A pedidos, ONU não visita Maranhão









A pedidos, ONU não visita Maranhão
Governo tentou evitar que PFL desse conotação política a inspeção da entidade no Estado da governadora Roseana Sarney

SÃO PAULO - A Organização das Nações Unidas (ONU) preferiu usar de diplomacia e cedeu às pressões do governo brasileiro. A missão da entidade internacional enviada para levantar dados sobre a miséria nacional não vai ao Maranhão, a pedido do governo - que teme agravar a crise entre PSDB e o PFL. A ONU desistiu da visita apesar de reconhecer que o Estado da candidata do PFL, Roseana Sarney, é o detentor dos piores índices sociais no País.

O indiscreto revelador do segredo, que constrangeu autoridades do alto escalão, foi o relator especial da entidade para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler. ''Brasília nos pediu para não ir ao Maranhão'', ''confidenciou'' a jornalistas em numa entrevista coletiva, em São Paulo. ''A preocupação das autoridades é que a governadora (Roseana Sarney) interpretasse mal nossa inspeção, achando que tivesse cumplicidade do governo Federal.''

Ziegler disse que o pedido oficial partiu do secretário de Estado para Direitos Humanos do Ministério da Justiça, Paulo Sérgio Pinheiro. ''No memorando de entendimento, enviado no final do ano passado, a visita ao Maranhão estava em nossos planos porque, de acordo com diversos relatórios internacionais, é o Estado com os piores indicadores sociais do país. Mas não queremos criar problemas a um importante país integrante da ONU.''

O Maranhão, apesar de não receber visita, também constará do relatório final. ''Estamos recebendo documentos de entidades civis que denunciam desvios de verba destinada para combater as dificuldades sociais no Estado, denúncias que serão anexadas.''

Reforma agrária travada - A missão está no País desde o primeiro dia do mês, período em que Ziegler se encontrou com o presidente Fernando Henrique Cardoso e visitou alguns Estados. O relator disse que a reforma agrária brasileira ''simplesmente não progride'', e elogiou movimentos sociais como o MST. ''No meu relatório final, quero homenagear esses movimentos, que deveriam servir de exemplo para o mundo''.

No documento, a ser apresentado em setembro, na Assembléia Geral das Nações Unidas, o Brasil aparecerá como violador do pacto número um - que trata do direito à alimentação -, assinado pelos países-membros. Números oficiais atestam que cerca de 23 milhões de pessoas passam fome. Em um relatório do PT governo, esse número pula para 44 milhões de pessoas.

Ziegler comentou os contrastes do Brasil, país que, segundo ele, tem aspectos comparáveis à França e Alemanha e outros mais próximos de Serra Leoa. ''Uma das coisas que mais me impressionaram foi ver cinco meninas em Recife, que foram violentadas por policiais e estão grávidas'', disse ele, que deixará o Brasil no dia 21. Hoje, ele visitará dois presídios em São Paulo e depois estará no Rio de Janeiro.


Fraude bate no Congresso
Papéis revelam envolvimento de deputado maranhense nos desvios da Sudam

SÃO LUÍS - As investigações do esquema maranhense de fraudes na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) batem à porta do Congresso Nacional. Na documentação transferida quarta-feira de São Luís para Palmas, no Tocantins, os procuradores da República encontraram indícios de participação de parlamentares em projetos suspeitos de fraude. É o caso do deputado federal Francisco Coelho (PFL-MA). Seu nome consta de uma espécie de planilha, apreendida pela Polícia Federal em setembro do ano passado, com outras 200 pastas e 16 computadores no escritório da AC Rebouças, na capital maranhense. Coelho foi secretário de Estado nas duas gestões da governadora Roseana Sarney.

O parlamentar é apontado como beneficiário de um pagamento de quase R$ 500 mil feito pela AC Rebouças. A empresa foi responsável pelo serviço de consultoria ao polêmico projeto Usimar, que previa a instalação de uma fábrica de auto-peças e exploração de ferro-gusa no distrito industrial de São Luís.

A Usimar, ligada ao grupo paranaense de Teodoro Hubner, recebeu R$ 44 milhões em dinheiro do Fundo de Investimento da Amazônia (Finam), mas o empreendimento foi abandonado. A AC Rebouças também assessorou outros projetos financiados pela Sudam. Estima-se que cerca de R$ 300 milhões da extinta autarquia teriam sido desviados por empresas no Maranhão. A governadora Roseana presidiu a reunião em que foram aprovados sete projetos, inclusive o da Usimar.

