Temor de que Brasil contagie a A. Latina







Temor de que Brasil contagie a A. Latina
O presidente do Banco Central do México, Guillermo Ortiz, disse, ontem, em palestra na Fundação Per Jacobsson, em colaboração com o Banco para Compensações Internacionais (BIS), que a situação no Brasil está contaminando a América Latina. A crise brasileira, disse, disseminou a percepção de que o "default" é agora muito mais provável do que antes para a dívida de mercados emergentes. Para ele, o Brasil está em dificuldades "porque continua a ter alto nível de dívida pública e está no meio da campanha presidencial cujo resultado pode produzir importantes mudanças políticas".


Arcelor mantém sua aposta
Construção de laminadora em SC vai a todo vapor apesar da retração. Chamam a atenção de quem passa pelo quilômetro 11 da rodovia BR-280, em São Francisco do Sul (SC), as enormes estruturas metálicas ao lado da estrada. Naquele local, 1.400 trabalhadores de diversas empreiteiras trabalham em ritmo acelerado para concluir as obras da usina de decapagem, laminação e galvanização Vega do Sul, do grupo Arcelor.

O otimismo que cerca a obra é grande. "Vamos usar os melhores equipamentos existentes no mundo para este tipo de instalação", diz o francês Patrick Bardet, diretor-presidente da empresa.
Suado, após uma das inspeções que faz periodicamente nas obras, Bardet prefere não falar sobre os ventos ruins que sopram sobre o setor automotivo no Brasil, o principal mercado da produção prevista de 880 mil toneladas anuais de laminados da unidade. "Mantemos as previsões iniciais", diz Bardet. "Se o mercado automotivo nacional estiver ruim, poderemos destinar uma parcela maior da produção a outros segmentos ou vamos exportar".

Em três meses, quando as obras atingirem seu pico, o número de trabalhadores chegará a 2 mil - número que impressiona se comparado aos 276 empregos diretos e 250 indiretos que surgirão quando a usina começar a funcionar, daqui a um ano, aproximadamente.

Além da construção, Bardet gosta de falar dos maciços investimentos em treinamento de pessoal e do bom relacionamento com a comunidade. Conta, orgulhoso, que será o próximo presidente do Rotary Club de São Francisco do Sul.

A unidade de galvanização é a mais adiantada. A previsão é que comece a operar em julho. Com ela, a Vega do Sul disputará mercado com Usiminas e CSN, que recentemente montaram unidades de galvanização.


Negociações complexas para voltar ao FMI
A eventualidade de uma nova negociação com o FMI, que estenderia por mais tempo o acordo vigente, não é decisão que possa ser tomada a curto prazo.

A peculiaridade do ano eleitoral torna a questão complexa do ponto de vista político, mas também técnico.

Qualquer novo acordo, ainda que durasse o prazo mínimo admitido pelo FMI, de seis meses (entre setembro deste ano, quando se cumprem as últimas metas do acordo vigente, e março de 2003), exigiria comprometimento com critérios de desempenho. Implica a abertura de todos os números do governo para a oposição. Duas fontes oficiais sinalizaram ontem que é cedo para tratar do assunto. O ideal seria negociar com o candidato vencedor.


Área de RH continua burocrática, diz pesquisa
Profissionais de RH consideram-se mal informados e despreparados do ponto de vista do cotidiano do negócio das empresas onde atuam. Esta é uma das constatações da pesquisa que ouviu 237 profissionais da área, no Rio de Janeiro, realizada pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). De acordo com a pesquisa, a maioria dos profissionais conhece pouco sobre as estratégias da empresa e o seu funcionamento.

"Apesar de o discurso ser outro, a área de RH ainda atua muito mais com serviços burocráticos e no recrutamento e seleção de trabalhadores", diz Livia Barbosa, coordenadora da pesquisa. "Técnicas modernas de treinamento de equipe e acompanhamento de carreira são pouco usadas pelos departamentos de Recursos Humanos."

