Único no Brasil, laboratório da USP cuida de problemas de fluência da fala



Serviço é muito procurado e a fila de espera, em alguns casos, retarda atendimento por um ano ou mais

Só a experiência profissional não é suficiente para auxiliar quem tem problemas de fala. São necessários, também, especialização do fonoaudiólogo, exame para cada caso e tratamento apropriado. Estes são o segredo do bom atendimento, com alta rápida e boa avaliação dos pacientes. Assim funciona o Laboratório de Investigação Fonoaudiológica da Fluência da Fala, Motricidade e Funções Orofaciais (LIF-FMFO), que investe no ensino, pesquisa e assistência. “O laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) é o único do gênero no País e tem reconhecimento internacional”, afirma a professora Cláudia Regina Furquim de Andrade, coordenadora do LIF-FMFO. Criado em 1997, recebe 10 mil pessoas por ano. O serviço é tão procurado que a fila de espera, para alguns casos, chega a quase um ano e meio. São três áreas de pesquisa: doenças e distúrbios da fala (fala lenta, rápida ou gagueira), alterações da face (por paralisia, cirurgia de trauma e má-formação da face) e disfagia mecânica (dificuldade de engolir por causa de câncer de cabeça e pescoço, traumatismo craniano e infarto).

Gagueira – Cinco por cento da população mundial tem problema de fluência da fala. No LIF-FMFO, o tratamento para gagueira é bastante procurado. Cláudia diz que muitas vezes a criança gaga chega à unidade “confusa” porque teve orientações anteriores erradas.

Cláudia cita um exemplo. Antes da assistência no laboratório, durante dois anos uma fonoaudióloga orientou um garoto com gagueira a fazer massagens no pé e a mudar a alimentação. “Ela não era nutricionista e mesmo sem conhecimento suspendeu refrigerantes e salgadinhos da sua dieta. Isso mostra que muitos fonoaudiólogos não estão preparados para atendimentos mais sofisticados.

A gagueira é um distúrbio no tempo do processamento da fala. Existe um processo automático no cérebro que permite a emissão da fala, de forma organizada, com um som após o outro. Quando esse automatismo não é bem ajustado, aparece a gagueira. A professora Cláudia diz que apenas 12% dos casos se relacionam a problemas psicológicos.

No LIF-FMFO, o profissional usa um equipamento chamado eletromiografia de superfície, que mede a atividade muscular da face (se o músculo está muito ou pouco contraído).

Na consulta, o paciente vê a contração de seu músculo na tela do aparelho e a especialista incentiva mudanças para melhora da fala. “Esta pista é importante porque, quando observa o que ocorre no seu organismo, a pessoa colabora no tratamento”, avalia a fonoaudióloga Fernanda, assistente de coordenação do laboratório. Após 12 sessões de fonoaudiologia (uma por semana) há vários casos de alta e diminuição dos sintomas de gagueira, informa.

Foto do rosto – Outro ambulatório, o de funções da face, funciona no Hospital das Clínicas e atende traumas faciais causados por acidente, disparo de arma, cirurgia de câncer de cabeça e pescoço, paralisia facial e outros. A paralisia facial normalmente atinge só um lado do rosto. A pessoa não consegue sorrir, nem piscar normalmente. Uma sobrancelha fica mais alta que a outra, os lábios assimétricos e pode haver perda do paladar, redução da salivação e dificuldade em se alimentar. “Ela tem vergonha de se socializar e fala com dificuldade”, avalia Fernanda.

O objetivo do tratamento desse mal é preservar as funções da face e devolver a simetria sem deixar seqüelas. Os profissionais incentivam o doente a realizar exercício para alongar e contrair os músculos. Eles fotografam e filmam o lado bom e o ruim da face e realizam o exame de eletromiografia antes e depois do tratamento para medir as mudanças.

HC usa toxina botulínica para melhorar paralisia facial

Se a pessoa com paralisia facial procurar ajuda fonoaudiológica somente após dois anos do surgimento do problema, o caso pode ser cirúrgico. Médicos do Hospital das Clínicas (HC) fazem transplante de nervo na face – retira-se nervo da perna ou braço para implantar na área comprometida pela paralisia. O procedimento é praticado há mais de 20 anos no Departamento de Cirurgia Plástica do Instituto Central.

Desde o ano passado, além da operação, o doente recebe orientação fonoaudiológica para que o nervo implantado funcione bem. O profissional faz a terapia baseada no exame de eletromiografia, que mostra com precisão o nervo afetado.

“As pessoas desconhecem a eficácia do novo tratamento no Brasil. Por isso, não existe fila de espera”, conta a fonoaudióloga Paula Nunes Toledo, pesquisadora do LIF-FMFO. Ela diz que no final do tratamento (quatro sessões de terapia e duas avaliações fonoaudiológicas) as funções faciais são reabilitadas. O processo inclui aplicação de toxina botulínica, que devolve a simetria facial.

Disfagia – Quando o internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto Central do HC tem dificuldade de engolir alimentos (disfagia), a equipe de saúde solicita apoio de fonoaudiólogos do LIF-FMFO. Ao todo, o instituto dispõe de 123 leitos de UTI.

A disfagia é comum, por exemplo, em quem fez cirurgia de câncer de cabeça e pescoço ou apresenta problemas pelo uso de sondas. O fonoaudiólogo identifica a alteração motora e das funções da face e recomenda posturas terapêuticas de acordo com o caso para corrigir ou amenizar as dificuldades de engolir.

O profissional da voz incentiva a transição de alimentos, ou seja, o doente começa engolindo refeição pastosa até chegar à normal. Em média, após quatro dias de terapias metade dos internados da UTI já se alimenta sem sonda.

Viviane Gomes, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



09/09/2008


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