Tempo - Procurado pela reportagem do Jornal do Brasil, o deputado diz que manteve participação societária na empresa Agrobalsas Empreendimento Industrial e Agropecuário S/A, mas teria vendido suas cotas ainda em 1997. ''Passei para a frente há muito tempo'', afirma. Ele não sabe precisar quem são os novos donos da empresa. ''Isso ocorreu em 1997, nem lembro'', justifica.

Coelho confirma que sabia da existência de apontamentos no escritório da empresa AC Rebouças que o colocavam como beneficiário de pagamentos. ''Nunca fui chamado a depôr pela Polícia Federal'', afirma. ''Estou esperando para esclarecer tudo.''

O deputado diz conhecer o empresário Aldenor Rebouças, dono da AC Rebouças, em cujo escritório também foram apreendidos papéis que ligariam a Lunus Participação e Serviços, empresa da governadora e do marido Jorge Murad, às fraudes na Sudam. Entre 1995 e 1998, Coelho foi secretário de Agricultura e Abastecimento do governo Roseana. No segundo mandato, iniciado em janeiro de 1999, tornou-se gerente de Desenvolvimento Regional de Balsas, ao Sul do Maranhão. Era subordinado a Murad.

Terra natal - Coelho nasceu em Balsas e foi eleito em 1998 pelo PFL com 62.395 votos. É na cidade natal que estão empreendimentos suspeitos de fraudes na Sudam. Um deles é a Nova Holanda Agropecuária, que até 1994 era controlada pela Lunus, de Jorge Murad, e hoje é de propriedade da Agrima Indústria de Calcário. A PF vai pedir a quebra do sigilo bancário de quatro empresas que prestaram serviços para a Nova Holanda - doadora de recursos para as duas campanhas de Roseana, em 1994 e 1998.

A Agrobalsas - que pertenceu a Coelho, como ele reconhece - também recebeu dinheiro da Sudam. Em 2000, a empresa ganhou a injeção de R$ 1,2 milhão, entrando na composição da carteira de debêntures do Banco da Amazônia, que administrava o Finam. ''Nunca houve problemas. Tudo foi fiscalizado e aprovado'', justifica o deputado. Segundo informações da Polícia Federal, o nome do parlamentar constava como proprietário do imóvel onde foi instalado o projeto da Agrobalsas, na cidade de Balsas.

A região é apontada pelo governo estadual como a área de maior crescimento econômico no interior do Maranhão. ''É o pólo agro-industrial do Sul-maranhense, apoiado na maior área de cerrado do Estado, onde a cultura de soja se acha em constante evolução'', ensina a página do governo na Internet www.maranhao.gov.br.


Governo paga por serviço que PF faz
Ministérios e tribunais superiores contratam empresas para rastrear grampos. Agentes federais não cobram pelo trabalho

BRASÍLIA - Ministérios, tribunais superiores e outros órgãos públicos federais pagaram, de janeiro do ano passado até agora, mais de R$ 1 milhão por um serviço que a Polícia Federal oferece de graça. A pretexto de rastrear escutas telefônicas, apenas o Ministério da Saúde desembolsou R$ 501,5 mil em pagamentos à empresa Fence Consultoria Empresarial. De acordo com dados do Siafi, o sistema de controle de gastos da União, isso equivale a 53% dos R$ 944,9 mil que a empresa de contra-espionagem recebeu do governo nesse período. A Interforte, que presta serviços semelhantes ao da Fence - inclusive para a Marinha e a Aeronáutica -, recebeu R$ 73,6 mil em 2001.

O Instituto Nacional de Criminalística, vinculado à PF, oferece o mesmo serviço gratuitamente.''Basta uma requisição das autoridades federais e mandamos uma equipe realizar as varreduras e montar um plano de prevenção'', afirma o diretor interino do INC, delegado João Luís Teixeira. A equipe de peritos do Setor de Eletrônica do instituto é pequena - são cinco técnicos -, mas os equipamentos da PF são melhores e mais eficientes que os das empresas privadas, garante Teixeira.

