A imperatriz do Maranhão







A imperatriz do Maranhão
Roseana Sarney dispara nas pesquisas e leva o PFL a pensar em candidatura própria à sucessão de FHC

SÃO LUÍS – Cumprindo seu segundo mandato consecutivo à frente do Governo do Maranhão, a pefelista Roseana Sarney ganhou, nas últimas semanas, uma visibilidade nacional surpreendente até para ela própria. Menos pelo sobrenome – apesar de admiradora confessa do pai, o ex-presidente José Sarney – e mais pelos altos índices de aprovação à sua administração, foi nela que o PFL decidiu jogar todas as fichas para consolidar o partido na sucessão presidencial.

A idéia inicial dos estrategistas do PFL era apenas demarcar espaço e evitar que o PMDB tomasse do partido a vaga de vice-presidente que há duas eleições consecutivas lhe pertence. Mas o balão Roseana ganhou uma pressão extra, que levou a cúpula pefelista, e a própria governadora, a pensar mais a sério na candidatura à Presidência.

Na semana passada vieram os primeiros sinais de que eles estavam no caminho certo. A pesquisa do Instituto Sensus/CNT – que é realizada mensalmente no País – agitou o cenário da sucessão. Indicava uma subida vertiginosa de Roseana, que obteve 19,1% das preferências do eleitorado, consolidando a segunda colocação à frente de Ciro Gomes (PPS) e se insinuando, ameaçadoramente, na cola do petista Luiz Inácio Lula da Silva. “Dentro de mais 40 dias ela encosta em Lula”, comemorava o secretário-geral do PFL nacional, ex-deputado Saulo Queiroz, em visita à governadora, na última quinta-feira, em São Luís. “Temos um veículo em movimento. Agora é administrar a marcha”, arrematou Queiroz, que coordena a campanha pró-Roseana, ao lado do publicitário Nizan Guanaes e do marqueteiro Antônio Lavareda.

A pesquisa que confirmou Roseana Sarney num confortável segundo lugar na corrida presidencial foi precedida por outra, realizada pelo Ibope no Maranhão – sob encomenda do PFL – há duas semanas. Os números não poderiam ser mais otimistas: 88% dos entrevistados aprovam a administração da pefelista, que já havia se posicionado bem em amostragens anteriores.

Para maior alegria da cúpula pefelista, todo esse progresso aconteceu ainda antes da aparição de Roseana no programa do PFL, que foi ao ar, em cadeia nacional de televisão, no dia 1º de novembro. ‘Ancorado’ pela governadora, o programa trouxe um discurso em favor das mulheres e da modernização administrativa.

A fórmula agradou tanto que o partido está pensando em reprisá-la nos programas regionais que levará ao ar no dia 3 de dezembro. Esses programas estavam, inicialmente, destinados a divulgar a atuação do PFL em cada Estado, mas as direções regionais deverão reservar um espaço para apresentar os “melhores momentos” da propaganda nacional.

DISCRIÇÃO – O entusiasmo dos pefelistas diante do bom desempenho nas pesquisas, no entanto, parece não contagiar a governadora, que fala com cautela sobre candidatura presidencial e mantém uma postura até diplomática, evitando atacar os possíveis adversários. Pelo contrário, Roseana Sarney não se furta a elogiar Lula (PT) e Ciro Gomes (PPS), a quem classifica de bons quadros para a disputa presidencial.

Quando o assunto é a manutenção da aliança com o PSDB, a governadora pefelista procura manter distância da briga interna entre os presidenciáveis tucanos, e reafirma a fé na unidade dos partidos da base governista em 2002, inclusive para garantir a governabilidade. “Sem apoio do Congresso, ninguém governará bem o País”, adverte.


Oposição é esmagada pelo rolo-compressor governista
Praticamente imobilizada diante dos índices de aprovação obtidos pela governadora, a oposição maranhense – hoje reduzida a seis, dos 42 deputados estaduais – se esforça para combater a administração Roseana Sarney. Mas o bloco amarga os efeitos de um verdadeiro rolo-compressor governista na Assembléia Legislativa. Há sete anos, nenhum dos seus integrantes consegue aprovar projetos importantes na Casa. Além disso, angariam a antipatia dos colegas por suas insistentes críticas sobre o atrelamento do Legislativo à governadora.

