Zambiasi é eleito para o Senado
Zambiasi é eleito para o Senado
Embora líder nas pesquisas, o presidente da Assembléia estava ansioso pela vitória, confirmada pelas urnas
Embora liderasse com folga as pesquisas eleitorais para o Senado, o deputado estadual Sérgio Zambiasi (PTB) estava nervoso e lembrava um novato ontem.
Nada parecia suficiente para aplacar sua angústia por volta do meio-dia, quando votou em Porto Alegre.
– Está ganho! – abordou-o uma entusiasmada eleitora.
– Deus te ouça, Deus te ouça, minha querida – devolveu, na hora de votar.
A apuração das urnas confirmou Zambiasi como o candidato ao Senado mais votado no Estado.
Ao estrear na Assembléia Legislativa, no início de 1987, com extraordinários 365.381 votos, Zambiasi orgulhava-se do fato de só ter conhecido o Palácio Farroupilha no dia da posse. A escassa experiência política obrigou o radialista acostumado a conviver com os problemas da população pobre a mergulhar nas regras do jogo do poder.
Depois de 16 anos de vida parlamentar, a ingenuidade do primeiro mandato, quando não compreendia bem a rejeição maldisfarçada de alguns colegas, cedeu espaço a um político que aprendeu os ritos de falar e calar na hora certa.
– Eu era pedra bruta que foi sendo trabalhada – afirmou, certa vez.
A partir de janeiro, Zambiasi embarcará em um desafio que há poucos anos parecia impossível: desbravar o centro do poder, em Brasília. A ansiedade às vésperas da eleições levou na semana passada seu braço direito e primeiro suplente Cláudio Manfrói a interromper o deputado em plena campanha e questionar:
– O que vamos fazer de nossas vidas?
– Calma, primeiro vamos ganhar a eleição, para depois ver o que faremos – respondeu Zambiasi.
Rotina envolta por pedidos
Aos 53 anos, o senador eleito é hoje um homem mais tranqüilo. Continua trabalhando muito, acordando às 5h30min, saindo às vezes sem café e só parando para comer após o programa de rádio. Das 6h às 9h30min, ele se dedica a uma legião de fãs que acompanham apelos por cadeiras de rodas, remédios e aparelhos ortopédicos, casos policiais e dramas transmitidos ao vivo pelo microfone da Farroupilha.
Depois, Zambiasi veste terno e gravata e parte para a Assembléia guiando o próprio carro. Chega em casa lá pelas 20h. Antes de se recolher, passa algum tempo com a mulher, Maríndia, e as filhas (tem três do primeiro casamento, mais uma com Maríndia). Lê a Bíblia, reza várias vezes ao dia e se diz devoto do Menino Jesus de Praga, cuja imagem o acompanha no gabinete. Sua diversão é assistir na TV a filmes, documentários e jogos do Grêmio.
O gabinete mais freqüentado
Desde que assumiu o cargo de deputado pela primeira vez, seu gabinete, no sétimo andar, é um centro de peregrinação. É seguramente o mais freqüentado – a cada jornada pelo menos cem pessoas vão em busca de ajuda para toda espécie de dramas. Há até os que vão apenas deixar uma lembrança – conchinhas do mar, fotos 3x4 ou pedrinhas lotam a gaveta da assessora Adriana Nunes Giacobbe, há quatro anos trabalhando com Zambiasi.
– São pequenos mimos – diz a funcionária, uma das responsáveis pelo atendimento ao público no gabinete, conhecido entre os colegas como “a porta da esperança”.
Há um ano e 10 meses, Zambiasi trocou o gabinete pelos espelhado salão da presidência da Assembléia. Hoje, Zamba, como é chamado carinhosamente pelos colegas, raramente tem tempo para subir ao sétimo andar. No segundo, está mais perto do plenário.
O gosto de falar em público
Zambiasi sempre gostou de falar em público e de ouvir rádio. Na infância, adorava apresentar trabalhos de aula diante da classe. Porém, só aos 17 anos teve um microfone à disposição. Passou em um teste para locutor da Rádio Soledade e, em 1967, lá se ia o jovem Sérgio Pedro abrir a emissora, às 5h. Às 7h, o programa terminava, e meia hora depois já estava no colégio. Na universidade, Zambiasi fez apenas o primeiro ano de Letras e Economia.
O horário de Zambiasi na rádio era ruim, mas ele soube aproveitá-lo. Em 1973, já estava em Porto Alegre, na Difusora. Em 1982 foi para a Itaí, onde começou a desenvolver o seu projeto de abrir o estúdio para os ouvintes. Conseguiu implantá-lo no ano seguinte, na Farroupilha. A emissora gramava no sétimo lugar no Ibope. Com Zambiasi, decolou para o primeiro. São 15 anos mantendo uma espetacular média de 50% dos rádios ligados pela manhã.
A promessa aos ouvintes
Antes de qualquer definição, está sua disposição de não abandonar seu 1 milhão de ouvintes que todos os dias esperam pelo seu bom-dia. É quase uma promessa. Zambiasi pretende permanecer em Brasília terça, quarta e quinta-feira, dias de sessão no Senado. Na quinta à noite, volta a Porto Alegre para apresentar seu programa ao vivo às sextas e às segundas.
– No dia 7 de outubro, estarei dando bom-dia para vocês no rádio. E, quando estiver em Brasília, vou telefonar. Vou contar pra vocês como é que é lá – afirmou durante a campanha.
Paulo Paim fica com a segunda vaga
Deputado federal ultrapassa adversários na contagem dos votos, em apertada disputa com sua colega de partido
Em acirrada disputa pela segunda vaga no Senado, o deputado federal Paulo Paim (PT) supera sua colega de partido Emília Fernandes e o senador José Fogaça (PPS).
Às 2h30min, com 99,7% da apuração concluída, Paim tinha mais de 80 mil votos de vantagem e não havia mais como Emília recuperar a diferença.
Em Canoas, onde construiu sua vida pública, Paim votou no início da tarde na Escola Municipal de Ensino Fundamental Castelo Branco acompanhado do vice-governador, Miguel Rossetto. O deputado dispensou a cola, guardou os números de seus candidatos de cabeça, e precisou de apenas 35 segundos para completar a votação. Na frente do prédio, deu autógrafos e tirou fotos com eleitores.
O parlamentar se emocionou ao mostrar para Rossetto uma carta recebida ontem pela filha Ednéia fazendo referência às ausências na família em razão do trabalho. Paim se lembra de que certa vez faltava meia hora para a filha entrar no salão para a festa de 15 anos e ele estava sentado à mesa de negociação, discutindo salários e direitos trabalhistas com empresários. Desculpou-se, foi à festa e dançou a valsa com a filha. Daí, voltou a se desculpar e retornou à negociação com empresários.
Em 16 anos de Câmara dos Deputados, Paim é especialista em negociar: tanto com radicais quanto com a ala moderada do partido, com adversários da legenda e especialmente com a dona-de-casa Susana, com quem está casado há 33 anos. Juntos, tiveram cinco filhos: Ednéia, Jean, Michele, Janaína e Paim Júnior.
– Desde criança eu tinha sonhos: voar de avião, conhecer a Capital. Meus amigos até riam, mas eu sonhava ser algo mais – narra em seu livro Vida, Sonhos e Poesia, no qual conta, em 36 poesias de caráter social, sua trajetória, da fábrica de vasos de Caxias do Sul à Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Formado nas lutas estudantis dos grêmios colegiais, deixou sua cidade natal atrás do sonho. Aos 30 anos, mudou-se para Canoas, onde trabalhou como metalúrgico – na função de modelista-matrizeiro (responsável pela construção das matrizes). Presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, chegando em 1983 a secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores.
O movimento sindical foi a base para enveredar no caminho da política. Eleito deputado federal em 1986 e reeleito três vezes, em duas delas o mais votado da Região Sul, Paim sente-se hoje à vontade nos corredores de Brasília.
As ações polêmicas que protagonizou nesse tempo, atribui ao desejo de justiça para os trabalhadores. Em 1991, Paim fez greve de fome a o protestar contra os vetos do presidente Fernando Collor de Mello à elevação do salário mínimo. Durante 33 horas, passou a pão e água, vestindo o mesmo terno e dormindo no plenário da Câmara. Após ouvir do líder do governo Humberto Souto (PFL-MG) a garantia de que o Executivo reabriria o debate sobre salários, encerrou a greve e chorou.
O ato mais polêmico também teve como testemunha o mesmo plenário que o viu passar fome: em novembro de 2001, durante a sessão extraordinária da Câmara convocada para a votação do projeto de alteração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Paim subiu à tribuna. Indignado, rasgou a página da Constituição onde estão previstas as garantias trabalhistas. Era o que ele considerava que aconteceria, caso as mudanças fossem aprovadas. Embora o gesto quase tenha lhe custado o mandato, Paim afirma que faria de novo, se necessário:
– Aquele dia, eu sabia da responsabilidade. Entre a minha cassação e defender o que eu acreditava justo, optei pelo que considero justo – explicou ele.
Emília votou com a carteira de identidade
A senadora e candidata à reeleição Emília Fernandes (PT) manteve a segunda colocação por boa parte da apuração dos votos. Ontem à noite, o resultado indicava que a gaúcha de Dom Pedrito deve ficar em terceiro lugar.
Emília votou ontem na Escola Estadual Olavo Bilac, em Santana do Livramento, apresentando a carteira de identidade. Ela acredita que perdeu o título eleitoral durante a campanha.
Fogaça esperava por “milagre eleitoral”
O senador José Fogaça (PPS), que votou na Capital, avaliou que a conquista do terceiro mandato era “quase milagre eleitoral”, ao tomar conhecimento no sábado de pesquisas de intenção de voto que registravam 29% para o parlamentar:
– Dá para ficar satisfeito com a votação. Representa uma aprovação do trabalho feito. Ganhar, entretanto, é fazer mais votos do que os outros.
Emoção contagia Rigotto
Candidato do PMDB lembrou que seu nome começou com 3,4% nas pesquisas
Vencido em vários momentos pela emoção, o candidato Germano Rigotto (PMDB) mal esperou os resultados da pesquisa de boca-de-urna para comemorar os números que o colocaram à frente de Tarso Genro (PT) na eleição.
Acompanhado da mulher, Cláudia, Rigotto deu largada à festa no comitê central, em Porto Alegre, dois minutos após acompanhar a pesquisa pelo rádio, divulgada às 17h. No início da noite, discursou em um trio elétrico para militantes que fecharam o trecho da Avenida Sertório em frente ao comitê.
– Arrancamos com 3,4% na primeira pesquisa. Muitas pessoas não acreditavam – disse, com a voz embargada.
Com as mangas arregaçadas e suando muito, o peemedebista agradeceu o apoio dos partidos que integram a coligação União pelo Rio Grande (PMDB-PSDB-PHS) e mostrou-se aberto às alianças para o segundo turno. Depois de abraçar militantes e correligionários que se aglomeravam no comitê, Rigotto subiu até uma sala no segundo andar.
Sentado entre o senador Pedro Simon (PMDB), o candidato ao Senado Odacir Klein (PMDB), o presidente estadual Cézar Schirmer, e o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Luiz Roberto Ponte, ele acompanhou pela TV o início da apuração.
Enquanto dava entrevistas, foi avisado por um assessor de que o adversário Antônio Britto (PPS) abrira pela TV o voto em seu favor. Simon, que acompanhou o discurso de Britto com atenção, pedindo silêncio entre os colegas, afirmou que as portas estavam abertas ao apoio do ex-companheiro. Entre os militantes, porém, a declaração foi recebida com ironia.
– Fico feliz com os candidatos que já estão declarando apoio. A partir de agora, o Brasil está olhando para o Estado e vendo algo novo – discursou Rigotto.
Segundo o coordenador da campanha Alberto Oliveira, a estratégia não deve mudar no segundo turno – Rigotto continuará a apresentar-se como alternativa aos governos Olívio Dutra e Antônio Britto. E avisou que possíveis ataques serão respondidos.
– Vamos contra-atacar com firmeza e determinação quando o assunto merecer – afirmou Oliveira.
