Vieira será relator da subcomissão que investiga Pangea









Vieira será relator da subcomissão que investiga Pangea
Nova investigação resulta de depoimentos de agente de viagens

O deputado estadual Vieira da Cunha (PDT) será o relator da subcomissão especial da Assembléia Legislativa que investigará o envolvimento da agência Pangea Turismo com o Clube de Seguros da Cidadania.

A criação da subcomissão foi aprovada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por oito votos a zero.

Além de Vieira, ex-relator da CPI da Segurança Pública que levantou as primeiras denúncias contra a Pangea, farão parte da subcomissão os deputados Jair Foscarini (PMDB), Valdir Andres (PPB), Paulo Odone e Mário Bernd (PPS). O PT, o PTB e o PSDB ainda indicarão outros dois nomes.

A nova investigação sobre a Pangea Turismo é resultado dos depoimentos da agente de viagens Maria Angela Fachini ao Ministério Público Estadual, no início deste ano. A agente de viagens confessou que mentiu ao testemunhar na CPI da Segurança Pública ao afirmar que havia feito doações em dinheiro ao Clube de Seguros da Cidadania.

Ao Ministério Público, Maria Angela confessou que passou recibos falsos para que o presidente do Clube, Diógenes de Oliveira, pudesse comprovar a origem dos recursos utilizados na compra da sede, localizada na Avenida Farrapos, no centro de Porto Alegre. O fato foi levantado pela comissão parlamentar, que acabou pedindo o indiciamento do presidente do Clube da Cidadania.


Caminhões parados preocupam indústrias
Coleta de leite já está prejudicada

Indústrias e produtores de leite, frango e carne suína acompanham com preocupação a paralisação dos caminhoneiros iniciada no domingo em todo o país.

A Associação Gaúcha de Laticinistas (AGL) informa que problemas com a coleta de leite já começaram, e a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) prevê que as avícolas podem ser afetadas pela greve a partir de sexta-feira.

O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos Estado (SIPS/RS), Rogério Kerber, disse que as empresas podem interromper o abate nas próximas horas.

O desabastecimento nos supermercados está descartado pelo menos nos próximos 10 dias, segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).

– Mesmo que falte uma ou duas marcas, por exemplo, outras podem substituir – diz o presidente da Agas, João Carlos de Oliveira.

Segundo o presidente da AGL, Ernesto Krug, a coleta de leite já é afetada em Ijuí, Sarandi, Cruz Alta e Palmeira das Missões:

– Os pequenos produtores, que não têm como estocar o leite se o caminhão da coleta não chegar, estão arcando com o prejuízo.

Para as indústrias do setor avícola, que recebem milho do Paraná e de Mato Grosso e distribuem ração aos produtores, poderá haver problemas a partir de sexta-feira, diz o diretor de suprimentos da Asgav, José Carlos Trieger.

O Paradão dos Caminhoneiros tem a adesão de cerca de 80% dos caminhoneiros autônomos do país, afirma o presidente da Movimento União Brasil Caminhoneiro, Nélio Botelho. No Estado, a adesão é de 50% dos 88 mil associados à Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Fecam), afirma o presidente da entidade, Éder Dal’Lago.

A Justiça Federal de Passo Fundo concedeu reintegração de posse de rodovias federais no norte do Estado.


Brasil reprime intenção dos EUA de força-tarefa na Colômbia
Embaixador americano ouviu de representantes do Itamaraty que hipótese de interferência é “impossível”

O Itamaraty podou ontem o entusiasmo dos Estados Unidos em relação a uma eventual adesão do Brasil a uma força-tarefa internacional de combate ao tráfico de drogas e à guerrilha no território da Colômbia.

Em conversas reservadas no Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Richard N. Haass, diretor do Escritório de Planejamento Político do Departamento de Estado americano, ouviu de seus interlocutores que essa hipótese é “totalmente impossível” e que o tema nunca foi discutido internamente, em Brasília, nem com o governo colombiano.