“Roseana não admite sequer emendas ao orçamento do Estado. A própria bancada governista apresenta seus projetos, e quando ela veta, eles acatam o veto. São todos subservientes”, brada Aderson Lago (PSDB), hoje o principal opositor da governadora na Assembléia. Os partidos contrários ao Governo – PT, PSDB, PDT, PSB e PPS – mantêm uma relação de gato e rato nas questões eleitorais. Mas quando o assunto é Roseana os discursos se afinam, ainda que surtam pouco efeito.

Atualmente, a oposição se empenha em atacar quatro pontos da administração. O principal é a paralisação das obras da rodovia Arame-Paulo Ramos, no interior do Estado, obra herdada dos governos de Epitácio Cafeteira (86-90) e Edison Lobão (91-94). Coube a Roseana pagar débitos com empreiteiras, mas a estrada permanece inconclusa. “É injustificável. Ela diz que pagou dívidas de antecessores, mas o dinheiro foi mesmo para a campanha dela”, afirma Lago, que vem travando uma briga judicial na tentativa de incriminar a governadora.

As outras três ações contestadas pela oposição referem-se ao projeto de irrigação Salangô, que não concluído; às obras de recuperação da Lagoa da Jansen, em São Luís; e à duplicação do sistema Italuís, que há 20 anos abastece a capital com água do Rio Itapecuru, a 90 quilômetros de São Luís. “A administração de Roseana é puro marketing, mas não consegue apagar os índices de miséria do Estado”, analisa a única deputada do PT, Helena Barros Heluy. Para ela, apesar dos rótulos de modernidade, o Maranhão ainda vive o “caciquismo” de outros tempos.

BRAÇO FORTE – “Nós conseguimos desenterrar várias caveiras que estavam enterradas no Maranhão, e não temos que nos preocupar com o que diz a oposição”, reage o poderoso gerente de Planejamento do Estado, Jorge Murad, ocupado em rebater, com números, os ataques oposicionistas.

Marido de Roseana, Murad atua também como braço direito da governadora – função que exercia para José Sarney, à época da Presidência da República –, mas evita temas políticos. Prefere providenciar os detalhes técnicos para municiar os gerentes e a própria Roseana nas réplicas aos opositores. “As questões jurídicas levantadas pela oposição são facilmente solucionadas pela Procuradoria-Geral do Estado. Hoje não temos nenhuma pendência nem com o que nos preocupar”, minimiza Murad.


Guerra monta arsenal para 2002
Tucano prepara discurso para as eleições procurando demarcar espaço que o diferencie do vice-presidente da República, Marco Maciel, também pré-candidato ao Senado

Ninguém duvida que a indicação do PSDB a uma das duas vagas ao Senado na chapa governista de 2002 será o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, o deputado federal licenciado Sérgio Guerra. Mas o tucano só larga uma reeleição tranqüila para a Câmara Federal e entra na briga ao lado do vice-presidente Marco Maciel (PFL) – provável nome para ocupar a outra vaga ao Senado – se conseguir demarcar um espaço que o diferencie do candidato pefelista. E, ao mesmo tempo, amorteça o peso do pedigree tucano que carrega no PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Aliados de Guerra, em reserva, confidenciam o desafio que o tucano lançou a si mesmo: “Só saio para senador se Marco Maciel puder adotar um discurso e eu outro completamente diferente”, teria confessado Sérgio Guerra.

O secretário já começou a traçar esse caminho. Quando definiu o PFL como o partido que “não caracteriza uma política de mudanças para o País”, deu o primeiro passo no sentido de marcar a diferença entre o liberalismo de Maciel e a social-d emocracia. Mas não é a distância entre as duas legendas que vai elevá-lo a um patamar diferenciado do pefelista. O tucano precisa distinguir, muito bem, os políticos Sérgio Guerra e Marco Maciel.

O mote para um discurso que embuta a imagem de um tucano que defenda o Estado, que briga por ele, e que não se acomoda quando chega ao Poder, já está na ponta da língua: a criação de um órgão que substitua a Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), extinta pelo Governo Federal. Sérgio Guerra já vem se colocando na trincheira dessa batalha, ao lado de nada menos do que o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB).

