USP: Vasos sangüíneos dos rins impedem a redução da hipertensão por meio dos exercícios físicos



Pesquisa mostra que esses vasos são responsáveis apenas por uma redução momentânea, e não uma normalização da pressão

Em pessoas hipertensas, os exercícios físicos repetidos têm um efeito benéfico para a redução parcial da pressão arterial, mas não a corrigem completamente. No Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, cientistas que buscaram entender os motivos dessa não-correção identificaram os vilões dessa história: os rins. A biomédica Lisete Compagno Michelini constatou em suas pesquisas que os vasos sangüíneos desses órgãos se contraem durante a atividade física.

A hipertensão resulta da força a mais que o coração emprega para bombear o sangue em arteríolas (pequenos vasos sangüíneos) que, com suas paredes contraídas, apresentam menor espaço para a passagem do sangue. Os exercícios físicos já são utilizados como uma forma de prevenção e tratamento a quadros leves de hipertensão, pois durante sua realização é apresentada uma diminuição da parede das arteríolas dos músculos esqueléticos - utilizados durante os exercícios - aumentando o espaço para a passagem do sangue. Nos testes realizados com ratos verificou-se que nos rins a espessura das paredes dos vasos não foram alteradas, mantendo assim reduzido o canal para a passagem de sangue.

Metodologia

Os animais foram divididos em dois grupos: um geneticamente selecionado para ser ter pressão alta e outro com pressão normal. "Esses animais apresentam um modelo de hipertensão muito parecido com o do homem", lembra Lisete. Cada um dos grupos de cobaias foi dividido entre os sedentários e os submetidos a treinamento físico. "No grupo de hipertensos, somente os que treinaram tiveram redução da pressão arterial. Os com pressão normal não apresentaram alterações."

Durante a análise do comportamento das arteríolas dos ratos hipertensos após o exercício, verificou-se que os vasos sangüíneos dos rins não alteravam a espessura de suas paredes como o ocorrido nos músculos esqueléticos, mantendo assim reduzido o canal para a passagem de sangue.

Lisete explica que, com o corpo em repouso, o rim recebe cerca de 23% do fluxo de sangue, uma taxa elevada, enquanto os músculos esqueléticos recebem cerca de 14%. Com o exercício, os músculos passam a receber cerca de 85% do fluxo, e o rim, que em situações normais recebe mais que o necessário para nutrir suas células, contrai as paredes de suas arteríolas para receber menos sangue, que será necessário nos músculos. "Desse modo, os vasos renais contribuem para manter a pressão elevada", constata a biomédica.

Efeitos do Exercício

O exercício não alterou os vasos de ratos sem hipertensão e mostrou efeitos benéficos em vasos da musculatura de hipertensos, mas não em outros vasos, como nos dos rins. "Por isso a pressão dos hipertensos pode ser reduzida, mas não corrigida" explica a biomédica.

Lisete ressalta que os exercícios empregados foram os aeróbios (como caminhadas) de baixa intensidade e de baixo impacto. A pesquisadora concluiu que o treinamento corrigiu apenas o que estava errado na hipertensão, sem alterar a pressão dos ratos saudáveis. "O exercício é um contraponto à inatividade, que é muito ruim para o nossa saúde. É uma prevenção, que contrabalança a falta de atividade física regular que caracteriza a vida moderna", recomenda.

Juliana Cardilli


05/12/2006


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