Tumulto após adiamento de votação do projeto que pune discriminação a homossexuais
Uma discussão entre a senadora Marinor Brito (PSOL-PA) e o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) ganhou os corredores do Senado depois do adiamento da votação do projeto que pune a discriminação contra homossexuais. Os dois estão em lados opostos no debate da proposta (PLC 122/06), que constava da pauta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta quinta-feira (12).
Depois do adiamento, Marinor e Bolsonaro acompanhavam uma entrevista da senadora Marta Suplicy (PT-SP), relatora da matéria. Marinor se indignou com a insistência de Bolsonaro, um dos mais ferrenhos críticos do projeto, em se posicionar no enquadramento das câmeras de televisão para dar visibilidade a um panfleto contrário à distribuição em escolas de uma cartilha que se propõe a promover a tolerância a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBTs).
Num gesto brusco, Marinor tentou afastar o panfleto do foco e exigiu que o deputado se retirasse. Também classificou Bolsonaro de "homofóbico" e "assassino de homossexuais". O que se viu depois foi uma discussão acalorada, com o deputado se dizendo impedido de exercer sua liberdade de expressão e chamando a senadora de "heterofóbica". Por sua vez, Marinor questionou a origem do dinheiro para a impressão do panfleto, antecipando que denunciará o deputado pelo uso indevido de recursos públicos.
A cartilha está sendo distribuída pelo governo, como parte das ações do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGTB (Lésbicas, Gay, Bissexuais, Travestis e Transexuais). No panfleto divulgado por Bolsonaro, dirigido aos "chefes de família", há um alerta de que esse plano quer transformar crianças "de 6 a 8 anos em homossexuais". O deputado explicou depois que ainda não pagou a impressão e que fez consulta à Câmara para saber se poderá usar a verba de gabinete para quitar a pendência.
Providências
Após o episódio, Marinor relatou o fato na reunião da CDH e pediu ao presidente da comissão, Paulo Paim (PT-RS), que tome as providências cabíveis. De acordo com a senadora, os manifestantes contrários ao projeto se colocaram de forma desrespeitosa atrás da senadora Marta Suplicy no momento da entrevista. Integrantes de igrejas evangélicas já haviam marcado presença na reunião durante o debate. Muitos usavam um adesivo na boca para divulgar a mensagem de que o projeto restringe a liberdade religiosa.
- Eles estavam ali com o firme propósito de agredir, de desrespeitar - disse Marinor, em relação ao cerco no momento da entrevista.
Para a senadora, os panfletos seriam uma prova de que há um "movimento homofóbico instalado no Congresso". Ela disse que também pedirá apuração sobre seu conteúdo, sobretudo porque o texto compararia os homossexuais aos pedófilos.
De volta à CDH, Marta Suplicy condenou a comparação, segundo ela "totalmente equivocada".
- Homossexualismo não é pedofilia. Pedofilia é uma perversão, está criminalizada e merece cadeia - disse.
De acordo com Marta, fazer esse tipo de associação é um fato criminoso, pois "criminaliza pessoas que não são criminosas". Além disso, observou que a relação vai contra qualquer estudo de sexualidade, matéria à qual disse ter dedicado muitos anos de sua vida.
- Estudei a sexualidade durante anos, como psicóloga e como psicanalista. Não posso ouvir uma coisa dessas e ficar calada - acrescentou.
12/05/2011
Agência Senado
Artigos Relacionados
Tumulto segue adiamento de votação do projeto que pune discriminação a homossexuais
Votação do projeto que pune discriminação de homossexuais é adiada
CDH vota projeto que pune discriminação de homossexuais
Projeto que pune discriminação de homossexuais divide senadores
Comissão discute projeto que pune discriminação de homossexuais
Relatora do projeto que pune discriminação de homossexuais recebe militares gays