Tecnologia: Programa Poli Cidadã da USP desenvolve soluções práticas em áreas de engenharia



Alunos e professores de engenharia baseiam-se nas dificuldades tecnológicas de instituições e criam protótipos

Você conhece uma bengala com ultra-som que vibra quando o deficiente visual se aproxima de um obstáculo? Já ouviu falar em veículo para catadores de papel com motor elétrico, freios e compartimentos para separar cada tipo de material reciclado? Esses são alguns dos protótipos desenvolvidos por alunos de graduação e professores de Engenharia da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), como parte do Programa Poli Cidadã.

O programa foi criado há dois anos e tem mais de 20 parceiros e 70 temas de trabalho propostos pelas entidades conveniadas, orientadores ou pelos próprios universitários. Entre as instituições estão a Fundação Dorina Nowill, a prefeitura de Diadema, o Instituto Criança Cidadã, o Hospital do Câncer de Barretos, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais e o Hospital Universitário da USP. Os temas sugeridos podem se basear nas dificuldades tecnológicas de uma instituição ou comunidade carente. A idéia é que os alunos e professores sejam capazes de solucioná-los.

“Com isso, queremos formar engenheiros com senso da realidade brasileira e de responsabilidade social. O intuito é que a solução seja acessível e barata aos beneficiários”, explica o professor Antônio Luís de Campos Mariani, coordenador do programa e docente do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli. De acordo com Mariani, a iniciativa pretende também contribuir para a melhoria e o avanço tecnológico das associações participantes.

Cama portátil 

O Hospital do Câncer de Barretos, por exemplo, está testando cama ginecológica portátil para realizar exames de prevenção de câncer do colo uterino em mulheres que residem na periferia e na zona rural da cidade. “A mesa original é grande, pesada e pouco ergonômica. A proposta do trabalho de conclusão de um aluno do curso de engenharia mecânica é que seja mais prática”, diz o professor Mariani. Enquanto o equipamento-padrão pesa sete quilos, o protótipo, de apenas três, é desmontável e cabe numa sacola plástica de material resistente.

Essa cama ginecológica é transportada por uma enfermeira que, de bicicleta, vai até as regiões mais distantes de Barretos. Segundo o coordenador do programa, o produto pode ser usado por pacientes de até 200 quilos. O autor do protótipo é detentor da patente. “Ele tem a opção de vender a cama e abrir empresa. Se não quiser continuar o projeto, outros alunos podem aprimorá-lo a partir das críticas e sugestões da área médica”, informa.

Um setor da USP encaminha os trabalhos para o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), órgão federal responsável pelas patentes. A incubadora de empresas de tecnologia da universidade é uma opção para os universitários participantes da iniciativa que queiram abrir seu próprio negócio com acompanhamento técnico.

Novos parceiros

Os protótipos podem ser testados pelos próprios clientes, que pedem melhorias caso seja preciso. Para o aperfeiçoamento dos trabalhos e mesmo para aumentar a oferta de temas de projetos, é necessária a adesão de novos parceiros. Muitos estudantes da faculdade têm demonstrado interesse no Programa Poli Cidadã. “O número de assuntos cadastrados é pequeno em relação à crescente demanda de alunos interessados”, destaca Mariani. Todos os anos, a Poli forma mais de 500 engenheiros.

Entre os critérios para ser parceiro, é necessário que as dificuldades da organização tenham possível resolução tecnológica entre as quatro grandes áreas de engenharia da Poli: Mecânica (engenharias Mecatrônica, Mecânica, Naval, Produção), Civil (Civil, Ambiental), Elétrica (Elétrica, Computação), Química (Química, Materiais, Metalúrgica, Minas, Petróleo, Alimentos).

A complexidade do tema deve ser compatível com a capacidade dos alunos da graduação. O programa atende também a instituições ou a comunidades comprovadamente carentes. Mariani destaca que, como a iniciativa é recente, até o momento não há projetos amplamente empregados. Para ser parceiro do Poli Cidadã, basta se cadastrar no site www.poli.usp.br/policidada/ e especificar o tema desejado.  A solicitação será avaliada pela comissão gestora da iniciativa. Caso seja aprovada, será inserida na lista de temas disponíveis. Durante a inscrição, a entidade informa se tem ou não condições de auxiliar financeiramente.

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Alguns dos protótipos desenvolvidos

• Aquecedor de gel para ultra-sonografia: adapta a temperatura do gel à do corpo da paciente;

• Espirômetro: aparelho que mede a capacidade pulmonar do doente. É empregado em pacientes com debilidade pós-cirúrgica. A pessoa expira e o resultado de seu desempenho tempo/volume de ar é registrado digitalmente e impresso. Esse equipamento custa normalmente de R$ 6 mil a R$ 20 mil. A solução, construída com tubos de PVC e madeira, sai por R$ 200. O protótipo não está finalizado porque necessita de um registro eletrônico. Os alunos improvisaram a gravação do resultado numa câmera comum de computador, mas o equipamento precisa ser aperfeiçoado;

• Instalação de reservatórios e filtros para tratamento e reúso de água da chuva foi o protótipo sugerido à Creche Pré-Escola da USP. Além de ser econômica, a alternativa é pedagógica porque transmite à garotada a importância do cuidado e reaproveitamento da água;

• Medidor de volumes para líquidos: é uma espécie de caneta com haste que funciona como sensor e auxilia deficientes visuais. Ao colocar líquido num recipiente até o nível do sensor, a caneta treme. A solução é higiênica, evita o derramamento e o contato manual do cego com o produto, que pode estar quente;

• Processo para transformação de garrafas PET em cerdas de vassouras empregadas na varrição de ruas;

• Prensa para cooperativas de coletas de recicláveis. Enquanto o equipamento comercial custa mais de R$ 15 mil, a nova versão sai por menos de R$ 3 mil.

Viviane Gomes
05/05/2006


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