Unesp estuda resistência adquirida pelo mosquito da dengue



Pesquisa avalia como ocorre a alteração genética pelo uso de inseticidas

Apesar de ser uma medida importante, o controle da transmissão do dengue por meio de produtos químicos induz a formação de populações do mosquito Aedes aegypti geneticamente resistentes, além das consequências para o meio ambiente. Para a bióloga Maria de Lourdes da Graça Macoris, pesquisadora da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), autarquia vinculada à Secretaria da Saúde, os efeitos adversos dos venenos sinalizam a necessidade de se observar como essa resistência evolui, uma vez que tal característica, por ser genética, é selecionada pelo próprio uso dos inseticidas e tende a se perpetuar nos descendentes.

Com esse intuito a bióloga, que é responsável pelo Laboratório de Entomologia Aplicada da Sucen da região de Marília (SP), realizou uma pesquisa de doutorado intitulada Mecanismos de resistência de Aedes aegypti l. (diptera: culicidae) a inseticidas, defendida em 2011, no Instituto de Biociências (IB), Câmpus de Botucatu. Com a orientação do professor Paulo Eduardo Martins Ribolla, do Departamento de Parasitologia do IB, a pesquisadora investigou os mecanismos de resistência metabólica e avaliou as variações genéticas nas populações dos municípios monitorados pela Sucen.

Segundo Maria de Lourdes, é comum o uso intenso de venenos para diminuir a proliferação do mosquito em regiões que apresentam epidemia do dengue ou que registram intenso fluxo humano em razão de sua importância econômica.
Para avaliar como avança a capacidade de defesa do vetor, desde 1996 são feitas amostragens nas localidades controladas, consideradas sentinelas. Esse trabalho é realizado no âmbito do Programa de Monitoramento da Susceptibilidade de Aedes aegypti aos inseticidas, mantido pela Sucen.

São doze os municípios monitorados, mas para esta tese foram selecionados os de Marilia, Presidente Prudente, Araçatuba, São José do Rio Preto, Campinas, Santos e São Sebastião. Em cada um deles a pesquisadora fez o estudo genético de 95 mosquitos. Em laboratório, ela avaliou as variações nas sequências de DNA, de nove diferentes genes, de partes distintas dos cromossomos do Aedes aegypti. O resultado apontou variação genética nos diferentes conjuntos do mosquito.

Evolução da resistência genética

Embora os mosquitos tenham origens gênicas semelhantes, são baixos os intercâmbios entre as populações de Aedes aegypti analisadas. "Esse fato indica que após o estabelecimento do inseto em determinada região, ele evolui de forma diferente," relata Maria de Lourdes, ressaltando a importância desse conhecimento para determinar as políticas de controle químico.

Entre as sete cidades pesquisadas, Santos e São Sebastião apresentaram perfis distintos, sendo que em Santos os resultados indicam a ocorrência de diferentes origens de Aedes aegypti. Para a pesquisadora, esse fato dificulta uma avaliação mais precisa das ações de monitoramento, dado que a seleção de mosquitos resistentes ocorre em lugares diferentes no espaço geográfico.
Maria de Lourdes avalia que o resultado do doutorado reforça a adequação da estratégia do Programa de Monitoramento em trabalhar com cidades sentinelas. Por outro lado, o estudo também demonstra a necessidade de inclusão das avaliações genéticas na rotina de controle para que, ao longo do tempo, seja possível identificar associações entre manejo, frequência gênica e resistência. "Saber a genealogia das populações por meio da pesquisa genética pode ser um passo importante para estabelecer a evolução da resistência aos produtos químicos," assinala.

"A junção do trabalho público com a pesquisa acadêmica resulta em uma melhor prestação de serviço pela qualificação", destaca. No entanto, ela ressalta a importância do controle dos criadouros do mosquito, uma vez que o uso de inseticida deve ser restrito ao momento em que está ocorrendo a transmissão do vírus, ou seja, na fase adulta do inseto. 

Da Unesp



01/04/2012


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