O tucano tem participado de todas as reuniões dos governadores nordestinos para tratar do assunto. E se empenhado em garantir a votação do projeto que instituirá o órgão substituto – mantendo o nome Sudene, defende Guerra – antes do recesso parlamentar de dezembro. Tucano como o presidente da Câmara Federal, Aécio Neves (PSDB), ele conseguiu que o presidente se comprometesse a incluir a matéria na pauta.

“Foi um grave erro do Governo Federal extinguir a Sudene. A autarquia não é caso de corrução, mas de envelhecimento. Quando um deputado do PT do Ceará afirmou casos de corrução na Sudene, comparando-a com a Sudam, deu à elite paulista o pretexto moral para liquidar a autarquia. Impossível ser mais anti-nordestino”, critica Guerra.

Hastear a bandeira pró-Sudene talvez seja uma estratégia que empine a candidatura ao Senado de Sérgio Guerra. Porém, missão muito mais difícil será a de posar de tucano de um PSDB diferente do PSDB do presidente Fernando Henrique. Guerra pretende se apresentar como porta-voz de um modelo de social-democracia que se esgotou e que precisa se amparar em novas bases: nas de um programa ancorado no crescimento econômico e na intervenção do Estado contra a miséria.

“O Governo Federal foi competente em cumprir a agenda da austeridade fiscal, mas não foi capaz de perseguir objetivos que somassem uma base social para nos sustentar politicamente”, critica Guerra.


Procurador de olho na antecipação da campanha
Miécio Cavalcanti Uchôa assume a Procuradoria Regional Eleitoral disposto a coibir a antecipação da campanha política e possíveis difamações, com o apoio dos promotores. “Vamos analisar caso a caso”, diz

Faltando menos de um ano para as eleições de 2002, o procurador do Ministério Público Federal Miécio Oscar Cavalcanti Uchôa assume a Procuradoria Regional Eleitoral com o desafio de fiscalizar a atuação de partidos e candidatos, em Pernambuco, que prometem protagonizar uma das campanhas mais acirradas dos últimos anos. É só observar os programas e as inserções partidárias que estão sendo veiculadas. Eles praticamente antecipam a campanha eleitoral que, oficialmente, só deveria começar no segundo semestre do próximo ano.

“Existe um calendário eleitoral que deve ser seguido. Se não for, o Ministério Público tem representação para pedir que a Justiça coíba essa antecipação. Mas temos que analisar caso a caso”, diz Miécio, com bastante cautela para não fazer nenhum tipo de pré-julgamento. “O direito das inserções é garantido por Lei. O partido pode mostrar o seu perfil, suas idéias. Mas não é permitida a deflagração de um processo eleitoral. Muito menos qualquer ato que difame outra pessoa. O partido que se sentir prejudicado pode reclamar. O Ministério Público não precisa só ser provocado, temos a iniciativa da fiscalização”, frisa.

O procurador alertou, no entanto, que qualquer iniciativa da Procuradoria Regional Eleitoral nesse sentido tem que ser tomada observando cada caso com muita objetividade. Para executar esse trabalho, Miécio Cavalcanti Uchôa faz questão de ressaltar a importância da participação do Ministério Público estadual. Por isso, logo nesta primeira semana no exercício do cargo, Miécio vai se reunir com o procurador-geral de Justiça do Estado, Romero Andrade. Ele quer agendar um encontro com os promotores estaduais.

“São eles (os promotores) que estão na linha de frente e deflagram os processos na esfera municipal. Hoje o promotor tem uma atividade intensa. Há uma fiscalização muito maior”, reconhece. Miécio afirma, no entanto, que o fato de incentivar o rigor na fiscalização não significa que fará qualquer tipo de censura contra os candidatos. “Sou radicalmente contra a censura. Os políticos e os partidos têm responsabilidade. A Justiça e o Ministério Público têm que aparecer o mínimo possível. Só devemos interferir quando as coisas saem do eixo”, argumentou, com a experiência de quem já foi procurador regional eleitoral em 88 e 89.

