em que o acirramento das disputas costuma aprofundar as divergências. O País só tem a ganhar com dirigentes que se dispõem a colocar os problemas nacionais acima dos interesses partidários.

As dificuldades atravessadas pela economia brasileira, agravadas pelo cenário internacional, foram determinantes para o estabelecimento de uma nova postura de governistas e oposicionistas. Os dois lados perceberam que as diferenças de opinião sobre os rumos do País são menores do que a necessidade de construir um futuro sólido para os brasileiros. A sensibilidade do mercado financeiro num mundo globalizado torna ainda mais frágeis nações em desenvolvimento como o Brasil.

A incapacidade dos partidos em realizar um pacto político levou a população da Argentina às ruas para derrubar o presidente Fernando de la Rúa. Como conseqüência, fica impossível prever quando o País resgatará a estabilidade social perdida desde a descoberta de que o modelo econônico adotado era inadequado para enfrentar a realidade internacional.

Três décadas de intolerância mergulharam a Colômbia numa guerra civil sem precedentes na América do Sul.

Todas as tentativas de diálogo foram interrompidas por demonstrações sangrentas de radicalismo político. Hoje, os colombianos não sabem quando o conflito vai acabar para que o país tenha um futuro de paz e estabilidade.

As boas relações entre Governo e oposição no Brasil foram construídas ao longo dos últimos vinte anos. A anistia concedida no final dos anos 70 devolveu aos adversários do regime militar os direitos políticos perdidos quinze anos antes. O gesto permitiu a antigos inimigos trabalharem juntos para produzir uma Constituição para todos, sem distinção de ideologia.

O exemplo brasileiro engrandece a política e enriquece a biografiados que a praticam. Quando Fraga e Mercandante se encontram, demonstram a maturidade da democracia brasileira, sólida o suficiente para comportar a alternância no poder em clima de normalidade.

Outros encontros entre Armínio Fraga e os candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso, ou seus representantes, devem ocorrer nas próximas semanas. Os gestos de boa vontade tranqüilizam os eleitores por sinalizar que o Governo atual e o futuro estão desde já preparando uma sucessão sem traumas para a economia e a democracia do País.


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07/20/2002


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