Primeiro encontro
Os dois candidatos vitoriosos no primeiro turno da eleição para governador se encontraram acidentalmente ontem, às 22h35min, nos corredores da TV Bandeirantes, na Capital. Germano Rigotto (PMDB) e Tarso Genro (PT) se cumprimentaram e conversaram rapidamente sobre sua disputa no segundo turno.
– Este é um momento importantíssimo para o Estado. Teremos um debate esclarecedor, de alto nível – observou Tarso.
Rigotto cumprimentou o petista pelo resultado e desejou a ele um bom trabalho:
– Vamos fazer um grande debate.
Tarso diz que agora é outra eleição
O candidato do PT aposta no reforço do PDT e no aumento do tempo no horário eleitoral
Se o segundo turno é um novo jogo, o PT já saiu em busca de reforços.
O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, foi procurado por líderes petistas para reagregar os pedetistas em torno da Frente Popular (PT-PC do B-PCB-PMN) na segunda etapa da corrida ao Palácio Piratini.
Em entrevista coletiva ao final da tarde, no comitê central da campanha, em Porto Alegre, o candidato do PT a governador, Tarso Genro, usou frases curtas e conciliadoras para dizer que foi positivo o seu desempenho. Evitou falar sobre a derrota do ex-governador Antônio Britto (PPS) na briga pela vaga no segundo turno com Germano Rigotto (PMDB).
– Pergunte para eles – respondeu, indagado por um jornalista.
Durante a conversa, citou várias vezes o PDT. Tarso também lembrou reiteradamente que a posição de Lula na disputa pela Presidência é importante para a campanha do partido no Estado. Pela manhã, mesmo antes da divulgação das pesquisas de boca-de-urna, Tarso já fazia um balanço do primeiro turno e apontava para o futuro.
– Tínhamos dois minutos para nos defender de 15 minutos de ataques. Agora será outra eleição. Atingimos a meta inicial de manter um terço do eleitorado – afirmou o candidato, ainda pela manhã.
O presidente estadual do PT, David Stival, informou que já foram procurados o PSC e até mesmo o PL do capitão Aroldo Medina, além de setores do próprio PPB de Celso Bernardi.
– No primeiro turno, Rigotto não participou do debate e agora não poderá fugir. Teremos um latifúndio na TV para apresentar os nossos projetos e não apenas nos defender – disse Tarso.
Resultados não abalam ânimo
Os primeiros resultados da pesquisa sobre a eleição que colocaram Tarso Genro em segundo lugar não abalaram o ânimo da militância petista. Desde as 17h, os eleitores lotaram um trecho da Avenida João Pessoa, entre as ruas Lopo Gonçalves e Luiz Afonso, em Porto Alegre.
A partir das 18h30min, os partidários do candidato dirigiram-se ao Largo da Epatur. A caminhada de cerca de 15 minutos lotou as ruas Otávio Correa, Lima e Silva e perimetral, cujo o trânsito funcionou em apenas uma pista.
A estudante de publicidade Carolina Lisboa, 22 anos, comemorava a votação de Lula na eleição presidencial e definiu o crescimento de Rigotto como “um pequeno acidente de percurso” para Tarso Genro.
– Essa dificuldade vai dar um gostinho melhor à vitória – afirmou.
A festa no final da tarde corou o dia de Tarso, que votou às 8h5min, na Escola Santos Dumont, na Vila Assunção, em Porto Alegre. Na entrada do colégio, acompanhado do governador Olívio Dutra, do candidato a vice, Miguel Rossetto, e dos pretendentes ao Senado, Emília Fernandes e Paulo Paim, parou por instantes para procurar o local exato da seção 36, da zona 160. Tarso demorou 40 segundos para votar.
– É um voto para afirmar o Rio Grande do Sul e mudar o Brasil – disse, ao concluir a votação ele trônica, com a mesma calma e bom humor que demonstraria ao longo de todo o domingo.
Aos jornalistas, o candidato revelou estar “exultante” com o cenário que apontava a possibilidade de Lula chegar à Presidência.
Britto garante voto em Rigotto
Aplaudido, ex-governador chorou ao admitir a derrota e ao agradecer atuação de colaboradores
Às 18h24min, com menos de 2% dos votos do Rio Grande do Sul apurados, o candidato do PPS a governador, Antônio Britto admitiu ontem a derrota e anunciou que no dia 27 votará em Germano Rigotto (PMDB).
Ao final da entrevista coletiva de 20 minutos, concedida no auditório do comitê de campanha, em Porto Alegre, Britto recebeu um abraço de Germano Bonow (PFL), candidato a vice-governador, e chorou, sob muitos aplausos de seus apoiadores.
– Neste momento faço o registro que o dever democrático impõe de reconhecimento da derrota que tivemos na eleição deste ano ao governo do Estado – disse.
O ex-governador usou a palavra “coragem” para resumir a campanha, que preferiu chamar de jornada e, apesar da derrota, disse estar feliz por ver a população gaúcha demonstrar nas urnas que prefere um candidato de oposição ao atual governo. Britto afirmou que junto a seus companheiros teve coragem em quatro momentos: ao romper com um partido grande, o PMDB, para enfrentar a eleição num partido muito pequeno como o PPS, ao assumir uma candidatura que não desejava, ao não fraquejar no debate contra os governistas e, por fim, ao não atacar os demais candidatos de oposição – Rigotto e Celso Bernardi (PPB).
– Vivo neste momento uma derrota eleitoral, mas tenho a consciência de que estou vivendo uma vitória política da causa das oposições no Rio Grande do Sul – disse ele, novamente sob aplausos.
Britto não falou sobre seu futuro político. Ao ser questionado sobre os erros de sua campanha, disse que as oposições tinham tarefas e que a dele foi a de enfrentar o PT:
– Dever político a gente cumpre sem pensar no desgaste.
Reuniões irão definir a posição do PPB
O PPB deverá confirmar, ainda esta semana, o apoio a Germano Rigotto (PMDB) no segundo turno da eleição para o Palácio Piratini.
A adesão do partido será decidida após reuniões com os deputados estaduais e federais da sigla, mas pode não significar presença no palanque do peemedebista. A desavença entre as duas siglas, principalmente no interior do Estado, pode prejudicar um apoio mais explícito.
Em 1998, o apoio ao candidato Antônio Britto (na época filiado ao PMDB) provocou uma das maiores crises no PPB do Rio Grande do Sul. Adversários desde os tempos da Arena e do MDB, prefeitos e vereadores das duas legendas tiveram de engolir uma coligação abençoada por seus líderes.
– Vamos dialogar. Não fomos consultados sobre a possibilidade de apoio e não estamos dispostos a discutir o segundo turno antes do encerramento da apuração – disse ontem o candidato do PPB ao governo, Celso Bernardi.
O candidato concedeu uma entrevista no comitê de campanha, no centro de Porto Alegre. Bernardi chegou ao local da coletiva acompanhado pela candidata a vice, Denise Kempf, e do pretendente do partido ao Senado, Hugo Mardini.
Ao admitir a derrota no primeiro turno, Bernardi manteve a esperança de aumentar a representação parlamentar do partido na Assembléia Legislativa e na Câmara dos Deputados:
– Estou convencido de que nossas bancadas na Assembléia Legislativa e na Câmara serão ampliadas – afirmou.
Bernardi votou pela manhã, pouco antes das 10h, em Santo Ângelo. Em 50 segundos, finalizou sua votação na seção 142, no Colégio Estadual Onofre Pires, no centro do município.
O duelo Lula X Serra
A eleição para a Presidência da República será definida em segundo turno no dia 27
Os brasileiros votarão mais uma vez para eleger o presidente da República. O novo confronto entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) será no próximo dia 27, conforme os números da apuração de 83,33% dos votos, divulgados às 2h45min da madrugada de hoje.
As pesquisas de boca-de-urna do Ibope, divulgadas às 18h30min, chegaram a considerar a hipótese de Lula vencer a eleição no primeiro turno. O petista teria 49% dos votos, e José Serra, 20%. Anthony Garotinho (PSB) ficaria com 17%, e Ciro Gomes (PPS), com 13%. Como a margem de erro é de um ponto percentual, o desfecho da eleição ficava em aberto. Para vencer no primeiro turno, o candidato teria de obter 50% mais um dos votos válidos.
Mas logo no início da apuração, a contagem mostrou que Lula ficaria com um percentual bem abaixo do projetado. E Serra surpreendia, com um índice acima dos registrados na última pesquisa e na boca-de-urna. Na última pesquisa realizada pelo Ibope, um dia antes da eleição, o candidato do PT tinha 50% das intenções de votos válidos. Até às 2h45min, estava com 46,63%. Serra, que aparecia com 22% na pesquisa, conquistava 23,62%.
O acompanhamento da apuração, no comando petista, na Vila Clementino, em São Paulo, teve a presença de Lula até as 22h, quando o candidato foi para casa. Lula preferiu não participar de uma festa de simpatizantes na Avenida Paulista, e somente hoje falará sobre a eleição.
Serra falou na madrugada de hoje. O tucano, que havia se recolhido ao apartamento, reapareceu à 1h35min no comitê central, em São Paulo, e discursou para anunciar que a campanha será baseada na discussão de problemas e propostas.
A votação de Serra surpreendeu por causa, principalmente, do desempenho no Rio Grande do Sul, onde conseguiu 29,88% dos votos. O tucano pode ter pego carona no bom desempenho de Germano Rigotto, candidato do PMDB ao governo do Estado.
O segundo turno representará uma rearticulação de forças. Lula e Serra tentarão agora atrair o apoio dos derrotados Anthony Garotinho (PSB), Ciro Gomes (PPS) e Zé Maria (PSTU). Os dois candidatos sairão em busca de apoios. O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, abriu o voto para Lula:
– Lula é o caminho que o povo brasileiro está apontando e é a única opção para os trabalhistas.
Segundo Brizola, “Serra é a continuidade, e Garotinho é como uma bola, não tem lado, é oca e quer estar sempre no alto”. Miguel Arraes, presidente do PSB, disse que ainda não se definiu. Para o ex-governador de Pernambuco, o PT por ter preferido fazer alianças com o centro e a centro-direita em detrimento das esquerdas.
Paulo Pereira da Silva (PTB), vice de Ciro Gomes (PPS), também não abriu o voto, depois de criticar o próprio companheiro de chapa por ter dito “muitas bobagens durante a campanha”. Mas Paulinho afirmou ontem ao votar:
– Se no segundo turno der Lula e Serra, a maior parte do PTB apoiará Lula.
Roberto Freire, presidente nacional do PPS, informou que o partido se reúne hoje para definir posição.
Anthony Garotinho e Ciro Gomes não admitiram, enquanto votavam, falar sobe a hipótese de apoiar algum candidato no segundo turno. O ex-senador baiano Antônio Carlos Magalhães (PFL) votou em Salvador dizendo estar convencido de que Lula venceria no primeiro turno.
Lula lidera em todas as regiões
Com 41,07% dos votos, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, liderava em todas as regiões do país até as 2h. A preferência de 30.354.951 eleitores, no entanto, não foi suficiente para garantir a vitória ao petista. Lula vai disputar o segundo turno com José Serra (PSDB), que conquistou 20,96 % dos votos.
Lula recorda a trajetória
Ao deixar ontem o condomínio Hill House, onde reside em São Bernardo Campo, e se deslocar até a sua seção eleitoral para votar, na Escola Doutor Firmino Correia de Araújo, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, reviveu sua trajetória polít ica.
Confidenciou que sentia uma emoção parecida com a da eleição de 1989, quando esteve a um passo da vitória.
– Será a vitória de uma geração, de todos nós – disse Lula ao amigo e sindicalista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, também forjado politicamente nas fábricas do ABC.
No interior do carro, recordou ainda Celso Daniel e Antônio Santos, o Toninho do PT – prefeitos do partido que foram assassinados –, enquanto observava as fábricas e a Igreja Matriz, de cujas escadarias costumava discursar durante as reuniões dos metalúrgicos.
Para os moradores de São Bernardo do Campo, Lula é o guerreiro do ABC.