Outra levantamento, realizado pela Right Saad Fellipelli Coaching também mostra a distância entre a teoria e a prática. Os 300 executivos ouvidos na pesquisa sobre programas de retenção de talentos informam que em 28% das empresas onde atuam não há nenhum programa para a permanência de profissionais; em 20% existe apenas uma análise informal. Das que têm programas definidos, 38% têm cronograma estruturado e em apenas 14% ele é formal e com objetivos definidos.


Reale Jr. sai por causa do Espírito Santo
Intervenção no estado foi arquivada. O ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, pediu demissão ontem, inconformado com a decisão do procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, de arquivar o pedido de intervenção federal no Espírito Santo. Reale Júnior sentiu-se desautorizado com o arquivamento, que contrariou a decisão do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), pertencente ao seu ministério, tomada após análise de denúncias de envolvimento do governador José Ignácio Ferreira (PTN) com o crime organizado.

O porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola, disse que Fernando Henrique Cardoso considerou a iniciativa de Reale Júnior "descabida", mas aceitou a demissão.

O presidente ainda ontem convidou o advogado paraense Paulo Tarso Ramos Ribeiro, secretário de Direito Econômico do Ministério, para substituir Miguel Reale Júnior. Ramos Ribeiro será o oitavo ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique. O arquivamento foi determinado por Brindeiro depois de consultar o presidente.


Merck gera mais desconfiança e Bush intervém
Balanços tinham US$ 14 bilhões mal explicados. A Merck & Co., segundo maior laboratório farmacêutico dos Estados Unidos, introduziu ontem mais incerteza e desconfiança no mercado mundial de ações, já abalado com os casos Enron, WorldCom e Vivendi, ao informar que contabilizou US$ 14 bilhões de receitas não efetivamente recebidas pela sua subsidiária Medco Health Solutions.

As desconfianças sobre o comportamento da Merck aumentaram quando a empresa entregou informações solicitadas pela SEC (Securities Exchange Commission ? que controla o mercado acionário americano) ao final do expediente de sexta-feira, um dia prensado entre o feriado da véspera e o fim de semana. Nesse horário os operadores já tinham abandonado as suas posições.
A Medco, administradora de venda co-participada de medicamentos com descontos, contabilizava como sua receita a parcela de 5% a 10% que os clientes pagavam diretamente às farmácias na hora da compra.

O presidente da subsidiária brasileira, a Merck Sharp & Dohme, Tadeu Alves, disse a este jornal que a operação no Brasil não será afetada e defendeu a prática contábil de sua matriz dizendo que os números questionados constam tanto nas receitas quanto nas despesas, não alterando o lucro.
O mercado não concordou. As ações da empresa responderam por 8% da queda de 1,22% do índice Standard & Poor?s 500 na Bolsa de Nova York, onde o índice industrial também caiu 1,12% ontem, seguindo o movimento que desde cedo levou as bolsas de Tóquio, Seul e Hong Kong a fecharem com variações negativas.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, apressou-se a marcar para hoje o anúncio de medidas para "castigar os culpados" pelos escândalos financeiros que vêm ocorrendo e "devolver a confiança aos investidores", segundo anunciou ontem em entrevista convocada de forma inesperada.(Gazeta Mercantil/Página A1)(Rita Karam e Patrick Cruz - Com agências Páginas A-10, B-1 e C-1 )


Editorial

UMA PONTE PARA A ÁFRICA

Não é exatamente porque as exportações brasileiras para os seus parceiros do Mercosul caíram drast icamente este ano em razão da crise argentina que o Brasil se vê compelido a aumentar a sua presença em outros mercados. A redução da corrente de comércio no Cone Sul, que, temos a certeza, é passageira, pode ter dado mais urgência à busca de novos mercados, mas, de qualquer forma, esse esforço global é imprescindível para que o Brasil possa se fortalecer como nação exportadora, passando a manter uma posição superavitária consistente na conta de comércio.

O potencial ainda a explorar dos mercados asiáticos é enorme, e o governo brasileiro tem estreitado os contatos com o Japão e aproveitado oportunidades que surgem com a admissão da China na Organização Mundial de Comércio (OMC). Sem perder de vista este e outros mercados, parece-nos que é hora de dar mais destaque, no quadro de nossa política de comércio exterior, à África ao sul do Saara.

