A onda da união






A onda da união
O governador do Ceará entra na corrida disposto a manter unida a base governista e falando em prévias. Hoje, ele almoça com presidenciáveis do PFL e do PMDB. José Serra não foi convidado

Sem um nome forte para entrar na corrida presidencial acima dos 20%, os partidos da base governista deflagram seus ensaios. A nova onda chama-se Tasso Jereissati (PSDB), governador do Ceará pela terceira vez. Ele chega hoje a Brasília para um almoço com outros dois governadores também cotados para disputar a Presidência, Roseana Sarney (PFL), do Maranhão, e Jarbas Vasconcelos (PMDB), de Pernambuco. O resultado será um pedido formal de prévias aos respectivos partidos para escolha do candidato governista à sucessão presidencial.

A reunião representa para Tasso um ponto a mais dentro do partido, o PSDB. Deixará nas entrelinhas que ele é mais palatável aos demais partidos da base aliada ao presidente Fernando Henrique Cardoso do que o ministro da Saúde, José Serra, o grande ausente do encontro. Amanhã, Tasso terá outras reuniões em Brasília e, no dia 22, será homenageado pelos familiares do ex-governador de São Paulo, Mário Covas, que, antes de morrer, anunciou Tasso como seu candidato.

Tasso, segundo analistas tucanos, pode fechar a semana como o nome do PSDB mais entrosado com os demais partidos aliados. No encontro com Roseana e Jarbas, por exemplo, ficará patente a distância que o separa de Serra. Os políticos mais afinados com a candidatura Serra descartam a prévia a ser discutida hoje. ‘‘A prévia é inexequível, tanto do ponto de vista prático de definição de quem pode votar, quanto do ponto de vista político. Como é que um governador como Tasso sairá de seu estado para ficar percorrendo o Brasil em campanha. E como é que um ministro pode deixar seu trabalho?’’, pergunta o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA), um dos maiores entusiastas da candidatura de Serra.

Jutahy lembra que a prévia poderá desestimular o consenso e virar terra adubada para intriga política. ‘‘O PSDB tem que escolher o seu candidato e seu programa e apresentar aos aliados. Esse negócio de candidato da base não existe. Os candidatos são de partido’’, completa. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também descartou a prévia: ‘‘O PSDB não pode abrir mão de indicar o candidato à Presidência da República’’

Prévia ampla
A proposta de prévia ampla entre os partidos da base governista para escolha do candidato foi apresentada há alguns meses pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen. O PPB aceitou. O presidente do PSDB, José Aníbal, não. Disse que precisava ainda consultar o partido. No encontro do PSDB em Goiânia (GO), venceu o meio-termo, proposto pelo presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), de fazer uma consulta informal às instâncias partidárias.

Enquanto os governistas ensaiam a busca de um candidato único capaz de vencer a candidatura favorita de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidenciável do PT segue já em franca campanha. Hoje, ele estará em Brasília, dia mundial da alimentação, para lançar a última versão do projeto ‘‘Fome Zero’’, uma das bandeiras petistas para as eleições de 2002. O programa prevê a distribuição de cupons alimentação para 44 milhões de pessoas e está orçado em R$ 21 bilhões.


Roriz escala o seu time
Enquanto os partidos de esquerda do Distrito Federal ainda procuram um caminho que leve à unidade nas eleições do ano que vem, o Palácio do Buriti já definiu os nomes que vão compor a chapa majoritária para 2002. O anúncio, segundo o governador Joaquim Roriz (PMDB), vai ser feito nos próximos dias. Com habilidade política, Roriz distribuiu os quatro cargos — governador, vice e duas vagas no Senado — entre PMDB, PSDB, PPB e PFL, principais partidos da base aliada, e evitou baixas dentro da sua aliança de sustentação.

A cabeça de chapa ficou com o próprio Joaquim Roriz, que tenta ser governador pela quarta vez. A vice, hoje ocupada por Benedito Domingos, deixou de ser do PPB e passou para o PSDB, representado pela secretária de Coordenação das Administrações Regionais e deputada federal licenciada Maria de Lourdes Abadia.
Para compensar, o PPB ganhou uma das vagas ao Senado, que será disputada pelo secretário de Saúde do GDF e deputado federal licenciado Jofran Frejat. A outra vaga ao Senado foi dada ao mais novo aliado do governo, o PFL. Quem disputará o cargo será o presidente regional do partido, o deputado federal Paulo Octávio.

‘‘Eu estou preparado e serei outra vez candidato. Nossa chapa para o Executivo já está concluída. Só falta um grande anúncio’’, afirmou Roriz, durante a solenidade de inauguração de dois viadutos no Pistão Sul, em Taguatinga. ‘‘Temos uma grande frente, em que os partidos maiores foram contemplados. A princípio, o entendimento dessa chapa já está consolidado’’, garante Paulo Octávio. ‘‘Não acredito na 3ªvia. As alianças é que fazem a diferença’’, entende Abadia.