A resposta da diplomacia brasileira a Haass foi uma demonstração de que não existe tanta “similaridade entre os pontos de vista do Brasil e dos Estados Unidos sobre a questão da Colômbia”, como chegou a defender o embaixador americano ao final de seus encontros no Itamaraty. Conforme informou uma fonte do governo, Haass mostrou-se interessado em confirmar se o Brasil realmente havia mudado sua estratégia e se colocado à disposição de participar de uma possível operação militar conjunta dos países vizinhos na Colômbia. Essa hipótese havia sido veiculada pelo Ministério da Defesa colombiano há cerca de 10 dias.

– O Brasil deixou bem claro que não foi o responsável por essa notícia, que não passou de um balão de ensaio. Essa hipótese é totalmente inverídica. Não foi discutida pelo governo brasileiro e muito menos com o governo da Colômbia – afirmou a fonte.

Embora tenha havido a intenção, por parte do Itamaraty, de colocar um ponto final nessa questão, as conversas entre Haass e o embaixador Gilberto Saboya, subsecretário-geral de Assuntos Políticos, ontem, transcorreram de forma cordial.


Governo amplia direitos do consumidor
Empresas ficam proibidas de enviar o nome do cliente ao SPC ou à Serasa se não fizer a notificação prévia

A Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, proibiu ontem a inclusão de cinco tipos de cláusulas de contratos de fornecimento de produtos e serviços que ferem os direitos dos consumidores.

As cláusulas abusivas tratam do plano de saúde, do envio do nome do cliente aos serviços de proteção de crédito e dos questionários das empresas sobre a vida privada do consumidor.

Fica proibido, por exemplo, o envio do nome do consumidor ou de seus avalistas a banco de dados e cadastros de inadimplentes, como Serasa e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), sem notificação prévia. Conforme a portaria assinada ontem, o consumidor precisa ser avisado 30 dias antes de que seu nome será incluído em uma dessas listas. O ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, disse que a empresa terá de comprovar a emissão do comunicado ao cliente.

Os planos de saúde, por sua vez, não poderão mais limitar nos contratos o tempo de internação hospitalar. Órgãos de defesa do consumidor constataram que alguns planos estabelecem limites de internação para contratos anteriores a 1998.

Os planos de saúde também serão obrigados a fazer o atendimento das chamadas “doenças de notificação compulsória”, aquelas que o hospital precisa notificar ao Ministério da Saúde em caso de atendimento de pessoa infectada, como dengue, malária e febre amarela. Segundo o ministro, essas cláusulas dos planos de saúde são um “verdadeiro abuso”:

– Só quem pode dizer o tempo de internação é o médico. Não dá para mercantilizar a saúde.

Outra cláusula considerada abusiva, agora proibida, é aquela que autoriza o fornecedor a investigar a vida privada do consumidor. Ou seja, a transferência de dados a terceiros não pode ser feita sem autorização do titular. A secretária da SDE, Elisa Oliveira, explicou que a proibição de envio do nome do consumidor a banco de dados também vale para as instituições financeiras, até que o Supremo Tribunal Federal decida se o Código de Defesa do Consumidor também regula as atividades do sistema financeiro.

As alterações são incorporadas ao Código de Defesa do Consumidor. Já existe jurisprudência (decisões jurídicas de casos anteriores) que servem de sustentação. Conforme o ministro, as empresas que descumprirem a portaria podem ser punidas com multas que vão de R$ 212,82 a R$ 3,19 milhões e até interdição de estabelecimentos. Ele recomendou aos consumidores, em caso de descumprimento da portaria, que procure os Procons nos Estados para fazer valer o seu direito. As novas regras serão publicadas hoje no Diário Oficial da União.


Governador do Acre teme crime organizado
Jorge Viana pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que envie um corregedor para acompanhar as eleições no Estado

Temendo se tornar mais uma vítima do crime organizado no Acre, o governador do Estado, Jorge Viana (PT), desembarcou ontem em Brasília em busca de apoio contra a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Acre que impugnou sua candidatura à reeleição.