– É um momento histórico – disse Antônio Carlos Reis, 37 anos, que permaneceu com a família por oito horas na frente do condomínio de Lula só para vê-lo e beijá-lo.
No colégio, Lula foi cercado por amigos e sindicalistas. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, também não escapou do assédio e foi chamada de “gatona”. Lula recebeu a bandeira do Brasil e um maço de flores de seu velho amigo Juno Rodrigo Silva, o Gijio, ex-metalúrgico e hoje dono de restaurante.
– A nação em suas mãos – disse Gijio.
Feliz com a surpresa, Lula se agarrou à bandeira. Antes de votar, beijou-a duas vezes. Só demonstrou desconforto quando a turma de um programa humorístico de TV argentino quis colocar um capacete de operário. Lula precisou de quase 10 minutos para chegar à seção eleitoral. Ao percorrer um corredor estreito do colégio, populares se misturaram à multidão de jornalistas, com máquinas de fotografia e filmagem.
Lula, porém, estava preocupado com as pessoas que estavam na fila para votar e com sua mulher, Marisa, a quem chamava carinhosamente de “Moreco”. Chegou a comentar que em 1994 e em 1998, quando perdeu para FH, não havia esse tumulto, mas foi corrigido por Vicentinho:
– É que dessa vez, meu companheiro, você será o presidente.
Serra recupera o ânimo
Quando saiu da ampla casa de muro amarelo, no Alto de Pinheiros (SP), no meio da manhã de ontem, para votar, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, tinha uma expressão de cansaço.
A s olheiras ainda mais acentuadas foram explicadas pela forte gripe, mas no comitê já havia um certo pânico em função de informações desencontradas sobre uma possível reação da candidatura de Anthony Garotinho (PSB). Mesmo assim, a estratégia de domingo foi a aposta no corpo-a-corpo de última hora.
Serra bem que tentou, mas não conseguiu ir caminhando até o local de votação, o Colégio Santa Cruz. O calor em São Paulo já chegava a 30ºC e o assédio da imprensa levou o candidato a recorrer ao carro e à companhia dos seguranças. Ao seu lado, o candidato ao governo do Estado, Geraldo Alkminn (PSDB), a mulher, Mônica, e assessores.
Na 251ª zona, 69ª seção, ele abraçou e beijou eleitores, deu autógrafos, mesmo com muito tumulto e empurra-empurra. A empolgação levou o candidato a ganhar duas advertências dos mesários.
– Agora, vou votar em mim, e quem votar em mim, vota no Geraldo – disse Serra na seção.
Serra riu do puxão de orelhas dos mesários, realimentando um ânimo que parecia perdido. Dali, ele fez questão de acompanhar a mulher, Mônica, e os filhos Luciano e Verônica na hora do voto. No Jockey Clube – onde a filha Verônica, grávida de cinco meses, votou – ele foi presenteado por um eleitor com um pé de arruda.
– Não bote fora, não, é para lhe dar sorte – disse o eleitor.
A movimentação da manhã, porém, deu lugar para o marasmo durante toda a tarde e início da noite. Nem a divulgação da pesquisa de boca-de-urna, prevendo segundo turno, trouxe novidade. Até as 19h30min de ontem, nenhum líder tucano, nem mesmo a vice, Rita Camata, havia levado apoio ao candidato. Serra ficou em casa, com a família. Apenas a fonoudióloga bateu à porta, com um nebulizador na bolsa. Se não fosse a movimentação da imprensa, a rua da casa de muro amarelo estaria tranqüila e escura.
FH diz que governou para os pobres
Presidente pretende descansar um pouco, mas se oferece para ajudar o novo governo
O presidente Fernando Henrique Cardoso votou por volta das 11h, na Escola Professor Alberto Levy, na Avenida Indianópolis, zona sul de São Paulo. FH chegou acompanhado dos candidatos ao Senado Romeu Tuma (PFL) e José Aníbal (PSDB). Cumprimentou os mesários e fez um breve contato com eleitores que votavam e que retribuíram com aplausos. Demorou 43 segundos e disse que escolheu todos os candidatos de seu partido, o PSDB. À noite, retornou para o Palácio da Alvorada, em Brasília, de onde acompanhou a apuração. Na entrevista coletiva que concedeu pela manhã, ainda no colégio da capital paulista, FH falou sobre as eleições, a transição, o “terrorismo financeiro” e seu futuro depois do fim do mandato. Confira os principais trechos:
O NOVO PRESIDENTE
“O Brasil precisa continuar fazendo reformas, precisa continuar sendo democrático e precisa continuar acreditando em si, em sua capacidade de enfrentar estas turbulências. É preciso ter racionalidade. Os governantes não podem ser pessoas que dizem sim a tudo. Têm que saber dizer sim e dizer não. Não têm de ter medo da impopularidade, se for para o bem do Brasil. Não podem estar cortejando sempre as maiorias. Têm de estar vendo o interesse público e concentrar seus esforços para os mais pobres, que foi o que eu fiz.”
AJUDA AO NOVO GOVERNO
“Como brasileiro, acho que um presidente, no momento em que passa a ser ex-presidente, é um recurso do Estado, não do governo. Deve colaborar com o Brasil, sem dúvida alguma, no que for necessário para o país.”
JOSÉ SERRA
“Ninguém me pergunta se eu participaria de um eventual governo José Serra. Em um eventual governo Serra, minha participação seria com mais intensidade.”
A OPOSIÇÃO
“Oposição existe sempre, precisa existir, não há problema, não. Sendo democrática, é bem-vinda. Tendo uma oposição que o tempo todo quer tirar o tapete de quem ganhou, aí é malvinda. Se for democrática, está bem.”
A ESPECULAÇÃO FINANCEIRA
“O terrorismo financeiro não é problema apenas do Brasil. A especulação está varrendo o mundo. Quando há eleição, há sempre certo momento de incerteza. Mas o Brasil tem capacidade de resistir às turbulências financeiras. Não podemos estar sempre cortejando o mercado.”
A POLÍTICA INTERNACIONAL
“Nossa política é estável, mantendo sempre conversações com o União Européia, com o Mercosul e sobre a Alca.”
TEMPO DE DESCANSAR
“Já tenho 71 anos e, como vocês sabem, o presidente não tem aposentadoria. Agora pretendo descansar um pouquinho.”
O FUTURO
“Não pretendo concorrer a mais nenhum cargo, mas vou continuar a vida pública.”
(Fernando Henrique afirmou que já possui “muitos compromissos internacionais”. Perguntado se os compromissos assumidos tinham alguma relação com algum cargo internacional, o presidente apenas relembrou que foi convidado pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, no mês passado, na África do Sul, durante a Rio + 10, para assumir uma alta função no organismo, possivelmente voltada para a proteção do meio ambiente mundial. FH também anunciou que doará o seu acervo particular de livros e documentos para a Universidade de São Paulo).
Garotinho protesta contra falha em urnas
Candidato do PSB à Presidência disse que vai pedir anulação da eleição se a abstenção no Rio for superior à média
Prometendo só dar declarações após o encerramento da apuração, o candidato à Presidência pelo PSB, Anthony Garotinho, ficou recolhido por quase todo o dia de ontem em sua residência, no elegante bairro do Cosme Velho, no Rio.
Ainda pela manhã, Garotinho d isse que sua agenda seria mudada para acompanhar as informações sobre o mau funcionamento das urnas eletrônicas no Rio. O candidato afirmou que, no sábado à noite, recebeu um telefonema de alguém que se identificou como funcionário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alertando-o de que algo errado aconteceria na votação no Estado.
O Tribunal Regional Eleitoral do Rio informou no início da noite de ontem que foram detectados problemas técnicos em 509 urnas.
– É estranho, porque eu e o candidato do governo disputamos voto a voto quem vai para o segundo turno. Em São Paulo, Estado dele, as urnas estão bem. Aqui, onde tenho 30% de vantagem sobre ele, estão mal. Se o número de votantes for abaixo da média nas eleições, vou pedir impugnação – declarou Garotinho pela manhã.
Logo após votar, acompanhado por seis de seus nove filhos e pela mulher, a candidata ao governo fluminense Rosinha Matheus, Garotinho se mostrava seguro de que iria para o segundo turno, com três milhões de votos à frente de José Serra, candidato do PSDB.
Ao longo do dia, apenas Rosinha, que tem possibilidades de vencer a eleição para o governo estadual no primeiro turno, apareceu na residência. Por volta das 16h, surgiu na janela com o caçula do casal, Davizinho, que fazia com os dedos o V da vitória. Às 20h, ela levou um lanche aos jornalistas.
Ciro prevê muito trabalho para o próximo presidente
Na opinião de Ciro Gomes, o sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso terá de se dedicar a “arrumar a casa”.
– O governo destruiu a economia brasileira, nossa base de produção, oportunidades de trabalho, e vai dar muito trabalho consertar isso – disse o candidato do PPS à Presidência, ontem, em Fortaleza.
Acompanhado da mulher, a atriz Patrícia Pillar, e de dois filhos, Lívia e Iuri, Ciro enfrentou uma fila de meia hora na seção eleitoral. Mas votou rápido: levou cerca de 30 segundos para digitar os números de seus candidatos. Enquanto esperavam na fila, Ciro e Patrícia distribuíram autógrafos, beijos, posaram para fotos e foram aplaudidos, em meio a muito tumulto e empurra-empurra, com assessores fazendo papel de seguranças. Nem parecia que o candidato deveria chegar, segundo a pesquisa de boca-de-urna divulgada no início da noite, em quarto lugar na corrida presidencial.
Momentos antes do voto, Ciro voltou a acusar o candidato tucano, José Serra, de fazer uma campanha calcada na “baixaria, na agressão e no insulto”. Ele reconheceu, no entanto, que a campanha terminou em alto nível.
– No começo, o nível estava rasteiro. Os donos do poder no país não mediram limites nem escrúpulos. Eleição é sempre uma festa da democracia, mas é claro que ainda vemos o abuso do dinheiro, da imprensa e do poder político – afirmou Ciro.
Lessa derrota Collor em Alagoas
A maioria do povo de Alagoas disse não ao ex-presidente Fernando Collor, do PRTB. O candidato do PSB à reeleição do governo alagoano, Ronaldo Lessa, venceu a eleição no primeiro turno.
Collor, que tenta voltar à vida pública depois do impeachment, em 1992, estava em segundo lugar. Ele não se deu por vencido e afirmou que pretende ser candidato à Presidência em 2006. Ontem pela manhã, Collor votou na Escola Diegues Júnior, em Maceió, e, mais uma vez, reafirmou seu voto em Ciro Gomes, embora tenha declarado ainda não ter candidato no segundo turno. Ele votou junto com a mulher, Rosane, e o filho Arnon de Mello, candidato a deputado federal.
Mas nem toda a família se uniu em torno da candidatura de Collor. A virada de Lessa em Alagoas contou com o apoio de nomes como Roberto Lyra, parente de Thereza Collor, que foi cunhada do ex-presidente. Nem em Canapi, cidade de Rosane, ele teve apoio total. A prefeita Rita Malta, tia da ex-primeira dama, também abriu o voto a favor de Lessa.
Amin e Luiz Henrique vão para segundo turno em SC
A expectativa de que o candidato Esperidião Amin (PPB) vencesse a eleição de Santa Catarina em primeiro turno não se confirmou. O pleito no Estado terá segundo turno. Em disputa voto a voto com José Fritsch (PT), o candidato do PMDB Luiz Henrique garantiu a segunda vaga para a próxima fase da eleição.
Amin votou ontem às 9h35min, seguindo os passos de 1998, quando elegeu-se governador do Estado pela segunda vez. Ele chegou às 8h10min, dirigindo seu próprio automóvel, beijou a testa do seu confessor, o frei jesuíta Junípero Bayer, deu entrevistas e seguiu para a seção 238 da 12ª Zona Eleitoral, no Colégio Imaculada Conceição, no Centro. Mas, desta vez, votou sem a confiança de vitória em primeiro turno. Amin reconhece que chegou ao final do mandato com menos aliados do que no início. O PSDB, o PL e o PTB, por exemplo, deixaram de fazer parte oficialmente da coligação governista.