Depois de consultar um dos peritos, o delegado informou que, por causa das inovações tecnológicas na área, é quase impossível monitorar diariamente a existência de grampos. ''O melhor é fazer varreduras sistemáticas para descobrir os pontos vulneráveis dos sistemas de telecomunicações'', ensina.

Conta milionária - Ontem, o ministro da Saúde, Barjas Negri, confirmou ter firmado contrato de R$ 1,8 milhão com a Fence. O PFL acusa o PSDB de montar uma operação de espionagem contra a candidata à Presidência, Roseana Sarney. O beneficiado seria José Serra, antecessor de Barjas no ministério e candidato do PSDB. Barjas negou que a Fence faça escutas telefônicas ou tenha se envolvido em qualquer operação contra a governadora do Maranhão.

Negri explicou que o contrato foi fechado para garantir a segurança dos técnicos e secretários. ''É para ter mais tranqüilidade para trabalhar'', justificou. O ministro não acionou o serviço gratuito da PF porque, segundo ele, tanto o INC como a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não tem estrutura para executar a tarefa. ''Podem fazer isso de vez em quando, uma ou duas vezes por ano.''

Para demonstrar que a contratação de arapongas privados é prática usual em Brasília, Negri divulgou a lista de unidades da administração federal que mantêm contratos com a Fence: Caixa Econômica Federal, Supremo Tribunal Federal e Tribunais Superiores Militar, da Justiça e do Trabalho.


Lula volta à cena e critica “jogo baixo”
Petista reaparece na semana da prévia

No auge da crise entre o PFL e o PSDB, deflagrada pela operação da Polícia Federal na empresa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e de seu marido, Jorge Murad, ele se manteve em silêncio. Passada a tempestade, o candidato à Presidência da República do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, saiu da toca. E comentou a tormenta sem meias palavras. ''A candidatura dela sofreu um forte baque e acho que dificilmente continuará na disputa'', disse Lula. ''Aquela gaveta cheia de dinheiro deixou a sociedade brasileira estarrecida, até porque seria ilegal arrecadar dinheiro para campanha'', avaliou.

O candidato do PT defendeu investigação rigorosa, tanto da origem do R$ 1,3 milhão encontrado no cofre da empresa do casal, quanto das suspeitas de grampo telefônico clandestino e elaboração de dossiês contra a governadora por integrantes do governo. ''A Roseana não tem como escapar e deixar de explicar à sociedade o que aconteceu'', provocou Lula. ''Foi grave a questão do dinheiro, da falcatrua, e se for verdade que o governo está grampeando e fazendo dossiê é o pior, mais grave ainda'', afirmou.

Às vésperas da prévia eleitoral que vai ratificar seu nome em disputa interna com o senador Eduardo Suplicy, Lula falou em boa hora. Sem manchas da troca de acusações, pôde vestir com tranqüilidade a camisa de defensor da ética na disputa presidencial. ''Espero que essa campanha tenha como objetivo não só o voto, mas conscientizar a população e apresentar soluções para os problemas nacionais, e não fazer uma campanha de jogo rasteiro, de jogo baixo, de baixaria'', criticou Lula. Mesmo tendo caído alguns pontos nas pesquisas de intenção de voto, ele continua à frente da preferência do eleitorado, segundo os últimos levantamentos do Ibope e Datafolha.

As conversas com integrantes do PL para uma possível aliança, que provocaram polêmica e um racha interno no partido, prosseguem. ''O PT continua conversando com o PL e com os setores dissidentes do PMDB'', avisou. ''Temos interesse em conversar com o PMDB de São Paulo, de Goiás, de Minas Gerais, do Paraná, e estamos agora aguardando para ver como fica a situação política'', afirmou. O candidato aposta que a poeira vá baixar em menos de dois meses. E aguarda a avaliação dos recursos apresentados contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de obrigar os partidos a manterem nos Estados as mesmas coligações nacionais.


A cidade se livra dos maus policiais
BRASÍLIA - As mais graves denúncias de tortura policial enviadas à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados culminaram esta semana em uma audiência pública na cidade mineira de Patrocínio e no afastamento de um delegado e de agentes no município. Na última terça-feira, no auditório da Câmara Municipal, dez moradores descreveram métodos que teriam sido empregados para obter confissões, entre os quais choques elétricos e pau-de-arara. Ontem, um representante da Corregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais ouviu depoimentos na delegacia de Patrocínio.

