Trechos da entrevista coletiva do governador Mário Covas, após visita ao Infocentro do Jd. São Luís,



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Sobre o programa Infocentro Repórter: Governador, trazer a informática para a população de baixa renda é uma maneira de se acabar com a chamada exclusão digital? Covas: É, essa é uma das piores exclusões, não é? Cada vez mais o conhecimento vai ser importante, a informação vai ser importante. Hoje a informação é digital, ou seja, é via informática. De forma que se distanciaria, ainda mais, se tivéssemos uma faixa da população dominando a informação e outra sem qualquer controle. Ainda existem dificuldades hoje, porque para a população mais carente, comprar um jornal é uma dificuldade insanável. Se é para ir comprar jornal eles compram comida. Portanto, tem muito pouca informação ainda nessa parcela da população. Acho que é muito importante criar possibilidades coletivas de conhecimento. Daí para frente é o próprio povo que constrói, é ele mesmo que avança, ele mesmo que se interessa, até porque, ou ele se interessa, ou fica de fora disso. O que a gente tem de fazer é criar as condições. É importante notar que, quando a gente cria esse tipo de condição - que vai ser usado pela própria população, não é uma iniciativa do Governo no sentido de que ele vai gerenciar etc – a participação das empresas é muito grande, tendo uma oportunidade de fazer, eles participam. Repórter: Governador, o secretário Angarita disse que, para o próximo ano, o Infocentro vai para o Interior, mas quem vai escolher os municípios será o senhor. Qual vai ser o critério de escolha? Covas: Não tenho a menor idéia. Só hoje fiquei sabendo que serão criados mais 60 unidades. Quando vinha para cá é que li no informativo que serão criados 60 na Capital e 60 no Interior. Não sei ainda onde serão localizados. Muito provavelmente vamos atender a quem pede primeiro, aqui mesmo uma porção de entidades vieram se inscrever, porque, se não houver interesse da entidade, não adianta. Acaba-se perdendo o que se está fazendo. Repórter: O senhor falou da sua filha e do seu neto, o senhor também é um internauta ativo? Covas: Não. Minha filha que é, meu neto também, mas eu sou um astronauta. Repórter: Qual foi o investimento neste programa? Covas: Para fazer esses 120 Infocentros, o valor previsto é de R$ 12 milhões em dois anos, dos quais R$ 7 milhões em 2001. Cada unidade terá um custo médio de R$ 50 mil. Repórter: Qual é a parte do Governo? Com o que o Governo entra nesse programa? Covas: O Governo entra com equipamento, com professores se for necessário, entra com a sustentação do processo, com a manutenção do processo. Mas tem muita gente que ajuda. A Telefonica, por exemplo, faz todo acessamento rápido, que é uma novidade que há algum tempo atrás inauguramos nas escolas e que agora está sendo estendido aqui. Entidades como a Microsoft ajudam muito. Organizações, como as ONGs, cujo objetivo é isso, vai recolher computadores mais antigos e dar esses equipamentos. Mas, a instalação de cada um deles custará cerca de R$ 50 mil. Violência de SP e do Rio Repórter: Governador, o senhor está num dos bairros mais violentos da cidade. O governador Garotinho disse que São Paulo é muito mais violento que o Rio. O que o senhor tem a falar? Covas: Eu não tenho nada a falar. Eu só falo com maior de idade. Programa Infocentro Repórter: Governador, justamente por estarmos num dos bairros mais carentes da cidade, o senhor fez questão de falar em seu discurso que todo mundo é igual e as pessoas gostaram de ouvir ... Covas: Todo mundo nasce igual. Depois, socialmente, vão se diferenciando, porque nem todo mundo nasce em berço igual. O que a gente tem de criar, como Governo, são condições para tentar aproximar as pessoas. Ou seja, tentar igualar o nível de oportunidades. Hoje, mais do que nunca, a velocidade dessa coisa é extraordinariamente grande, ela caminha muito rápido. Quem perder o bonde não recupera depois. Então, você manter a população, sobretudo a mais carente, num nível de informação grande, é fundamental para que essa parcela ganhe auto-estima, para que ela ganhe ... Não é só para que ela arrume emprego, para isso também é fundamental. Mas é para que ela tenha auto-estima, para ter auto-respeito, para que essa parcela da população não se julgue inferior, coisa que ela não é. São pessoas que só têm menos conhecimento. Repórter: Cada Infocentro desse vai beneficiar quantas pessoas? O senhor tem idéia? Covas: Olha, depende do lugar, mas eu acho que... Angarita, qual é a estimativa de atendimento no Infocentro? Secretário Antônio Angarita: Esse é um modelo, é um piloto. Provavelmente haverá