– Pode ser que eu tenha errado, mas não foi nenhum erro moral. Mas pode ser que eles tenham errado – justificou.
Forças Armadas calam o tráfico carioca
Três mil soldados do Exército patrulharam as zonas controladas pelos chefões do narcotráfico no Rio de Janeiro
As ameaças do crime organizado de tumultuar as eleições no Rio de Janeiro viraram motivo de piada. A única ocorrência de impacto registrada nos dois últimos dias na cidade foi uma brincadeira de mau gosto.
Cinco universitários, em um Vectra, passaram no sábado pelos bares da Gávea gritando “Fecha, fecha, é ordem do Beira-Mar”. Foram presos em flagrante por perturbação da ordem, mas provaram que tudo não passava de um trote.
O Rio nunca teve eleições tão tranqüilas nos últimos anos e nem um dia tão calmo, nas últimas semanas. Até o encerramento da votação, não haviam sido registrados incidentes graves. O povo votou de manhã e foi à praia à tarde. O rugido dos traficantes virou miado, brincavam os sempre bem-humorados cariocas, afastando o trauma da última segunda-feira, quando o comércio de 11 bairros fechou por ordem do tráfico.
É certo que a presença de 3 mil soldados do Exército nas ruas e outros 8 mil de prontidão foi decisiva. Armados de fuzis, metralhadoras, granadas e lança-rojões, os militares inibiram qualquer ação ostensiva dos traficantes. Os soldados foram colocados em 30 áreas definidas pelo serviço de inteligência das Forças Armadas como “pontos estratégicos” na geopolítica do tráfico. Entre elas, o Complexo do Alemão (controlado por Elias Maluco, matador do jornalista Tim Lopes) e as praias de Ramos (sob domínio do megatraficante Fernandinho Beira-Mar).
A operação de ontem foi a primeira com fins eleitorais (leia abaixo). Outra medida foi a adoção, pela primeira vez, da Lei Seca, da noite de sábado até as 6h de hoje. A guarda foi reforçada no complexo penitenciário de Bangu e na sede do Batalhão de Choque da PM, onde estão trancafiados os chefões do tráfico, entre eles Elias Maluco e Beira-Mar.
Nos muros da Penha, havia inscrições do tipo “PCC e CV unidos”. Mas os traficantes não cumpriram a ameaça de fechar seções eleitorais, em represália pela decisão governamental de isolar Fernandinho Beira-Mar numa cela à prova de celulares e vigiada por câmeras de vídeo.
– A rapaziada do dedo puxou o freio de mão – disse o cabo eleitoral Getúlio Teixeira, referindo-se aos soldados do tráfico, que não haviam dado um tiro sequer no Complexo do Alemão.
Cidade já sofreu quatro intervenções
A eleição 2002 foi a quarta vez no período de uma década que as Forças Armadas foram chamadas a intervir nas ruas do Rio, sempre com o apoio entusiástico da população carioca.
A primeira ação foi durante a conferência ecológica Rio 92, que recebeu representantes de 179 países. Depois, na intervenção nas favelas da cidade durante a guerra ao narcotráfico efetuada em 1994. A terceira foi durante a Cimeira – encontro de presidentes e prim eiros-ministros da União Européia (UE), da América Latina e do Caribe realizado em junho de 1999, que discutiu a aproximação do Mercosul com o bloco econômico europeu.
Rio em clima de expectativa
Rosinha pode ter de enfrentar a atual governadora, Benedita da Silva, no 2º turno
Os eleitores do Rio de Janeiro acompanhavam com expectativa ontem a apuração no Estado. Até o final da noite, não era possível afirmar se haveria ou não segundo turno para o governo fluminense. A disputa ficou entre duas mulheres: Rosinha Matheus (PSB), com chances de vencer ainda no primeiro turno, e Benedita da Silva (PT), a atual governadora.
Apesar do bom desempenho nas urnas, Rosinha teve contratempos ontem. As informações sobre os problemas nas eleições do Rio azedaram o clima sempre ameno e romântico entre a candidata e seu marido, o candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho. Os dois se desentenderam por causa de um impasse: Garotinho queria seguir para o Tribunal Regional Eleitoral, para ter acesso a informações detalhadas sobre a votação no Estado. Rosinha, no entanto, preferia manter os compromissos que tinham sido anunciados pelas assessorias dos dois candidatos: caminhadas na Zona Oeste e na Baixada Fluminense.
Benedita ganhou ontem um apoio especial em sua última tentativa de ganhar votos. O presidente do PT, José Dirceu, se juntou à candidata em um intervalo de sua visita à Zona Oeste. Depois de dividirem uma pizza em uma lanchonete fast-food, eles seguiram em carro aberto por ruas de Campo Grande e Bangu.
Aécio articula frente tucana
Desde que lançou sua candidatura ao governo de Minas Gerais, o presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB), lidera as pesquisas. Os números da apuração indicam que o tucano deve se eleger no primeiro turno.
Com a vitória praticamente assegurada, Aécio já articula o apoio dos governadores eleitos do PSDB ao próximo presidente da República.
O tucano mineiro quer que os seus companheiros de partido que forem eleitos ou reeleitos participem com ele de um projeto que, conforme disse, buscará garantir a governabilidade do país.
Aécio afirmou que tal movimento é necessário mesmo se o presidente eleito for Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – mas reafirmou sua torcida por José Serra (PSDB), por quem disse que estará em campanha se houver segundo turno. Para isso, Aécio contou já ter “sondado’’ os governadores tucanos Geraldo Alckmin (SP) e Marconi Perillo (GO), que buscam a reeleição.
– Eu não tenho pretensão de me autoproclamar líder de nada, mas pretendo colocar a presença do governo de Minas à disposição do próximo presidente – declarou.
Jarbas deve tirar licença para descansar
O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), reeleito em primeiro turno, só deverá assumir o cargo em tempo integral na próxima semana. Ele deverá anunciar hoje uma licença para descansar da dupla jornada a que se submeteu durante a campanha eleitoral.
Desde agosto, Jarbas trabalha no governo pela manhã e como candidato à tarde e à noite.
Somente após a segunda quinzena deste mês ele estudará a necessidade de promover mudanças no seu próximo governo. Há possibilidade de reforma no secretariado. Jarbas também vai analisar o quadro nacional a partir da definição da necessidade ou não de um segundo turno para a sucessão presidencial.
A presença de Jarbas na campanha de José Serra teria agora, em um segundo turno, mais importância para o tucano do que no primeiro turno. O peemedebista, que durante a campanha apoiou, mas não vinculou sua imagem à do candidato do PSDB, deu sinais de que a situação pode mudar em um eventual segundo turno.
Logo após votar, ele atribuiu seu alto índice de popularidade ao governo federal. Jarbas disse, entretanto, que uma eventual vitória de Lula não acarretaria problemas à sua administração:
– Poderíamos ter só um pouco mais de trabalho.
Para Jarbas, a transição no governo federal deve ser “rápida, transparente e eficiente”.
Genoino surpreende em SP
Candidato petista deve disputar o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB)
Os números apontavam virada na eleição em São Paulo. O atual governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o deputado José Genoino (PT) devem disputar o segundo turno. O candidato Paulo Maluf (PPB), apontado pelas pesquisas como o provável adversário de Alckmin, deve ficar fora da disputa.
Com essa perscpectiva de segundo turno, as alianças já começam a ser delineadas. O PT descarta a possibilidade de fazer uma “composição formal” com Maluf. O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, disse, contudo, que o partido fará uma atuação direta para atrair os eleitores de Maluf no primeiro turno.
– Não há espaço para Maluf no projeto do PT. Conversaremos no segundo turno com o PDT, PSB e com setores do PMDB e do PL – disse Frateschi.
– Evidentemente, Maluf não estará no projeto, mas, se os eleitores dele quiserem votar (em Genoino), estaremos agradecidos – ressaltou.
O candidato do PT ao governo do Estado foi menos taxativo do que Frateschi em relação à possibilidade de receber o apoio de Maluf, embora tenha ressaltado que a questão será decidida pelo presidente do PT de São Paulo e pela executiva do partido. Genoino já acenou ontem para os partidos que pretende unir em torno de sua coligação no segundo turno da disputa pelo governo de São Paulo. Entre essas legendas, estão PDT, PL e PSB, além de setores de PMDB, PPS e PTB.
Até pouco antes da divulgação da pesquisa de boca-de-urna, Maluf se dizia confiante. O candidato contou que havia conversado com prefeitos e deputados de cidades paulistas e teria sido informado de que sondagens feitas com eleitores demonstraram bons resultados a seu favor.
ACM vota em Ciro, mas torce por Lula
Eleitor declarado do candidato Ciro Gomes, da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), durante a campanha eleitoral, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) insinuou ontem, pouco antes de entrar na sua seção eleitoral, em Salvador, que teria mudado sua intenção e votado no petista Luiz Inácio Lula da Silva.
– Se a eleição for decidida no primeiro turno, vamos acabar com a especulação, o dólar voltará à normalidade. Quanto mais cedo, melhor.
Um repórter insistiu e ACM abriu um sorriso, tentando explicar sua posição contraditória:
– Voto no Ciro, mas acreditando que, se a eleição se resolver no primeiro turno, é melhor, sobretudo se Ciro não for ao segundo turno.
De acordo com pesquisas de intenções de voto, ACM deveria ser o mais votado entre os candidatos ao Senado da Bahia. Ele atribuiu a vitória à “generosidade do povo baiano”, que “o absolveu do episódio da violação do painel do Senado”, quando renunciou, em 2001, para não ser cassado.
O placar nos Estados
Até as 2h30min de ontem, as apurações indicavam que em pelo menos 14 Estados os governadores deverão ser conhecidos só no dia 27. O candidato do PSB ao governo do Espírito Santo, Paulo Hartung, foi o primeiro governador eleito.
São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, teve uma surpresa na disputa ao Palácio dos Bandeirantes. Em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato José Genoino (PT) concorrerá no segundo turno contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Situação semelhante ocorreu em Santa Catarina. O governador Esperidião Amin (PPB), que liderava as pesquisas, deverá disputar com Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Em Alagoas, a apuração parcial indicava a vitória de Ronaldo Lessa (PSB) no primeiro turno. O ex-presidente Fernando Collor (PRTB) já falava em disputar o Planalto “em algum momento depois de 2006”.
Os problemas nas urnas eletrônicas deixaram em suspense a eleição do R io. A expectativa é de que Rosinha Garotinho (PSB) dispute a vaga com a governadora Benedita da Silva (PT), candidata à reeleição.
O candidato petista ao governo do Distrito Federal Geraldo Magela surpreendeu todas as previsões de pesquisas eleitorais e estava à frente do candidato à reeleição, Joaquim Roriz (PMDB). Há um mês, as pesquisas mostravam uma vitória folgada de Roriz ainda no primeiro turno. Mas o peemedebista começou a cair e a previsão de haver segundo turno no Estado se tornou cada vez mais provável. No entanto, em nenhum momento as intenções de voto mostraram o candidato petista à frente do governador.
Democracia com maturidade
Com 101 anos e sete décadas de eleições, Albina de Souza, que votou na Capital, milita pelo país
Exercer o direito ao voto, que para muitos não passa de obrigação, é para a paulistana Albina Pereira de Souza um prazer.
Aos 101 anos, dona Albina fez questão de informar-se pessoalmente sobre os cargos em disputa e, com disposição de menina, compareceu ontem às urnas na Capital, munida da cola eleitoral escrita de próprio punho.
Eleitora há sete décadas, Albina guarda lembranças da primeira incursão às urnas, em 1932 – ano em que foi permitido às mulheres o voto –, embora tenha esquecido em qual candidato votou. Residindo no Estado desde os 13 anos, ela destaca as gestões de Borges de Medeiros (1898-1908, 1913-1915 e 1916-1928) como as “mais proveitosas para o povo gaúcho” e lembra de ter ajudado a elegê-lo deputado federal, em 1934, depois da Revolução de 30.