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi o primeiro a se solidarizar com o governador . Num rápido encontro com Lula, recebeu um forte abraço e o desejo de boa sorte.

Viana pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que envie o corregedor-geral para fiscalizar (TSE) a atuação do TRE do Acre. O governador se diz vítima de perseguição política de adversários que estariam aliados ao crime organizado e teme por sua vida.

Ontem, as ameaças se voltaram para o juiz federal Pedro Francisco da Silva, corregedor do TRE e único integrante do tribunal a condenar a decisão contra Viana. A mulher do juiz foi insultada e ameaçada por homens que saíram de uma caminhonete azul e a abordaram numa loja em Rio Branco.

A frente de partidos que apóia a reeleição do governador desconfia de que ele pode ser vítima de um atentado depois da votação. Seus advogados sustentam que um governador eleito que venha a falecer até o dia 31 de dezembro seria substituído não pelo vice-governador, mas pelo adversário mais votado.

Ao chegar a Brasília no início da manhã de ontem, Viana prometeu que só retornaria ao Acre com a garantia do TSE de que sua candidatura estaria mantida.

À tarde, o governador se reuniu com o presidente em exercício do TSE, ministro Sepúlveda Pertence, e solicitou o envio de um observador para acompanhar o trabalho do TRE do Acre. O observador poderia ser o corregedor do TSE, Sálvio de Figueiredo. Viana sustenta que o tribunal regional impugnou sua candidatura sem que pudesse se defender. Segundo o governador, Pertence prometeu discutir o assunto com os demais membros do TSE.

No final da tarde, Jorge Viana conquistou sua primeira vitória no TSE. Viana conseguiu restituir ao trânsito do Estado placas de sinalização retiradas pelo TRE, por causa de uma acusação de que tratava-se de propaganda institucional. O slogan e a logomarca do governo foram cobertos com tinta preta e as placas voltaram às ruas.

A coligação Movimento Democrático Acreano pediu a impugnação do registro da candidatura de Jorge Viana e da coligação Frente Popular do Acre alegando inelegibilidade. Viana foi acusado de veiculação de propaganda institucional vedada, porque as placas de trânsito e de obras públicas do Estado traziam a inscrição “Governo da Floresta”, acompanhado ao desenho de uma árvore, que é a logomarca do governo.


Dólar sobe e fecha a R$ 3,13
Banco do Brasil recebe US$ 30 milhões em financiamento externo

As dúvidas quanto à capacidade do Banco Central (BC) de rolar as dívidas que estão vencendo fizeram o dólar comercial subir 1,22% ontem, fechando a R$ 3,133 na venda.

O BC interveio. Pela manhã, a moeda caiu 1,45%, mas à tarde, com o fracasso de um leilão de swap (troca de títulos) cambial do BC, voltou a subir.

Na máxima do dia, a moeda atingiu R$ 3,151. Segundo analistas, é preciso esperar o resultado da oferta que o BC fará hoje.

– O mercado especula em cima da possibilidade de o governo não conseguir rolar a dívida. Temos de esperar o próximo leilão para ver se haverá um consenso de taxa – disse um operador.

Pelo segundo pregão consecutivo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em alta (2,71%), puxada pela divulgação da primeira fornada de pesquisas sobre a sucessão presidencial após o início do programa eleitoral gratuito, que apontam recuperação do candidato do governo, José Serra.

Depois de mais de um mês sem conseguir captar dólares no mercado externo para repassar a exportadores, o Banco do Brasil (BB) recebeu ontem oferta de US$ 30 milhões de quatro instituições européias, logo aceita, disse o presidente do BB, Eduardo Guimarães.