O processo começou quando os chocantes relatos de Amélia Ribeiro dos Anjos e Clayton William de Oliveira foram enviados pelo Ministério Público mineiro pelo vereador Maurílio Brandão (PT-MG) ao Congresso Nacional. ''Os depoimentos são convincentes e há suporte de um laudo pericial'', diz o promotor Marcus Paulo Queiroz Macedo. O anúncio da audiência pública, marcada inicialmente para que Clayton e Amélia relatassem seus casos, precipitou uma enxurrada de acusações.

Mais oito pessoas depuseram na Câmara da cidade de 72 mil habitantes, localizada há 390 quilômetros de Belo Horizonte. Entre elas, Caludina Fernandes e Terezinha de Jesus Rocha, mãe e viúva de Dagmar José dos Santos. Elas atribuem a morte de Dagmar, em outubro de 2000, à violência policial. Acusado de roubar a bomba de um posto de gasolina, ele foi levado de casa por policiais e apareceu morto cerca de 40 minutos depois, no Pronto Socorro da cidade.

O delegado regional Antônio Garcia de Freitas, representante da Corregedoria, pediu o afastamento do delegado Odair Nery Carvalho e de agentes. Entre os detetives acusados estão Demerval Ferreira da Silva Júnior, Vilson Luiz Rosa e José Maria Vaz Moreira. A assessoria da Secretaria de Segurança Pública do Estado confirmou o afastamento do delegado e de agentes, mas não forneceu nomes.


Rotina de torturas
BRASÍLIA - Amélia Ribeiro dos Anjos, 37 anos, teve o pedido de prisão temporária declarado sob acusação de falsificar carteiras de motorista no período em que trabalhou na delegacia de Patrocínio. Seu relato ao Ministério Público, de 21 de fevereiro, enumera uma série de métodos de tortura. ''A gente ouve falar em tortura, mas nunca imaginei que aconteceria comigo'', diz a funcionária pública. Ela acusa o policial José Maria de ter tentado forçá-la a assinar uma folha em branco com o timbre da Polícia Civil.

Para isso, espancou-a com um pedaço de madeira envolto em toalha molhada. Amélia teria evacuado e urinado e, em seguida, sido forçada a limpar os dejetos com o papel timbrado e engoli-lo. Mais tarde, sofreu choques elétricos na região vaginal e nas mãos. Já Clayton William de Oliveira, preso numa blitz, diz ter sido torturado no pau-de-arara para confessar furtos.


Artigos

O nome do mosquito
Airton Aguiar

Por incrível que pareça, o carioca ainda não inventou uma piada, nem colocou um nome no mosquito Aedes, de forma cômica, que é uma característica natural e marcante no povo do Rio. Esse mosquito conseguiu picar até o humor carioca. Também não era para menos, os números são alarmantes.

Do início do ano até agora, mais de 50 mil casos notificados e 22 mortos, podendo este número aumentar, já que alguns óbitos estão sendo inv estigados. Isso tudo, só no Estado do Rio de Janeiro.

Em meio à epidemia de dengue que se alastra no país, muitas dúvidas ficam sem resposta. Não estou falando de perguntas do tipo: por onde andam os carros fumacês? E os mata-mosquitos? Devemos usar helicópteros para pulverizar inseticida em áreas com alto índice de infestação do mosquito? Não, não estou falando destas perguntas. Estou falando da falta de resposta para perguntas do tipo: como autoridades federal e municipal exercem funções de destaque na área de saúde, quando são da área econômica? Que tipo de conhecimento e sensibilidade esses dirigentes têm para assumir pastas tão importantes? Afinal, estamos falando de saúde, de pessoas, de vidas humanas.

Culpar a população pela epidemia ou simplesmente chorar na hora de deixar o cargo, não resolve a situação e, sim, revela total falta de saneamento e de políticas públicas. Em março de 1998, e lá já se vão quatro anos, quando José Serra assumiu o Ministério da Saúde, anunciou como objetivo imediato o de combater o mosquito transmissor da dengue, que, na ocasião, provocava uma epidemia no Rio, em Minas e outros Estados. E só ficou nisso. Agir que é bom, nem pensar! É difícil de acreditar, mas estamos vivendo uma epidemia pré-anunciada em que, mais uma vez, o povo é quem paga a conta e, muitas vezes, com a própria vida.