Ontem, Albina acordou por volta das 8h30min, tomou café e escolheu o vestido e as jóias que usaria. Maquiada e com os cabelos brancos bem penteados, deixou de lado as dificuldades de locomoção e compareceu à seção 146 da 2ª Zona Eleitoral, no Colégio do Rosário, por volta das 11h.
Acompanhada do filho único, Antônio, 72 anos, e com a bengala a postos, ela enfrentou logo na entrada do prédio um lance de escadas e, aplaudida pelos colegas da zona eleitoral, chegou à sala de votação emocionada. Com ares de estrela, a eleitora mais antiga da seção driblou fotógrafos e cinegrafistas que a esperavam e cumprimentou a todos, de título em mãos.
– Esse é um dos dias mais felizes da minha vida. Estar viva e poder votar é para mim uma honra, assim como ser brasileira – afirma.
Demorou-se por cinco minutos para votar. Corrigiu um voto digitado errado, conferiu a escolha de acordo com a cola e saiu faceira:
– Fiquei um pouco nervosa, mas foi menos difícil do que eu imaginava. Quando comecei a votar nem sonhava que um dia o voto seria eletrônico.
Para escolher todos os seis candidatos, sem interferência da família, assistiu ao horário eleitoral, leu diariamente dois jornais e acompanhou os noticiários da TV. Viúva há 21 anos, ela lembrou o tempo em que discutia política com o marido.
Já pensando no segundo turno, garante que continuará lendo sobre os candidatos para retornar às urnas.
Em Rio Grande, eleitora de 91 anos
Iracema Sassoni Leal, 91 anos, deu um exemplo ontem pela manhã, na praia do Cassino, em Rio Grande. Um das moradoras mais antigas do balneário, nunca perdeu uma eleição, desde 1932. Ela levou menos de um minuto para digitar os números dos seis candidatos. Achou fácil o uso da urna eletrônica:
– Meu filho colocou os números para mim no papel. Foi como usar o telefone.
Em Passo Fundo, mesária há 41 anos
A pedagoga aposentada Hildi Terezinha Penz, 59 anos, é mesária voluntária desde os 18. Começou como secretária há 41 anos e não perdeu uma eleição. Neste ano, foi presidente de mesa da seção 275 no Clube Industrial, em Passo Fundo. Uma semana antes, visitou cada auxiliar para tirar as dúvidas.
– Adoro motivar outros a ajudarem nas eleições ao menos uma vez na vida – diz.
Por todos os caminhos até a urna
Dos diversos recantos do Estado e exibindo as mais autênticas distinções culturais, os eleitores tomaram o caminho das urnas e cumpriram o dever no domingo cívico. O meio de locomoção não importou, o que valeu foi chegar a tempo para votar. E muitos dos cidadãos sofreram em filas, num drama amenizado pela precaução de boa parte do eleitorado de levar colinha para a seção.
Bem cedo
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jayme Chemello, votou pela manhã em Pelotas, tão logo foram acionadas as urnas eletrônicas. Dom Jayme compareceu a uma das seções eleitorais do ginásio do Colégio La Salle Gonzaga, no centro da cidade. Logo após votar, dirigiu-se para a Catedral São Francisco de Paula, onde rezaria a missa de domingo.
A primeira escolha aos 43
O deficiente visual José Adriano Rodrigues Teixeira, 43 anos, votou pela primeira vez ontem na Escola de Educação Especial Louis Braille, em Pelotas, na zona sul do Estado. Por ser analfabeto e não saber o braile, Teixeira votou na companhia da filha.
Com os fones nos ouvidos, ele pôde ouvir o nome do candidato que aparecia na foto da urna e só então confirmou o voto com a ajuda da filha.
Lição para os filhos
A corretora de previdência privada Sandra Maria Dal Prá, 40 anos, levou os dois filhos para o local de votação, a Escola Estadual Visconde de São Leopoldo. Com Laura, cinco anos, e Natan, 12, ela esperou mais de uma hora para chegar à urna eletrônica.
– Os dois insistiram em vir, mesmo que, desta vez, não tenham deixado eles apertarem os botões de “confirma”. Laura ficou brava por não poder votar – divertiu-se a mãe.
Tarde demais
Já eram quase 17h quando o casal Otávio de Oliveira, 23 anos, e Juliana Mrowinski, 19, passou pelo portão da Escola Odão Felipe Pippi, em Santo Ângelo. O casal tinha passado o final de semana no Interior e chegou às pressas. O problema é que havia somente uma cola para os dois e, com o horário apertado, ele a cedeu para ela. Juliana conseguiu votar. Quando Otávio chegou à seção, às 17h5min, foi barrado.
Os resultados nos municípios gaúchos
A lista apresenta, em ordem alfabética, a votação de todos os candidatos majoritários (presidente, governador e senador) nos 50 maiores eleitorados gaúchos e dos quatro mais votados nas demais cidades do Estado. Os números correspondem a 99,7% das urnas apuradas, divulgados às 2h5min de hoje.
Eleição presidencial ganha o mundo
Setenta mil brasileiros radicados em outros países estavam inscritos para participar do pleito eletrônico
Em torno de 70 mil brasileiros que vivem no Exterior estavam cadastrados para votar para presidente em 37 cidades de 25 países. Foram instaladas pelo Tribunal Superior Eleitoral 162 urnas em embaixadas e consulados brasileiros no Exterior. O maior colégio eleitoral brasileiro fora do país é nos Estados Unidos, com 24.461 eleitores inscritos. A votação reservou lances curiosos:
ITÁLIA
Justamente em virtude da distância do Brasil, cidadãos brasileiros cadastrados para votar na embaixada de Roma deixaram para tomar conhecimento dos candidatos na boca da urna. Em alguns casos, literalmente.
– Apertei o número do meu partido e apareceu lá o barbudinho de novo! – exclamou Cristiane de Andrade, 23 anos, referindo-se ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
– Eu nem sabia que ele estava no páreo mais uma vez.
FRANÇA
Lula venceu na embaixada brasileira em Paris, conquistando 722 votos. A surpresa foi a colocação do candidato Anthony Garotinho (PSB) em quinto lugar, com oito votos – um a menos que o representante do PSTU, Zé Maria. José Serra (PSDB) levou 274 votos, contra 35 obtidos por Ciro Gomes (PPS).
ÁSIA E OCEANIA
Os países orientais foram os primeiros a fornecer os resultados das votações realizadas em embaixadas brasileiras. Lula foi o vitorio so na China e na Nova Zelândia. No Japão, a vitória foi de José Serra.
INGLATERRA
A presença do ex-jogador Pelé foi o único momento de alguma agitação no tranqüilo dia de votação no consulado brasileiro em Londres, Inglaterra. Pelé, que estava em uma limusine, ficou alguns minutos parado em frente ao consulado, causando um certo tumulto no local.
ESTADOS UNIDOS
O gaúcho Alberto Luiz Bialeglowka, 34 anos, chegou em cima da hora à High School of Art and Design, em Manhattan – local de votação dos eleitores brasileiros em Nova York –, não conseguiu votar e chorou, decepcionado.
Vestindo bota e bombacha, suado e esbaforido, ele contou que teve de correr por mais de 20 quadras com a esposa, Áurea, e duas filhas para chegar a tempo. A três minutos do encerramento da votação, Áurea conseguiu votar em Lula. Bialeglowka acompanhou a mulher antes de ir à sua própria seção. Ao tentar votar, encontrou a urna eletrônica já fechada.
– O mínimo que eu exijo como brasileiro é votar – disse Bialeglowka, chorando bastante.
Ele mora há oito meses no estado americano de New Jersey, trabalha na construção civil e tinha o costume de votar pilchado no Brasil. O gaúcho também iria votar em Lula.
Em Miami, onde vivem cerca de 200 mil brasileiros, a fila para votar começou cedo ontem. Três horas antes do início das eleições, alguns eleitores já disputavam lugar na fila de uma escola local. Apenas 6 mil brasileiros estavam inscritos para votar em Miami.
– É nossa responsabilidade votar. Temos que contribuir pensando no que é melhor para nosso país – disse Velmir Miranda, 63, há dois anos nos EUA.
Urna eletrônica espalha filas pelo país
Panes nos equipamentos, número de cargos em disputa e desconhecimento dos eleitores atrasa a votação nos Estados
Foi a maior eleição do país e a que teve as maiores filas. Parte das urnas eletrônicas – no primeiro pleito geral totalmente informatizado – entrou em pane em vários Estados e prolongou a votação. E causou, além de protestos e desmaios, o atraso na apuração – que deveria estar encerrada às 17h – até além das 21h em algumas unidades da Federação.
A demora pode adiar a conclusão da apuração e a proclamação do resultado oficial, prevista para até amanhã.
Em entrevista coletiva, à noite, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, informou que até as 20h45min a votação se prolongava em 10 Estados – Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Roraima, Piauí, Rio e São Paulo – e no Distrito Federal (DF).
O ministro informou ainda que 5.198 urnas eletrônicas foram substituídas até as 20h, ou seja, 1,62% do total das seções eleitorais. E 325 seções (0,14% do total) utilizaram a votação manual.
A divulgação dos resultados oficiais será feita até amanhã, previu o presidente do TSE. Isso porque, explicou, apesar da celeridade que as urnas eletrônicas oferecem na apuração dos votos, a lei eleitoral exige que 5% das urnas com impressão de voto devam ter os resultados do módulo impressor comparados com os registrados nas próprias urnas.
Jobim disse também que a votação paralela – uma com urna eletrônica, outra com cédula de papel – em duas seções de cada zona eleitoral demonstrou a confiabilidade do sistema. Segundo ele, os dados da urna eletrônica coincidiram também com os boletins de fiscais que acompanharam a votação paralela. Ele ressaltou que "o voto votado é de fato o voto apurado".
Questionado sobre os motivos das longas filas, Jobim irritou-se e atribuiu as dificuldades aos eleitores. Ele disse aos repórteres que cabe à Justiça garantir o direito de voto a todos os brasileiros, independentemente do tempo que levem para isso.
A demora na votação deveu-se à dificuldade de uma parcela dos eleitores de votar na urna eletrônica, a quantidade recorde de cargos disputados neste ano e ao teste do voto impresso em 150 municípios. Nem eleitores ilustres foram poupados.
– A fila está sendo o ponto negativo desta eleição – reconheceu à tarde o corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, que votou em Belo Horizonte.
Para o ministro, será necessário rediscutir o sistema de votação para as próximas eleições. O vice-presidente do TSE, ministro Sepúlveda Pertence, que vota em Brasília, disse ter esperado na fila cerca de duas horas.
A demora na votação também fez a divulgação de pesquisas de boca-de-urna atrasassem. Por volta das 17h, o ministro do TSE Fernando Neves chegou a pedir aos institutos de pesquisa, autorizados a divulgar seus números a partir das 17h, que só o fizessem a partir das 18h30min para não influenciar os eleitores que ainda aguardavam nas filas para votar.
Em vez de começar a anunciar os números da apuração às 19h, como pretendia, o TSE iniciou a divulgação às 20h20min.
O presidente do TRE do Rio, Álvaro Mayrink, informou que 346 urnas no Estado tiveram defeitos. Apesar disso, Mayrink culpou os próprios eleitores pela morosidade.
– Há eleitores com pouca capacidade cultural, outros de idade e outros que não levaram a memória eleitoral (cola) – justififou ele.
Pleito foi manual em 53 seções no Estado
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) informou ontem à noite que 335 urnas eletrônicas tiveram de ser substituídas e que em 53 seções a votação foi manual (com cédulas de papel). No total, houve 1.213 chamados ao TRE por problemas técnicos com as urnas.
Os percalços com a votação informatizada no Estado foram considerados normais pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE):
– Na maioria das ocorrências, os mesários esqueceram de tirar o lacre antes de ligar o aparelho. Houve algumas filas, nada muito grave – disse o desembargador Alfredo Guilherme Englert, corregedor regional eleitoral e vice-presidente do TRE.
Sobre as reclamações em relação às filas, criticou:
– Ninguém liga para fila de Gre-Nal. O sistema de votação paralela, que mostrou que a votação foi um sucesso, ninguém menciona.
