SUPLICY CONDENA POSTURA PASSIVA DO EMPRESARIADO BRASILEIRO



O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse hoje (dia 3) que os empresários brasileiros, principalmente os que têm posição de liderança, em vez de se deixarem levar pelos slogans da retórica da globalização e "manterem uma postura passiva diante da política econômica do governo", deveriam observar com mais cuidado o que os países desenvolvidos fazem de fato em matéria de política industrial.

Suplicy disse que observações idênticas foram feitas por Luís Inácio Lula da Silva em artigo publicado na Folha de S. Paulo no último dia 17, intitulado "A antipolítica industrial". Esse artigo, conforme explicou, recebeu "resposta agressiva do senador Fernando Bezerra, presidente da Confederação Nacional da Indústria", em artigo publicado no mesmo jornal, cinco dias depois.

Na opinião de Suplicy, Lula teve toda razão ao dizer que a política do governo obriga os empresários brasileiros, inclusive os da indústria, a competir em condições desiguais com importações e empresas estrangeiras. Lula também teve razão, a seu ver, em afirmar que os produtores nacionais estão sendo prejudicados pela sobrevalorização cambial e por taxas de juros que o próprio presidente já qualificou de escorchantes. Ele também estava certo "ao dizer que a equipe econômica deveria levar menos a sério o que dizem os governos dos países avançados e prestar mais atenção ao que eles fazem", acrescentou.

- Não é verdade que a globalização elimine os vínculos das empresas com os seus países de origem - disse o senador, citando Lula. Segundo Suplicy, pesquisas recentes demonstram que, com raras exceções, as empresas ditas "transnacionais" conservam um centro de gravidade claramente identificável, concentrando "as atividades geradoras de maior valor adicionado e aspectos estratégicos, como pesquisa e desenvolvimento, na sua base nacional".

Eduardo Suplicy observou que, além disso, aquelas empresas recorrem aos seus governos quando disputam contratos e concorrências, "ponto ao qual se referiu Lula, citando o exemplo recente do empenho do governo Clinton pela Raytheon no projeto Sivam".

O senador destacou o caso das indústrias de óleos vegetais, tributadas ao adquirir a soja brasileira em grão e ao vender seus produtos ao exterior, por força da Lei Complementar nº 87/96, "que eliminou o diferencial com que se compensava o protecionismo internacional". Antes dessa lei, as exportações de soja em grão pagavam um ICMS de 13% e as de óleo, 8%, diferencial eliminado após setembro, valorizando a exportação da matéria-prima, comparou o senador.

O resultado, disse Eduardo Suplicy, é o sucateamento do parque industrial brasileiro, de modo que as empresas redirecionam investimentos para outros setores ou, como no caso da Ceval, investem na Argentina, que, ao contrário do Brasil, não pratica uma "antipolítica industrial" e desonera a produção de semi-elaborados.

03/09/1997

Agência Senado


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