Tecnologia brasileira contra malária ganha selo de alto padrão de qualidade



Certificação permite que a OMS faça a compra centralizada do medicamento e a distribuição para países asiáticos

 

Um medicamento contra malária desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmaguinhos/Fiocruz), o ASMQ, recebeu a pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que garante o alto padrão de qualidade do produto.

A certificação, anunciada na quarta-feira (3), na Índia, garante que a dose fixa de artesunato (AS) e mefloquina (MQ), desenvolvida pelo Farmaguinhos em parceria com a organização Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, em inglês), terá maior facilidade para ser distribuída no sudeste asiático.

O ASMQ é uma das cinco combinações baseadas em artemisina (ACTs) recomendadas pela OMS para o tratamento da malária, e tornou-se a primeira linha de tratamento para a doença em diversos países da Ásia. O método foi registrado na Índia em 2011 e já foi usado no tratamento de cerca de 18 mil pacientes adultos. Na Malásia, o registro foi feito em 2012.

O coordenador de pesquisa clínica de Farmanguinhos, André Daher, explica que o tratamento com as duas drogas já era usado, mas a nova formulação, registrada no Brasil e distribuída pelo Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária desde 2008, oferece tratamento mais fácil e eficiente.

Quando usados separadamente, os dois princípios ativos podem provocar efeitos adversos, resultando na desistência do tratamento por alguns pacientes. Porém, quando combinados, esses efeitos são reduzidos e o tempo para tratar a doença cai de sete para três dias.

"Com a redução dos efeitos colaterais, o nível de adesão ao tratamento é maior, o que, consequentemente, diminui as chances de resistência à doença e aumenta a qualidade de vida do paciente”, explica o vice-diretor de gestão institucional de Farmanguinhos, Jorge Mendonça.

De acordo com o coordenador de pesquisa clínica do laboratório, André Daher, esse é o tratamento para malária com uso do menor número de comprimidos e pode ser aplicado a partir dos seis meses de idade. “Você tem quatro tipos de tratamento, divididos por faixas etárias, mas são todos com uma tomada diária durante três dias e não precisa ser ingerido com nenhum tipo de alimento especial. O fato de ser uma única dose diária melhora muito a adesão do paciente e ele apresenta maior tolerabilidade, com menos efeitos colaterais.”

Malária
Segundo a OMS, a malária é a quinta doença que mais mata no mundo. Ela é provocada pelo parasita do gênero Plasmodiun, transmitido pela picada da fêmea infectada do mosquito do gênero Anophele, conhecido como muriçoca, mosquito-prego ou carapanã. A doença, também chamada de impaludismo, causa sintomas como dor de cabeça, no corpo, dor abdominal, tontura, náusea, fraqueza, febre alta e calafrios.

No Brasil, 99,5% dos casos são registrados na região da Amazônia Legal. As pessoas que mais correm risco de contrair a doença (1,2 bilhão) vivem na África e Ásia. A maior parte dos óbitos (91%) ocorre no continente africano, enquanto 13% das mortes são contabilizadas no território asiático. Crianças com menos de cinco anos são as mais afetadas, contabilizando, aproximadamente, 86% das mortes pela doença no mundo.

Transferência de tecnologia
Na Índia, o ASMQ é fabricado nas instalações da Cipla, em Patalganga, desde 2010. O acesso ao medicamento na Ásia foi possível graças à transferência de tecnologia da cooperação Sul-Sul, agenda de discussões entre Brasil, Índia e África do Sul criada em 2003 e que incluem temas como ciência e tecnologia, educação, agricultura, defesa, assentamentos humanos, meio ambiente e clima, transportes, geração de energia e desenvolvimento social.

A Friocruz disponibilizou especialistas tanto para fazer a transferência das técnicas de controle de qualidade do produto quanto para a fabricação do medicamento. "Com a transferência de tecnologia, encurtamos o tempo de produção do medicamento e, com isso, agilizamos seu acesso pela população local", afirmou Jorge Mendonça.

“[Brasil e Índia] eram atores até pouco tempo, pouco atuantes no mercado tecnológico e, agora, o Brasil começa a se posicionar como ator mais importante para a cooperação Sul-Sul no âmbito tecnológico, inclusive em tecnologias em saúde”, opinou André Daher.

De acordo com ele, o Brasil inicia o processo de pré-qualificação para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o que permitirá distribuir o medicamento para a América Latina. Em junho, Farmanguinhos doou à Bolívia cerca de 14 mil comprimidos de ASMQ, quantidade equivalente a 2.325 tratamentos distribuídos ao Programa Nacional de Malária daquele país.

DNDi
A DNDi é uma organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas como doença do sono, doença de Chagas, malária, leishmaniose, entre outras enfermidades. Foi criada em 2003 pela organização Médicos Sem Fronteiras, Fiocruz, Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR), Instituto de Pesquisa Médica do Quênia (KEMRI), Ministério da Saúde da Malásia e Instituto Pasteur, da França.

A DNDi já entregou seis novos tratamentos para pacientes com doenças negligenciadas: dois antimaláricos em dose fixa (ASAQ e ASMQ), uma terapia combinada para o estágio final da doença do sono (tripanossomíase humana africana – THA), uma combinação terapêutica para leishmaniose visceral na África, uma terapia combinada para a leishmaniose visceral na Ásia e uma nova apresentação pediátrica do benznidazol para a doença de Chagas. Com sede em Genebra, Suíça, a DNDi tem escritórios no Brasil, Quênia, Índia, Malásia, Japão, República Democrática do Congo e uma filial nos EUA.

Cipla
A fábrica de medicamentos indiana Cipla foi criada em 1935 com o objetivo de tornar a Índia autossuficiente na área da saúde. Com o passar dos anos, tornou-se uma das empresas farmacêuticas mais respeitadas no mundo. Atualmente, conta com 34 unidades no país e produz mais de 2 mil produtos em 65 terapias.

Uma de suas inovações é o revolucionário coquetel contra Aids por menos de um dólar por dia, assim como uma combinação em comprimidos fáceis de tomar para crianças com HIV. A empresa farmacêutica atende a pacientes e médicos em mais de 183 países.

 

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Fonte:

Ministério da Saúde
Agência Brasil
Fundação Oswaldo Cruz

 

 

05/10/2012 13:31


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