Universidades comunitárias estão preocupadas com a concorrência da Uergs



“O que o Rio Grande do Sul precisa é de alguém que financie o ensino superior para os alunos carentes”. Com está declaração o reitor da Universidade Regional Integrada (URI), Cléo Joaquim Ortigara, exteriorizou aquela que tem sido uma das principais preocupações das universidades comunitárias, nas audiências que estão sendo promovidas pela Assembléia Legislativa, através do Fórum Democrático, para debater a criação da universidade pública estadual (UERGS). Segundo ele, não existe falta de vagas nas universidades gaúchas, e sim estudantes com condições de pagar por elas. “Somente nas oito universidades comunitárias do Estado existem mais de 60 mil vagas ociosas”, disse Ortigara às mais de 800 pessoas que lotaram o auditório da URI na manhã de hoje(3), em Frederico Westphalen. Dentre as formas de financiamento, sugeriu o aumento da oferta de crédito educativo e de bolsas de estudo. Embora não se declare contrário a criação da Uergs, ele disse que o projeto não define, com clareza, que tipo de parceria o governo do Estado pretende realizar com as universidades comunitárias. “Precisaremos conversar muito sobre isto, pois a relação da universidade estadual não poderá ser concorrencial”, afirmou Ortigara. O reitor da URI enfatizou, ainda, que é preciso que o Executivo estadual deixe de tratar as universidades comunitárias como se elas fossem privadas: “somos uma instituição pública, só que não estatal, cujo patrimônio foi construído pela sociedade, em decorrência da omissão do Estado”. Quanto ao uso do dinheiro público para financiar estudantes carentes, o deputado João Osório (PMDB), disse que apesar de ser a favor da criação da Uergs, não dará seu voto favorável se a relação curso por vaga seja superior ao custo estabelecido por uma universidade comunitária. Também o deputado Vilson Covatti (PPB) salientou o papel desempenhado pelas universidades comunitárias. Para ele, o fato de estar ocupando uma cadeira de deputado na Assembléia Legislativa está diretamente relacionado aos ensinamentos recebidos na URI”. O presidente do Corede do Médio Alto Uruguai, Edemar Girardi, por sua vez, destacou que dos 100 mil universitários que estudam nas universidades comunitárias 10% não têm como pagar seus cursos e outros 10% estão inadimplentes. E faz uma pergunta: “Por que o Governo do Estado não destina os 0,5% de sua receita líquida anual, previstos em lei, para o financiamento dos alunos do ensino comunitário ?” Segundo ele, além de não repassar o que é devido o Estado, nos últimos dois anos, não abriu nenhum novo contrato para crédito educativo. Em resposta a tudo o que ouviu, o representante do Poder Executivo e membro da comissão de implantação da Uergs, professor Francisco Xarão, declarou que é preciso que se compreenda as razões que levaram o Governo do Estado a decidir-se pela criação de uma universidade estadual. “Não se trata apenas de criar mais uma universidade, mas de construir um projeto de desenvolvimento, onde as pessoas possam dele participar e ter acesso ao conhecimento”, afirmou. Segundo ele, isto não significa que as universidades existentes não estejam cumprindo com suas finalidades ou que a Uergs irá fazer concorrência. “É que a Uergs será uma universidade inovadora, que terá como foco os problemas regionais”, disse Xarão. E explica: as universidades hoje são formadas por disciplinas, por determinadas áreas da ciência, enquanto que na nova universidade a proposta é ofertar cursos na medida em que haja definição dos principais problemas regionais”. Quanto a relação custo/aluno, Francisco Xarão afirmou que os números apresentados mostram uma meia verdade. “Enquanto se divulga que a média dos custos nas universidades comunitárias é de R$ 2 a 3 mil por aluno, na Urcamp, por exemplo, se considerarmos os gastos despendidos com o hospital e a folha de pagamento dos aposentados, a proporção sobe para R$ 20 mil, por aluno”, afirmou. Finalmente, sobre o tipo de parceria que o Estado manterá com as universidades existentes, Xarão disse que ela será construída em conjunto e que os resultados se refletirão na elaboração de convênios, criação de novos cursos e investimentos em pesquisa. “Em contrapartida os estabelecimentos de ensino superior permitirão o uso das instalações dos seus campus, espalhados por todo o território gaúcho”, concluiu. Participaram da audiência de Frederico Westphalen, que englobou todos os 30 municípios da região do Médio Alto Uruguai, os deputados, Onyx Lorenzoni (PFL), presidente da Comissão de Educação, João Osório (PMDB), Vilson Covatti (PPB), Iradir Pietroski (PTB), Jussara Cony (PCdoB), Edson Portilho (PT), Dionilso Marcon (PT), Iara Wortmann (PMDB), José Gomes (PT) e Elvino Bohn Gass (PT).

05/03/2001


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