Transp. Metropolitanos: Estação da Luz chega aos 105 anos revivendo um passado de glórias
Dois projetos garantiram a restauração do monumento considerado um marco na história da cidade
Dois projetos garantiram a restauração do monumento considerado um marco na história da cidade
Aos poucos, as marcas do tempo cederam lugar à beleza das características originais num dos principais monumentos da cidade de São Paulo, cuja história integra e explica a trajetória da própria metrópole. Iniciadas em 2001, as obras de reforma e restauração da Estação da Luz estão quase prontas e ela chega totalmente renovada aos 105 anos neste 1º de março.
As intervenções na estação fazem parte do projeto Integração Centro, desenvolvido desde 2001 pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos-CPTM para facilitar a ligação das regiões leste e oeste da cidade pelos trilhos. Financiada pelo governo do Estado e pelo Banco Mundial (BIRD), a iniciativa permitiu a ligação do sistema ferroviário com o de Metrô e a utilização de ambos ao custo de uma só passagem. Também promoveu a restauração da área utilizada pela companhia no prédio histórico, por onde, atualmente, transitam 220 mil passageiros por dia.
A conclusão de todo o projeto está prevista para abril deste ano, porém o novo sistema já está em pleno funcionamento. Foram investidos US$ 96 milhões no total das obras, sendo cerca de US$ 58 milhões destinados à Luz. Também foram realizadas intervenções na Estação Brás.
Mais de uma centena de profissionais participaram dos trabalhos, monitorados pelos três órgãos de responsáveis pela proteção do patrimônio paulista: o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico-Conpresp, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Artístico-Condephaat e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, do Ministério da Cultura. Desde 1976, o edifício é tombado e, em 1995, passou a fazer parte do patrimônio histórico nacional.
A parte de cima do prédio, onde no início do século 20 funcionavam os escritórios da companhia férrea e, posteriormente, os da CPTM e da Rede Ferroviária Federal, também está na fase final do processo de restauração e recuperação, patrocinado pela Fundação Roberto Marinho, que no dia 20 de março entrega o Museu da Língua Portuguesa funcionado no local.
O resgate da fachada foi concluído em 2004. Foram recuperadas as esquadrias, os torreões (além da torre do relógio, as pequenas torres do edifício), mantidas todas as características da construção da época em que foi realizada.
As obras de adaptação interna do edifício para o Museu, comandadas pelo arquiteto paulista Paulo Mendes da Rocha, e seu filho, Pedro Mendes da Rocha, foram aprovadas pelos órgãos de preservação e dividem-se em áreas nas quais os elementos originais foram mantidos e restaurados, devido ao seu valor histórico e artístico, e outras que, por não conterem características especiais, passaram por reformulações.
O legado do café
Tamanho cuidado se justifica. Construída entre 1895 e 1901, numa área de 7.520 metros quadrados no Jardim da Luz, a estação centenária é considerada por especialistas um dos exemplos mais significativos da arquitetura em ferro no País. Além disso, representa o glamour que marcou o início do século 20, promovido pela abertura da cidade ao mundo, que ela própria desencadeou. Empresários, intelectuais, políticos, diplomatas e reis chegavam por ela a São Paulo e eram recepcionados em seu imenso salão. É, ainda, um marco histórico do apogeu da cultura cafeeira. Foi a necessidade de escoar a produção de café, em crescente expansão no interior do Estado, para o porto de Santos que levou à construção do imponente prédio. Pode-se notar referências ao produto em vários detalhes da estação: há enfeites de fruto do café nas grades de ferro da escadaria do saguão central e de suas folhagens no alto das pilastras. Mas o prédio, patrimônio histórico e cultural, não foi o primeiro construído para a estação ferroviária. Ela foi criada num prédio acanhado na rua Mauá (depois demolido), em fevereiro de 1987.
São Paulo Railway
A história da criação de uma ferrovia para levar o café para Santos começou um pouco antes, em 1860, quando o empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, fundou na Inglaterra a The São Paulo Railway Company para construí-la.
A empresa, que numa bem articulada manobra dos sócios britânicos tirou Mauá (o principal financiador) do negócio, inaugurou a ferrovia e a primeira estação, com o nome de São Paulo Railway, ou popularmente Ingleza. São da mesma época as estações Rio Grande da Serra e Santo André, até hoje em atividade (linha D da CPTM), e que no último dia 18 completaram 139 anos de existência.
Em 1985, como a pequena estação de São Paulo já não atendia ao aumento no movimento da linha, a empresa começou a construção do monumental edifício, inaugurado seis anos depois, já com o nome de Estação da Luz.
A autoria do projeto, baseado numa estação ferroviária australiana, não havia sido determinado até o início dos anos 90, quando pesquisas realizadas reuniram indícios que apontam o arquiteto inglês Charles Henry Driver como o responsável por ela. Provavelmente, pelas demais estações da SP Railway também.
A maior parte dos componentes para a grande obra também veio da Inglaterra, por navio: tijolos, madeiramento, vidros, parafusos e a peças e estruturas em ferro. Nascia a porta de entrada da cidade e seu marco referencial.Glamour e fogo – No livro Cem Anos Luz (Dialeto Latin American Documentary), os autores Maria Inês Dias Mazzolo e Rubens Soukef Junior relatam sobre as personalidades públicas que chegavam a São Paulo pela Estação da Luz e eram recepcionadas em grande estilo no seu saguão: em 1909, o escritor francês Anatole France; em 1919, o jurista Rui Barbosa, em campanha para a Presidência da República; em 1922, o rei Alberto, da Bélgica, e em 1924, o escritor suíço Blaise Cendrars. Também passaram por ela milhares de imigrantes vindos da Europa e da Ásia para recomeçar a vida durante duas guerras mundiais, enquanto outros partiam para pegar em armas.
Esse ritmo foi abalado por um incêndio em 1946. Como naquele ano vencia o prazo de concessão da linha à São Paulo Railway, houve suspeitas de que se tratou de um ato criminoso.
O fogo destruiu, a partir da torre, toda a estrutura de alvenaria da ala leste da estação. As plataformas e a parte oeste do prédio não foram atingidas.
As obras de reconstrução iniciaram-se em 1947 e resultaram em várias modificações. A principal foi o acréscimo de um andar, que recebeu o mesmo desenho da fachada primitiva. A Estação ficou pronta em 1951.
A partir dessa data, os trens de longo percurso foram progressivamente substituídos pelos trens de subúrbio, transformando a Luz no grande terminal metropolitano que é hoje. Sempre em atividade
03/01/2006
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