A oferta, de bancos espanhóis e italianos não-revelados, veio um dia depois da reunião do ministro da Fazenda, Pedro Malan, e do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, com representantes dos grandes conglomerados financeiros mundiais em Nova York. Os recursos, disse Guimarães, vão aliviar a pressão dos vencimentos programados para os próximos dias:

– O que perdemos de linha é absorvível, mas se os vencimentos daqui até o final do ano não forem renovados a situação se complica.

Os efeitos do apoio informal de 16 bancos estrangeiros ao Brasil deve “estancar a queda” do crédito às exportações, avalia o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ele estima que tenha ocorrido redução entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões nas linhas de crédito para o comércio exterior, mas admite que a projeção pode estar incorreta por falta de informações detalhadas.

Castro acredita que logo os exportadores vão “respirar um pouco”, mas não se devem esperar maiores benefícios:

– Um ou outro banco poderá abrir crédito de curtíssimo prazo, mas uma retomada mais vigorosa dependerá do próximo governo.

Com o fechamento do acordo com o FMI e a promessa de grandes bancos estrangeiros de manter os níveis atuais de negócios e de crédito a exportadores no Brasil, o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, Ricardo Malcon, espera que os juros do crédito ao consumidor e demais segmentos do mercado se estabilizem ou recuem. Em julho, a taxa média de juros pré-fixados no crédito pessoal subiu de 5,06% para 6,12%.

Os bancos estrangeiros não aumentarão exposição no Brasil no curto prazo, disseram fontes de cinco dos 16 bancos que participaram da reunião com Malan e Fraga em Nova York. O compromisso foi manter os níveis atuais de exposição. Ontem, novo fato complicou o cenário internacional: a Nigéria suspendeu o pagamento de sua dívida externa de US$ 33 bilhões. Isso deve aumentar a aversão ao risco em países emergentes.


Artigos

Mídia, poder e sociedade
Márcio Dias de Castro

As informações são de fato manipuladas pela imprensa? Os proprietários das empresas jornalísticas influenciam diretamente sobre a linha editorial de seus veículos? Os profissionais jornalistas controlam o conteúdo dos jornais em que trabalham privilegiando determinadas fontes em detrimento de outras? A relação mídia-mercado será sempre de caráter duvidoso?

Estes questionamentos estão na ordem do dia em razão das análises apressadas a respeito da mídia que têm surgido de um tempo para cá. Exemplo de análise desta ordem é a que fez o filósofo Olavo de Carvalho em ZH na edição de 30 de junho passado. No artigo ele detona um petardo em direção a toda a classe jornalística. Entre tantas coisas, ele comenta de forma generalizada que os profissionais de imprensa manipulam os fatos, utilizando-se de fontes suspeitas e atrasadas (entre elas a CNN e o New York Times). Segundo o autor, este tratamento dado aos acontecimentos serve para encobrir a verdade. Atribuir à mídia o poder manipulativo em outras épocas era característica do discurso de esquerda (os empresários de comunicação, neste caso, imporiam aos seus projetos editoriais restrições e normas de edição para favorecer suas visões ideo lógicas). Na versão do autor, a influência ocorreria de maneira diferente: agora são os profissionais que manipulariam as informações.

Não critico diretamente a idéia de Carvalho, pois a mídia sempre teve seu grau de comprometimento. O que não posso permitir neste caso é que tais idéias de teor tão contundente façam injustiça no que se refere ao papel que a imprensa exerce na modernização de nossa democracia. E também sou obrigado a destacar que o fenômeno da mídia é tão complexo que não poderia ser examinado de maneira tão simplista. É necessário que a interpretemos por várias óticas levando em conta suas mais variadas correntes e tendências. E não se pode criar uma teoria geral para isso. Cada empresa jornalística é um caso, cada veículo tem suas características e cada profissional tem seu discernimento da realidade e da ética profissional.

