Onda Ciro se estabiliza









Onda Ciro se estabiliza
Segundo Ibope, candidato interrompe crescimento e tem 25%. Lula lidera com 34%

A onda Ciro pode estar arrefecendo. É o que mostra a pesquisa do Ibope, divulgada ontem no Jornal Nacional, da TV Globo. Ciro Gomes, do PPS, que nos últimos 15 dias subira, em média, quatro pontos percentuais por semana, caiu um ponto em relação à sondagem anterior do mesmo instituto, feita há seis dias. Ele aparece agora com 25% das intenções de voto. Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, mantém-se na liderança, com 34% - um ponto a mais do que no último levantamento. O tucano José Serra continua em terceiro lugar, com 14%, um ponto a mais que na pesquisa anterior e três à frente de Anthony Garotinho (PSB), que continua com os mesmos 11%. Pela primeira vez apareceu o candidato do PSTU, José Maria de Almeida, com 1%.

Desde que a onda Ciro teve início e ele ultrapassou Serra - na pesquisa Ibope do dia 8 deste mês - sua candidatura começou a ser alvejada, o que contribuiu para frear o crescimento. Adversários enfatizaram a participação de integrantes da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor no comando da campanha. Para complicar a situação, PTB e PPS, partidos da Frente Trabalhista, de Ciro, insistiram no apoio a Collor para o governo de Alagoas.

Apareceu, ainda, um empréstimo suspeito tomado por um dos coordenadores da campanha de Ciro, o deputado José Carlos Martinez, presidente do PTB, com Paulo César Farias, o PC - tesoureiro de campanha de Collor que morreu assassinado em circunstâncias mal esclarecidas. Martinez disse que o empréstimo fora declarado à Receita Federal, mas depois, quando se provou que a afirmação era falsa, calou-se e passou a evitar a imprensa. Na opinião pública a impressão de que os colloridos tinham forte presença na campanha de Ciro - acusação já feita pelos tucanos - se fortaleceu.

Surgiu também uma denúncia de corrupção contra o candidato a vice na chapa de Ciro, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente licenciado da Força Sindical. Ele foi acusado de fraudes com dinheiro do FAT em projetos da central sindical. Até ontem Paulinho se recusava a comentar a denúncia ou se defender, o que deixou incomodado até mesmo seu aliado Roberto Freire, presidente do PPS e membro do comando da campanha.

Na simulação de segundo turno, Ciro derrota Lula por 47% a 42%. Mas o petista vence Serra (por 49% a 38%) e Garotinho (50% a 33%).

O Ibope ouviu duas mil pessoas, em 145 municípios, entre os dias 27 e 29 deste mês. A margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais.

Também foram divulgados ontem os números do Datafolha. Eles trazem uma pequena diferença em relação aos índices do Ibope. Lula aparece em primeiro lugar, com 33% (tinha 38% na pesquisa anterior do mesmo instituto, feita há pouco mais de três semanas). Em segundo lugar está Ciro, com 28% (no levantamento anterior aparecia com 18%). Em terceiro vem Serra, com 16% (tinha 20%). E em quarto fica Garotinho, com 11% (na sondagem anterior aparecia com 13%).

Na simulação de segundo turno, Ciro bateria Lula por 48% a 44%. Mas num confronto com Serra, o petista venceria por 50% a 40%.

A Datafolha ouviu 2.477 pessoas em 127 municípios, ontem, e a margem de erro é de dois pontos percentuais.
Domingo, o instituto Vox Populi, que começa a aplicação de questionários amanhã, anuncia os resultados de nova pesquisa.


Frente vai isolar Martinez
Medida é de 'proteção'

BRASÍLIA - A Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT) iniciou ontem um movimento para isolar gradualmente o presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), da coordenação da campanha de Ciro Gomes. Será assim, até ser encontrada uma explicação para as circunstâncias em que Martinez recebeu dinheiro do tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, PC Farias. Segundo o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), Martinez cuidará só de questões internas da aliança. ''Temos de protegê-lo do tiroteio.''