Os maiores problemas ocorreram em duas seções de Caxias do Sul, num total de 39 urnas. A explicação é que lá foram usadas urnas mais velhas, de 1996. Em São Leopoldo, onde a votação entrou pela noite, 32 urnas tiveram votação manual.
A pior ocorrência no Estado foi em Caxias do Sul, onde o pedetista Pedro Oliveira Paim, 61 anos – irmão do presidente do diretório municipal do PDT, José Altamiro Paim –, morreu quando votava no Estádio Centenário. Ele teve um ataque epilético seguido de parada cardíaca e chegou sem vida ao hospital.
O voto de quem só tem o voto
O exercício da democracia mobiliza até quem mora na rua. No dia do voto, as histórias da eleição num giro pela Capital
Eles não têm casa, não têm carro, não têm trabalho. Mas têm voto. Ou, pelo menos, direito a. São o que os marxistas definiriam como lúmpens. Ou, como eles próprios preferem, vagabundos. Formam um grupo inconstante, de quatro a 12 homens. Vivem por aí, que é o lugar onde vivem os vagabundos. Há cerca de quatro meses, encontraram uma nesga de terreno na Avenida Erico Verissimo, atrás de um trio de outdoors, e lá se instalam de dia. À noite, se acomodam sob a marquise de uma loja da Avenida Azenha.
A rotina do grupo não varia muito: acordam quando a loja da Azenha abre, vão para o terreninho da Erico e ficam por ali, “no achaque”, como dizem. Uns pedem sobras de carne nos açougues, outros “guardam” os carros estacionados nas cercanias. Com os trocados que amealham, compram cachaça – no sábado, véspera da eleição, foram oito litros. Álcool pode, cheirar loló não.
– Uma maconhazinha de vez em quando também não tem problema – admite um deles, acrescentando: – mas aqui ninguém rouba. Aqui não tem ladrão.
Todos eles estão nas imediações dos 40 anos de idade. Todos eleitores, portanto. Quer dizer: quase todos.
O Pirata
Aldo Martins Rodrigues, o “Pirata”, 44 anos, não vota – ele tem problemas com a Lei. Chamam-no de Pirata porque seu olho direito é vazado.
– Como é que aconteceu isso?
Os outros lúmpens começam a rir da pergunta. Em seguida, contam que o Pirata foi roubar galinha num quintal em Santo Ângelo, mas estava tão bêbado que enganchou o olhou em uma ponta de arame. Relatam o acidente às gargalhadas. O Pirata também ri. Não seria um olho furado que lhe drenaria o bom humor. Muito menos o fato de não poder votar. Embora quisesse. Jura que tem opinião política e até alguma cultura.
– Duvida? – pergunta. – Olha só: uma vez até fui no lançamento do livro do poeta Rossyr Berni.
– Ele foi, ele foi – confirmam os amigos.
E o Pirata estufa o peito ao recitar o título da obra:
– O Homem Autômato. Que livro!
O barbeiro
O Pirata até pode ter suas luzes, mas em matéria de política ele se submete à liderança de Luís Ernesto Lunardi, 38 anos. Não é preciso pedir para que Ernesto saque o título eleitoral do bolso e o desfralde com orgulho.
– Sou eleitor – anuncia. – Voto ali no Senac da Coronel Genuíno – especifica. E insiste em mostrar o título bem plastificado, preso com um atílio em outros documentos que ele leva no bolso traseiro das calças.
Ernesto é o barbeiro da turma. Um a um, os amigos se sentam em uma lata e lá vem ele, aparelho de barbear descartável à mão. Como bom barbeiro, conversa enquanto trabalha.
– A gente tem que fazer uma reunião pra decidir em quem votar – prega. – O negócio é votar todo mundo no mesmo candidato.
O Samambaia
– É isso mesmo, todo mundo no mesmo homem! – concorda José Waldori Paim de Arruda, dedo em riste, ao que os outros gritam do fundo do terreno, rindo:
– Fala, Samambaia!
– Samambaia?
Waldori se irrita ao ouvir o apelido, mas não se nega a explicar:
– É que eu vendia planta na rua...
Samambaia decidiu largar o trabalho e sair de casa por um motivo contundente:
– A mulher ia me botar umas guampas. É melhor sair de casa do que ser corneado, né? Aqui pelo menos tenho a Princesa. Princesa! – uma cadelinha parda se aproxima, o rabinho calvo balançando. Samambaia a premia com uma carícia e, depois, como que se lembra: – Ah, também tenho os amigos. Fazemos tudo juntos. Por isso vamos votar juntos também.
Ante tal fervor cívico, seria de se supor que o Samambaia já estivesse com seu voto definido há muito tempo. Só que:
– Não vou votar.
– Não?
– É que meu título é de São Leopoldo. Vou ter que justificar...
O Bigode
Talvez devido ao arrefecimento do entusiasmo do Samambaia, a reunião de mobilização acaba não saindo e, na manhã de domingo, poucos se animam a sair para votar. Entre esses raros eleitores convictos estão o barbeiro Ernesto e Valci Aírton Pereira Larrossa, 38, o Bigode. Este, mais do que convicto, é eleitor por teimosia. É que, dias atrás, o Bigode dormia num banco da Praça Menino Deus quando um homem o sacudiu:
– Ei, meu, de que tu estás precisando?
Estremunhado, o Bigode custou a responder:
– Pinga, cigarro e dinheiro.
– Te dou tudo isso, se votar nesses candidatos – e o homem apresentou dois “santinhos”.
– Eu não! – recusou o Bigode, e voltou a dormir.
Ontem, ele foi votar de raiva. Após tomar o café da manhã constituído de pinga e pipoca, foi até a Escola Venezuela e se preparou para exercer a cidadania. Logo de saída, porém, um problema: o Bigode não tem título e não lembrava da sua seção. Até pensou em ligar para o TRE, mas ninguém lhe deu cartão telefônico – só cigarros. Saída: perguntar de seção em seção. Quem sabe a 250? Não. A 280? Também não. A 352? A 125? A 69? A 77? Não, não, não, não.
– Acho que vou desistir – desanimou. – Aquela 335 é a última tentativa.
Era a 335.
Com passo firme, o Bigode encaminhou-se até a cabine indevassável, apertou alguns botões, ia saindo, mas o mesário:
– Não está pronto. O senhor vai ter que voltar.
– Ah.
Mais alguns botões. Levantou-se e:
– Ainda não deu.
– Não?...
De novo. E de novo. Ao cabo de quatro tentativas, o Bigode conseguiu. Saiu da cabine comemorando:
– Mais uma obrigação cumprida – e retornou orgulhoso para o convívio dos lúmpens do Menino Deus.
Na origem de tudo, um enciumado amante
A democracia começou por causa de um homossexual. Foi na Grécia, claro. Em Atenas. Até o quinto século antes de Cristo, Atenas era comandada por um ditador, Pisístrato. Ao morrer, em 527, ele legou o poder aos seus dois filhos, Hipias e Hiparco. Hipias era afeito à política, gostava de governar e o fez com sabedoria durante 13 anos. Mas Hiparco era mais dado à poesia e ao amor, sobretudo o “amor grego”, prática que se difundiu pelos séculos, embora hoje seja reprimida a rebencaços quando apregoada em desfiles farroupilhas.
Nessa de amor grego, aconteceu que Hiparco se apaixonou por um rapazote chamado Harmodio, que, segundo o arguto historiador Tucídides, estava “em pleno viço da beleza adolescente”. Só que o moço Harmodio já tinha namorado um respeitável senhor de meia-idade com nome de jogador de futebol do século 21: Aristogiton. Tomado de ciúmes, uivando de cólera, Aristogiton pulou em cima de Hiparco e o assassinou. Mas Hiparco era irmão do ditador. Quer dizer: Aristogiton ia enfrentar problemas sérios. Tentando se defender de Hipias, Aristogiton organizou uma conspiração.
Hipias, porém, estava alerta. Mandou prender a amante de Harmodio, que, como já deu para perceber, cultivava amantes de todos os sexos possíveis. A amante, Leaena, era o que no Interior gaúcho se chama de “faca-na-bota”. Para não delatar os conspiradores, arrancou a própria língua a dentadas e a cuspiu na cara de seus captores. Morreu sob tortura, mas não entregou ninguém.
Mesmo assim, Hipias conseguiu prender e matar todos os revoltosos. O problema é que ele ficou tão assustado com a sedição que adotou uma política de repressão inflexível e, muitas vezes, cruel. Oprimido, o povo elegeu Aristogiton e Harmodio como os mártires da liberdade. Carregando a memória do casal como bandeira, o populacho desencadeou uma revolta que acabaria por derrubar a ditadura e colocar Clístenes no poder. Clístenes, então, elaborou a legislação que forneceu o cimento da futura democracia grega, base de todas as democracias, inclusive da brasileira, que permite até aos lúmpens do Menino Deus ajudarem a escolher quem será o presidente da maior república da América Latina.
“Será que fiz certo?”
Depois de votar, dona Ibraína Soares Martins, de 80 anos, saiu à rua aliviada. Tinha passado por certa dificuldade no manejo da urna, o que fez crescer a fila de espera em sua seção, no Colégio Israelita. Dona Ibraína falou a respeito:
Zero Hora – A senhora enfrentou alguns problemas com a urna?
Dona Ibraína – Pois é. Tive que voltar lá umas quatro vezes. Será que fiz tudo direitinho?
ZH – Garanto que sim. A senhora tinha cola?
Dona Ibraína – Tinha. E mesmo assim precisei voltar. Tu achas mesmo que votei certo?
ZH – Acho. Qual foi o principal problema?
Dona Ibraína – O voto pra senador, acho. Será que deu tudo certo mesmo?
ZH – Deu, deu.
Trabalho em vez de sol
O estudante Frederico Ongareto Goronetti, 22 anos, levantou-se cedo. Queria ser um dos primeiros a votar no Colégio Santo Antônio, no Partenon, porque tinha planos de aproveitar a manhã de sol: pensava em levar seus cachorros, um fila e um dálmata, para passear. Depois, quem sabe, jogar uma par tidinha de tênis. Ia.
Ao se apresentar na seção 348, a presidente da mesa, Gladis Pezzini, o recrutou para trabalhar. Era o segundo. O primeiro se recusou. Frederico se sentou à mesa e, meia hora mais tarde, já fazia o serviço com desenvoltura. Parecia até contente.
– Mas não estou – esclareceu, olhando com nostalgia para o dia lá fora.
Os conselhos do senador
O senador Pedro Simon, 72 anos, vota e é (bem) votado desde 1958. Com essa experiência, goza de plena autoridade para fazer recomendações a jovens candidatos. Como fez, às 10h de ontem, depois de sair de sua seção, no Colégio Santa Inês.
Zero Hora – Que tipo de postura pode ser considerada a mais importante para um candidato?
Pedro Simon – Uma das coisas fundamentais é a auto-estima. Se o candidato tem garra, o eleitor percebe. E dá o seu voto.
ZH – O que o senhor prevê para o próximo governo?
Simon – Seja quem for o próximo presidente, há a necessidade de fazermos um grande entendimento nacional. Não falo em pacto, porque essa é uma palavra desgastada. Temos que nos reunir e decidir quais reformas vamos aprovar. Não digo todas, mas um meio termo, algumas delas. E temos que fazer isso logo, nos próximos seis meses, senão o governo não vai funcionar.
ZH – Por que não?
Simon – Porque o presidente não terá a base de sustentação que teve o Fernando Henrique. O próximo presidente terá grande dificuldade com o Congresso, e precisamos nos unir para fazer o país funcionar.
Cláudio, a morena
A morena veio ondulando em direção a uma das mesas da 114ª zona, na Medianeira. Vestia um jeans justo e uma miniblusa. O mesário Geancarlo Bratkowski, 25 anos, sorriu ao vê-la. Tomou seu título eleitoral. Analisou-o. E o devolveu.
– A senhora me deu o título errado.
– É esse mesmo – respondeu a morena, com voz de tenor, sem nem fazer menção de pegar o título.
– Hein? – o mesário voltou a ler o documento. Lá estava escrito o nome do titular: “Cláudio”. O mesário compreendeu. – Desculpe, o senhor pode passar.
