A solidão de um candidato do governo







A solidão de um candidato do governo
Crise limita o apoio a José Serra. Em plena campanha, José Serra, candidato do governo à sucessão presidencial, vive uma paradoxal solidão política.

Oficialmente, sua rede de apoio começa no gabinete de trabalho do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília, e se estende por 4 mil dos 5 mil municípios, onde os partidos governistas (PSDB e PMDB) têm diretórios. Há, também, o respaldo de frações do PFL e do PPB em vários estados.

Ainda assim, ele está cada dia mais sozinho. É um paradoxo, mas, nesta eleição, as chances do candidato do governo dependem cada vez mais das qualidades do político José Serra do que do apoio governamental à sua candidatura.

É o que mostram as pesquisas analisadas pela cúpula do PSDB nas últimas três semanas. Elas revelam um eleitorado menos confiante na capacidade do governo superar a crise econômica no segundo semestre.

Sondagens de opinião mais recentes, realizadas por institutos como Sensus, Vox Populi e Datafolha, confirmam: mudou o humor do eleitorado sobre a economia. Três em cada cinco eleitores passaram a olhar para o futuro imediato com alguma dose de pessimismo. Mais de 60% prevêem aumento do desemprego e da inflação.

É sinônimo de solidão política para um candidato como Serra, que busca identidade eleitoral com o governo, a partir dos resultados na economia.


IBGE: Produção industrial em maio tem queda de 5,1% ante abril
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou há pouco perda de ritmo de produção industrial em maio, com queda de 5,1% ante abril, já descontadas as variações sazonais.
Na comparação com maio de 2001, a redução foi bem menor, de 0,9%. Já contabilizando os últimos 12 meses, a queda é de 1,2% - uma variação negativa de 0,5 ponto percentual em relação a abril, quando a taxa anualizada registrou queda de 0,7%.

A produção industrial de maio obteve a maior queda do ano, ficando 2,1% abaixo da média de janeiro a abril de 2002. Dos 20 ramos de indústria pesquisados, 16 foram atingidos, além das quatro categorias de uso. As maiores quedas ficaram por conta das categorias de bens de consumo duráveis (-12,9%), bens de capital (-9,6%) e bens de consumo semiduráveis e não-duráveis (-8,0%). Já entre os ramos da indústria, as maiores variações negativas foram em mecânica, com queda de 8,8%, material elétrico e de comunicações (-8,9%) e material de transporte (-7,6%). Apenas 4 ramos industriais obtiveram crescimento. Entre eles, o destaque foi para extrativa mineral, com crescimento de 2,8%, e química, com 2,1%.


Novo responsável por prazos e custos
Papel do gerente de projetos ganha "status" e empresas investem em sua qualificação. A terceirização elevou a demanda por um profissional ainda raro no mercado de trabalho brasileiro: o gerente de projetos, responsável por cumprir prazos, custos e o padrão de qualidade estipulados pelo cliente. Para contornar essa carência, em especial nas áreas de tecnologia da informação, telecomunicações, construção e infra-estrutura, as próprias empresas estão investindo em qualificação.

No grupo Promon, cerca de 150 profissionais passam por um programa contínuo de capacitação, segundo Paulo Uchoa, gerente de desenvolvimento de competências e de gestão do conhecimento. O treinamento é baseado na metodologia do Project Management Institute (PMI), adotada como padrão internacional e que confere o certificado Project Management Professional.
"Na HP foi instituído um plano de carreiras para os gerentes de projetos. São cinco níveis, mas na unidade brasileira só existem profissionais nas três primeiras faixas, júnior, pleno e sênior", explica Farhad Abdollahyan, gerente de operações de projetos da HP. Segundo Abdollahyan, seis a sete profissionais, que já possuem bom conhecimento e grande experiência, estão se preparando para defender tese junto a uma banca interna para obter a classificação de "expert". Na HP Brasil ainda não existe o nível 5 - "work class project management", equivalente a um diretor executivo e que, no exterior, é responsável por projetos que movimentam ao redor de US$ 10 milhões.