Ainda há pouco, o Brasil recebeu uma visita de uma missão comercial da África do Sul, ocasião em que foram levantadas possibilidades de negócios que permitiriam duplicar as exportações brasileiras para aquele país, elevando-as a US$ 800 milhões por ano. As vendas brasileiras para o mercado sul-africano cresceram 40% nos últimos doze meses, e é perfeitamente viável que o comércio bilateral, hoje em torno de US$ 700 milhões por ano, possa chegar a US$ 2 bilhões até 2005.

O que era impossível durante o regime do "apartheid", tornou-se lógico com a democratização da África do Sul. Os países do Mercosul, de um lado, e a África do Sul, de outro, são os pólos mais desenvolvidos do Atlântico Sul. É natural, portanto, que intensifiquem o seu relacionamento econômico, e foi do governo de Johannesburgo que partiu a sugestão de uma rodada de negociações com vistas a um acordo de preferências tarifárias, que seria o primeiro passo para a criação de uma área de livre comércio. A proposta está em avaliação e o tema certamente estará na pauta da visita que o presidente Fernando Henrique Cardoso fará à África do Sul em novembro.
Essas gestões não podem deixar de ter conexão com uma aproximação maior com Angola, país de língua portuguesa, cuja economia esteve intimamente ligada à do Brasil durante três séculos. Cessado, porém, o tráfico de escravos, as ligações com Angola tornaram-se mais afetivas e culturais, passando a ter um sentido econômico apenas nos anos mais recentes. Nos últimos 12 meses terminados em maio, o Brasil exportou US$ 151,8 milhões para Angola e importou daquele país US$ 127,2 milhões, ficando com um saldo de US$ 24,6 milhões. Terminada a guerra civil que ensangüenttou Angola, há todas as condições para que o comércio bilateral possa deslanchar com aquele país rico em petróleo e outras riquezas naturais.

O Brasil tem relações históricas também muito fortes com a Nigéria, que é atualmente um de seus maiores fornecedores de petróleo. Nos últimos 12 meses findos em maio, o Brasil importou daquele país nada menos que US$ 1,524 bilhão. Nossas exportações para aquele país da África Ocidental foram de apenas US$ 457,2 milhões no período, o que significa um saldo positivo de US$ 1,067 bilhão a favor da Nigéria.

O que não se compreende é que, tendo um déficit tão alto com a Nigéria, o Brasil não aproveite as circunstâncias para vender produtos industrializados para aquele país. Alega-se que a instabilidade política da Nigéria impede a realização de um maior volume de negócios. Mas convém observar que essa instabilidade não é obstáculo para que a indústria petrolífera nigeriana tenha o Brasil como um de seus principais clientes.

Não podemos deixar de mencionar aqui o potencial que a África Negra oferece para as exportações de serviços. Aquela região é uma das mais carentes de infra-estrutura do mundo e tem necessidade de usinas hidrelétricas, estradas, portos mais bem equipados, obras de saneamento, etc. para que possa se desenvolver. Alguns grandes projetos têm sido realizados em países africanos, freqüentemente com financiamentos de instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial (BIRD).

É certo que, antes de mais nada, os países africanos precisam desenvolver projetos para se credenciarem à obtenção de financiamentos. Parece-nos, portanto, que um trabalho de aproximação com a África, além dos aspectos comerciais, deveria levar a uma maior colaboração técnica por parte de empresas brasileiras, participação essa que poderia estender-se ao desenvolvimento da agricultura em condições tropicais.


Topo da página



07/09/2002


Artigos Relacionados


TV Brasil superou temor de falta de isenção, disse diretora-presidente

Premier finlandês fala do temor europeu de que o Brasil devaste floresta para produzir biocombustível

Ideli pede que "clima de otimismo" da sociedade contagie oposição

Para Raupp, decreto que vai bloquear verbas orçamentárias não inspira temor

Brasil recebe ministros da America Latina e do Caribe

Brasil lidera recuperação da crise na América Latina