o dobro disso em cada posto. Mas as 120 unidades juntas deverão atender aproximadamente 3,5 milhões por ano. Pedro Simon como candidato Repórter: Governador, o senhor esperava a candidatura do senador Pedro Simon à Presidência da República? Como o senhor vê isso? Covas: Eu tenho muito respeito pelo Pedro e, sobretudo, muita amizade pessoal com ele. Eu convivi com ele ainda quando era deputado federal e o Pedro era o líder da bancada estadual do MDB. Logo na origem do MDB eu fui o líder da bancada em 1967 e eu fiz uma reunião com os líderes estaduais e quem veio do Rio Grande do Sul foi o Pedro Simon. Quando ele se elegeu senador etc - falando da vida, nós tivemos um longo período de convivência – eu tenho muita admiração pela inteligência dele. Senti muito quando nós formamos o PSDB e não pudemos contar com ele, que estava na época no Governo do Rio Grande do Sul e permaneceu no PMDB. De forma que eu acho que ele vai dar uma contribuição muito boa para o debate nacional. É uma figura ... gosto muito do Pedro Simon, muito mesmo. Repórter: Não foi muito precipitado o lançamento dessa candidatura dele? Não acaba com a idéia da base governista de lançar um candidato só, governador? Covas: Das perguntas que vocês me fazem, oito têm a ver com candidatura. Aí, quando sai uma, vocês perguntam: “mas não está muito precipitada?” Repórter: Mas não acaba com a idéia governista de se lançar um candidato só, já que o PMDB saiu na frente? Covas: Isso não vai acontecer nunca, gente. Vocês acham que, numa eleição com dois turnos, vamos ter poucas candidaturas? Vai ter é muitas candidaturas, muitas. Porque cada partido vai querer lançar candidato, pode ser que um ou outro faça uma aliança. Mas, o mais lógico, é que cada um queira lançar seu próprio candidato e as coisas ficam remanescendo para o segundo turno. Primeiro turno cada um vai lançar o seu, é muito difícil isso não acontecer. Não tem nenhuma, nem à direita, nem no centro, nem à esquerda, nem fora de qualquer lugar. Vai ser muito difícil, no primeiro turno, haver alianças mais explícitas. Pagamento de Precatórios Repórter: Governador, o senhor está pronto para ir à Brasília depor no STJ, no caso dos precatórios? Covas: Isso foi um precatório... foi uma informação que, me parece, não foi muito prestada com a devida urgência. Mas aqui em São Paulo quando houve uma decisão do tribunal – por terem pago alguma coisa fora do normal, que nós tivemos inclusive, que pagar os que estavam na frente, fomos sequestrados com relação a isso. O procurador está sendo processado por conta disso. Mas não tenho nenhum problema, não. Aliás, não tenho problema de depor sobre nada. Repórter: Governador, um dos advogados que estão movendo essa ação, o deputado estadual Pascoal Tomeu, foi beneficiado fora dessa ordem cronológica de pagamento ... Covas: Nós não pagamos fora da ordem, até porque você tem que pagar para o Tribunal. Eu não pago para o credor e sim para o Tribunal. O Tribunal é que paga para o credor. Agora, você tem pagamentos na Justiça Trabalhista, têm pagamentos alimentares, não-alimentares. De forma que, eventualmente, você pode ter uma confusão qualquer de boa ou até de má fé. Ou melhor dizendo, de má fé ou até de boa fé, e essa coisa acontece. Não foi uma única vez, aconteceu pelo menos duas vezes no meu Governo e, nas duas vezes, o Tribunal mandou pagar primeiro quem estava no meio, mandou sequestrar quem estava no meio. E acho que com razão, não tem que pagar fora da ordem não. Tanto não tem que nós estamos processando o advogado internamente, administrativamente. Leilão do Banespa Repórter: O que o senhor achou da ação do ex-governador Quércia pedindo a suspensão do leilão do Banespa? Covas: Olha, eu achava melhor não ter feito os empréstimos que fez. Não precisava suspender nada hoje, o Banespa estaria na mão do Estado, não estaria discutindo se vai ter ou não plebiscito. Plebiscito que eu não sei quem vai obedecer! Porque não adianta fazer plebiscito dizendo para o Estado não fazer ... o Estado não é mais dono do Banespa! Olha, se há alguém que brigou muito para o Estado ficar com o Banespa, fui eu. E com toda imprensa contra mim e com o PT contra mim, também. Porque, na Assembléia Legislativa, o PT votou contra o acordo que eu tentei fazer. Mas, infelizmente... E o maior causador disso foi o Quércia. Ele fez dois empréstimos de US$ 640 milhões, entre o primeiro e o segundo turno da eleição do Fleury, e isso foi o começo do acúmulo que se transformou numa imensa onda de dívidas que ficaram pendentes no Banespa. Agora, o que está acontecendo hoje, é um processo que vai prejudicar muito o leilão, vai diminuir muito o valor do banco. Repórter: Governador, como fica o pagamento do funcionalismo com a privatização do Banespa? Por seis meses continua no Banespa e depois, o Governo vai passar para a Nossa Caixa? Covas: Não, é mais do que seis meses. Não sei como é que o Governo Federal vai fazer, o nosso compromisso quando o banco passou para a União é maior que esse, por cinco anos eu acho, não era? É isso, por cinco anos. Pesquisa do Datafolha Repórter; Governador, numa pesquisa do Datafolha de aprovação de governo, o senhor subiu 7 pontos. A que o senhor atribui isso? Covas: Eu não gosto de analisar pesquisas. Pesquisa é para a gente ler e ficar calado e, se achar que não é bom, trabalhar para mudar as coisas. Eu não gostaria de aumentar 7, gostaria de aumentar 70. Mas não dá para ser, a gente vai trabalhando. Pesquisa é uma coisa interessante para a gente tomar conhecimento e, se possível, tomar providências. Não acho que... eu admito que todas as pesquisas são feitas de boa fé, como elas vêm cercadas de uma margem de erro, admitem uma enorme possibilidade de erro e acerto. Se você fala que tem 3% de margem de erro, só aí se tem 6% de margem de diferença. Então, mesmo de boa fé, pode acontecer uma diferença grande. Chuvas/Enchentes Repórter: Governador, nós estamos às vésperas do verão, com as supostas chuvas e enchentes. Esse ano, ao que se vê, o prefeito Celso Pitta fez muito menos do que deveria à respeito de bueiros e córregos. O senhor vai ter que ajudar mais e mais a população? Covas: Mas a gente tem uma ação fundamental aqui em São Paulo, nós fazemos as obras intermunicipais e até ajudamos as municipais também. Acabamos de fazer um piscinão para o Pirajussara, fizemos um outro no Embu. No ABC nós fizemos sete e estamos iniciando mais seis. Tudo isso contribui para uma única fonte, que é o Rio Tietê. E estamos fazendo uma obra gigantesca, que é a do Rio Tietê. Essa obra, em dezembro, termina sua última etapa do trecho do Cebolão até a Barragem Edgar de Souza. Em janeiro estará na rua a concorrência para o outro trecho, que finalmente nós conseguimos, com o mesmo dinheiro. Nós fizemos um empréstimo japonês, fizemos toda primeira parte e conseguimos uma coisa que os japoneses nunca tinham feito: autorizar que a diferença não gasta fosse usada para a segunda parte. A segunda parte deve custar R$ 500 milhões, é o trecho que vai do Cebolão até a barragem da Penha. Repórter: O déficit doméstico, nessa questão de limpeza pública, vai acarretar... Covas: Tudo contribui para isso, não é? A gente tem uma série de fatores, alguns com incidência mais dramática, outros menores. Por exemplo, cada loteamento novo que se faz na cidade, resulta com que terras cheguem mais rápido no rio. Portanto, assoreia o rio. Ou se pavimentar, faz com que a água chegue mais rápido no rio. Cada chuva que cai... toda sujeira que tem em qualquer lugar – e olha que a cidade está suja! Outro dia eu estava com um grupo de deputados federais na inauguração do trem alemão e olha, nós viemos da Vila Madalena até a Rebouças e deu pena de passar por ali, é mato, papel para todo lado. Cada chuva dessa leva isso para.. leva isso tanto por intermédio das bocas de lobo, que a partir daí entopem, quanto leva isso diretamente para o rio. Há vários cuidados que se tem de tomar... o melhor exemplo disso eu conheci na Prefeitura. Na época, tínhamos um lugar de enchente muito grande, que era o Córrego Itaquera. E esse córrego, inicialmente há 50 anos, era um filete d´água. Hoje, só lá da Cidade Tiradentes, ele traz 1 metro cúbico por segundo de esgoto. Então essa coisa ... Aqui o sistema todo de saneamento começou pelas estações de tratamento, para depois fazer as ligações. Então, as mesmas três estações de tratamento que inauguramos: Novo Mundo, ABC e São Miguel, estão hoje operando com a metade das suas capacidades, porque não têm as ligações, as coletas. Portanto, estamos fazendo menos do que podíamos fazer em matéria de saneamento. Tudo isso contribui de forma dramática para se ter problemas de enchente. Mas eu acho que com o aprofundamento da calha do Tietê – e esta é uma providência, inclusive, para não se fazer todo transporte de caminhão. Transporte que, no projeto, vai ser feito 70% por meio de barcaça. O custo da barcaça é 15% do preço do caminhão. Então, isso vai permitir que se faça esse trecho também com esse dinheiro. Mas nós não teremos pronto nesse ano. Em janeiro faremos a concorrência, devemos começar em maio. De forma que, ao contrário do que eu esperava, no final de 2001 não teremos aberto todo trecho. Licença Repórter: O senhor já tem idéia se vai se licenciar? Covas: Eu? De jeito n

11/16/2000


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