O leitor de jornal está cada vez mais exigente, mais participativo e acima de tudo muito mais informado

Devemos destacar que a imprensa brasileira vem passando por uma profunda modificação ao longo dos últimos anos. Em analogia direta a esta mudança, a opinião pública também mostra transformação: o leitor de jornal está cada vez mais exigente, mais participativo e acima de tudo muito mais informado. Surge do reflexo destas alterações uma nova dinâmica na sociedade civil. O público passou a enxergar na imprensa o foro ideal para as discussões relevantes da sociedade. Os veículos de comunicação, que são empresas comerciais, não ousam andar na contramão desta ordem (diria que é essencial para a sobrevivência destas organizações), por isso, se aprimoram constantemente, criam conselhos do leitor, contratam ombudsman (ouvidores), realizam pesquisas acerca de seus produtos. Procuram, deste modo, uma maior transparência. A credibilidade, neste caso, redunda em sucesso comercial.

É evidente que não há possibilidade da total imparcialidade – seria utópico este anseio – mas há a formação constante de um consumidor mais exigente e informado. Uma suposta crença na ingenuidade do leitor por parte do editor está completamente descartada, tal idéia comprometeria a credibilidade do veículo.

A evolução dos mercados, por sua vez, estimulou o aprimoramento do jornalismo. Tanto na questão editorial quanto na consolidação das novas tecnologias comunicativas. A imprensa sempre esteve atrelada aos mercados, seu surgimento e desenvolvimento no passado ocorreu desta contingência. Deste modo, é correto dizer que seria praticamente impossível conceber o mercado sem a estrutura da mídia. E que a evolução desta no sentido em que comentamos só vem a colaborar para a erradicação dos boatos que representam a antiinformação e conseqüentemente uma maior segurança dos mercados e da sociedade.

A conjunção destas realidades criou uma nova esfera pública de poder. A mídia e a sociedade em união passam a exercer pressão e relevância perante os fenômenos sociais. Consolidando a democracia e fortalecendo o mercado. E de maneira muito pertinente – como têm demonstrado as denúncias – fiscalizando o Estado.

O que se deve conclamar perante esta discussão é a participação cada vez mais efetiva do público na concepção de seu veículos de comunicação. Seja através dos conselhos dos leitores, do envio de sugestões e críticas e até através do veto quando estes não suprirem as expectativas de comprometimento com os fatos.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Anistia e indenização
Quase mil ex-presos políticos de Santa Catarina aguardam as indenizações previstas na Medida Provisória 2.151 editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com objetivo de encerrar o processo de indenizações devidas a milhares de brasileiros beneficiados com a lei de anistia. A categoria está mobilizada porque, até agora, no caso de Santa Catarina, nenhum ex-preso político foi ainda indenizado como prevê a MP. O ex-ministro José Gregori, que agora é o embaixador do Brasil em Portugal, deu atenção especial ao importante tema, limitando-se porém a honrar as indenizações de anistiados com renome nacional. Recentemente o presidente do PT, deputado José Dirceu, recebeu a indenização prevista em lei. Antes dele, outro deputado e ex-ministro Aloísio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também fez jus à indenização.

A mobilização dos ex-presos políticos catarinenses ganhou força com a criação da Associação Catarinense de Anistiados Políticos – Acap, presidida por Carlos Fernando Priess. A diretoria da entidade já enviou à bancada catarinense no Congresso e à mídia nacional um apelo para que as indenizações sejam pagas e o processo de anistia concluído. Também estão enviando às assessorias dos candidatos à sucessão presidencial apelo para que essa questão seja incluída na pauta das prioridades de governo, para quem sair eleito das urnas, em outubro. No Ministério da Justiça, a comissão provisória encarregada de examinar os processos informa que até agora dos 9,9 mil processos em exame apenas 52 anistiados receberam indenização com pagamento único. Existem ainda mais de 3 mil processos que continuam no protocolo. A comissão, através de três câmaras, examina os casos de anistia na administração pública direta, indireta e militar.

As desconfianças dos anistiados políticos catarinenses e de outros Estados, de que está sendo dada prioridade às figuras proeminentes, em detrimento ao direito de outros até mais necessitados, é contestada pelo Ministério da Justiça que alega estar examinando os processos pela ordem do protocolo. Com as limitações orçamentárias, os anistiados com direito a indenização já sabem que terão que se manter mobilizados por muito mais tempo.