A remuneração varia de R$ 5 mil a R$ 13 mil por mês de acordo com a formação e os anos de experiência.

A falta de profissionais levou à criação de cursos de especialização pelas grandes escolas de administração do País. Pressionadas pela demanda, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio, e a Faculdade de Economia e Administração (FEA), da Universidade de São Paulo, criaram, no ano passado, um MBA em gestão de projetos. O custo por aluno é de R$ 10 mil e R$ 25 mil, respectivamente.

A ESI International, consultoria que atua em parceria com o Project Management Institute (PMI) e com a George Washington University, decidiu abrir uma unidade no Brasil e faz cursos dentro das empresas.


Partidos se armam para a guerra na Justiça
Nem só de assessores de marketing é feita uma campanha eleitoral. Advogados também são necessários para orientar os candidatos a enfrentar as batalhas jurídicas que vêm pela frente.
Para ter agilidade na Justiça Eleitoral, em que os prazos são contados em horas, os escritórios de advocacia contratados pelos candidatos montaram estruturas que funcionam dia e noite.

José Serra, do PSDB, tem o apoio jurídico do escritório Malheiros, Penteado e Toledo, que também assessora Geraldo Alckmin, candidato do mesmo partido ao governo de São Paulo.
Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, entregou a Márcio Thomaz Bastos a supervisão da assessoria jurídica, com cerca de dez advogados. O candidato do PT ao governo paulista, José Genoíno, conta com o Hélio Silveira e outros três advogados.

O advogado Ricardo Tosto, do escritório Leite, Tosto e Barros, reservou uma sala para vigiar tudo o que sai na imprensa sobre o seu principal cliente, o candidato do PPB ao governo de São Paulo, Paulo Maluf. Estagiários mantêm olhos e ouvidos atentos a aparelhos de TV, rádios e internet, rastreando a menor menção ao candidato. A decisão sobre um recurso à Justiça é tomada em minutos.


IRB paga 60% mais por resseguro marítimo
O IRB Brasil Re acaba de renovar o contrato automático de resseguros para casco marítimo, petróleo, transporte e construção naval. Trata-se de um contrato de excesso de danos, em que o IRB pode aceitar, sem consultar os resseguradores, até US$ 80 milhões em cada tipo de risco.
O IRB estará pagando US$ 11 milhões em prêmios, cerca de 60% mais do que no contrato anterior. "Ficamos muito insatisfeitos", disse Francisco Aldenor, diretor do IRB. Nos últimos quatro anos esse contrato gerou lucro de US$ 17 milhões aos resseguradores.


ECONOMIA: Especial Plano Real: 8 anos de velhas e novas crises
Em oito anos de vida o Plano Real atravessou três grandes crises dos mercados mundiais - a do México em 94/95, a da Ásia em 97, e a da Rússia em 98 - e desde o ano passado enfrenta a desaceleração da economia norte-americana, depois de quase 10 anos de forte expansão, e o agravamento da crise na Argentina.

Nem bem acabava de nascer, o Plano Real, cujo objetivo foi derrubar uma inflação que estava próxima dos 5.000% ao ano, passava pelo seu primeiro teste: a crise do México, deflagrada em dezembro de 94, que gerou desconfiança dos investidores em relação aos mercado emergentes, restringindo crédito e investimentos para o bloco.

Dois anos depois, a Ásia era o foco das atenções, com o início da crise cambial nas Filipinas, Tailândia e Indonésia, que contaminou rapidamente outros países da região e, mais uma vez, todo o bloco emergente era penalizado.

Em outubro de 97, o governo brasileiro anunciava um pacote de ajuste fiscal com 51 medidas, com ob jetivo de economizar R$ 20 bilhões. Durou pouco. O aumento de receita foi obtido por meio de elevação de impostos, mas os cortes nas despesas deixaram a desejar. Com o ajuste feito pela metade, meses depois, já em 98, o Brasil enfrentava os efeitos da crise de financiamento e de liquidez da Rússia.

