Trechos da entrevista do governador Mário Covas após inauguração de mais uma escola na Capital



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Seguem trechos da entrevista do governador Mário Covas após inauguração de mais uma escola na Capital Pergunta: Governador, esta história que a voz do Nicolau não está sendo reconhecida por ele, a família também não reconhece a voz nas ligações telefônicas, os procuradores da República também desconfiam que houve uma montagem, o senhor acha que tudo isso enfraquece as denúncias? Covas: Olha eu não sei, eu não sou da família do Nicolau, não conheço a voz dele, nunca tive o privilégio de conversar com ele, de ouvi-lo. Pelo menos não me lembro de ter tido, não sei nem se cruzar com ele na rua sei quem é o Nicolau. De forma que não conheço a voz dele, não sei se tem a voz, se não tem. A história me pareceu interessante porque de repente caíram em cima do presidente. Você vai ver como vai amansar agora, quando descobriram que o PT assinou a emenda, muito depois do presidente ter mandado a solicitação da coisa. Que chato? Puxa vida! E foi defendido pelo Delfim, foi defendido pelo Marquezzelli e não se fala no jornal do Robson Tuma. E não se fala no jornal, mas está na ata, do Greenhalgh. Que coisa extraordinária! Pergunta: O senhor critica o fato do PT não ler o que assina, e o presidente também não ler? Covas: Não. É que eu não vi ninguém criticar o PT por não ler. Vi criticarem o presidente. Ontem quando você falava comigo, você dizia “o presidente nem leu, como é que ele fez uma coisa destas, mandou para a Assembléia, mandou para a Câmara Federal”. Você sabe como é o processo para fazer isso? Eu vou te ler como é a lei - O Supremo Tribunal Federal em 89, interpretando normas condicionais referentes a autonomia administrativa e financeira do Poder Judiciário, à elaboração de sua proposta orçamentária, a iniciativa de projeto de lei orçamentário decidiu: a) As propostas orçamentárias dos tribunais, à que alude artigo nº 99, parágrafo 2º, item 1 da Constituição, deve ser elaborada dentro dos limites da Lei de Diretrizes Orçamentárias, com a aprovação dos respectivos tribunais; b) O presidente de cada tribunal encaminhará proposta orçamentária respectiva após aprovada ao presidente da República, para ser integrada nos mesmos termos da sua formulação, ao projeto de lei orçamentária que o chefe do Poder Executivo enviará ao Congresso Nacional. Em 30 de maio de 95, o Ministro José Costa e Silva, do Tribunal Superior do Trabalho, acolhendo solicitação do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, encaminhou pedido de abertura de crédito suplementar no valor de R$ 11 milhões, ao Ministério do Planejamento. Através de disposição de motivos este pleito é remetido ao Congresso, que o aprova em 7 de dezembro de 95. Por conta disso, o pobre do ministro, você ontem estava querendo o pescoço dele. Estava perguntando porque que não põe na rua o cara, que manda uma coisa destas para o presidente? Pergunta: O senhor não acha que deve haver uma investigação? Covas: Olha isso é uma investigação. Eu acho que deve haver uma investigação sim, mas alguma das coisas a gente já sabe. Já sabe que os deputados que assinaram o pedido, assinaram depois do Tribunal ter dito que era irregular, foi depois. E entre os signatários algumas figuras mais ilustres, outras menos, uma até candidata a prefeitura de São Paulo. Só que isso eu não vi em lugar nenhum. Eu só vi chamarem a atenção do presidente da República, porque afinal ele devia ler as coisas, ele não leu as coisas. E de repente eu abro o jornal e leio uma declaração da candidata que ela não leu o que assinou. Que coisa impressionante! Pergunta: Independentemente da candidata, ou que seja, da deputada na época não ter lido, o presidente de qualquer forma não deveria ler aquilo que assina? Covas: O presidente fez o que a lei determinava a ele que fizesse. Mais do que isso, ele fez isso antes do Tribunal declarar que a obra era super faturada. A emenda da Câmara é que foi aprovada depois. Pergunta: Então o senhor acha que não há o que investigar? Covas: Há, pode investigar a vontade. Eu sou a favor de qualquer