Pois bem, não bastasse isso, outra autoridade afirma que a culpa da dengue é da classe média, a mesma classe que o elegeu. Bonita gratidão!

Enquanto eles discutem sobre o DNA do ''mosquitinho'' que chega em silêncio, ataca e mata, o governo do Estado resolveu atacar o inimigo de frente, e saiu na frente. Além dos 2.020 reservistas da paz destacados para combater os focos da doença no Estado, 5.000 homens do Corpo de Bombeiros estão engajados na luta, assim como todas as Agências de Desenvolvimento Local (ADLs). Só no município do Rio, as quais eu coordeno, são 28 ADLs. A Secretaria estadual de Saúde criou uma central telefônica para organizar a internação de pacientes em estado grave, além de fazer atendimentos até em Cieps e por meio do Conselho Regional de Medicina, oferecer cursos abertos para o tratamento de dengue a todo profissional de saúde.

Estamos em meio a uma epidemia e não podemos ficar de braços cruzados e nem querer encontrar culpados. A hora é de combater sem trégua o mosquito transmissor. Todos podem e devem colaborar, afinal para quem suportou os diversos planos econômicos, o apagão e o desemprego, não será um mosquito que vai nos derrubar e tirar o humor carioca!


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Inclua-se Aécio fora dessa
O presidente da Câmara, deputado Aécio Neves, está mais ou menos na situação em que esteve o ministro da Fazenda, Pedro Malan, até outubro do ano passado: por mais que diga que não é nem será candidato à Presidência da República, ninguém acredita. No caso de Malan, as especulações só terminaram no dia em que expirou o prazo de filiação partidária para quem quisesse ser candidato, e o ministro não assinou as fichas que pelo menos três partidos lhe ofereciam.

Com relação a Aécio, o falatório só cessará quando ele anunciar se é candidato ao Senado ou ao governo de Minas Gerais. ''Estou voltado para Minas e muito feliz com o encaminhamento político das coisas por lá.'' Ele assegura que não será personagem de plano B algum, ''por duas razões bem objetivas: não quero ser candidato e José Serra não apenas quer como tem todas as chances de ganhar a eleição''.

Fora as preocupações de ordem político-eleitoral, entre as quais se incluem o estranhíssimo comportamento do governador Tasso Jereissati em defesa do PFL no embate com o PSDB, o presidente da Câmara está mesmo centrado é no funcionamento do Legislativo nesses últimos meses, antes que, a partir de agosto, o Congresso vire deserto por causa das campanhas eleitorais.

O problema mais urgente é, obviamente, a votação da CPMF, que o PFL resolveu atrasar depois de perder todos os instrumentos de barganha de que dispunha. Mas, assim como tem certeza de que o partido acabará votando, Aécio aposta também que mais à frente não será impossível pensar na hipótese de os pefelistas não apenas voltarem ao berço, como também apoiarem a candidatura de Serra.

Com os ânimos serenados, Aécio Neves pretende até julho comandar duas votações importantes e já acertadas com o Executivo: o item da reforma tributária que acaba com a cumulatividade nas taxações do PIS e da Cofins e a permissão para que o artigo 192 da Constituição, que regula o sistema financeiro, seja votado por partes.

Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan já chegaram à conclusão de que é melhor abandonar a idéia de tentar votar agora a questão da concessão de um mandato para o presidente do Banco Central. Na avaliação deles, em clima de campanha eleitoral, a discussão seria desvirtuada, e o mais provável é que não se conseguisse aprovar a independência.

''Esse assunto, analisamos, é melhor que fique para ser encaminhado pelo sucessor de Fernando Henrique'', diz Aécio.

Mera conseqüência
Quem conhece bem os meandros das ações pefelistas explica que o partido não rompeu com o governo federal apenas porque Roseana Sarney exigiu. Dizem esses especialistas que o episódio Lunus foi excelente pretexto que há tempos o partido procurava para demonstrar, com mais assertividade, seu descontentamento com o Palácio do Planalto, desde que, de lá, assistiu-se, na maior passividade, a perda da presidência da Câmara para o PSDB e a derrota no Senado para o PMDB.