Nessa segunda vez que exerce a função, Miécio ressalta que o maior avanço da Justiça Eleitoral foi ter investido na informatização das eleições. “Em 89, se passaram dias para termos o resultado. Hoje é imediato”, lembrou.


Uma chamada que não incomoda
Justificativas apresentadas pelos parlamentares ao se ausentarem das sessões são acatadas pela Mesa Diretora, que não pretende alterar o horário das chamadas

Se o simples trabalhador pernambucano estava a imaginar que chegara o tempo em que um parlamentar seria punido com o desconto do dia de salário pela falta ao serviço, assim como acontece com qualquer mortal eleitor, é bom ainda não se entusiasmar. Na semana em que entrou em vigor o corte do ponto de deputados faltosos, o placar foi o seguinte: ausentes 18 x 0 faltas. O artilheiro do jogo foi OK, tudo bem!, com dez deferimentos.

Nos três primeiros dias dedicados à pauta de votação com chamada nominal e corte do ponto – as terças, quartas e quintas-feiras são utilizadas pelo plenário da Assembléia Legislativa para projetos, moções e títulos –, muita gente faltou, todo mundo se justificou e ninguém vai ter a falta anotada, muito menos os R$ 200 por dia descontados dos R$ 6 mil de salário. Na última quinta-feira, 31 deputados compareceram e 18 faltaram, a maioria justificando-se e uns poucos prometendo enviar o formulário depois.

Na quarta-feira, na hora da votação da ordem do dia, 33 dos 49 deputados estavam presentes, enquanto na quinta-feira havia 38. Para evitar que a pressão pela presença no plenário gere estresse, a Mesa Diretora decidiu abrir uma exceção ao regimento interno, passando a chamada para o meio-tempo da sessão. O regimento prevê a chamada nominal para o final do grande expediente. A Mesa decidiu fazê-la depois do pequeno expediente e após a votação da ordem do dia. “O regimento diz que, desde que haja acordo entre lideranças, a Mesa concorde e o plenário aprove, a chamada pode ser mudada. Foi o que aconteceu. O plenário é soberano e decidiu antecipá-la após a votação da pauta”, explicou o presidente da Assembléia, Romário Dias.

Porém, o grande expediente – espaço para os discursos e debates sobre questões locais, nacionais e até internacionais – ficou praticamente às moscas. Na quarta, a sessão acabou às 16h30 e na quinta, às 16h10, quando os trabalhos começam às 14h. Com o argumento de que o regimento está sendo ferido, o líder das oposições, deputado José Queiroz (PDT), fez um apelo público, propondo que a ordem do dia seja votada depois do grande expediente. “O presidente Romário Dias sugeriu que a questão seja decidida na próxima terça-feira, na reunião da Mesa com as lideranças dos partidos”, anuncia Queiroz.

O presidente afirma, entretanto, que o assunto está decidido e que a maioria da Mesa e das lideranças vai manter as etapas atuais: pequeno expediente, ordem do dia, chamada e grande expediente. “Só quem quer a ordem do dia no final é o Queiroz”, diz Romário.


Artigos

Andando na Andaluzia
FRANCISCO BANDEIRA DE MELLO

A importância do turismo. Leio no ABC da Andaluzia q ue, na mesma semana em que as estatísticas apontavam aquela região como a de menor crescimento industrial na Espanha, 600 mil pessoas a visitavam “em busca das tradições e do bom clima, com a conseqüente e invejável injeção econômica”. Vê-se, assim, “o eterno salva-vidas que permite à Andaluzia contornar sua desvertebração produtiva e seu atraso industrial”. Divulgo essa nota para chamar a atenção de Pernambuco – que também possui suas belas tradições e um bom clima, o que o torna, desde há algum tempo e cada vez mais, um bom destino turístico. (Bem que João Cabral irmanou o sol e a tradição das duas regiões, o Nordeste e a Andaluzia ou o Recife e a cidade de Sevilha). E é nessa linha, por exemplo, que muito aplaudo a diretriz do Governo Jarbas Vasconcelos – assim como nos tempos (em que fui Secretário de Turismo) de Marco Maciel, José Ramos, Roberto Magalhães, Gustavo Krause – de caprichar na respeitosa promoção turística da Semana Santa em Pernambuco e das manifestações religiosas de modo geral – nossas procissões, igrejas, altos do cruzeiro, pontos de romaria etc. A propósito, é preciso dar ainda maior atenção ao Santuário de Pesqueira (Sítio da Guarda), onde houve a visão de Nossa Senhora e para onde poderia convergir a grande força da fé católica e, concomitantemente, sem qualquer desdouro para a religião, o benefício do grande turismo. (Fátima/Portugal e Lourdes/França, por exemplo, que o digam).

