SP incentiva geração de energia com bagaço da cana
Governo e Fiesp assinaram protocolo para facilitar contratos entre usinas produtoras de energia elétrica a partir de biomassa e as distribuidoras
Atualizada às 17h38
Dados da Secretaria Estadual de Saneamento e Energia revelam que 6% dos 127 mil megawatts de energia elétrica consumidos todos os anos no Estado são produzidos com a utilização do bagaço da cana de açúcar. Essa fatia pode crescer muito mais. Um passo nessa direção foi dado nesta quarta-feira, 5, com a assinatura pelo governador José Serra de um protocolo entre o governo do Estado e a Fiesp (Federação das Industrias do Estado de São Paulo). O documento visa facilitar os contratos entre usinas produtoras de energia elétrica a partir de biomassa e biogás e as distribuidoras.
“O método do ponto de vista ambiental e de energia renovável é bastante desejável. Acredito que até o fim da década teremos plenos resultados neste sentido”, observou o governador José Serra após a assinatura do documento na sede da Fiesp. O protocolo é a primeira proposição da Comissão Especial de Bioenergia criada pelo governo José Serra em abril deste ano com o objetivo de discutir ações para incrementar a produção de energia limpa e renovável em São Paulo.
Para Serra, o fato dos paulistas apostarem nesta modalidade “aliviará” eventuais problemas de falta de energia que o país pode enfrentar em 2011, embora projetos como a construção da usina do Rio Madeira e a produção de energia em Angra III estejam em andamento. “A cogeração é um processo muito rápido e depende da renovação dos equipamentos das usinas mais antigas. Dá para gerar mais que o dobro das usinas hidrelétricas no Rio Madeira”, comparou.
Outra vantagem apontada por ele é relativa ao tempo. Segundo o governador, em três anos as usinas paulistas podem estar produzindo a pleno vapor. “O protocolo é um passo na direção de garantir energia não somente para São Paulo, mas como para todo o Brasil”, frisou.
Serra também adiantou que São Paulo assinará uma espécie de convênio com a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) o que permitirá ao Estado examinar as condições da conexão entre a rede de energia e as usinas. “Desta forma os governos estaduais capacitados podem tocar questões institucionais de maneira própria em cooperação com setores empresariais envolvidos”, resumiu.
Quem compartilha da mesma opinião é a Secretária de Saneamento e Energia, Dilma Seli Pena. "Com as dificuldades enfrentadas pelos projetos de grande porte para geração hidrelétrica, a cogeração com bagaço de cana pode dar uma grande contribuição para reduzir o risco de faltar energia a curto prazo”, defendeu Dilma. “As dificuldades para seu avanço já estão sendo equacionadas”, completo Dilma.
Segundo ela, outra frente da Secretaria buscará entendimentos com técnicos da Fazenda Estadual a fim de implantar políticas de desoneração das maquinas e suprimentos. A iniciativa, avalia Dilma, alavancaria as vendas do setor e permitiria também que as usinas pudessem modernizar equipamentos, consequentemente elevando a produção.
Investimento
Já o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou que a classe empresarial tem interesse de investir na produção de energia por meio do bagaço da cana, sobretudo pela demanda. Skaf lembrou que somente 15% das usinas paulistas produzem energia limpa a renovável. O índice, considerado baixo por Skaf, é um dos atrativos para atrair os empresários a investir neste campo. “Temos uma forte preocupação para o futuro quando tratamos de energia. Por isso entendemos que a cogeração é uma alternativa muito importante”, analisou Skaf, acrescentando que 2/3 da produção sucro-alcooleira produzida no Brasil sai de São Paulo.
O engenheiro Jean Césare Negri da secretaria Estadual de Energia explicou que a iniciativa do governo de São Paulo tem como propósito fomentar medidas para o setor. “Esperamos aumentar o percentual de energia produzido a partir da cana gradativamente”. Césare disse que somente em solo paulista há mais de 150 usinas, além de 74 que devem ser inauguradas nos próximos anos. Todas com um trunfo: a capacidade para produzir energia excedente. “Existem casos de empresários que aguardavam o apoio técnico do governo para iniciar os investimentos necessários para aproveitar o bagaço”, frisou Negri. Segundo ele, o governo paulista vai atuar no sentido de desburocratizar etapas como a do licenciamento ambiental, além de oferecer suporte de profissionais especializados na área.
Histórico
O uso do bagaço da cana como fonte de energia faz parte da história do setor sucro-alcooleiro. Contudo, as iniciativas para o aproveitamento dessa fonte são recentes. Nos anos 70, as caldeiras queimavam bagaço com uma eficiência da ordem de 68%, com baixa pressão e baixo aproveitamento térmico.
Em meados dos anos 90, porém, o setor já era auto-suficiente devido à cogeração que permite a produção simultânea de energia térmica e energia elétrica a partir do uso de um combustível convencional - gás natural, óleo combustível, diesel - ou mesmo o resíduo industrial como madeira, bagaço de cana, casca de arroz, entre outros.
Algumas usinas passaram a possuir equipamento de alta pressão com maior aproveitamento térmico. Desde então, o desenvolvimento de novas tecnologias permitiu a expansão do negócio, de forma que as usinas passassem a comercializar a produção excedente.
Prestigiaram o evento o secretário-adjunto de Desenvolvimento, Carlos Américo Pacheco, o presidente da Comissão de Bioenergia, José Goldemberg, deputados estaduais e representantes do setor sucro-alcoleiro.
Cleber Mata
(I.P.)
09/05/2007
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