Serra, enfim, coloca a candidatura nas ruas







Serra, enfim, coloca a candidatura nas ruas
Seminário sobre comércio externo marca a entrada do ministro na disputa pela opinião pública.

A candidatura do ministro da Saúde, José Serra, à Presidência da República vai sair do armário amanhã, quando ele fará um discurso sobre os desafios da integração comercial do País, na abertura do seminário O Brasil e a Alca, organizado pela Câmara dos Deputados. Pela primeira vez desde que retornou ao governo há três anos e meio, Serra expressará publicamente seu pensamento sobre um tema de relevância nacional desvinculado da área de atuação do seu Ministério.

A iniciativa é uma reação do ministro tucano à movimentação política do governador do Ceará, Tasso Jereissatti, seu principal adversário dentro do PSDB na corrida da sucessão presidencial.
Na última semana, Tasso procurou recuperar o terreno perdido. Assumiu de vez a pré-candidatura e iniciou a costura de apoios tanto no PSDB como entre os partidos aliados e no meio empresarial. Hoje ele será homenageado em um jantar patrocinado pela família do ex-governador Mário Covas - que antes de morrer, no início deste ano, manifestou seu apoio à sua candidatura.

Serra quer evitar que Tasso tome a dianteira do processo mas não pretende entrar na disputa de maneira aberta neste momento. O seminário da Alca foi considerado pelo ministro uma boa oportunidade de entrar no debate dos problemas nacionais sem ostentar o carimbo de candidato - o que poderia deixá-lo vulnerável antes que sua candidatura estivesse suficientemente madura. Por isso, acertou sua participação m um almoço com o presidente da Câmara, Aécio Neves, que o apóia.


Denúncia ganha detalhes
As denúncias do lobista Alexandre Paes dos Santos contra assessores do ministro da Saúde, José Serra, ganharam novos detalhes e maiores proporções. Em sua agenda pessoal, apreendida junto com nove fitas cassete e 19 fitas de vídeo, a Polícia Federal encontrou informações sobre encontros suspeitos, possíveis subornos e estratégias sigilosas envolvendo multinacionais de vários setores. A informação, publicada pela revista Veja desta semana, acrescenta mais um capítulo à história que compromete funcionários do alto escalão do Ministério.

Datadas do mês de abril, algumas anotações sugerem o pagamento de suborno para livrar a White Martins, cliente de Santos, de um processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Dois meses antes, o lobista escreveu sobre um possível superfaturamento na hidrelétrica de Furnas, que comprou por US$ 7 milhões dois transformadores da Asea Brown Boberi (AABB) em caráter de urgência, mesmo sabendo que uma outra empresa fornecia o mesmo equipamento por US$ 1,5 milhão.

Também está registrado na agenda de Santos, no dia 14 de agosto, o jantar que ocorreu entre o presidente do laboratório farmacêutico Novartis, Andreas Strakos, e o secretário de Assistência à Saúde, Renilson Rehem. Encontro que ocorreu às 21h15 e, segundo o lobista, foi palco do pedido de propina de Rehem em troca da liberação do remédio Glivec, fabricado pela Novartis, para a entrada no mercado.

Na época, o laboratório era um dos clientes do lobista, dono da APS Consultoria, mas seus serviços foram dispensados após a divulgação do escândalo. No início de setembro, Santos comentou sobre a tentativa de subordo com a jornalista Alba Chacon, que presta serviço ao Ministério. O comentário virou motivo de inquérito policial quando a notícia chegou ao ministro José Serra, que acionou o Ministério Público Federal.


Sai Gregori e entra Aloysio na Justiça
O ministro da Justiça, José Gregori, confirmou ontem que aceitou o convite do presidente Fernando Henrique Cardoso para assumir o cargo de embaixador do Brasil em Portugal. Ele deixa até o final de novembro. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), deve sucedê-lo no cargo.

Gregori deve assumir o comando da embaixada em Portugal no início de 2002. De acordo com assessores, o fator que mais pesou em sua decisão foi a opinião da mulher, Maria Helena. Gregori foi o sexto ministro da Justiça no atual governo. Amigo pessoal do presidente, ele apontou a primeira-dama Ruth Cardoso como responsável por sua indicação no discurso de posse feito há um ano e meio. Antes, foi secretário de Direitos Humanos por cinco anos.