investigação, principalmente no meu governo. O meu governo está aberto para qualquer investigação, para qualquer uma. As vezes te violenta certas situações, você elimina a presença de deputados na votação, etc. Mas meu governo está aberto, porque eu tenho interesse nisso. O que houver de errado no meu governo quem descobrir é só falar que a gente conserta. Agora, o duro é a gente meter o pau nos outros e não olhar para o próprio chapéu, isso que é complicado. Pergunta: O senhor acha que é isso que o PT está fazendo? Covas: Está fazendo não. O PT fez isso a vida inteira, não está fazendo agora. Olha, vou te mostrar uma coisa interessante que você não viu ainda. Por curiosidade porque eu gosto muito do Lula, tanto gosto que o apoiei numa campanha para presidente. Eu gosto tanto dele que as coisas que ele fala eu procuro separar, porque eu o acho um cara de um bom senso danado. Então eu abri a “Folha de S.Paulo”, outro dia, estava escrito no dia 27 de junho, numa terça-feira: “Lula critica postura dos professores que fizeram greve”. Eu disse, meu Deus ele está contra o Zé Dirceu. Aí eu fui ler a notícia: “O líder petista Luís Inácio Lula da Silva, criticou ontem em Belo Horizonte, a atitude de professores estaduais que fizeram greve no Estado de Minas e no Rio Grande do Sul. Dizendo que eles tratam sem nenhuma diferenciação governos de oposição e governos ligados ao Palácio do Planalto. Tanto na greve do Sul quanto na de Minas, embora os professores sejam amigos nossos – dele e de todo mundo, quem é que é inimigo de professor? Ninguém – ou militantes ou próximos, não fizeram nenhuma diferenciação entre os governadores Itamar Franco, Olívio Dutra, Mário Covas ou Esperidião Amim, afirmou Lula”. Quer dizer greve, como o Lula fez greve numa época em que a gente fazia greve contra o regime. Hoje a gente não faz greve contra o regime, porque o regime é democrático. Hoje a gente faz greve por reivindicação salarial, mas não é para fazer por reivindicação salarial, esta reivindicação em Minas e no Rio Grande do Sul não vale nada. Vai fazer greve aqui em São Paulo. E o que importa não é a reivindicação salarial, o que importa é a greve ser contra os que são do governo, ou contra os que são contra o governo. Eu gosto muito do Lula, tenho maior apreço pelas coisas que ele passa, eu fiquei surpreso de ler uma coisa deste tipo. Então quando você me pergunta se isso que o PT está fazendo, é isso que o PT fez a vida inteira. Porque quando chegaram na porta lá do meu palácio, do meu não, do de vocês, mas onde eu sou obrigado a morar, o que o Zé Dirceu falou em cima do palanque foi que os tucanos tinham que apanhar, nas urnas e nas ruas. Então quando você me vê levar uma cacetada ali tem 10% do Zé Dirceu. Pergunta: Governador, sobre o dinheiro desviado do TRT, o senhor não acha que está faltando mais empenho do próprio governo, da Polícia Federal. Afinal o juiz Nicolau dos Santos Neto continua foragido, mas ele recebe pensão, recebe salário como juiz. Covas: Como a senhora sabe, recebe aonde no banco? Pergunta: Recebe pelo Banco do Brasil e até agora a Polícia Federal não tem nem pista de onde ele está. O senhor não acha que está faltando mais empenho? Covas: Você acha que o banco do Brasil informa onde ele está? O fato de ele receber salário pelo banco do Brasil não dá nenhuma indicação de onde ele esteja. Não sei se estão procurando bem ou não, ele não é meu problema. Acho que por mim ele já estaria preso a bastante tempo. Pergunta: O senhor tem algum conselho para a Polícia Federal? Covas: Não, não. Conselho a gente não dá. Conselho se fosse uma coisa boa a gente vendia. Pergunta: Governador, então por onde o senhor acha que deve começar a investigação das obras super faturadas, de possíveis ligações? Covas: Mas, escuta não foi isso que fez a CPI? Você ainda lembra como é que isso tudo começou? Isso tudo começou porque o Antônio Carlos Magalhães tendo em vista o fato de que o PMDB fez uma CPI a respeito do Banco Central, resolveu fazer uma contra o Poder Judiciário. E disso aí nasceu este problema. Pergunta: Então a investigação já foi feita? Covas: Na CPI foi. Pergunta: Resta mais alguma coisa, na opinião do senhor? Covas: Eu sei lá se resta. Tanto foi feita que um senador perdeu o mandato por conta disso. Todo mundo acusou o presidente do Tribunal. Agora, o que se quer dizer é que um cidadão que trabalhava com o governo, recebeu telefonema dele, e esse cidadão diz que recebeu este telefonema por conta de saber de juízes que iam ser nomeados ou não. O que é, sem dúvida nenhuma, uma coisa sem pé nem cabeça. É um absurdo ele dizer uma coisa destas, e se fez uma coisa destas. Não tem nada que perguntar se o juiz que vai ser nomeado é a favor ou contra o governo, juiz tem que ser juiz. Agora, por conta disso imediatamente esqueceram o Lalau, que não é a primeira figura na imprensa hoje. Ele já é a quinta, tem quatro na frente dele, daqui a pouco ele está esquecido lá atrás, porque vão desencadeando coisas e vão transferindo para as costas do governo. Que é o que o PT fez a vida inteira, e é o que ele continua fazendo. Aliás não é só lá, aqui ele faz a mesma coisa, ajudado por alguns. Por exemplo, o jornal do Quércia, telefonou para a delegacia aqui ou diz que telefonou para a delegacia não, para as escolas da região, perguntando se ia ter aula complementar. Não diz com quem falou, não diz sobre o que falou, diz simplesmente que não está havendo aula complementar e que configurou isso telefonando para cá. Porque as coisas se passam neste nível, basta que eu diga que telefonei e ponto final, aí eu me escondo atrás do segredo de fonte, que é uma coisa extraordinária. A vida inteira vocês e eu criticamos o Congresso porque o cidadão que é congressista não pode ser processado sem ordem do Congresso. Pois bem, o jornalista pode falar o que quiser a meu respeito e eu pergunto para ele e ele diz, não posso falar, foi a fonte que me disse, e ponto final. E eu nunca vou saber se era a opinião dele ou de uma fonte, porque essa fonte é etérea, abstrata, ela não é conhecida. Pergunta: O senhor é contra a Lei de Imprensa que permite o sigilo da fonte? Covas: Não sou contra o sigilo da fonte, o que é diferente. Pergunta: Mais está na Lei de Imprensa? Covas: Eu briguei pela Lei de Imprensa, não foi você. Eu que briguei por ela. E olha, eu briguei no tempo da ditadura, você não tinha nem nascido ainda menina. Não tente inverter a coisa. Eu estou dizendo que o direito da fonte que vocês usam, vocês usam indevidamente. Esse direito é a mesma coisa que acontece com o direito a imunidade parlamentar, que é uma coisa que poderia prevalecer sobre o discurso e mais nada, alguém comete um crime é deputado tem que ser processado como outro qualquer. Agora, você não pode dizer que eu sou um ladrão, e aí eu vou perguntar para você, como é que você sabe disso? E aí você diz, não uma fonte me contou e eu não posso dizer qual é a fonte. Como? Como é que pode isso? Ponha-se na posição inversa, suponha que eu seja o jornalista e você seja a pessoa e que eu faça essa acusação de você. E que você não tenha nem como se defender, porque você não sabe qual a procedência da acusação. Agora, você ter o direito de escrever sobre qualquer tema, isso é uma coisa pertinente a uma Lei de Imprensa séria, esse negócio de direito da fonte esconde as vezes o que o próprio jornalista quer escrever. Ele põe a opinião dele e diz que alguém falou aquilo para ele ou se não faz isso pode fazer isso, da mesma maneira que muitos parlamentares cometem atos ilícitos porque sabem que não podem ser processados sem ordem do parlamento. Pergunta: Na opinião do senhor, o que levou o ex-secretário, Eduardo Jorge, a dar entrevista ao jornal “Valor Econômico”? Covas: Provavelmente porque o “Valor Econômico” pediu para ele dar entrevista. Pergunta: Mas dentro deste contexto de repente Covas: Não sei porque ele deu. Alguém o convidou para dar entrevista e ele deu. Pergunta: O senhor acha que tem gente por trás disto? Covas: Do quê? Pergunta: Que incentivou o ex-secretário, Eduardo Jorge a conceder a entrevista? Covas: Não tenho a menor idéia. Eu sei que se o que ele falou tem procedência ele está errado. Telefonar para um juiz para perguntar sobre a nomeação de outro juiz e a nomeação que o juiz teria com o prefeito,

07/15/2000


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