Puxadores de votos
Fora da chapa majoritária, o vice-governador Benedito Domingos foi escalado para ser, junto com o deputado Wigberto Tartuce, o puxador de votos do PPB para a Câmara Federal. ‘‘Estamos aqui para somar e não para dividir o grupo’’, avisa Domingos. Já para a Câmara Legislativa, o papel ficou com os distritais João de Deus e João Carlos Medeiros.

Assim como o PPB, os outros três grandes partidos governistas definiram os seus puxadores de voto. No PFL, estão Osório Adriano e José Roberto Arruda para a Câmara Federal e Aguinaldo de Jesus, Jorge Cauhy e Agrício Braga para a Legislativa.
Entre os tucanos, não há nomes para deputado federal ainda. Mas na briga pelo cargo de distrital estão Anilcéia Machado e José Rajão, tentando a reeleição, e os secretários de Ação Social, Gustavo Ribeiro, e de Meio Ambiente, Antônio Barbosa. E ainda o Pastor Vitor, disposto a conquistar sua vaga.

No PMDB, o secretário de Obras Tadeu Fillipelli e os deputados Jorge Pinheiro e Alberto Fraga encabeçam a lista para federal. Mais acirrada está a corrida pela Câmara Legislativa. Os distritais Gim Argello, presidente da Casa, José Edmar e os licenciados Daniel Marques, secretário de Trabalho, Odilon Aires, de Assuntos Fundiários, e Eurides Brito, de Educação, tentam renovar o mandato. Na mesma briga, ainda estão os suplentes Silvio Linhares e Nijed Zakhour e a secretária de Habitação Ivelise Longhi.


GIM GOVERNADOR
O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Gim Argello (PMDB), assume, hoje à tarde, o comando do GDF por três dias. Antes de viajar para Caracas, na Venezuela, em companhia do vice-governador Benedito Domingos (PPB), o governador Joaquim Roriz (PMDB) transmite o cargo ao deputado, em uma cerimônia simples, marcada para 13h, no próprio aeroporto internacional de Brasília. Roriz e Benedito viajam acompanhados de três secretários — Weligton Moraes, de Comunicação, José Luiz Vieira Naves, de Relações Institucionais, e Ivelise Longhi, de Desenvolvimento Urbano e Habitação — para participar da 10ªReunião de Ministros e Autoridades Máximas de Habitação e Urbanismo da América Latina e Caribe — Minurvi. No encontro, a equipe pretende apresentar o programa habitacional do Distrito Federal, voltado, principalmente, para atender a população com renda de até seis salários mínimos. Desde que foi eleito presidente da Câmara, em fevereiro desse ano, é a primeira vez que Gim Argello chega à chefia do Executivo.


STJ nega novo recurso a Paulo Maluf
O ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) foi derrotado no Superior Tribunal de Justiça em ação que discute o contrato firmado entre a Petrobras e o consórcio Paulipetro para prospecção de petróleo na Bacia do Paraná. A 2ªTurma do STJ negou recursos de Maluf e da Petrobras contra decisão anterior que anulou o contrato de risco, em dezembro de 1997, por considerar que o mesmo continha ilegalidades e era lesivo ao patrimônio público federal e estadual.O contrato obrigava o Estado a gastar aproximadamente US$ 200 milhões na prospecção de petróleo numa área que a Petrobras já tinha pesquisado, sem encontrar nada. Ontem, os filhos do ex-prefeito Lina e Otávio, e a nora Jacqueline prestaram depoimento ao promotor Sílvio Marques, da Promotoria da Cidadania de São Paulo, sobre as supostas contas bancárias da família no paraíso fiscal da ilha de Jersey. Os três não responderam às perguntas.


Luiz Otávio é bola da vez
O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado se reúne hoje para votar o relatório da senadora Heloísa Helena (PT-AL), que recomenda a abertura de processo contra o senador Luiz Otávio (sem partido-PA). A expectativa é que algum senador peça vistas do processo e a votação seja adiada para a próxima semana. Luiz Otávio foi indiciado pela Polícia Federal por crime contra o sistema financeiro e é apontado como responsável pelo desvio de R$ 37 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele é dono da empresa Rodomar, que conseguiu a liberação do dinheiro em 1992 para a construção de 13 balsas, que nunca foram construídas.


Bloqueio dos bens de Jader
O Ministério Público Estadual apresenta hoje ação civil pública contra o ex-senador Jader Barbalho pedindo ressarcimento de danos pelo desvio de recursos do Banco do Estado do Pará (Banpará), em 1984. Jader é suspeito de ser o principal beneficiário das transações fraudulentas com cheques administrativos, que foram parar em suas contas e nas contas de seus parentes e assessores. Os procuradores também vão pedir a indisponibilidade dos bens do ex-senador e de todos os envolvidos nas acusações como garantia de ressarcimento ao suposto prejuízo. Todos os envolvidos no caso Banpará foram identificados pelos procuradores com base no relatório do Banco Central e na nota técnica da 5ªCâmara do Ministério Público Federal.