Professores rejeitam a volta às aulas
Os estudantes da Universidade de Brasília terão de esperar pela volta às aulas. Embora o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) tenha decidido ontem retomar as negociações com o governo, praticamente todas as assembléias rejeitaram a proposta de reajuste médio de 12%. "Não estamos trabalhando ainda com a hipótese de terminar a greve", disse o presidente do sindicato, Roberto Leher.

Para dividir os professores em greve desde o dia 22 de agosto, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, enviou no sábado uma carta aos reitores avisando que poderá liberar o pagamento das universidades, caso o reitor informe o fim da greve em sua instituição. Segundo ele, assim que o ministério receber a comunicação que uma determinada universidade voltou às aulas, manteve o calendário do vestibular e assegurou a reposição de aulas, o salário dos seus professores será liberado.


Empresários querem investir no DF
Brasília terá uma rodada de negócios inédita no começo desta semana. Empresários da área de tecnologia estarão frente a frente com cinco investidores, considerados pesos-pesados no País. Deste encontro, as empresas do Distrito Federal podem atrair recursos financeiros para impulsionar seus negócios, evidenciando ainda mais o setor de Tecnologia da Informação do DF.

Não se trata de uma rodada de negócios comum, pois não há compra e venda de produtos. Muito menos de captação de empréstimo bancário ou de uma financeira. Os chamados investidores ou capitalistas de risco aportam recursos e se tornam sócios temporários das empresas, pois compram participações. Se tornam partes interessadas no negócio e, por isso, mostram interesse no crescimento da empresa. Os capitalistas de risco têm como concepção uma gestão de empresa moderna e eficiente.

Eles são os chamados investidores ou capitalistas de risco, pois aplicam em mais de uma empresa ao mesmo tempo, correndo o risco de algum projeto não ter o retorno esperado. Estarão em Brasília, na segunda e na terça-feira, os seguintes investidores: Inter Capital, Votorantin Venture, GP Investimentos, Fire Westphere e Perroti Capital Partners. Eles vêm do Rio de Janeiro e São Paulo.

Estes investidores se sentiram atraídos pela força do setor de tecnologia local. Djalma Petit, diretor do Centro de Tecnologia de Software de Brasília (Tecsoft), estima que a área de Tecnologia de Informação emprega 30 mil pessoas no Distrito Federal e movimenta, anualmente, R$ 1 bilhão.

Fazemos bonito ainda no mercado internacional. No ano passado, ainda de acordo com Petit, o DF ficou em segundo lugar no ranking de exportação de software no País, perdendo apenas para São Paulo. Os softwares desenvolvidos em Brasília já são comprados pelos Estados Unidos, Argentina e Europa.

O encontro com os investidores, chamado de International Developers Opportunities e promovido pela Tecsoft, está sendo aguardado com expectativa por pelo menos 17 empresas, que já confirmaram presença. Segundo Petit, há vantagens em captar recursos de um investidor de risco. "Numa linha de crédito comum, os bancos ou as financeiras exigem garantias e não se importam se seu negócio dará ou não certo, ao contrário do capitalista de risco", avisa.


Artigos

Caminhando para trá s
José Luiz oliveira

Os embates filosóficos, políticos e sociais são tão comuns nas cidades quanto os automóveis. Onde há pessoas há lutas. Se estes embates são canalizados para o bem, temos o progresso que beneficia toda a sociedade e eleva o homem individualmente, aperfeiçoa-o, torna-o mais solidário e mais consciente de suas responsabilidades como cidadão. Mas se as lutas tomam outros caminhos, se são travadas para satisfazer egos ou tirar proveito para uma minoria, podemos afirmar que elas fazem a humanidade regredir.

É o que está ocorrendo agora com essa discussão sobre os radares móveis e fixos. Descobriu-se, de repente, que as multas emitidas pelos aparelhos que flagram motoristas acima da velocidade são ilegais; que o Detran não vem cumprindo a legislação. É o que diz o Ministério Público. O Detran rebate. Por enquanto, a briga está empatada. O promotor Antônio Ezequiel conseguiu anular multas dos radares móveis, mas teve negado um pedido para estendê-las aos fixos, popularmente conhecidos por pardais.