JOSÉ BARRIONUEVO

Expointer é palco da campanha
Mais do que em pleitos anteriores, a 25ª edição da Expointer transformou-se em principal palco da campanha eleitoral. Alguns candidatos circulam quase todos os dias em meio ao público que se renova. Outra presença constante é o governador, que prestigia a feira desde a abertura, no dia 24. Ontem, Olívio Dutra retornou à Casa RBS, que é uma verdadeira academia de debates sobre a agropecuária. Missioneiro, o governador circula com boa desenvoltura entre os produtores, que lhe asseguraram a vitória em 1998. Até a vaquinha, mascote do Canal Rural, recebeu atenções.

Poder do campo
Olívio não cruzou nenhuma vez com seu oponente nas últimas duas eleições para o Piratini. Antônio Britto mandou confeccionar um material especial com suas idéias para o setor rural, com o título “Paz no campo e parceria com quem produz”. Desde domingo, o candidato do PPS faz corpo-a-corpo todos os dias no Parque Assis Brasil. Depois da recepção calorosa no sábado na maratona pela Fronteira Oeste, com Ciro e Brizola, Britto está convencido de que recupera o apoio do campo na eleição deste ano.

Dia do incentivo à solidariedade
Sérgio Zambiasi (PTB) pretende fechar com selo de ouro os quatro mandatos na Assembléia Legislativa. Leva ao governador Olívio Dutra, depois do aval de todas as bancadas, o projeto que cria incentivo à ação solidária.
Hoje à tarde, pela primeira vez o presidente da Assembléia pede audiência ao governador. Propõe uma espécie de Lei de Incentivo à Cultura aplicado à área social. Algo em torno de R$ 48 milhões por ano. É a lei da solidariedade.

Igualdade racial
A filha do marinheiro João Cândido (natural de Encruzilhada, líder da Revolta da Chibata), Zellandia Cândido de Andrade, destacou a figura de Paulo Paim como um lutador pela igualdade racial e social. Ao chegar ao Theatro São Pedro, na homenagem ao Almirante Negro, Paulo Paim foi aplaudido de pé pela platéia. Autor do projeto do Estatuto da Igualdade Racial, o deputado e candidato ao Senado tem atuado na Câmara pela aprovação da anistia post mortem a J oão Cândido.

Livro destaca Legalidade
Os 41 anos da Legalidade foram destacados ontem na Assembléia com um pronunciamento do deputado Vieira da Cunha e com o lançamento de um livro de autoria do deputado federal Vivaldo Barbosa (PDT-RJ). O presidente da Assembléia, deputado Sérgio Zambiasi prestigiou a sessão de autógrafos de A Rebelião da Legalidade, que resgata um momento histórico liderado por Leonel Brizola, que assegurou a posse de João Goulart na Presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros.

Origem do OP
Com apresentação do candidato a presidente pela Frente Trabalhista, Ciro Gomes, e prefácio do senador José Fogaça, será lançado amanhã na Universidade Católica de Pelotas um livro sobre a origem do que é denominado hoje, no marketing do PT, de Orçamento Participativo.
O livro Todo o Poder Emana do Povo mostra a primeira prática brasileira de participação popular na administração pública na prefeitura de Pelotas, a partir de 1983, sob a batuta de Bernardo de Souza, à época do MDB, hoje do PPS.
Em 221 páginas, o livro narra a implantação, a sistemática de funcionamento, as dificuldades e os resultados de uma experiência pioneira e bem mais ampla do que todas que a sucederam.
O lançamento ocorre às 18h no Espaço de Convivência do prédio principal da universidade, que edita o livro.