O presidente do PPS, Roberto Freire, disse ontem que o afastamento de Martinez acontecerá naturalmente. ''Ele vai perceber que sair do comando da campanha será melhor para todo mundo.'' O presidente do PTB também foi aconselhado pelo comando da campanha a não falar mais sobre o empréstimo. Foi por isso que ele respondeu às denúncias apenas por meio de uma nota, anteontem. Desde então, está evitando a imprensa.
Martinez admitiu ter pedido um empréstimo a PC Farias para a compra da TV Corcovado, no Rio, em 1991. Não foi claro quanto à quitação da dívida. A assessoria do deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão e inventariante de PC, informou ao JB que o empréstimo foi renegociado e ainda está sendo pago.

O responsável pelo Programa de Imposto de Renda no Centro-Oeste, Gilberto Carreiro, explica que as dívidas com valores superiores a R$ 5 mil devem ser declaradas à Receita Federal até a completa quitação. Segundo a nota de Martinez, o empréstimo consta apenas das declarações de 1992 e 1993.

A dívida também não aparece nas declarações de bens enviadas ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná. Segundo o assessor do TRE-PR, Marden Machado, o empréstimo não consta de nenhum documento entregue pelo deputado à Justiça Eleitoral.

Roberto Jefferson diz que o negócio foi concluído. ''Mas isso não é importante. Crimes fiscais prescrevem em cinco anos'', afirma. ''Não há nada que auditores fiscais possam fazer.''


Inocêncio deve fechar com Ciro
BRASÍLIA - O desembarque oficial do líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), na candidatura de Ciro Gomes (PPS-PDT-PTB), deve ser fechado em uma reunião entre ambos na próxima semana, finalizando uma novela cheia de oscilações.

Inocêncio já apoiou a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney; execrou o candidato do PSDB, José Serra, dizendo que jamais votaria nele. Depois, comandou o apoio do PFL pernambucano à candidatura do tucano. Para, enfim, chegar à conclusão. ''Apoiar Ciro é o meu caminho natural''.

Para formalizar o apoio, só falta a conversa final com Ciro. O líder do PFL já negociou com o presidente nacional do PTB, José Carlos Martinez (PR), com o líder do partido na Câmara, Roberto Jefferson (RJ) e com o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). A migração maciça dos pefelistas para a candidatura da Frente Trabalhista, incluindo os 43 prefeitos que dão sustentação política a Inocêncio no Estado, e as suspeitas de envolvimento do presidenciável José Serra com o episódio da invasão do escritório da Lunus, no Maranhão, foram fatores essenciais na decisão.

Inocêncio confidenciou a assessores que chegou a declarar apoio a Serra, através da coligação em Pernambuco, mas nunca pediu votos para o tucano. Ele preferia fazer campanha para o governador Jarbas Vasconcelos.


PT: reforma urgente
Lula: ''Candidatos usam nome de Deus em vão''

No serviço de alto-falante da Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, a Rádio Saara, no Centro do Rio, o candidato à Presidência da República do Partido dos Trabalhadores (PT) criticou as taxas de juros, prometeu ''dobrar o poder de compra do salário-mínimo em quatro anos''. Luiz Inácio Lula da Silva também desafiou o governo a convocar o Congresso para votar, ''em caráter emergencial'' a Reforma Tributária, como forma de estabilizar a crise econômica, ''ao invés de ficar indo ao FMI pedir dinheiro emprestado''.

No estúdio, ao lado da governadora petista Benedita da Silva Lula também falou sobre a área da Segurança. Segundo o presidenciável, não é possível resolver esta questão sem um ''conjunto integrado de medidas'' que vão desde o aumento nos salários dos policiais até uma política de geração de empregos.

''O empre go se transformou em obsessão para mim. Até a segurança pública vai melhorar, substancialmente, quanto a gente não tiver mais 53 milhões de brasileiros passando fome'', disse o candidato.

O tema também foi alvo de comentários do candidato, de manhã na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde foi elogiado por empresários. Lula garantiu que pretende ter uma relação de ''parceria'' com o empresariado. ''A divergência com Lula diminuiu'', afirmou o presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva. ''A convivência é democrática. Há muitas concordâncias no que defendo e no que a Fiesp quer. Se eleito terei uma parceria de co-responsabilidade que nenhum outro presidente teve'', afirmou.

Atrasado, o presidenciável chegou no início da noite a Duque de Caxias, onde pretendia fazer uma caminhada. No carro de som, falou a um público de cerca de 500 pessoas, basicamente, sobre a candidatura de Benedita da Silva à reeleição para o governo estadual, criticando ''candidatos que usam o nome de Deus em vão em campanhas eleitorais''. Ainda ontem, o PSB, o PTC e o PGT, partidos que apóiam a candidatura a presidente de Anthony Garotinho, ingressaram com ação contra a coligação ''Lula Presidente'', no TSE. Lula e Benedita foram acusados de usar a máquina administrativa nas próprias campanhas.