Em 98, o Brasil comprometeu-se junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a cumprir um dos mais rígidos acordos de sua história para ter direito a um crédito emergencial de US$ 41 bilhões, sendo US$ 18 bilhões concedidos pelo próprio Fundo; US$ 9 bilhões divididos entre Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid); e US$ 14,5 bilhões de vinte países sob coordenação do Banco para Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês).

O ano de 99 foi o divisor de águas, quando o País abandonava a política de câmbio fixo, adotando o regime de flutuação. Neste momento a taxa de juros brasileira chegou a 40% ao ano. Um dos melhores prêmios do mundo para quem estava disposto a investir no mercado financeiro brasileiro. Em contrapartida, um dos momentos mais críticos para o financiamento da dívida pública.

A partir da desvalorização, sob o comando de Armínio Fraga, presidente do Banco Central que sucedeu Francisco Lopes, o desenho da política monetária mudou com a introdução do regime de metas de inflação. Tudo passou a girar em torno de tais metas que, segundo alguns analistas, engessaram a economia. Os juros não podiam cair, para não gerar demanda e para não pressionar a inflação. O crédito ficou caro e escasso.

O desemprego cresceu. A taxa, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), subiu de 5,5%, 94, para 7,7% em maio deste ano. Considerando os números do Dieese, o desemprego da população economicamente ativa em São Paulo saltou de 13,3% em 94, para 19,70% em maio último.

O controle da inflação e as crises externas desaceleraram a expansão da economia. O Produto Interno Bruto (PIB) saiu de uma taxa de crescimento de 5,9% em 94, para 1,5% no ano passado. Para 2002, a estimativa mais recente do Banco Central é de um crescimento de 2%. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, faz questão de lembrar que em 98, ano marcado pela crise da Rússia, o PIB brasileiro cresceu 0,2%, enquanto o da Indonésia caiu 15% e Tailândia, Malásia e Coréia registraram queda de 7%.

O financiamento da dívida pública a juros altos levou o País a registrar a maior relação dívida/PIB dos últimos tempos. Em maio, o setor público consolidado computava uma dívida de R$ 708 bilhões ou 56% do PIB. O Banco Central estima que essa relação possa chegar a 58% neste ano.
O setor externo também apresentou forte deterioração, saindo de um déficit de 0,3% do PIB, em 94, para 4,3%, em 98. A desvalorização cambial, no entanto, tem contribuído para uma melhora nessa relação, que em maio era de 3,7% (no acumulado de 12 meses). Em números absolutos isso significa US$ 19 bilhões, o que mostra forte dependência do capital externo.

A balança comercial começou a colher tarde os frutos da desvalorização. No ano da flutuação do câmbio, em 99, o saldo ficou negativo em US$ 1,196 bilhão. No seguinte, o déficit caiu para US$ 691 milhões. No ano passado, o saldo comercial foi positivo em US$ 2,643 bilhões e em 2002 já acumula US$ 2,606 bilhões no primeiro semestre.

O Real, agora, começa a atravessar seu teste mais rigoroso: a dúvida em relação à condução das políticas fiscal e monetária a partir do ano que vem, quando um novo governo tomará posse.
Em oito anos, a equipe comandada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, não abriu mão do controle da inflação, que antes do Real chegou a beirar os 5.000% ao ano e neste ano deve fechar pouco acima de 5,5%. Para o ano que vem a meta é de 4%.