No ano passado, aliás, eu fui um dos 600 mil de que fala o jornal ABC da Andaluzia. (Fui levado por meu filho Francisco José e a minha nora Anselma). E, com Sylvia, pude presenciar a fé e o “carnaval” das procissões de Sevilha, Múrcia, Alicante, Córdoba etc. Com seus desfiles, flores e cores e andores, seus cânticos e orquestras, e missas e correrias e engarrafamentos. Uma bela Semana Santa. (Bela também a de Pernambuco, com a Paixão de Cristo como carro-chefe). Na Andaluzia, diz ainda o ABC, “roçou os 100% a ocupação hoteleira” e só em Málaga cerca de 10 mil pessoas foram mobilizadas em empregos temporários (o jornal chama de “empregos submersos”). Mas abro um parêntese. Nem tudo foram flores: houve pânico em Sevilha (eu soube pelos jornais). A propósito, repito o que já contei aqui no ano 2000. Eu estava lá e poderia dizer: “meninos, eu vi”.
Mas, embora acordado até às 3 da madrugada, como um penitente blasé,junto com meus familiares, só presenciei o lado bonito e religioso da festa. Além das costumeiras palmas e dos gritos – “guapa! guapa!” em louvor à Virgem da Macarena – não vi nada, ou quase, do que foi estrondosamente noticiado. “Infartos, Fraturas e Numerosas Crises de Nervos/ Balanço dos Incidentes”, estampou, no domingo seguinte, o ABC/Andalucía. “A madrugada sevilhana da Sexta-feira Santa foi um caos”, diz o jornal. E acrescenta: “O pânico e as avalanches produziram mais de uma centena de pessoas atendidas, muitas delas feridas, golpeadas ou presas de histeria”. (E olhem que se tratava de uma Sexta-feira Santa).
As confrarias realizavam suas estações de penitência, seguindo o itinerário previsto. Umas 600 mil pessoas, segundo dados oficiais, ocupavam a avenida principal e as ruas adjacentes para contemplar as confrarias, quando algo inesperado “rompeu o bulício normal”. A avalanche se produziu. Alguns nazarenos “com círios e suas cruzes de madeira deambulavam sem rumo fixo”, meio a grandes correrias, enquanto jovens gritavam que alguém havia dado um tiro na Virgem.
Após o que “a imagem do centro da cidade era própria de uma tragédia”. Outras manchetes: “A Virgem de Alhambra não pôde sair por causa da chuva”, “Fuengirola/Colocam um falso explosivo num carro policial quando passavam duas confrarias”, “Granada/Terremoto de 2,9 graus na Sexta de Madrugada”, “Orgiva/Um ferido na procissão será indenizado”, “Já são 13 os mortos nas estradas nesta Semana Santa” etc. Quanto a mim, insisto, não vi nada disso; só vi o lado bonito/religioso da festa. (Por falar em coisas bonitas: no ano que vem irei de novo, já fui mais de 30 vezes, pernambucanamente, ao espetáculo da Paixão de Cristo na Nova Jerusalém).