Serra rebate acusação
CURITIBA - O candidato do governo à Presidência, José Serra (PSDB), afirmou ontem que Ciro Gomes e a cúpula da sua campanha usam a ''estratégia do pega-ladrão'' quando o acusam como responsável pelas denúncias contra o coordenador da campanha, José Carlos Martinez (PTB), e o vice da Frente Trabalhista, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

''Você pode estar certo de uma coisa: o coordenador-geral da campanha de Ciro ter sido sócio de PC Farias e ter negócios (com a família de PC) até hoje, não é fruto da imaginação de ninguém; o fato de seu vice (o de Ciro) ter problemas tão graves na direção do seu sindicato (a Força Sindical), ou na vida privada, não é invenção de ninguém'', afirmou Serra. Ele se referia ao fato de Martinez ter tomado emprestado o equivalente ao que seriam hoje R$ 27,85 milhões do tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias, em 1991. Parte da dívida ainda é devida aos herdeiros.

Paulinho, presidente licenciado da Força Sindical, teria comprado uma fazenda valendo-se de testa-de-ferro. E na presidência da Força, teria trocado benefícios destinados a trabalhadores por dinheiro para a entidade.

''Eles estão adotando a estratégia do pega-ladrão, aquela do sujeito que bate carteira no calçadão e sai correndo com ela gritando pega-ladrão, para distrair quem passa'', afirmou o candidato.


Garotinho é criticado na Bovespa
Para corretores da instituição, candidato à Presidência é cômico, folclórico e tem um discurso surreal

SÃO PAULO - O candidato à Presidência da República, Anthony Garotinho (PSB), defendeu ontem, em palestra para corretores da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a ''popularização do mercado de capitais'' para ampliar a rentabilidade dos pequenos investidores e garantir mais recursos para investimentos produtivos. Seu discurso, no entanto, foi considerado ''surreal'' pelos profissionais. Segundo eles, Garotinho é ''cômico, folclórico e sem conteúdo''.

Os corretores justificaram essa avaliação citando que o candidato dá respostas evasivas, sem fundamentos técnicos. Os momentos considerados mais ''surreais'' do discurso de Garotinho foram suas respostas sobre o que as empresas deveriam fazer para conseguir crédito no exterior, com o risco Brasil batendo recordes seguidos. Garotinho argumentou que empresa ''boa'' tem sempre crédito lá fora.

O presidenciável considerou também que os juros deveriam cair para 15% e que os salários deveriam ser reajustados com as mesmas regras utilizadas para a alta do preço do gás, e das tarifas públicas. E criticou o mercado interno. ''O mercado é elitista, diferente do que acontece em outros países, onde a Bolsa é democrática e tem a participação de todos.''

Para Garotinho, o investidor precisa ser protegido ''com práticas transparentes, de respeito aos contratos''. Segundo ele, a confusão entre o mercado de capitais e o mercado financeiro é prejudicial para a Bolsa. ''O mercado de capitais muitas vezes é vitima do mercado financeiro'', salientou, enquanto suas palavras tinham repercussão negativa nos bastidores da Bovespa.

Outra medida pregada pelo candidato do PSB é a redução de impostos e taxas para as operações do mercado de capitais. ''Com um mercado fortalecido, o volume de transações seria maior, o que facilitaria o acesso das empresas ao crédito'', disse. ''Os países emergentes têm uma taxa real média de cerca de 3.,5%, enquanto a do Brasil, é de 10%'', complementou. O presidenciável também criticou a política de juros imposta pelo FMI e aceita pelo governo brasileiro. Segundo Garotinho, essa política colocou o Brasil ''de joelhos'' e sem liberdade para crescer.


Jorge Roberto fala à Firjan
Candidato prevê a criação de 50 mil empregos diretos

O candidato da Frente Trabalhista ao governo do Rio, Jorge Roberto Silveira (PDT-PPS-PTB), disse ontem que, se eleito, pretende criar 50 mil empregos com obras de saneamento básico no Estado. Ao lado de Leonel Brizola, presidente nacional do PDT, Jorge participou, durante quatro horas, de um encontro fechado com a direção da Federação das Indústrias do Rio (Firjan), no Centro.