Segundo esses autores, o grito de guerra de Roseana não foi uma gota, mas um ''dedo dágua'' que transbordou o tal copo no qual FH disse que o PFL estava fazendo uma tempestade. Além das mágoas passadas, o pefelê estaria preocupado com espaços futuros, dado que, embora deseje o apoio do partido, José Serra não daria a mesma guarida nem teria a mesma tolerância de Fernando Henrique com o partido, caso fosse eleito.
Se verdadeira, essa versão pelo menos deixa o PFL um pouco melhor no quesito erro de avaliação, pois não teria atrelado seu destino exclusivamente à biografia de Jorge Murad.

Ato falho
A governadora Roseana Sarney parece que ainda não entendeu bem o espírito da coisa no que tange à repercussão negativa de sua reação por não ter sido avisada previamente de uma ação da Polícia Federal. Foi ao rádio e à televisão para dizer que não admite o que chama de campanha difamatória contra ela e o Maranhão.

Confirmando que é partidária do lema ''L'État c'est moi'', Roseana envolveu o povo maranhense numa história que não tem nada a ver com ele. O que o país quer saber é de onde vieram e para onde iriam o milhão e meio de reais encontrados no cofre de sua empresa. Não é o Maranhão que está sob suspeita, mas sim os donos da empresa Lunus.

Aliás, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que tanto esbraveja contra a ''armação política'', segundo ele engendrada pelos tucanos contra a candidatura de Roseana, também anda com problemas de foco. Já que Jorge Murad confessou que o dinheiro era mesmo dele mas não forneceu explicação convincente sobre sua origem e, ao fim e ao cabo, todos - até o PFL - concordam que o que detonou Roseana foi a imagem da dinheirama em cima da mesa, Bornhausen deveria cobrar dele o prejuízo.

A menos que consiga demonstrar que foram o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, e o deputado Márcio Fortes os fornecedores do ervanário ao genro de Sarney, agora quase ex.


Editorial

DESAFIOS TARDIOS

O fato de que 15% das casas visitadas por agentes de combate à dengue não puderam ser vistoriadas é o corolário das dificuldades que se apresentaram desde o iníc io de uma epidemia que bateu seus recordes históricos no Rio. Os bairros em que moradores não colaboraram com os agentes demonstraram que o Aedes aegypti não era exclusivo da periferia das cidades nem das classes baixas. Ele ataca sem distinção de faixa social, desde que encontre ambiente propício.

Esta é uma das lições da epidemia que já passou dos 86 mil casos notificados e registrou a cifra sinistra - por enquanto - de 32 mortos. A epidemia encontrou alguns hospitais e médicos desprevenidos, sem atuar com a velocidade exigida pelas circunstâncias. Custou-se a reagir ao erro histórico da demissão de 6 mil mata-mosquitos federais sem direcionar as verbas para a criação de infra-estrutura municipal adequada aos desafios que estavam por vir. Por fim, apelou-se para a boa vontade da população que, como sempre, reagiu bem, embora não em sua totalidade, entrosando-se com o esforço tardio de combate à epidemia.

Mesmo sem a presença de um Oswaldo Cruz capaz de impor vontade férrea aos trabalhos - pois as condições históricas são outras - a população sofreu conformada com os efeitos da epidemia, procurando se adaptar ao que desse e viesse. Ficou claro no entanto que o Rio ainda não se preparou para agir preventivamente contra as catástrofes anunciadas. Ano após ano, as chuvas de verão provocam deslizamentos e enchentes, sempre nos mesmos locais e com as mesmas conseqüências.

A epidemia de dengue era prevista desde o segundo semestre do ano passado, quando já se sabia que eram escassos os recursos para combatê-la e que o vírus tipo 3 só esperava a oportunidade de se produzir. Na lista dos malefícios à espreita está o contágio de leptospirose, transmitida pela urina de ratos, cujo período propício é de março a abril, época de chuva. É o próximo desafio a desabar sobre a população, como se já não bastassem as dores transmitidas pela dengue.

Por falta de previsão, os recordes históricos vão sendo superados olimpicamente em todos os fronts. Muitas das vítimas são abandonadas à própria sorte, à porta ou nos corredores dos hospitais. Em todos estes casos, de epidemias ou enchentes, muitos dos prejuízos poderiam ser evitados com boas campanhas de esclarecimento, antes de sua ocorrência, e não depois, desesperadamente, como vem acontecendo de forma sistemática.


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03/15/2002


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