Colunistas

Pinga-Fogo - Inaldo Sampaio

Fadiga de material
Como o dinheiro da Celpe está-se escasseando e o Governo do Estado ainda não foi capaz de equilibrar as suas próprias contas, parte dos deputados da base governista começa a ficar novamente inquieta com a possibilidade de Jarbas Vasconcelos abdicar da reeleição. O governador não abre a guarda sobre o que irá fazer em 2002. Mas é provável que entre as suas preocupações esteja a “síndrome” do segundo mandato, que tanto impopularizou o presidente Fernando Henrique Cardoso e uma parte dos governadores. Parodiando o deputado Joaquim Francisco, oito anos de poder desgasta o político por causa da “fadiga do material”.
Óbvio que ele não decidirá o que irá fazer antes de conhecer primeiro as chapas dos principais partidos de oposição: PSB e PT. Depois que os seus candidatos forem conhecidos, aí sim, ele reunirá os partidos da aliança para armar também a sua estratégia. Isso, em fevereiro ou março do próximo ano porque em abril será tarde demais.
Aparentemente é uma decisão fácil, porém no fundo ela é dificílima. É que o projeto político não é propriedade dele só, e sim do conjunto da aliança, que é formada por quatro partidos e envolve muitos interesses. De uma coisa porém todos fiquem certos: aquele “auê” de 98 não existe mais. Se ele puder escapar para o Senado...escapará.

Tigre do Araripe
Integrando o governo ou a oposição, o ex-deputado Felipe Coelho marcou época na Assembléia Legislativa como representante do Araripe. Teve 11 mandatos consecutivos, igualando-se a Ulysses Guimarães (PMDB). Hoje, aos 77 anos, está sofrendo do “mal de Parkinson” e não reconhece mais ninguém. Mas deixou um herdeiro na política: o filho Anísio Coelho (PMDB). Que é vereador em Olinda e empresário do ramo de medicamentos.

Supremo 1
Marco Maciel não deu qualquer sinal de que aceitaria ser ministro do Supremo, a partir de abril de 2002, na vaga de Néri da Silveira, que estará completando 70 anos. Toda a sua movimentação política é de candidato a senador. Se chegar lá, terá sido o 1º político pernambucano nos últimos 50 anos a eleger-se três vezes para a Câmara Alta.

Supremo 2
O próximo presidente da República, seja ele quem for, nomeará entre 2003 e 2004 cinco dos 11 ministros do STF. Temento que essa pessoa seja Lula, setores conservadores do Congresso só vêem um remédio contra isto: aprovar a emenda à Constituição elevando de 70 para 75 anos o limite de idade para aposentadoria dos membros do Judiciário.

Fechado com “Nena” pro que der e aparecer
Politicos ligados ao prefeito Speck (Paulista) já o viram mais entusiasmado com a candidatura de Nena Cabral (PMDB) à Assembléia Legislativa. Mas de uma coisa estão convencidos: irá com ele pro que der e vier.

Por que ele não vem a Pernambuco?
Só nos últimos 25 dias Garotinho (RJ) esteve em SP, SC, GO, PA, DF e MG, fazendo campanha para presidente. Alguém do PSB precisa explicar porque ele não vem a Pernambuco. Teria brigado com alguém de cá?

Novos municípios
Terminará em 31/12 a vigência de Lei de autoria de João Braga (PV) proibindo emancipação de novos distritos em Pernambuco. Há 27 projetos em tramitação, dos quais pelo menos dois não podem deixar de ser aprovados: os que emancipam Nascente (Araripina) e São Domingos (Santa Cruz do Capibaribe).

Dono da bola
Luciana Santos acomodou em Olinda todos os partidos de esquerda, mas o “núcleo do poder” é do PCdoB. São comunistas, além dela, os secretários Renildo Calheiros (governo), Luciano Moura (saúde) e Marcelino Granja (finanças). Todos os outros secretários têm que bater continência par a um desses três.

O sul maravilha é outra coisa. Cubatão, no interior paulista, com pouco mais de 100 mil habitantes, arrecada por mês R$ 220 milhões. Caruaru, no interior de Pernambuco, com 250 mil habitantes, arrecada em média R$ 4,5 milhões ao mês, o que deve dar no final do ano um pouco mais de R$ 50 milhões.

É paraibano de Teixeira o deputado menos votado da Câmara Federal: João Tota (PPB-AC). Obteve apenas 5.477 votos. Em 1990 Arraes arrastou consigo três deputados federais com menos de 5 mil votos: Roberto Franca, Renildo Calheiros e Álvaro Ribeiro. Ele é candidato de novo em 2002, mas aquele fenômeno não se repetirá.

