Suspeitas sobre atentado são levantadas em homenagem a Vieira de Mello
Larriera (de branco): havia outros focos potenciais, como a base militar americana
A trajetória do diplomata Sérgio Vieira de Mello foi lembrada na noite desta segunda-feira (19) na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que realizou audiência pública para homenagear o alto comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos morto há dez anos em atentado no Iraque. O ataque destruiu a representação da ONU em Bagdá, matando outras 21 pessoas e ferindo cerca de 150.
Vieira de Mello nasceu no Rio de Janeiro em 1948, onde cursou o colegial (antigo ensino médio), e chegou a participar de movimentos sociais. Deixou o país por conta da perseguição sofrida por seu pai, o diplomata Arnaldo Vieira de Mello, durante o regime militar. Já em Paris, estudou Filosofia, Letras e Ciências Humanas, obtendo o grau de doutor. Em 1969, começou a trabalhar na ONU, instituição que o reconheceu como um grande negociador pela paz, e o enviou a missões em países como Bangladesh, Ruanda e Timor-Leste.
A professora e funcionária da ONU, Carolina Larriera, companheira de Vieira de Mello à época de sua morte, classificou a homenagem da CRE como um “momento especial”, apesar de a data entristecer os que trabalham pela paz, especialmente os brasileiros.
- Ele era um idealista pragmático e um pacifista, na linha do filósofo Imannuel Kant, além de lutador pelos direitos humanos – afirmou, lembrando que a comissão já o havia homenageado em 2007.
Questionamentos
Sobrevivente do atentado em Bagdá, Carolina reclamou que, depois da tragédia, não teve amparo por parte da ONU. Com base no livro Breves Narrativas Diplomáticas, de Celso Amorim, ministro da Defesa e ex-ministro das Relações Exteriores, ela questionou se as falhas de segurança na representação da ONU não foram propositais - supostamente para desviar o foco de outros alvos potenciais, um deles a base militar dos Estados Unidos em Bagdá.
De acordo com Carolina, Vieira de Mello era considerado forte candidato à sucessão de Kofi Annan, então secretário-geral da ONU.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que propôs e presidiu a audiência, prometeu entrar em contato com representantes do governo, para tratar de possíveis medidas que o Brasil possa tomar para investigar as reais circunstâncias do atentado. O senador relatou troca de e-mails com Vieira de Mello, em fevereiro de 2003. Nessa correspondência, debateram sugestões do senador para a reconstrução do Iraque.
No início de agosto daquele ano, Vieira de Mello ligou para Suplicy para dizer que a sugestão de implantação de um programa de renda básica de cidadania, conforme sugerida pelo senador, havia sido considerada positiva pelas autoridades locais. O otimismo de Suplicy foi interrompido logo depois, por causa do atentado.
Suplicy esteve em 2008 no Iraque e fez exposição sobre o programa para cinco ministros iraquianos, mas não sabe dizer se a renda básica, bem aceita pelas autoridades iraquiana, foi de fato implantada.
- A vida dele é um exemplo para todos nós. Era um herói nacional e do planeta Terra – disse o senador, para quem a divulgação da ideia renda básica no Timor-Leste também só foi possível por conta do esforço de Vieira de Mello.
Servidor internacional
Para Alberto Fonseca, representante do Ministério das Relações Exteriores (MRE), a experiência de vida e a morte precoce de Vieira de Mello simbolizam a diferença que uma pessoa pode fazer para a humanidade. O representante do Itamaraty ressaltou o trabalho de Vieira de Mello na reconstrução de países em situação de pós-conflito.
- Ele realizou uma carreira com notável talento no campo político e diplomático – disse.
O ministério, registrou, havia realizado, mais cedo, no Rio de Janeiro, uma cerimônia para homenagear a memória do alto comissário da ONU.
Na opinião de Julia Barros Shirmer, representante da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, Vieira de Mello foi um humanista. Desse modo, a melhor maneira de homenagear usa memória é "trabalhar pelos direitos humanos".
O diretor do escritório brasileiro da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) e representante da ONU, Carlos Mussi elogiou a defesa que o alto comissário da ONU fazia do multi-lateralismo, com ênfase em uma maior participação dos países emergentes nas decisões mundiais.
- Ele não se trancava dentro de um escritório. Saía para ouvir as pessoas, gostava do diálogo. Sérgio era, efetivamente, um servidor internacional – declarou Mussi.
No final da audiência, foi exibido um vídeo sobre a visita do senador Eduardo Suplicy ao Iraque em 2008 com o objetivo de divulgar a renda básica de cidadania.
19/08/2013
Agência Senado
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