Durante a reunião, foi discutido também projetos voltados para o cinema, ponto muito focalizado atualmente pelo sistema Firjan. O candidato quer gerar empregos também através do que considera ''indústria cultural'', em parceria com a entidade.

Ao sair do encontro, porém, o assunto foi político. Jorge revelou que deve receber o apoio formal de mais dois prefeitos da Baixada Fluminense, que não pertencem à coligação. Ele vem mantendo conversas com o prefeito de Nilópolis, Farid Abraão David, e de São João de Meriti, Antônio de Carvalho (PMDB). ''Já fui prefeito e entendo a língua deles'', disse o candidato.

No domingo, o JB adiantou que os prefeitos da região estão se reunindo para decidir quem apoiar nas eleições deste ano, independentemente da coligação partidária, como prevê a legislação.

Durante o evento de ontem, Jorge Roberto comentou sobre as especulações a respeito da possível renúncia do candidato à Presidência Anthony Garotinho (PSB). Embora Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, tenha dito que não aceita aliança com o socialista, Jorge destacou que sua candidatura está aberta para receber apoio. ''Na minha opinião, qualquer apoio é bem-vindo, mas essa questão deve ser decidida por Ciro e por Brizola, que já foi traído por Garotinho'', frisou o candidato.

Na busca de mais alianças de prefeitos dissidentes, Jorge parte para o interior fluminense em dez dias. Há uma semana, ele revelou que conseguiu apoio de políticos no Noroeste do Estado, sem citar nomes.


Solange busca os votos da polícia
Depois de lançar, na segunda-feira, seu plano de segurança pública no hotel em que mora o atual secretário da pasta no Rio, Roberto Aguiar, a candidata ao governo Solange Amaral (PFL-PMDB-PSDB) escolheu ontem dois órgãos da administração de Benedita da Silva (PT) para panfletar o seu programa. Pela manhã, ela esteve durante meia hora na frente do prédio da Secretaria de Segurança, no Centro.

Solange entregou ''livretos'' com o programa para os policiais que trabalham no prédio, mas muitos deles recusaram. A candidata seguiu então para a sede da Polícia Civil, a três quilômetros da secretaria, e fez o mesmo. Lá, ela se deparou com o secretário Roberto Aguiar, que saía do edifício, mas ambos não se falaram.
Solange justificou sua pre sença nos dois locais como uma campanha voltada para estimular os policiais. ''Precisamos mostrar aos profissionais que há uma alternativa'', disse. Em almoço com esportistas, a candidata revelou que praticou vôlei na adolescência.


Artigos

O adversário de Lula
Octávio Costa

Toda cautela é pouca com prognósticos eleitorais. São incontáveis os exemplos de viradas de última hora e de favoritismos que não se confirmaram. Analistas políticos não cansam de citar a surpreendente vitória de Harry Truman sobre Thomas Dewey nos Estados Unidos e a fragorosa derrota de Sandra Cavalcanti nas eleições para o governo do Rio em 1982. Catedrático da sábia escola das Minas Gerais, Wilson Figueiredo faz advertência amiga: ''Evite previsões taxativas. A campanha mal começou. Nada está decidido''.

Quem não arrisca não petisca. Com a ajuda das pesquisas, é possível tirar algumas conclusões. A primeira delas: Garotinho é carta fora do baralho. Cometeu erros imperdoáveis - como a mistura de política e religião - e não se recupera mais. Na classe A não passa de 2% dos votos. Joga a culpa na imprensa e adotou a tática altista de só dizer o que lhe interessa, não importa a pergunta dos repórteres. Sua candidatura está ferida de morte.

Há quem se atreva a afirmar que Lula vai morrer na praia. Seria ultrapassado por Ciro e Serra. Acho a aposta furada. Lula é legítimo representante da esquerda (ou leftwing, como dizem os gringos assustados com o PT). Na eleição de 1989, foi zebra ao tirar Brizola do páreo por diferença mínima. Mas nas duas tentativas seguintes assegurou um balaio de votos entre 25% e 35%. A mesma faixa que se vê na Câmara dos Deputados, onde a bancada da esquerda conta com 20% do total. Lula tem a simpatia de estudantes, professores, operários e camponeses sem terra. Sua candidatura é orgânica. Renova o sonho socialista. Isso, certamente, lhe garante a passagem para o segundo turno.