Dizem que o ministro Serra é chato mas Tasso Jereissati é muito mais. Costuma ser seco nas respostas, é pouco acessível aos representantes da imprensa e parece não gostar da classe política, embora faça parte dela. Foi um dos motivos pelos quais o senador Sérgio Machado (ex-PSDB) abandonou-o.

Foi uma mão de obra para Pedro Corrêa (PE) impedir que Maluf fosse estrela no programa eleitoral do PPB. O ex-prefeito queria 10 minutos para defender-se das acusações de desvio de dinheiro para um banco suíço, mas o deputado não cedeu. Depois de uma penosa negociação, deu-lhe o tempo de rádio para utilizar.


Editorial

Bons e maus ventos

A moeda brasileira vem se fortalecendo em relação à americana, no câmbio flutuante. É preciso registrar isso, pois trata-se de fator muito positivo para a nossa economia. Desde março, o Banco Central (BC) começou a preocupar-se com as taxas de valorização do dólar (no momento, seu preço situava-se em torno de R$2,10) e iniciou uma série de intervenções no mercado cambial para tentar reverter a tendência. Simultaneamente, aumentavam-se as taxas de juros, ao se constatar que a demanda agregada estava aquecida e a inflação em alta. A tentativa de conter a depreciação do real não teve sucesso, firmando-se a convicção de que se tratava de especulação. Foi quando o BC fortaleceu suas intervenções no mercado e empurrou para cima a taxa de juros. Mesmo assim, o preço do dólar atingou R$ 2,835, antes de começar a cair.

Governo e analistas fazem fé na atual apreciação nominal da moeda brasileira. A política de intervenções cambiais, atualmente, envolve expressiva mudança na administração da dívida pública. Transmite-se ao público a idéia de que o BC não está agindo isoladamente e fazendo mais uma aposta na valorização da moeda, e sim agindo dentro de uma decisão de governo. Essa política inclui a redução do custo da dívida pública. Toda política intervencionista tem maior chance de sucesso quando os ventos sopram a seu favor, segundo observa o ex-diretor do BC e hoje consultor José Júlio Senna. Para ele, as pressões sobre o mercado de câmbio estão sendo aliviadas, soprando aqueles ventos a favor: há sinais de que a balança do comércio exterior está virando, abrindo possibilidades positivas para 2002; há bons resultados na área fiscal, tendo a meta de superávit primário de 2001 sido atingida já em setembro; prevê-se um bom comportamento do núcleo da inflação nos próximos meses; as reservas internacionais se reforçam por antecipação de receitas (polonetas); e a situação argentina tem afetado cada vez menos o risco Brasil.

Infelizmente, os ventos podem soprar desfavoravelmente. Temos que reforçar os fundamentos que sustentam a taxa de câmbio e fortalecer os sinais e indicações acima enumerados. Por que o governo não reduz as taxas de juros se acredita, como apregoa, que os fundamentos da economia brasileira estão sólidos? Não foram enfrentadas questões estruturais ligadas à competitividade, com políticas industriais e comerciais adequadas, política de financiamento sustentável. O Banco Mundial (Bird), por exemplo, não confia muito que tenha diminuído o risco Brasil, conforme seu relatório Global Economic Prospects. Observa que as dificuldades do Brasil resultam, em boa parte, de uma dependência excessivamente alta de financiamento externo, fruto da deliberada política de abertura. Vale notar que organismos internacionais como FMI, Bird, fazendo coro ao discurso (desmentido na prática) dos países ricos por irrestrita abertura comercial, pregam abertura e mais abertura aos países em desenvolvimento. Depois, criticam dependência, política de abertura...

Segundo opina, com razão, o deputado e ex-ministro Antonio Kandir, a vulnerabilidade das contas externas é hoje a principal ameaça ao crescimento econômico. “Para que nossa economia volte a expandir-se a taxas que superem em muito as da expansão demográfica, é fundamental não apenas colocar o déficit público sob controle, mas também reduzir progressivamente o nosso déficit de contas correntes para um nível que torne o seu financimento muito fácil”, escreveu ele em artigo na imprensa. Por isso é que retornamos sistematicamente à tecla do projeto nacional segundo nossos interesses, sem prejuízo da globalização, à da autonomia de decisões; em vez das sempre repetidas apostas.


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11/11/2001


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