Cláudio se foi, mas reclamou: não gostou de ser chamado de “senhor”.
Bêbados sem rumo
De longe, a mesária Camila dos Passos olhou os dois amigos e murmurou:
– Ai, ai, ai...
Eles caminhavam abraçados, os olhos raiados de sangue. Quando se aproximaram, ela torceu o nariz: o cheiro de cerveja adormecida empesteou a seção 270 do Colégio Rubem Berta, na Vila Jardim.
– Vim votar – apresentou-se um deles, estendendo a carteira de identidade.
Ao procurar o nome do eleitor, no entanto, Camila não o encontrou.
– Não é aqui – disse ela, devolvendo-lhe o documento.
Ao que o amigo do eleitor ralhou:
– Eu te disse! Tu vota em Alvorada!
– Mas eu tinha certeza que era aqui...
E foram-se os dois, abraçados, deixando Camila a suspirar:
– Os piores bêbados são os que chegam mais cedo.
Artigos
A eleição foi ontem, o Brasil é de sempre
Paulo Brossard
Este artigo, como os anteriores, foi entregue à Redação na tarde de sexta-feira, ou seja, escrito antes da votação de domingo. Desse modo, quando for publicado, será nova, ainda que imprecisa, a situação do país e do Estado. Aproveito esta circunstância para dizer que, enquanto o presidente da maior potência econômica, financeira e militar do universo se empenha abertamente em iniciar uma guerra na Ásia, que ninguém sabe como acabará e quais serão suas conseqüências para o mundo, minha preocupação é menor, mas, suponho, melhor do que qualquer aventura bélica.
Como muitos, entendo que Uruguai e Argentina ocupam lugar especial no quadro das nossas relações externas, cada qual com seu perfil; notando-se que o Uruguai já fez parte da comunhão brasileira; foi a nossa Província Cisplatina; chegou a ter seu senador, embora não tenha ele tomado posse no Senado do Império, e dois deputados na primeira legislatura, iniciada em 1826.
Seu sucessor, tenha o nome que tiver, já encontra um monstro de limites incertos
Depois, por artes da França e da Grã-Bretanha, teve sua independência assegurada, com o fito de estabelecer uma faixa que servisse de algodão entre cristais a separar Brasil e Argentina. A sabedoria dos nossos homens políticos conduziu a política externa do Brasil de modo a aproximar cada vez mais o Uruguai. E a iniciativa do Barão do Rio Branco em oferecer ao país vizinho o condomínio da Lagoa Mirim haveria de despertar um capital afetivo em favor do nosso país, que não tem preço.
Por tudo, sempre entendi que o Uruguai era mais do que um vizinho. Depois, as diferenças entre os dois países – territoriais, populacionais, econômicas –, sem pretensões de rivalidade, impunham singular sistema de relações.
Ocorre que hoje o Uruguai atravessa situação obviamente difícil, talvez a mais difícil de sua história. Mas os problemas do Uruguai são pequenos em termos brasileiros, razão pela qual desde muito penso que um regime especial poderia ser concebido para que ele tivesse no Brasil um parceiro regular no comércio exterior, embora sua produção em boa parte seja concorrente à do Rio Grande do Sul.
No tempo que passei em Brasília, tive relações cordiais com os embaixadores uruguaios, e mais de uma vez expus essas idéias.
Exatamente pelas dimensões da crise que hoje perpassa pelo Uruguai, seria o momento de o Brasil examinar o problema e elaborar projeto, ou que outro nome tenha, a fim de fortalecer a economia do país vizinho, com vantagens para ambos. Para isso não faltam boas cabeças no Itamaraty e em outros segmentos da administração superior.
Desgraçadamente, a nossa situação também é penosa. O estúpido endividamento, que é a obra-prima da reeleição, deixa o Brasil em situação de dependência externa nunca vista; não é só; a progressiva deterioração da autoridade, que prosperou sob a displicência vadia de oito anos de fausto, aproximou o nosso país daqueles que, no mesmo território têm dois governos, que é a forma acabada de inépcia política e o esboço mais seguro da deterioração nacional.
Não sei quantas viagens fez o chefe do governo ao Exterior, sempre cercadas de irrestritos louvores oficiais; nesse entretempo, porém, um poder paralelo e rival ao do Estado expandiu-se e agigantou-se e ele não teve tempo de vê-lo e de enfrentá-lo; seu sucessor, tenha o nome que tiver, já encontra um monstro, de limites incertos.
Faz seis dias, neste jornal, jornalista de vasta experiência lembrou ter feito a cobertura de guerras civis e assistido ao bogotazo, em 1948, “quando começou a violência na Colômbia, que dura até hoje”. Começou ele seu artigo com esta sentença terrível na sua simplicidade: “O que vi ontem no Rio nunca vi em toda a minha vida”. Este é o Brasil na fase terminal da reeleição.
Não ignoro que o momento não é propício a iniciativas nobres, contudo sempre é tempo para providências fecundas e úteis, até porque sua implantação demanda tempo, mesmo depois de acertada no plano negocial, que também é demorado. Em suma, “para que o Brasil continue”, como pensava Armando Salles, é necessário pensar no futuro e prepará-lo, sejam quais forem as escabrosas condições do presente.
Quanto à Argentina, os problemas são diferentes. Contudo, o tempo e suas circunstâncias se encarregaram de amainar velhas desconfianças e demonstrar que a frase “tudo nos une, nada nos separa” é mais do que uma frase feliz, e também em relação a ela os fatos demonstram que, se a geografia fez vizinhos os dois maiores países da América do Sul por interesse de cada qual, têm de ser vizinhos solidários.
Enfim, o Rio da Prata volta a ser palco de apreensões relevantes para os três países e momentos de dificuldade parece que facilitam sol uções boas e duradouras.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Transição civilizada
Pelo menos em relação ao processo democrático e à transição, o Brasil já é Primeiro Mundo. O governo Fernando Henrique Cardoso tomou as providências necessárias para que o presidente eleito e sua assessoria tenham todas as facilidades operacionais para a transição. O presidente mantém a disposição de convidar o sucessor a acompanhá-lo nos últimos compromissos internacionais de sua administração, previstos para a primeira quinzena de novembro, com visitas oficiais à Inglaterra e a Portugal. Está, também, na agenda diplomática uma visita à China e à Cúpula do Rio, que será realizada em Santo Domingo, na América Central.
Por razões óbvias, também foi civilizada a transição do governo Itamar Franco a Fernando Henrique Cardoso em 1994. Eleito no primeiro turno, FH acompanhou o então presidente à primeira Cúpula das Américas, proposta pelo governo Clinton para lançar o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O encontro foi realizado em Miami, na Flórida. Dali nasceu a relação de amizade entre o presidente dos Estados Unidos e o presidente eleito do Brasil.
Nos últimos 25 anos, nem sempre foi tranqüila a transição. O ex-presidente João Figueiredo, em 1985, não colocou a faixa presidencial em José Sarney, que, como vice na chapa de Tancredo Neves (eleito pelo colégio eleitoral), assumiu, no impedimento por causa da doença que levaria à morte o político mineiro em abril do mesmo ano. José Sarney, que sempre prezou muito a “liturgia do cargo”, mesmo ameaçado por Fernando Collor de Mello, que ao ser eleito em 1998 prometeu, como primeiro ato de governo, mandar prender o antecessor, transferiu a faixa presidencial ao ex-governador de Alagoas no dia 1º de janeiro de 1990. Collor acabou sendo obrigado a deixar o posto, após um processo de impeachment, em setembro de 1992.
JOSÉ BARRIONUEVO
Uma vitória com a marca de Rigotto
Avitória de Germano Rigotto tem muito da garra do candidato, demonstrada em eleições anteriores, desde que conquistou o primeiro mandato como vereador de Caxias do Sul. Na lanterna por mais de um mês, desde a convenção de junho, Germano Rigotto só avançou uma posição com a desistência de José Fortunati, quando passou para o quarto lugar, com 4%. Nem seus companheiros acreditavam que conseguiria romper a polarização que dividia o Estado entre Tarso Genro e Antônio Britto. Com uma estratégia correta, o candidato do PMDB procurou se apresentar como terceira via, resistindo teimosamente à tentação de bater no PT e a uma adesão a Britto, ex-companheiro, hoje no PPS.
Além dos prognósticos
Rigotto foi além dos prognósticos mais otimistas em relação a sua classificação. Ultrapassou Tarso com expressiva vantagem, chegando na frente no primeiro turno e se posicionou bem em redutos históricos do PT, como Porto Alegre e na maioria das cidades governadas pelo partido. Em Caxias, sua cidade, onde perdeu a disputa da prefeitura para Pepe Vargas em 1996, fez o dobro dos votos.
Larga como favorito
Rigotto larga como favorito para o segundo turno, não apenas pela vantagem obtida mas também pelo natural apoio dos demais candidatos de oposição, embora não seja imediato o acoplamento do PPB. Antônio Britto começou a construir o discurso do entendimento nos últimos 10 dias de campanha, desde que identificou a tendência de ser ultrapassado pelo candidato do PMDB. Na mesma direção foi sua primeira manifestação, encerrada a votação, conhecido o resultado da boca-de-urna.
Zambiasi bate mais um recorde
Com a votação espetacular de ontem, Sérgio Zambiasi (PTB) é pela quinta vez campeão de votos. O presidente da Assembléia Legislativa é o maior fenômeno eleitoral, com a consagração de quatro mandatos de deputado estadual, sempre o mais votado (em 1986 com 365.381, em 1990 com 320.323 votos, em 1994 com 289.024 votos e em 1998 com 217.643 votos). Deu uma resposta ao boicote sofrido do comando nacional do PDT e do seu partido.
Mesmo com a saída de Zambiasi, o PTB elegeu os seis deputados que previa e três federais, dois além da previsão.
Nas mãos de Tarso um projeto da esquerda
Além de uma provável vitória de Lula, outro ingrediente dá maior importância para o desempenho de Tarso no RS. O PT de todo o Brasil e partidos de esquerda do Exterior consideram importantíssima a vitória do petista por significar a consagração de um projeto socialista no Estado. Depois do Fórum Social Mundial, o Rio Grande passou a ser referência da esquerda, que pretende desenvolver um projeto de expansão a partir de um segundo governo do PT.
Lula reforçará campanha
Tarso deixou claro desde os últimos programas no rádio e na TV que vai adotar um discurso light, ao estilo Lula. Vem aí Tarsinho paz e amor, leve, suave, sorridente, otimista. Ao mesmo tempo, ficou estabelecido ontem à noite que será dado destaque a questões nacionais, lincando a campanha no RS ao projeto de Lula na Presidência da República. Também vai proclamar as conquistas do governo Olívio, que estará mais presente na campanha.
Reforço do PDT e do PSB
O PDT poderá ser o único novo partido se acoplar à Frente Popular. Além do PSB, que só se distanciou no primeiro turno por limitação legal (a reeleição de Beto Albuquerque para a Câmara e de dois deputados estaduais reforçam a posição do partido).
O apoio de Brizola a Lula e a possibilidade de o PDT integrar a frente que dará apoio a um presidente do PT, com ocupação de um ministério, pode ter reflexo na eleição no Estado. Seja qual for a decisão do comando do partido, a base do PDT vai marchar rachada.
Ontem, quase todos os deputados do partido manifestaram preferência por Rigotto. Nomes como José Fortunati, Vieira da Cunha, Airton Dipp, Pompeo de Mattos e João Luiz Vargas. O presidente do partido, Pedro Ruas, não antecipa posição. Foi encarregado por Brizola para encaminhar as conversações com Rigotto e Tarso.
PPB fará uma reflexão
Não é automática a adesão do PPB à campanha de Germano Rigotto no segundo turno. Como partido situado mais à direita, há uma tendência neste sentido mais por repulsa ao PT, do que por simpatia pelo PMDB, que é o principal adversário nos municípios, nas disputas locais. O PPB vai construir este entendimento ouvindo as bases, a partir de alguma sinalização, por iniciativa de Rigotto.
O PPB age com cautela, até porque até hoje não recebeu nenhum telefonema de Pedro Simon, a quem ajudou a eleger em 1998, quando o partido deixou de apresentar candidato a pedido de Britto, que exigiu a mesma aliança de 11 partidos em torno do senador.