É o típico caso em que toda a sociedade perde. Evidente que se há um promotor questionando as multas e conseguindo a suspensão do pagamento delas na Justiça, isso é um incentivo aos loucos do volante. Eles, os loucos, sabem que poderão ser perdoados amanhã e afundam o pé cada vez mais. Pior para o restante da população – mais de 90%, diga-se – que respeita os limites da velocidade, mas continuam entre a vida e a morte, expostos que estão à insana correria dos criminosos.

Registre-se que é prerrogativa do Ministério Público fiscalizar, cuidar para que a lei seja cumprida. E que o Detran tem o dever de cumprir a legislação. Mas as discussões intermináveis sobre detalhes técnicos, como a distância das placas de sinalização, acabam criando, na sociedade, o sentimento de que falta seriedade no trato de uma questão fundamental para todos, que é a segurança no trânsito; que esta disputa mais parece picuinha de cão e gato do que um esforço real para o bem comum.

Está provado, pelas estatísticas do Detran, que o trânsito mata mais com a ausência dos radares. E todos sabem que não há maneira mais eficaz de frear o instinto assassino do motorista que fazê-lo sentir as conseqüências de seus atos no bolso.
Dois especialistas em trânsito ouvidos semana passada por este jornal defenderam os pardais com argumentos irrefutáveis. David Duarte, Ph.D. em segurança de trânsito pela Universidade Livre de Bruxelas, Bélgica, argumenta que em nenhum lugar do mundo se consegue reduzir o número de acidentes sem um sistema de controle de velocidade. Paulo César Marques, professor de Engenharia de Tráfego da UnB, disse estranhar a discussão sobre a sinalização, pois quem é flagrado acima da velocidade tem de ser punido.
Definitivamente, esta é uma luta que não edifica.


Colunistas

Claudio Humberto

O rico banheiro de FhC
A Presidência da República vai gastar na reforma do banheiro de FhC, no Palácio da Alvorada, a pequena fortuna de R$ 38.442,31 (ou 213,5 salários mínimos). É dinheiro suficiente para construir pelo menos uma casa popular padrão, com dois quartos. Segundo comprovante do Sistema de Administração Financeira do governo (Siafi), em poder da coluna, a reforma – contratada sem licitação – será realizada em 30 dias.

Reação tardia
Há algo estranho, no escândalo da Saúde. A Polícia Federal garante que o lobista Alexandre Santos informou no dia 6 de setembro à jornalista Alba Chacon (prestadora de serviços do ministério) que tinha gravações da tentativa de extorsão, mas, se isso provocou tanta indignação, por que o assessor de José Serra só formalizou a denúncia 13 dias depois?

Vale mais
O deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP) diz que, na dúvida entre Tasso e Serra, o governador Geraldo Alckmin deveria apoiar Ciro Gomes (PPS) para presidente. "Ele é melhor que os dois juntos" – garante.

Reino da terceirização
O Ministério das Comunicações contratou – sem licitação, ninguém é de ferro – uma empresa que vai fornecer recepcionista, ascensorista e encarregado. O contrato, de seis meses, custará R$ 141.409,82 à Viúva, ou R$ 23.568,16 por mês. Pelo menos seis vezes mais que gastaria fazendo concurso público para contratar servidores de que necessita.

Aspone incômodo
A ala do PMDB ligada ao governador Itamar Franco queixa-se do papel desestabilizador que estaria sendo exercido por Wellington Moreira Franco, aspone de FhC. Ele assumiu o órgão de estudos políticos do PMDB, a Fundação Ulysses Guimarães, e manobra contra duas teses vitais para Itamar: as prévias partidárias e a candidatura própria.

Justiça social
Se jogarem sobre o Afeganistão todo o dinheiro que os EUA gastam com guerra e Osama bin Laden gasta com terror, o povo daquele país vai ter a maior renda per capita do mundo.

O faroeste é aqui
Projeto do deputado Wolney Trindade (PMDB) obriga casas noturnas, cinemas, escolas de samba, estádios etc., do Rio, a manter guarda-volumes para armas. Os donos dos estabelecimentos seriam obrigados a devolver a artilharia aos respectivos donos, que deverão mostrar o porte de arma, validade e coisa e tal. Vamos ver quem vai pedir...