Efeito Ciro
Só a rejeição ao PT existente na campanha deste ano no Rio Grande pode evitar que a queda de Ciro Gomes não afete a candidatura de Britto, do mesmo PPS. O presidenciável ainda preserva no Estado um índice superior à pontuação obtida ontem nos institutos Vox Populi e Ibope em nível nacional. De qualquer forma, Ciro provoca frisson na Frente Trabalhista por estes pagos.
A queda foi uma decorrência normal do destempero do candidato, demonstrado em diferentes ocasiões, e do desempenho superior nos espaços de propaganda eleitoral na TV de José Serra, seu principal adversário.
Ciro e Serra disputam uma vaga no segundo turno contra Lula, que já tem um lugar assegurado para a decisão final, no dia 27 de outubro.

Efeito Serra
A recuperação de Serra nas pesquisas, pode ajudar Germano Rigotto, que nas próximas pesquisas deve ocupar a terceira posição no ranking de candidatos a governador, ultrapassando Celso Bernardi. Resta saber se vai ter força para romper a tendência de polarização.
A qualidade do programa da aliança União pelo Rio Grande (PMDB-PSDB-PHS) soma para uma melhora na posição, o que ainda não indica que esteja saindo da estagnação.

Em busca da estabilidade
José Sarney foi presidente da Arena no período mais duro da revolução. Na reabertura política, lá estava ele ao lado de Tancredo na chapa para a Presidência da República, que derrotou o colégio eleitoral. E virou presidente pela oposição, no estertor do regime militar que defendeu com dedicação ao longo de duas décadas.
Senador do PMDB pelo Acre, o acadêmico maranhense culpa o governo pelas denúncias que derrubaram a candidatura de Roseana Sarney, que chegou a ultrapassar Lula como candidata do PFL.
Engana-se quem vê apenas o sentimento paternal, de solidariedade, nesta repentina guinada à esquerda. Há novamente faro – e oportunismo – político. Como disse Sarney, o favorito nas pesquisas é “ponto de estabilidade”.

Impasse no PSDB
Antônio Hohlfeldt, João Gilberto e Vicente Bogo foram convocados para ajudar a superar um impasse no PSDB. Há uma rebelião dos candidatos a deputado federal, insatisfeitos com o critério na distribuição do tempo nos horários no rádio e na TV. Hoje, às 16h30min.

Mirante
• O professor e engenheiro Adão Villaverde, ex-secretário de Estado, promoveu um encontro inédito, fora das hostes petistas, reunindo um público variado, de empresários a intelectuais, para um jantar VIP no Restaurante Germânia. Além de reforçar o caixa da campanha, ampliou as relações políticas. Representa o perfil moderno da esquerda.

• Ontem não foi um bom dia para Brizola nas pesquisas. Ciro caiu e Rosinha Matheus disparou no Rio deixando longe seu candidato a governador.

• Diante da insistência de Giovani Cherini, Ciro Simoni e João Luiz Vargas não entraram na disputa pela liderança da bancada do PDT. Cherini e Paulo Azevedo ocuparão nos próximos quatro meses o cargo de líder e vice-líder. Turbulência à vista.


ROSANE DE OLIVEIRA

Melhor para Lula
Na briga entre José Serra e Ciro Gomes, o vencedor do primeiro round depois de iniciado o horário eleitoral gratuito é Luiz Inácio Lula da Silva. Ao atacar Ciro, Serra atingiu seu objetivo: cresceu na pesquisa do Ibope e do Vox Populi e viu os índices do adversário caírem.

Poupado nesta primeira fase, Lula não só manteve os índices nas duas simulações de primeiro turno como abriu uma vantagem de oito pontos no segundo turno. Na pesquisa anterior, realizada entre 16 e 19 de agosto, os dois estavam tecnicamente empatados, com Ciro um ponto à frente de Lula (44% a 43%).

As duas pesquisas, que deixaram eufóricos os assessores de Serra e tranqüilizaram o mercado financeiro, devem provocar mudanças imediatas nos programas de Ciro no rádio e na televisão. Seus aliados mais belicosos, como o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, querem que Ciro deixe de lado o estilo ternurinha e parta para a briga.

