USP discute os desafios para preservar o meio ambiente



Aquecimento global, mudanças climáticas, consumo desenfreado e risco de extinção da espécie são alguns deles

Se nos anos 70, os ambientalistas brasileiros subiam em árvores para se fazer ouvir e a questão da necessidade de preservação do planeta soava surreal aos ouvidos da maioria da população, hoje suas vozes ecoam nos meios de comunicação e chegam ao cidadão. Temas como aquecimento global, mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável e gases que provocam o efeito estufa figuram nas páginas de jornais e revistas e nas telas das televisões, Internet e cinemas. Índice Planeta Vivo e Pegada Ecológica são os mais recentes termos usados para abordar a relação do homem com os ecossistemas que fornecem recursos essenciais à preservação da vida no planeta (alimentos, água, hábitat).

O Índice Planeta Vivo aponta declínio de 30% da biodiversidade mundial, de 1970 a 2005. A Pegada Ecológica constata que o ser humano ultrapassou em 30% a biocapacidade do planeta Terra (leia boxe).  Para os comunicadores, educadores e ambientalistas, presentes no 6º Simpósio Brasileiro de Educomunicação, a questão ambiental é o principal desafio civilizacional já que o uso não sustentável dos recursos naturais coloca em risco a sobrevivência das futuras gerações.

“O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) mostra que estamos diante do maior desafio civilizacional. É tarefa de todos contribuir na preservação do ecossistema”, disse a secretária do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Samira Crespo. Promovido pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) e pelo Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc), o simpósio ocorreu no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, de 28 a 30 de outubro, para debater os desafios que o meio ambiente e sua preservação colocam aos meios de comunicação, instituições públicas e privadas e  organizações sociais.

Preservacionistas – O coordenador geral do evento e do NCE/USP, Ismar de Oliveira Soares, disse: “É preciso reconquistar os brasileiros para o meio ambiente e ter 190 milhões de preservacionistas”. A editora-chefe da Rádio Eldorado, a jornalista Filomena Saleme, lembrou a participação popular no maior abaixo-assinado da América Latina (1,2 milhão de assinaturas) para ajudar a despoluir o Rio Tietê, lançado pela emissora.

Pesquisa da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e da Embaixada Britânica no Brasil comprovou que a mídia cumpre seu papel de informar o público sobre o tema, afirmou o secretário executivo da Andi, Veet Vivarta, a partir de análise do comportamento dos 50 maiores jornais brasileiros (de 2005 a 2007). O estudo mostrou que foi publicado, em média, um texto a cada três dias sobre o assunto em 2005. Em 2007, o número subiu para um texto e meio diariamente. Vivarta criticou a cobertura da imprensa, por ser “muito alarmista e pouco explicativa, aprofundada e propositiva”. A radiografia completa está no site da Andi (ver Serviço).

Coragem para ousar – O diretor de redação da Revista National Geographic, Mathew Shirts, ressaltou que o grande desafio é fisgar o leitor para o grande tema da nossa época. A vice-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, Martha San Juan França, afirma que a competição faz com que as mesmas notícias sejam veiculadas por todos. “A homogeneidade resultante desse modelo está na raiz da crise de credibilidade da imprensa. É preciso ter coragem de ousar”.

Crise sem precedentes – O editor-chefe do programa Cidades e Soluções da Globo News e comentarista da Rádio CBN, o jornalista André Trigueiro se apresenta como cidadão ‘inquieto’ ao falar do risco de extinção da espécie (por conta do aquecimento global, escassez de recursos hídricos, destruição da biodiversidade, crescimento populacional, consumismo) e da imobilização das pessoas.

“Exige-se mais de jornalistas e educadores porque exercem mais influências na sociedade”, disse Trigueiro. Outra tarefa é preparar os profissionais para lidar com os conteúdos ambientais e expor a visão sistêmica da questão porque isso tem importância estratégica.

“Ser, pensar e viver” – “Educação ambiental é para ontem e de forma transversal e interdisciplinar”, assegurou a secretária executiva da Rede Matogrossense de Educação Ambiental. Segundo ela, são necessárias mudanças na forma de “ser, pensar e viver”. Em vez de incentivar o agronegócio (monocultor), investir na agricultura familiar, responsável por “alimentar o mundo”. Consumir de forma consciente e “parar de pensar que todas as outras espécies existem para servir ao homem”, acrescenta.

Educadores – Para o professor de pós-graduação em Ciência Ambiental da USP, Pedro Jacobi, as respostas “às ações predatórias do ser humano empreendidas contra o meio ambiente virão com debate, reflexão e compartilhamento de idéias e engajamento e mobilização da sociedade”. Professora do Departamento de Geografia da USP, Sueli Furlan, diz que é preciso formar profissionais para lidar com repertórios e complexidades envolvidos na temática. “É necessário romper com a cobertura catastrófica, fragmentária, pouco aprofundada e sem visão sistêmica”.

Professor da Eca/USP, Vinícius Romanini, salientou ser imprescindível aliar um modelo que engloba a parte ambiental, econômica e social.

Apoio – O simpósio teve a participação de 45 conferencistas na discussão do tema Meio ambiente, jornalismo e educomunicação, mostras de documentários, atividades artísticas e workshops voltados à produção de documentários para TV e programas de rádio em escolas.

O seminário foi co-patrocinado pelo Canal Futura, International Institute of Journalism and Communication (Genebra, Suíça) e Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. E apoiado pela Radio Eldorado, Revista Viração e Rede CEP – Comunicação, Educação e Participação.

Pegada Ecológica e Índice Planeta Vivo

O Índice Planeta Vivo mede o estado de saúde dos ecossistemas (acompanha 5 mil populações de 1,7 espécies de vertebrados aquáticos e terrestres). Já a Pegada Biológica avalia o quanto a humanidade usa a biosfera (inclui a produção de recursos naturais e a absorção de resíduos/dejetos). Os dois servem de base para o crédito ambiental e são calculados pela ONG WWF e Sociedade Zoológica de Londres, que emitem o relatório bianual, o Living Planet Report.

Para viver atualmente, segundo o relatório, cada ser humano necessita de 2,7 hectares de área biologicamente reprodutiva. Esse número, chamado Pegada Ecológica, inclui área agrícola e de floresta (produção de alimentos, fibras e madeiras), oceanos e rios (pesca) e porção da biosfera (absorção de resíduos). A Pegada do brasileiro é de 2,4 hectares. As maiores pegadas são dos norte-americanos e chineses: juntos usam 21% da biocapacidade planetária. Mas o planeta só é capaz de fornecer 2,1 hectares por pessoa. SERVIÇO

Sites www.mudancasclimaticas.andi.org.br /
www.mundosustentável.com.br
E-mail [email protected]

Claudeci Martins, da Agência Imprensa Oficial

(M.C.)



11/06/2008


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