GMs aprovados
Apontadas como "vítimas preferenciais" de plantas transgênicas, as borboletas monarcas podem pousar à vontade em plantações de milho Bt, geneticamente modificado. Após dois anos de estudos, a EPA (agência americana de proteção ao meio ambiente) também liberou o algodão Bt para consumo humano e animal.

Pérola judicial
O juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública paulista, Antônio Carlos Millar, indeferiu pedido de infectados pelo vírus da Aids, que pediam remédios do SUS, alegando que "não há fundado receio de dano irreparável:
– Todos somos mortais. Mais dia, menos dia, estaremos partindo, alguns por seu mérito, para ver a face de Deus. Isto não pode ser tido por dano.

Pensando bem...
...os terroristas estão "antraz" de nós.

Censura e tradição
Inaugurou-se há 45 anos a censura na Academia Brasileira de Letras, que obriga os acadêmicos a submeterem previamente os seus discursos. Começou na posse de José Lins do Rego, que sucedeu Ataulfo de Paiva. No discurso, ele disse que não podia se violentar e elogiar a quem nunca havia lido um livro, provocando grande mal-estar e a censura acadêmica.

Violência ilimitada
Alô bancos que gostam de humilhar clientes com gerentes e guardas despreparados: o Tribunal de Alçada de Minas condenou o Banco Bandeirante de Uberlândia e a Prosegur, transportadora de valores, a indenizar Rui Machado Fullini em 60 salários mínimos, por danos morais. Ele foi revistado arbitrariamente enquanto esperava na fila, na calçada.

Chutadamus
Nostradamus garantiu que o fim do mundo seria em 2000. E ainda há quem acredite que ele previu o que aconteceria em 2001, em Nova York.

Justiça implacável
Deu no "Asahi Shimbun", do Japão. Inocentado da morte da filha, o decassegui Roberto Hideo Tokunaga de Freitas voltou para a cadeia em Tóquio, pois a Justiça o considera perigoso. Roberto morava em Nagano e foi libertado a 24 de maio. Os advogados apelaram em vão, e o caso vai à Suprema Corte. O consulado do Brasil ignora o caso solenemente.

Vai encarar?
A academia brasileira de jiu-jítsu Charles Gracie em Reno, Nevada, está ensinando os americanos a se defender em seqüestro de aviões. Passageiros e tripulação aprendem as técnicas num curso de três horas, não só para deter possíveis terroristas como para amansar viajantes incômodos. Sem necessariamente usar a força.

Poder sem pudor

Tanques, sabonete e toalha
O Rio de Janeiro sofria o problema crônico de falta d'água. Sérgio Porto, o genial Stanislaw Ponte Preta, dormia o s ono dos justos, no 1º de abril de 1964, quando foi despertado por sua empregada, assustadíssima:
– Acorde, seu Stan, acorde! Os tanques estão na rua!...
Ele acordou e levantou, mas não resistiu à brincadeira:
– Mas que beleza, os tanques! Então me traga, urgente, um sabonete e uma toalha!


Editorial

Contra o desperdício

O presidente Fernando Henrique deverá anunciar, no dia 20 de novembro, novas metas de racionamento de energia, bem abaixo das atuais. As chuvas vão permitir que os moradores do Sudeste e do Centro-Oeste consumam mais energia e não mais corram o risco de ter a luz cortada caso ultrapassem as metas. Será uma boa notícia, dada às vésperas do Natal, que também poderá servir para uma maior reflexão.

Os brasileiros foram obrigados a poupar energia por causa de uma imprevidência do governo, que não levou a sério as inúmeras advertências feitas por especialistas sobre a iminente crise da oferta. Convocada a economizar energia, a população atendeu ao apelo com raro entusiasmo. De certa forma, a própria população já havia percebido que o desperdício de energia era muito grande e que a racionalização de seu uso era necessária.

Agora, quando a economia poderá ser menor, seria bom que o próprio governo não descuidasse da necessidade de evitar o desperdício. E não só o desperdício de energia elétrica. Seria interessante que as nossas autoridades alertassem a população sobre a necessidade de também economizar água, que é desperdiçada em grande quantidade em todo o País e começa a faltar em algumas regiões metropolitanas do Nordeste e do Sudeste.


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10/22/2001


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