Suplicy elogia plano de combate ao 'crack' e pede mobilização contra a droga e pelo tratamento de usuários
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) elogiou nesta quarta-feira (2) em Plenário o Plano Nacional de Combate ao Crack, lançado no dia 20 de maio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Decreto 7.179/2010. Trata-se, conforme o parlamentar, de política pública destinada ao treinamento de profissionais de saúde para atendimento ao usuário do crack e a promoção de sua reinserção social na vida produtiva. Ele pediu mobilização do Estado, da sociedade e das famílias, em esforço conjunto para combater o uso da droga e tratar os usuários.
Suplicy mencionou reportagem da edição de 2 de junho da revista Veja São Paulo, intitulada "O Grito do Crack", que mostra o rápido processo de degradação física e psicológica do usuário da droga. De acordo com a reportagem, usuários e ex-usuários têm suas relações sociais e vidas "devastadas".
Dados da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) citados na reportagem mostram crescimento de 42% no número de dependentes que procuraram tratamento no programa de orientação e atendimento entre 2005 e 2009. Enquanto, no início de sua disseminação, o uso da droga era restrito à classe baixa frequentadora da "cracolândia", na última década o quadro foi se modificando e entre 2006 e 2008 expandiu-se entre as classes A e B, com aumento de 139% entre aqueles com renda superior a R$ 10 mil por mês.
Efeitos físicos
Segundo Suplicy, a reportagem narra os efeitos físicos por meio do depoimento de usuários que vão desde problemas como queimadura e inflamação na boca, cáries nos dentes, desnutrição devido à perda da fome e diarreias até comprometimento da atenção, perda da fluência verbal, paranoia, surtos psicóticos e comportamentos agressivos e perda de valores éticos. Também são observados, acrescentou, problemas pulmonares como tosse e chiados no peito, em minutos ou horas após a ingestão do crack, podendo ocorrer edema pulmonar, taquicardia, arritmia e o desenvolvimento de Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto.
Suplicy citou o especialista da área Ronaldo Ramos Laranjeiras, que realizou pesquisa pioneira por 12 anos, e esteve em audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), segundo o qual 30% dos usuários morrem antes de cinco anos de uso.
- O professor Laranjeira deixa claro que o caminho para equacionar a questão passa pela necessidade de a sociedade criar políticas de proteção para os dependentes químicos do crack - reforçou.
De acordo com Suplicy, é necessário que família, sociedade e Estado se unam para combater o problema que têm "destroçado" famílias brasileiras e reduzido os recursos humanos disponíveis, além de impor um gasto cada vez maior do serviço público de saúde.
Suplicy citou artigo da professora Solange Nappo, publicado na revista Scientific American, sobre 20 anos do crack no Brasil, em que a pesquisadora fala sobre a necessidade de os governos federal, estaduais e municipais realizarem campanhas frequentes de esclarecimento e de prevenção ao uso do crack, com a colaboração de professores, profissionais de comunicação e famíliares. O parlamentar citou a campanha "Crack nunca mais" da Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS) nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Conforme o estudo de Nappo, diz o senador, o perfil do usuário mudou. A mulher tem avançado no uso da droga, vende seu corpo para o traficante e tem assumido inclusive a linha de frente do repasse da droga, poupando o homem dos riscos inerentes ao comércio. Outras mudanças, acrescentou Suplicy, é que o usuário consegue inserir-se socialmente, permanecer na família e fazer o uso da droga por tempo bem mais prolongado, com maior sobrevida. O usuário consome o crack sozinho para evitar a violência, observou.
O senador relatou que crack vem sendo associado a outras drogas como o álcool, potencializando o risco de doenças cardíacas. Também vem sendo usado com cocaína e maconha.Porém, a substituição da cocaína pelo crack, ressaltou, é que este provoca o prazer em dez segundos, leva a uma dependência rápida, seu consumo se torna mais caro devido à necessidade de prolongaro prazer com o círculo vicioso da "fissura" e constante busca por mais droga. Daí a necessidade de intervenção vigorosa do poder público com políticas públicas que utilizem, disse Suplicy, "múltiplas estratégias conjuntas", conforme recomendou Ronaldo Laranjeiras.02/06/2010
Agência Senado
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