Ciro e Serra correm na mesma raia. Disputam os votos da classe média e dos bolsões conservadores que se arrepiam só de pensar na vitória do PT. Falam diretamente aos brasileiros que não desejam mudanças bruscas nos rumos do país. Brasileiros que se afligem com as mazelas sociais e reconhecem as injustiças, mas que não acreditam em terapias intensivas. Preferem dar passos seguros, mesmo que pequenos, diante das imensas dificuldades.

Em favor de Ciro pesa o desgaste de oito anos de tucanato. Mesmo nos Estados Unidos, republicanos e democratas não resistem a dois mandatos presidenciais seguidos. Os eleitores preferem alternância dos partidos. Na França, 14 anos de Mitterrand custaram caro ao Partido Socialista, que até hoje não se recuperou. Fernando Henrique será julgado pela História, mas, agora, a opinião pública quer renovação. Ciro, porém, subiu rápido demais e entrou na linha de tiro. Resta saber se sua campanha resistirá às denúncias e aos ''dragões da maldade''.

Para o mercado financeiro, a sorte está selada entre Lula e Ciro. Faz pouco de Serra. Mesmo a vantagem do horário gratuito - no qual Serra terá o dobro do tempo de Lula e o triplo de Ciro - não impressiona. Na atual eleição, há espaço para entrevistas e debates na TV com grande audiência, talvez mais do que os programas oficiais. Serra tem outra carta na manga: colar sua candidatura no governo Fernando Henrique. Não fazia mesmo sentido posar como candidato de oposição. Se FH tem 25% de aprovação, por que não buscar esses votos? E, em hipótese otimista, passar ao segundo turno. Enfim, Serra não decolou, mas alimenta esperança.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Ao Congresso, as traças
Nada de anormal que dois meses antes da eleição muita gente esteja indecisa e o quadro ainda indefinido. Afinal, Copa do Mundo, que é Copa do Mundo, só mobiliza as massas mesmo dias antes de começar, que dirá eleições, cujo apelo popular não se pode comparar ao do futebol.

Natural, portanto, que o número de indecisos seja até bem maior que o expresso nas pesquisas de opinião. Normalíssimo também que se alterem os resultados ao sabor das ondas eleitorais; perfeitamente admissível que todos os que dispõem de eleitorado encham-se, na mesma proporção, de esperanças.

Tudo muito bem, tudo perfeitamente aceitável. Menos a assustadora evidência de que, de presidente para baixo, ninguém está dando a menor importância para o resto da eleição.

Em 6 de outubro haverá escolha de governadores, senadores e deputados, mas, notadamente no que se refere ao Parlamento, essa realidade está praticamente ausente da vida política. Do cotidiano das pessoas então, nem se fala.

Pesquisa recente mostra que menos de 2% do eleitorado tem conhecimento de que haverá eleição para o Senado. E isso porque se trata de uma votação de mais destaque e caráter majoritário.

Ainda se faz algum debate sobre os candidatos a senador. Mas, a respeito dos deputados, sabe-se coisa alguma. Pergunte-se ao vizinho de mesa no restaurante - seja um nobre salão ou popular bandejão - em quem vai votar para deputado e, se não for ele mesmo um candidato, a resposta quase certa será a expressão parva dos que desconhecem a natureza do assunto em discussão.

Poderíamos, a partir desse ponto, enveredar o raciocínio pelo sedutor terreno da atribuição de responsabilidades ao alheio. Além de delicioso, do ponto de vista da faxina na consciência, é facílimo discorrer sobre a alienação do sujeito que não sabe em quem vota, muito menos por quê, e depois dá-se ao desfrute de passar quatro anos desancando todas as reputações que dão expediente no Congresso Nacional.

O problema é que as coisas não são tão simples assim. É verdade que a maioria é indiferente à conformação do Parlamento e não tem noção de que ali, passada a eleição, estará a representação da sociedade, em tese, funcionando por delegação da mesma.

Não obstante seja essa a dura realidade, é fato também que os veículos de comunicação não levam em conta o pleito em toda a sua magnitude. Muito mais cômodo e barato publicar pesquisas, e daí em diante, comentar seus resultados ou as reações dos candidatos a elas, do que pôr o pé na estrada e a cabeça para funcionar.