Bernardi garantiu identidade do partido
Mesmo colocado em quarto lugar, Celso Bernardi mais uma vez, a exemplo do que aconteceu em 1994, foi importante para a afirmação do PPB no Estado. Hoje, o partido é uma marca, majoritária em número de prefeitos e vereadores, e numa segunda posição em termos de representação estadual e federal. Com a derrota de Maluf, o PPB consolida-se no RS como a principal base estadual do partido.
A seu lado, Hugo Mardini, independentemente da colocação no ranking, também reforçou o discurso do partido, numa estratégia correta.
Britto cumpriu tarefa
Britto soube absorver a derrota, cumprindo um papel importante para a indispensável unidade no segundo turno. Em nenhum momento da campanha criticou os candidatos de oposição, facilitando o diálogo para a segunda etapa. Sua postura poderá ser determinante no resultado do segundo turno. Se por um lado foi atingido pelos ataques dos adversários, desempenhou também o papel de oferecer combate ao candidato do PT, que também sofreu arranhões no confronto, que por mais de dois meses esteve polarizado entre ele e o ex-prefeito de Porto Alegre.
Uma aventura que custou caro
A melhor representação da Assembléia fica desfalcada. Dos seis deputados estaduais, apenas três retornam. Para a Câmara, está assegurada apenas a cadeira de Nelson Proença, favorecido pela sua condição de presidente regional do partido e coordenador da campanha, além da abundância de recursos. Proença fez uma campanha com maior visibilidade do que Fogaça, com um visual que se confundia com a propaganda de Britto. Elmar Schneider, cria de Proença, que na undécima hora não foi para o PPS, assegurou reeleição fazendo dobradinha com seu líder em algumas regiões. Mário Bernd, Iara Wortmann e Paulo Odone ficaram de fora.
Também campeão de votos, Paim vence o PT
Em diversos momentos ao longo da campanha, Paulo Paim, outro campeão de votos (em três eleições na Câmara), revelou sua tristeza em relação ao boicote que sofreu por parte da cúpula do partido, por não ser atrelado a nenhuma corrente. Esteve à margem, nos palanques, nas caminhadas e na destinação de recursos. Apoiado pelas bases que não se atrelam às correntes internas, Paim conquistou votos fora do círculo petista, em áreas que não votaram em Tarso.
Sua vitória foi assegurada fora do PT, o que ficou visível na Região Metropolitana.
Ex-pedetistas não vencem no PT
Todos os ex-pedetistas que permaneceram no governo e ingressaram no PT não tiveram sucesso, começando por Emília Fernandes, que se elegeu pelo PTB, concorreu a governador pelo PDT e desembocou no PT. Milton Zuanazzi e Renan Kurtz amargaram mais uma derrota.
• Criatura e criador – Zambiasi teve dupla satisfação ontem. Além da espetacular votação, desbancou Emília, com quem estava rompido desde que a senadora deixou o PTB. Foi Zambiasi o responsável pela eleição de Emília, que já havia desistido até de concorrer à reeleição como vereadora de Livramento.
Fogaça é derrotado pelo partido
Colocado em segundo plano na campanha, mesmo quando Britto não tinha mais nenhuma chance, José Fogaça deixa o Senado reconhecido como um dos mais operosos parlamentares. Faltaram-lhe-lhe os votos do PMDB, ex-partido, destinados a Odacir Klein. Pressionado por Britto e Proença, foi o último a ingressar no PPS.
Teve um desempenho bem acima de Britto e da soma do partido.
Mirante
• A bancada do PT sai das urnas duplamente reforçada: em número de cadeiras e na qualidade dos deputados, contando em seus quadros com Raul Pont, Flávio Koutzii, Adão Villaverde e Estilac Xavier.
• Três suplentes assumem na Câmara de Porto Alegre nas vagas de Paulo Brum, Fernando Záchia e Estilac Xavier. São eles: José Valdir, do PT (ou Bernadete Menezes), Elias Vidal (PTB) e Wilton Araújo (PMDB).
• Bancada ruralista federal deve sair reforçada na Câmara. Além de Luis Carlos Heinze e João Augusto Nardes, mais dois disputam uma vaga: Érico Ribeiro e Francisco Turra. Todos do PPB.
• Na bancada ruralista estadual, Frederico Antunes transformou em votos o trabalho desenvolvido em defesa do setor primário. Também é do PPB.
• No outro lado, frei Sérgio Görgen e Dionilso Marcon, ambos do PT, ampliaram a representação dos sem-terra. Tendem a desembocar num novo partido, com a guinada do PT para o centro.
• Vitoriosa para o terceiro mandato, Yeda Crusius consolida a liderança repetindo grande votação. O PSDB surpreendeu, sem aliança, a exemplo de eleições anteriores, assegurando mais três naAssembléia. Nelson Marchezan, eleito federal, depende da Justiça.
• Campeão de votos, Eliseu Padilha retorna com força à Câmara, em condições de ocupar a liderança da bancada do PMDB já no primeiro ano. Padilha foi importante na consolidação da candidatura de Rigotto e no expurgo de Britto.
• Se Tarso não for eleito, Miguel Rossetto é nome que está nas cogitações de Lula para um ministério. Foi a grande revelação do governo Olívio.
• Dois nomes tiveram grande atuação na campanha de Rigotto: João Carlos Brum Torres, ex-secretário de Britto, de Simon (e de Tarso) e Luis Roberto Ponte.
• Hohlfeldt carrega em seu currículo a condição de número 1 do PT.
• Com todo o barulho, o Capitão Gay não teve sucesso. Fez 1.135 votos. O pessoal do arco-iris desfonfiou de sua opção sexual, depois que enfrentou a gauchada.
• Dupla derrota do casal Fetter em Pelotas. Ganhou Érico Ribeiro.
• Alguém poderia explicar o que o PT festejava ontem com foguetório no Largo da Epatur. Tarso perdeu para Rigotto, Emília, a preferida, perdeu para Paim, as bancadas ficaram abaixo de todas as previsões e Lula não ganhou no primeiro turno.
• Afinal, onde foram parar os votos da Igreja Universal. O PL não repetiu para deputado a votação majoritária.
• Júlio Redecker se consagra como o mais votado do PPB, devendo despontar como líder do partido na Câmara. Deu um passo decisivo para o Piratini em 2006.
• Como candidato a governador do Paraná pelo PT, o padre Roque não teve a mesma sorte de seu irmão, Tarcísio Zimmermann, que retorna à Câmara.
• Com a segunda posição na bancada federal do PMDB, Mendes Ribeiro pretende ser o candidato a prefeito em 2004.
• José Fortunati foi imolado por Brizola. Outro imolado é o presidente do PDT, Pedro Ruas. Vale também para Sônia Santos, do PTB, quase vice de Ciro, que acreditou em Brizola.
• Cézar Schirmer obteve uma consagração em sua terra, onde perdeu a prefeitura para o PT. Teve uma segunda vitória, com a vantagem obtida por Rigotto sobre Tarso, na terra do candidato do PT.
ROSANE DE OLIVEIRA
Ventos da mudança varrem o Brasil
Os ventos da mudança sopraram no Brasil de 6 de outubro de 2002. Mesmo com a classificação do tucano José Serra para o segundo turno, as dezenas de milhões de votos dadas a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, atestaram um desejo de novidade em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso. Juntos, os candidatos da oposição fizeram mais de 70% dos votos válidos.
Os mesmos ventos da renovação inflaram a candidatura de Germano Rigotto (PMDB), que chegou ao segundo turno à frente de Tarso Genro, o candidato do governo Olívio Dutra. Também no Rio Grande do Sul a oposição fez a maioria dos votos. Só os três principais adversários do PT – Rigotto, Antônio Britto (PPS) e Celso Bernardi (PPB) – somaram mais de 60% dos votos válidos.
O segundo turno é uma nova eleição, e nada autoriza a imaginar que será uma disputa fácil para Lula e Rigotto, os vitoriosos do primeiro turno. Pelo contrário, a eleição que se avizinha deverá ser das mais acirradas da História do Brasil e do Rio Grande do Sul. Com tempos iguais no rádio e na TV e debates diretos entre os dois finalistas, o duelo será mais equilibrado. A partir de hoje, começa a busca por apoios com a tendência de unidade dos candidatos de oposição em torno de Lula, na eleição presidencial, e a certeza de que na eleição estadual Britto, Bernardi e o capitão Aroldo Medina, do PL, estarão no palanque de Rigotto.
O sentimento de mudança dos eleitores assegurou também renovação de 100% na representação gaúcha do Senado. Campeões de votos em 1998 na Assembléia Legislativa e na Câmara dos Deputados, Sérgio Zambiasi (PTB) e Paulo Paim (PT) substituirão Emília Fernandes (PT) e José Fogaça (PPS), candidatos à reeleição derrotados nas urnas. Emília e Fogaça passaram quase toda a campanha se revezando na segunda vaga, mas ao final Paim emergiu do quarto para o segundo lugar.
Menos expressiva é a renovação na Assembléia e na Câmara, nem tanto por vontade do eleitor e mais por obra dos partidos, que apresentaram poucas novidades em suas nominatas de candidatos. Todos os 11 deputados federais com mais de 100 mil votos são velhos conhecidos dos eleitores gaúchos.
A maioria dos governadores que estão no exercício do mandato terá de d isputar o segundo turno em 27 de outubro. De Norte a Sul, as oposições – sejam quais forem – saíram fortalecidas das urnas.
Editorial
POR UM DEBATE ELEVADO
O notável espetáculo de maturidade e de civismo que foi a eleição de ontem conduziu a decisão, no que concerne à disputa pelo governo do Rio Grande, a um segundo turno. Essa nova oportunidade propiciada pela legislação brasileira, a partir da reconstitucionalização de 1988, enseja um fecundo aprofundamento do debate em torno das grandes causas de nosso Estado, dos desafios e aspirações de nossa gente, de reivindicações históricas cujo atendimento é essencial à promoção do bem-estar social e à prosperidade econômica de nossa terra.
Germano Rigotto e Tarso Genro, os dois nomes que postularão a partir de agora a preferência dos gaúchos, têm a credenciá-los larga folha de serviços prestados ao Rio Grande. O candidato do PMDB destacou-se especialmente por sua atividade legislativa, quer na Assembléia, quer na Câmara dos Deputados, onde lhe coube, entre outras missões, a da liderança do situacionismo, no primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Já o concorrente do PT distinguiu-se tanto no cenário parlamentar quanto no Executivo, havendo ocupado, por duas oportunidades a prefeitura de Porto Alegre.
Depois de uma primeira rodada marcada, aqui e ali, por forte antagonismo entre diferentes aspirantes ao Piratini, é legítimo esperar que o confronto se trave, nestas três semanas que nos separam do dia 27, predominantemente no terreno elevado das idéias. Conhecem os cidadãos as grandes linhas das propostas defendidas pelos dois candidatos, que se batem por projetos bem identificados, por duas concepções distintas do papel do Estado, por duas visões marcadamente diferentes dos caminhos que o levarão a novos estágios de desenvolvimento. Assiste, assim, aos eleitores, o direito de esperar que Germano Rigotto e Tarso Genro explicitem de forma inequívoca seus programas, para que possa o Rio Grande, com mais ampla noção de seus propósitos, escolher aquele que dirigirá os seus destinos pelos próximos quatro anos.
Aos disputantes que não obtiveram resultados à altura de suas expectativas, incumbe nesta hora o dever de acatar os resultados com senso de responsabilidade, já que foi este um pleito, graças à ação da Justiça Eleitoral, caracterizado por absoluta lisura. Se as contingências da trajetória humana são passageiras, permanente é o objetivo de todos os gaúchos de construir aqui, em um quadro de convivência respeitosa entre os opostos, um modelo de sociedade que certamente reúne todas as condições para se chegar a bom termo. Em outras palavras, um Estado à altura do legado de nossos maiores e apto a assegurar um gênero de prosperidade material que se alicerce na inclusão e na justiça social.
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10/07/2002
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