Editorial

INTEGRAÇÃO DO AMERCOSUL

Não estão tão adiantados como seria de desejar os entendimentos para a união formal do Mercado Comum do Sul (Mercosul) com Comunidade Andina de Nações (CAN), que servirá de base para a constituição de uma área de livre comércio abrangendo toda a América do Sul e que vem sendo denominada Amercosul. Consumada a integração dos dois blocos já existentes, faltaria apenas agregar o Chile (que não é membro da CAN), a Guiana e o Suriname para que o Amercosul possa se transformar em realidade até 2005, antes, portanto, de janeiro de 2006, data fixada para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Estamos convencidos de que este será um dos principais desafios da política externa dos países do nosso subcontinente nos próximos quatro anos, e a estratégia para alcançar esse resultado deve ser traçada sem delongas. Desde o dia 1 deste mês, o presidente Fernando Henrique Cardoso ocupa, por seis meses, a presidência rotativa do Mercosul, e esta pode ser uma oportunidade histórica para um novo avanço nas relações entre os países sul-americanos. É oportuno lembrar que foi o presidente brasileiro quem tomou a iniciativa de convocar todos os presidentes da América do Sul para uma reunião de cúpula em Brasília, que teve como objetivo definir as bases para a integração de todos os países desta parte do mundo. Lembramos também que a reunião contou com a presença do presidente do México, Vicente Fox, que acaba de concluir um importante acordo de complementação econômica com o Brasil e que demonstra visivelmente a intenção de aproximar-se da América do Sul.

Para cimentar essa união, precisamos de projetos de infra-estrutura para a integração física dos mercados. Muito já foi feito para isso nos últimos anos na área energética, com os dutos que trazem gás da Bolívia e da Argentina para o Brasil, da conexão de redes elétricas no Cone Sul e na Calha Norte, com a Venezuela. Ao mesmo tempo, a Petrobras vem orientando sua política de importação de petróleo para comprar mais de nossos vizinhos, como a Argentina, a Venezuela e a Colômbia. Com a crise, houve uma certa diminuição das compras feitas à Argentina, em decorrência de problemas locais, o que não modificou a intenção brasileira de intensificar as transações nessa área. Tanto assim, que a Petrobras está em negociações para entrar na área de exploração de petróleo no país vizinho.

Também houve melhora na área de transportes. Obras importantes foram realizadas, como a hidrovia Tietê-Paraná, a duplicação de estradas-tronco no Brasil, como a Fernão Dias e a Raposo Tavares, e verbas foram finalmente destinadas para a duplicação da estrada de Florianópolis a Osório, para eliminação de um gargalo na direção dos vizinhos do Mercosul. Foi feita também a ligação entre Manaus e Caracas, que ainda exige obras complementares. Também houve melhora na navegação de cabotagem, embora limitada aos portos do Cone Sul.

Muito mais, porém, tem de ser realizado. Precisamos, na realidade, de projetos de envergadura, de caráter plurinacional, para que a idéia do Amercosul tome corpo. Sempre se recorda que, ainda em meados do século XIX, foi feita, nos Estados Unidos, a ligação, de costa a costa, entre os dos oceanos Atlântico e Pacífico, cortando o país ao meio. No início do século XXI, os governos dos países da América do Sul não chegaram nem mesmo a traçar projetos para que isso se torne realidade.

Frotas pioneiras de caminhões saídas da região Centro-Oeste do Brasil têm-se aventurado por estradas em condições precárias para chegar a portos do Pacífico para mostrar a viabilidade da ligação. O governo do Estado de Rondônia fez também realizar estudos para a ligação com o Pacífico, estudos esses que não saíram do papel por falta de apoio federal. E há várias rotas alternativas, partindo de diversos pontos do País - como de São Paulo - para chegar a portos do Chile e do Peru, passando pela Bolívia. De Mato Grosso, Rondônia e Acre para portos do Peru, Equador e da Colômbia, etc.

Fala-se muito na falta de recursos, principalmente na fase de dificuldades que os nossos países atravessam. Mas os recursos só surgem quando há projetos viáveis. E a viabilidade nesse caso não é difícil de demonstrar. Não só as conexões entre o Atlântico e o Pacífico aproximariam a América do Sul dos mercados da Ásia, beneficiando todos os países da região. As conexões intrabloco fortaleceriam os mercados internos da América do Sul e certamente atrairiam investimentos.

O que não pode nos faltar nesta etapa da história sul-americana é a disposição de ousar.


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07/08/2002


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