Antes que o leitor aponte para cá seu dedo acusador, estamos todos incluídos nessa visão distorcida do que seja uma eleição geral. Inclusive o leitor que, se não é despertado para a importância do exercício da representatividade, também não acha ruim que não seja demandado a tal.

Podemos, nessa lista, escrever também os nomes de certo tipo de candidato - a maior parte deles, é possível afirmar, sem medo de incorrer numa injustiça - que prefere chegar ao Legislativo pela via de compromissos outros que não aqueles firmados com a representação popular.

Estabelece-se, então, um acordo tácito, e pérfido, pelo qual representantes e representados fazem de conta que têm uma relação, mas, de verdade, não se sentem minimamente comprometidos uns com os outros.

Essa indiferença em relação à eleição do Congresso gera conseqüências bastante graves, sendo a mais evidente o fato de deixarmos passar a oportunidade de melhorar a composição do Poder Legislativo.

Considerando a fragilidade dos partidos, a fragmentação de forças políticas e a quantidade de iniciativas que dependem do Parlamento, ignorar a escolha de deputados e senadores equivale quase que a abrir mão de metade do direito do voto. É como se os brasileiros, em outubro, elegessem apenas meio presidente.

Comparação
Depois de amargar um duro início e uma relação dificílima com a população, a prefeita Marta Suplicy pode estar a caminho da reconciliação com sua popularidade.

Pelo menos é o que indicam os números de uma pesqu isa Datafolha comparando Marta com outros antecessores, todos igualmente com um ano e meio de mandato cumprido.

Marta tem, nessa amostra, 29% de ótimo e bom, 42% de regular, e 27% de ruim e péssimo. Jânio Quadros saiu-se o pior na comparação, que o mostrava assim em 1987: 9% de ótimo e bom, 24% de regular, e 66% de ruim e péssimo.

A então petista Luiza Erundina, quatro anos depois, tinha 21%, 36% regular, e 42%. Paulo Maluf, 25%, 38% e 36%.

Celso Pitta estava assim, em 1998: 11% de ótimo e bom, 26% de avaliação regular, e 62% o consideravam ruim ou péssimo com um ano e meio de administração.


Editorial

O BRAÇO DA LEI

O Ministério Público fez a denúncia contra o vereador do PT e ex-secretário municipal e cinco empresários de ônibus de Santo André. E o juiz Jasin Issa Ahmed (1ª Vara Criminal) aceitou. São acusados de formação de quadrilha para cobrar propinas de empresas e de concussão (extorsão praticada por servidor público). O juiz desatou o nó de um caso que vinha gerando desconfiança na opinião pública. E determinou o indiciamento dos denunciados e a quebra do sigilo bancário e fiscal deles (dentro e fora do país) desde 1997 até 2001, além de pedir informações às administradoras de cartões de crédtio, levantamento de imóveis em todo o território nacional e declarações de Imposto de Renda. Cercou os suspeitos de todos os lados legais.

À alegação dos advogados dos envolvidos (a denúncia teve interesse político), o juiz respondeu que ''a parcialidade dos acusados não impede a imparcialidade do fiscal da lei''. E ainda que ''o possível se tornou provável'', pois cabe ao Ministério Público a execução da lei.

Esta é a segunda vez em que a oportunidade se oferece ao PT para, como maior interessado na transparência dos atos administrativos sob sua responsabilidade, empenhar-se no completo esclarecimento de um episódio envolvido em mistério. A coincidência da eleição nacional e a morte do prefeito de Santo André tem aparência de medo da verdade.

Tudo que já faz sentido não implica sequer remotamente os dirigentes nacionais do PT, a não ser pelo desinteresse e certa conivência que se voltarão contra a imagem da legenda que fez da moralidade na vida política brasileira a razão superior para pedir o voto dos cidadãos.

O único aspecto que falta ser iluminado no episódio sombrio é revelar o motivo de um silêncio que parece um pacto oculto em proveito dos suspeitos.


Topo da página



07/31/2002


Artigos Relacionados


Onda Ciro poderá arrastar senador para a Câmara Federal

Mão Santa critica 'onda vermelha' e diz que Brasil precisa de uma 'onda verde-amarela'

A onda da união

Ministério do Turismo adere à onda do braggie

“Onda Limpa”, da Sabesp, investe R$ 40 mi em Ubatuba

CDHU entrega 156 casas em Onda Verde