É provável que Ciro passe a explorar mais a imagem da mulher, a atriz Patrícia Pillar, sucesso absoluto em suas andanças pelo interior do Brasil. A parcela mais esclarecida do eleitorado sabe que vai escolher o presidente da República e que o papel da primeira-dama é secundário, mas Patrícia tem sido chamada a discursar e a dar autógrafos, como se fosse ela a candidata.

Enquanto Serra e Ciro se digladiam, a preocupação de Lula tem sido não escorregar em casca de banana. Cauteloso no discurso, o candidato do PT diz que vive uma fase “paz e amor” e evita atritos com os adversários, enquanto comemora a conquista de espaço em território conservador, conquistando aliados do peso do ex-presidente José Sarney.

O objetivo maior é assegurar no segundo turno o apoio do derrotado. Os aliados de Lula acreditam que se o nível dos ataque mútuos entre Ciro e Serra baixar ainda mais, o que não se classificar para o segundo turno se recusará a apoiar o responsável pela sua exclusão.

A grande preocupação de Lula nos próximos dias será evitar que os militantes do PT entrem no clima do já ganhou. E preparar o revide caso Ciro aceite a sugestão dos coordenadores de sua campanha de recuperar pontos perdidos atacando também o PT.


Editorial

UM DESTINO ÚNICO

Pobreza, degradação ambiental e globalização são os três temas que, interligados e interdependentes, dominarão a cúpula do ambiente que se realiza em Johannesburgo. A confluência desses três problemas coloca o encontro no eixo das grandes preocupações da comunidade humana. O desenvolvimento sustentável não tem apenas uma face ecológica ou econômica, tem principalmente um sentido social. Que mundo é esse que não só depreda seus recursos ambientais, mas principalmente estende uma espécie de apartheid social que exclui mais de metade da população dos benefícios do progresso?

Embora a necessidade de redução dos níveis de pobreza se constitua pois na questão central da Rio + 10, é preocupante a divisão que provoca entre países do mundo desenvolvido. Com o diagnóstico concordam tanto líderes dos Estados Unidos e da União Européia quanto os dos países em desenvolvimento. A redução da pobreza constitui-se num desafio essencial. Mas o diagnóstico é apenas o retrato de uma realidade – que no caso é doentia –, não significando tomada de posição em relação ao tratamento que é necessário propor ou ao remédio que é necessário ministrar. É exatamente quanto ao que fazer q ue se registra uma profunda divisão inclusive entre os países industrializados. Há um conflito evidente entre os interesses europeus e os norte-americanos, por exemplo, fato que de resto já está presente nas reuniões de trabalho de Johannesburgo. É o caso das exigências dos países em desenvolvimento de que as nações avançadas possam compensá-los dos esforços com o cuidado ambiental com mais investimentos e menos entraves protecionistas. O balanço entre resistências e gestos de boa vontade nesta área é que vai mostrar se esta terceira tentativa de promoção de um mundo mais justo – iniciada em 1972 em Estocolmo e aprofundada em 1992 no Rio de Janeiro – vai resultar em avanços concretos ou simplesmente adiará as soluções para mais à frente, com custos ainda mais elevados para toda a humanidade.

É exatamente quanto ao que fazer que se registra uma profunda divisão

Os temas que se debatem na África do Sul e o consenso que em torno deles se fizer indicarão se a comunidade humana já está em condições de enfrentar com solidariedade e vontade política os desafios deste começo de milênio. A consciência de que não há reposição para muitos dos recursos naturais que o homem está explorando, às vezes irresponsavelmente, precisa converter-se em projetos de longo prazo e em ações objetivas urgentes e imediatas. Os exemplos recentes mostram que no caso da proteção ambiental as principais resistências residem em governos e em nações que têm riqueza, desenvolvimento e poder e que deveriam ter consciência da gravidade das questões que estão em causa.


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08/28/2002


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