Artigos

Tirania da ilegalidade
Ana Dubeux

Tão repleto de problemas — estruturais ou conjunturais, para usar as expressões mais ao gosto dos eruditos —, o Brasil parece ter assumido, definitivamente, a sua incompetência em combater a ilegalidade miúda, aqueles pequenos delitos e deslizes que tantos cidadãos, no dia-a-dia, costumam cometer. É claro que, no mundo das leis, todos os delitos são passíveis de punição, e sua amplitude varia conforme a gravidade do ato. Mas o que ocorre, no país real, é a impunidade em todos os níveis, sem que pequenos ou grandes delinqüentes sejam processados, julgados e punidos como manda a legislação. Vejamos o caso do Distrito Federal, por exemplo.

Recentemente, por decisão da Justiça, foi preso um célebre organizador de invasões. Um homem que se auto-intitula líder comunitário, mas que se esmerou, nos anos recentes, em reunir pessoas para ocupar terras públicas ou privadas, erguer barracos e barricadas, promover arruaças, depredar e destruir. Solidamente sustentado por um emprego público (nomeado, não concursado) e abrigado por políticos sem nenhum compromisso com o futuro da cidade, mas com o prosseguimento de seus projetos pessoais, esse cidadão conhecido como Pedro Barbudo invade e manda desocupar, faz ameaças, manipula e manobra legiões de desvalidos como se gado fossem.

O governo do Distrito Federal, há muito tempo, tem se mostrado frouxo, débil, virtualmente acovardado diante do crescimento das atividades desse e de outros promotores de invasões e badernas. Não é de agora que se confunde sensibilidade social com frouxidão moral. Ou bem o governador é eleito para cumprir e fazer cumprir as leis, ou então entregue-se definitivamente aos delinqüentes, aqueles que não vêem na sociedade e em suas normas caminho correto e adequado para a solução dos conflitos.

Brasília não pode, capital que é, converter-se em palco central de demonstrações de impunidades por causa da fraca atuação das autoridades. A cidade que agora cassa e pune políticos com incrível velocidade e assiduidade pode, muito bem, começar a ser igualmente zelosa na defesa do direito do cidadão comum a uma vida regida pela lei, e não pelo desejo de minorias dispostas a fazer-se ouvir a qualquer custo. Não é preciso acenar com estatísticas para que o GDF desperte de sua letargia e passe às ações, enfrentando a questão das invasões de frente.


Editorial

O 11 de setembro e a pobreza

Quando os Estados Unidos espirram, o mundo tem pneumonia. A afirmação tornou-se lugar comum ao se falar na influência do desempenho da economia americana no comportamento das economias do resto do planeta. Depois dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos foram acometidos de pneumonia aguda. Em conseqüência, as demais nações, sobretudo as pobres, vão padecer de infecção. Algumas brandas. Outras graves.

Estudos do Branco Mundial mostram, em cifras, o impacto do ataque a Nova York e Washington sobre a pobreza global. Antes de 11 de setembro, a desaceleração das economias dos Estados Unidos, Japão e União Européia se vinha refletindo no crescimento dos países emergentes. Dos 5,5% previstos para 2001, recuou-se para 2,9%. Em 2002, o percentual chegaria a 4,3%. Esse número, devido ao retardamento da recuperação dos países ricos, poderá ser de 0,5 a 0,75 ponto percentual menor. Em outras palavras: os pobres ficarão mais pobres.

As conseqüências do terror terão um custo alto. A agressão aos Estados Unidos ceifou mais de seis mil vidas. As bombas e mísseis contra o Afeganistão mataram, segundo fontes americanas, 300 pessoas. É possível que o balanço seja bem maior. O Unicef calcula que o inverno e a fome, em decorrência da desarticulação do que restava da economia afegã, responderão, nos próximos meses, pelo óbito de cem mil crianças.
Fora do teatro de guerra, o número de vítimas se multiplicará. Com a perda de renda, o Banco Mundial calcula que, nas nações pobres, se adicionarão entre 20 mil e 40 mil mortes de crianças. Dez milhões a mais de pessoas engrossarão o contingente dos que vivem com até US$ 1 por dia. Mais: se houver ruptura das estratégias em prol do desenvolvimento, grandes massas irão cair para a linha de pobreza.

O quadro preocupa. Mas os Estados Unidos dispõem de excepcional arsenal terapêutico. Nele se inclui keynesiana injeção de recursos governamentais e redução de juros, além do estímulo indireto às indústrias bélica e de equipamentos de segurança. A demanda agregada desses setores está sendo estimulada. Com esses recursos e outros que a pujança do país propicia, a recuperação tem condições de ocorrer no curto prazo.
Para o Brasil, a crise pode representar uma oportunidade de crescimento das exportações. Vários países muçulmanos terão dificuldade de fazer comércio com Washington. Brasília terá chances de deslocar concorrentes americanos e aproveitar nichos do mercado para exportar. Alimentos, automóveis, equipamentos industriais (sobretudo de segurança) oferecem boas perspectivas neste momento difícil. Quando a economia americana recuperar a saúde, o Brasil terá mais facilidade de aproveitar de modo pragmático as chances propiciadas pela retomada do crescimento econômico. É importante não deixar o bonde passar.


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10/16/2001


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