Tarso Genro garante que governo cubano não interferiu no caso dos boxeadores



O ministro da Justiça, Tarso Genro, negou nesta quinta-feira (23) que o retorno a Cuba de dois atletas que abandonaram a delegação daquele país durante os Jogos Pan-americanos, em julho, tenha sido articulado entre os governos do Brasil e de Cuba. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), o ministro afirmou que a Polícia Federal (PF) agiu estritamente dentro da lei ao aplicar a medida, já que os atletas estavam em situação irregular no país e recusaram oferta de refúgio.

- A Polícia Federal vem prestando relevantes serviços ao país e não faria nenhum gesto para desmerecer o prestígio que vem tendo junto à sociedade - argumentou.

Tanto o ministro quanto o quanto o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, também presente na audiência, garantiram que não houve nenhum contato com autoridades cubanas para tratar do caso. Segundo Tarso Genro, o interesse manifestado pelos atletas de voltar a seu país, ao lado das medidas adotadas pelas autoridades cubanas para facilitar o retorno, explicam o rápido desfecho do caso.

Os boxeadores Guillermo Rigoundeaux, de 26 anos, e Erislandy Lara, de 24 anos, partiram do Brasil na madrugada do primeiro domingo de agosto (5), em aeronave fretada pelo próprio governo cubano. O embarque aconteceu cerca de 72 horas depois do momento em que foram localizados, em pousada na Praia de Araruama (RJ).

Tarso Genro esclareceu que a Polícia Militar chegou até os cubanos depois que os próprios atletas pediram a um pescador para acionar a Polícia Militar (PM) fluminense. Assim que foram entregues à PF, informou, tiveram a assistência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Ministério Público, em audiência sem a presença dos delegados. O ministro chegou a ler trechos de relatórios de representantes dos dois órgãos para reforçar que os atletas optaram livremente por retornar ao país.

Outras deserções

O ministro usou ainda como argumento o fato de que três outros atletas da delegação cubana do Pan também desertaram e, após a oferta de refúgio, decidiram ficar no Brasil. Senadores da oposição, no entanto, estranharam a rapidez da saída dos cubanos do país e, ainda, levantaram a suspeita de que estivessem sob coação, possivelmente por terem tido notícias de constrangimentos por parte das autoridades cubanas a membros de suas famílias.

- Existe depoimento gravado, que foi dado pelos atletas a um colega, que vai deixar muito mal o governo brasileiro - antecipou Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da CRE.

Depois de críticas ao regime cubano, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), autor do requerimento para a audiência, afirmou que um dos atletas teria recebido ligação telefônica em que a esposa informava que o governo cubano retirara dela carro e casa. Além disso, registrou que autoridades do país já anunciaram que os dois boxeadores - um campeão mundial e outro olímpico - não vão mais participar do campeonato mundial que seria também seletivo para as próximas Olimpíadas.

- Tomara que Cuba não cometa o erro de não aproveitá-los - afirmou o ministro.

Para Tarso Genro, os atletas manifestaram sincera vontade de voltar ao seu país, já que estavam inseguros, depois de terem sido abandonados pelos empresários que antes haviam prometido contratos e carreira na Europa.Em apoio ao ministro, os senadores João Pedro (PT-AM) e Ideli Salvatti (PT-SC), líder do bloco da maioria, disseram que a provade que os boxeadores decidiram sem constrangimentos pelo retorno a Cuba foi a permanência dos três colegas que também desertaram.

- Quem quis ficar, ficou; quem quis voltar, voltou - afirmou Ideli.

A pedido do senador Arthur Virgílio, o ministro revelou o prefixo da aeronave fretada pelo governo cubano para levar os atletas (YV-208), identificação confirmada depois por Heráclito como sendo de aviões registrados na Venezuela. Romeu Tuma (DEM-SP) disse ter estranhado a rapidez com que a aeronave se deslocou para o país, observando que a Venezuela "se mete em tudo que pode levar problemas ao presidente Lula".

Para César Borges (DEM-BA), faltou transparência no processo. Na sua opinião, a imprensa e entidade de direitos humanos deveriam ter tido acesso aos atletas. Fazendo cobranças à PF, também participaram da audiência os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Eduardo Suplicy (PT-SP) aproveitou para pedir ao ministro apoio para legalizar a situação de grupo de mais de 30 cubanos que vivem no país sem visto de permanência.



23/08/2007

Agência Senado


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